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Psicomotricidade relacional e sua intervenção na Educação Infantil

La psicomotricidad relacional y su intervención en Educación Inicial

 

*Graduado em Educacao Física, ULBRA

**Graduada em Pedagogia, PUCRS

(Brasil)

Fioravante Correa da Rocha*

Luciele Ribeiro Lírio**

fioravantecorrea@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo analisa os benefícios trazidos pela psicomotricidade relacional no âmbito da educação infantil com CNEE (crianças com necessidades educacionais especiais) ou não. Este estudo traz algumas concepções de diversos autores sobre o jogo visto como formas de brincar, indo de encontro ao pleno desenvolvimento infantil. Seguindo um enfoque psicomotriz educativo é abordada a intervenção do brincar realizando uma fundamentação teórica com idéias de Negrine, Lapierre, e Wallon. Sendo assim a psicomotricidade é um instrumento que nos auxilia a promover momentos de prazer durante o brincar, aprimorando a criatividade e autonomia dos envolvidos, interagindo de forma construtiva proporcionando resultados significativos enfrentando situações de dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.

          Unitermos: Psicomotricidade. Brincar / Jogo. Educação infantil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    Na Educação Infantil a criança busca experiência lúdica através do seu corpo, organizando conceitos e adquirindo o esquema corporal. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento, para que isto possa acontecer é de extrema importância à abordagem da psicomotricidade possibilitando que a criança compreenda o seu corpo e das maneiras de se expressar por meio desse corpo, se localizando no tempo e no espaço.

    No desenvolvimento infantil, segundo o Referencial Curricular Nacional (1998) a criança precisa brincar, ter prazer e alegria para crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo e através do lúdico a criança se desenvolve.

    Segundo Serapião (2004) a infância é caracterizada por concentrar as aquisições fundamentais para o desenvolvimento humano, pois é nessa etapa da vida que o indivíduo forma a base motora para a realização de movimento mais complexo futuramente.

    O brincar é entendido como o ato motor que os indivíduos realizam conscientemente ou não, em busca de prazer. Esta é a melhor forma de aprender, pois brincando a criança desenvolve três pilares fundamentais: o psíquico, o motor e o cognitivo, que lhe garantirá um crescimento sadio.

    O brincar como elemento pedagógico deve ser mediado, isto é, o professor deve atuar como facilitador, deve ser capaz de interpretar os jogos que a criança realiza sem ter a preocupação de julgar o mérito de suas ações.

    O trabalho sustentado na ação do brincar permite interferir, com base nas observações seletivas que são realizadas, nas construções de aprendizagens das crianças. A capacidade de imitação realizada pelas crianças sinaliza os avanços da capacidade perceptiva e do desenvolvimento do pensamento. Através da imitação as crianças representam ações observadas no dia-a-dia que não são compreendidas por elas e desta forma colocando-se na visão de atores se colocam em situações diversificadas a fim de compreendê-las transformando os processos mais elementares de pensamentos em processos superiores. Em sessões de psicomotricidade relacional, que é uma das divisões da terceira vertente, é facilmente observado este jogo simbólico ou faz de conta.

    Para os propósitos dos fundamentos da psicomotricidade, explico que de uma forma geral a psicomotricidade está subdividida em três grandes vertentes: a reeducação, a terapia, e a educação. A primeira se dirige mais para a soma do movimento, enquanto a segunda se preocupa com a psique do movimento. A terceira vertente esta voltada para o âmbito educacional, sendo oportuno entender que esta também possui uma divisão em duas correntes principais: psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. (FALKENBACH, 2003, p.91).

    Utilizei a PR por se tratar de um processo mais espontâneo por parte dos envolvidos. Este procedimento consiste em atividades mais livres onde possui modelos diversificados. Os seres são livres, o que propicia o desenvolvimento da criatividade e da interatividade entre os educandos, fazendo um ambiente que possibilite aos alunos transferirem situações de conflitos do mundo real para o imaginário assumindo diferentes papéis e atitudes assimilando a realidade. O educador não é o centro da atividade e sim um facilitador da mesma.

    Diferentemente acontece na psicomotricidade funcional, nesta o educador é o modelo a ser seguido, este direciona o trabalho que será realizado, dificultando que aconteça a interatividade dos envolvidos, e muito menos o desenvolvimento da criatividade e autonomia. Este processo é previsível e planejado, ou seja, o educador sabe sempre o que irá acontecer, diferente da relacional onde o improvável muitas vezes acontece possibilitando uma maior riqueza de experiências, pois cada aluno traz uma bagagem de conhecimentos adquiridas no meio em que vive. A psicomotricidade relacional é entendida como jogo / brincar que a criança realiza no dia-a-dia incorporado como componente pedagógico, estabelecendo o lúdico como facilitador das inter-relações pessoais.

    Dentro do marco relacional, o mais importante para eles é trabalhar com o que a criança tem de positivo, o que ela sabe fazer, e não se preocupar com o que ela não sabe. Dizem que o melhor método para ajudar uma criança a superar suas dificuldades é conseguir que ela esqueça suas inabilidades. (NEGRINE, 1995, p. 58).

    Se considerarmos o ser humano como um todo, a psicomotricidade relacional seria a mais adequada, porém em alguns momentos das aulas de educação física, a psicomotricidade funcional serve como base para o aperfeiçoamento de algumas habilidades específicas, ou seja, vai depender dos objetivos que o educador pretende alcançar. Acredito que ambas devem ser trabalhadas dentro da escola, pois se completam e aperfeiçoam o trabalho do educador.

O jogo / brincar na visão de Negrine

    Acreditando e seguindo uma linha vygotskiana só há a presença de jogo quando nele está claramente inserido o componente simbólico. Negrine defende que as atividades podem ser simples exercícios e não jogos, possuindo assim: significado, repetição, variação, ruptura, união e a imitação, assim gerando reações psíquicas e físicas ao mesmo tempo.

    A prática psicomotriz educativa tem como eixo três alicerces que são: a comunicação, a exploração corporal e vivências simbólicas, caracterizadas com o favorecimento do movimento espontâneo da criança e a estrutura das aulas facilitando a comunicação e a interação dos envolvidos. Portanto o autor diz que a visão naturalista do movimento compreende a criança como uma totalidade. O grande diferencial da prática psicomotriz pedagógica se situa na interação do adulto como facilitador no desenvolvimento das crianças participantes envolvidas, sendo organizada a psicomotricidade relacional com estruturas de rotina ajudando assim o educador na elaboração das atividades e estratégias com o auxílio de diferentes materiais a fim de favorecer a evolução no comportamento dos participantes.

    A psicomotricidade relacional é organizada com momentos de rituais que são: rito de entrada, sessão propriamente dita e rito de saída.

    Rito de entrada: são feitas as combinações para favorecer a comunicação entre as crianças e o educador. Nesta as crianças aprendem a criar regras de convivência e expressá-las verbalmente respeitando seu espaço e o dos colegas.

    Sessão propriamente dita: O professor tem um papel extremamente importante que é o de facilitador, sugerindo, desafiando e provocando postura lúdica dos envolvidos e sempre estar em situação de escuta para compreender o desenvolvimento das crianças. Sendo facilitador este tem por postura, variar os materiais a serem disponibilizados e disponibilizar quantidade adequada à interação de todos os envolvidos na sessão.

    Rito de saída: Oportuniza os participantes comentarem sobre suas criações nos jogos e exercícios sendo fundamental o processo de escuta para o principio da prática psicomotriz pedagógica educativa. Geralmente se usa um objeto demarcando a vez de quem realizará o relato, facilitando assim a compreensão de quando será a vez de cada criança falar diminuindo assim a ansiedade das mesmas.

    Acredita-se na fundamentação teórica que reconhece as diferentes vertentes da psicomotricidade relacional. O autor agrupa o referencial teórico com estudos de antropologia, da psicopedagogia o que só vem a enriquecer a visão tradicional que ainda nos dias de hoje é hegemônica.

    Negrine acredita nas ações e estruturas de práticas psicomotriz educativa para crianças de educação inclusiva, portanto aprova a união de grupos de crianças com ou sem problemas de aprendizagem visando um trabalho de qualidade e humanização. Para esta prática mista a literatura de Negrine (1995), é muito importante, pois podemos compreender as características de prática psicomotriz educativa, entendendo as finalidades e a organização das sessões. Fundamenta a prática psicomotriz educativa defendendo a importância do lúdico na expressão de jogo e exercícios que manifestem um caráter lúdico.

Contribuições teóricas sobre o brincar / jogo segundo Gilles Brougére

    ...o brinquedo não é a materialização de um jogo, mas uma imagem que evoca um aspecto da realidade e que o jogador pode manipular conforme sua vontade. Os jogos enquanto material ao contrário, implicam de maneira explícita um uso lúdico que assume freqüentemente a forma de uma regra (jogos de sociedade) ou de uma restrição interna ao material (jogo de habilidade, jogo de construção) que constituem uma estrutura preexistente ao material...O vocábulo “brinquedo” não pode absolutamente permitir a redução da polissemia de “jogo”, mas nele destaca uma esfera específica e, em parte, autônoma. (BROUGÈRES, 1998, p.15).

    Na psicomotricidade relacional é utilizada a terminologia de jogo enquanto material referindo-se ao lúdico, os indivíduos exploram os diferentes materiais descobrindo formas de manipulação e criação de novas brincadeiras. Um bastão pode ser um cavalo de um guerreiro e no momento seguinte torna-se uma espada para combate, tudo depende da necessidade do faz-de-conta, tornando-se assim um jogo de construção de idéias e possibilidades.

    As sessões quando são vistas de fora por um adulto que não está apropriado da psicomotricidade relacional encara a atividade com desdém, não conseguem compreender a essência do processo educativo que está acontecendo com o manuseio de materiais que não são considerados como brinquedos, ou seja, não existe regra preestabelecida para brincar, quem vai dizer o que vai acontecer é a criatividade e a necessidade de cada um.

    Brougére (1998) em seu livro: Jogo e educação; faz uma análise do jogo com outras lógicas sociais estabelecendo a visão própria para cada época. O Jogo na PR identifica-se a partir da visão da psicologia que diz:

    ...o jogo permite a criança recapitular as experiências dos séculos passados, isto é, chegar espontaneamente (desde o primitivismo original) ao estado de civilização que caracteriza a sociedade onde nasceu. O patrimônio cultural não é inato, mas assimilado em um processo espontâneo de maturação e segundo uma ordem que, grosso modo, é a da história. (BROUGÈRES, 1998, p.15).

    Com o auxilio dos diferentes materiais da psicomotricidade relacional os educandos reproduzem situações do cotidiano, geralmente as quais ele não entende ou que lhe causam medo e aflição. Com o uso do imaginário os indivíduos podem assumir diferentes papéis da sociedade e assim tentar compreender o porque de certos acontecimentos. È muito comum em relatos verificarmos este tipo de fala.

    Piaget com sua teoria psicogenética vem de encontro com a visão psicológica do processo de recapitulação, acreditava que era necessário estudar o comportamento das crianças ao redor para poder observar o desenvolvimento dos conhecimentos, pois o homem primitivo teria um desenvolvimento como o nosso, porem faltou algumas organizações sociais para que pudessem continuar o processo de evolução. Hoje os indivíduos já nascem com um desenvolvimento superior aos bebês de algumas décadas atrás, isto se deve aos inúmeros estímulos a que são expostos desde a gestação até o nascimento por esta sociedade evoluída. Com isto os indivíduos de hoje adquirem conhecimentos cada vez mais avançados com o passar do tempo, de acordo com a evolução do meio em que está inserido.

    Com a leitura do material de Brougére (1998), fica claro que somente após o romantismo com a mudança da visão que se tinha de criança o jogo passou a ter uma importância vital no desenvolvimento infantil. Assim o jogo dividiu-se em duas visões: o jogo espontâneo e o jogo educativo. A psicomotricidade relacional é uma junção destas idéias, pois o educador limita o uso de alguns materiais (jogo educativo), mas os indivíduos possuem independência de escolher quais irão manipular na criação de suas atividades (jogo espontâneo).

O Brincar na visão de Aucouturier e Lapierre

    Para o autor o prazer sensório-motor dá passagem para o jogo simbólico, assim liberando a criança das suas emoções e imagens que ela possuí, produzindo a vontade de interagir no espaço.

    Os psicomotricista tiveram momentos distintos denominados períodos: continuador, inovador e da ruptura.

    O período continuador segundo Negrine (1995), tem este nome, pois este segue no sentido que as publicações de Lapierre e Aucouturier abordam os princípios de 1970 desde o surgimento da psicomotricidade seguindo uma vertente funcionalista. Este período é caracterizado pelas famílias de exercícios para desenvolver habilidades motoras.

    O período inovador surge a psicomotricidade com o objetivo psicopedagógicos e psicanalíticos e não somente um método de reeducação aplicada às crianças com dificuldades. È neste período que marca um novo período do âmbito educativo, pois surge a publicação da obra simbologia do movimento e logo após no âmbito psicoterapeutico com a obra educação psicomotriz. Para estes autores o que tem de mais importante no marco relacional é perceber o que a criança tem de mais positivo e trabalhar em cima disto e não se preocupar com o que ela não sabe. Neste momento também acontece à proposta inovadora da prática psicomotriz, com a introdução do jogo a prática muda de funcional para uma visão relacional sendo agora um mecanismo pedagógico básico nas sessões psicomotriz.

    O período de ruptura é caracterizado pelo abandono: Segundo Negrine (1995) na prática psicomotriz Aucouturier defende o jogo de pulsão, o sensório-motor como combustível. Já o psicomotrista Lapierre defende que o alimentador é o jogo simbólico, onde a criança envolve-se pelas suas fantasias.

    Um dos aspectos mais conflitivos entre a prática e a teoria é que Lapierre entende que o espaço de jogo onde ocorre a prática psicomotriz é um espaço de jogo “simbólico”, isto é, um espaço da fantasia que se encontra no jogo da criança, jogo simbólico que Aucouturier não nega que ocorra com muita freqüência no jogo que a criança realiza, mas que ele não potencia. Prefere potenciar o jogo de pulsão, ou seja, o jogo sensório-motor. (NEGRINE, 1995. p. 69)

    Os dois autores Lapierre e Aucouturier têm um papel importantíssimo na prática psicomotriz, pois eles sempre tiveram umas posturas científicas, que mostra querer inovar no fazer pedagógico; Defendendo sempre a formação do psicomotrista, ou seja, a formação pessoal. Ambos tiveram formação na escola de expressão e psicomotricidade de Barcelona – Espanha que seguiu uma orientação de Aucouturier, sendo assim privilegiado por estudar e observar seus seguidores e formadores.

    Portanto por mais que pareça que ambos seguem sempre a mesma linha é neste período que começam a divergir suas idéias sobre a psicomotricidade.

    A verdade é que as concepções teórico-práticas de Aucouturier e Lapierre em relação à prática psicomotriz educativa diferem quanto à concepção sobre a intervenção do psicomotricista, mas estão muito próximas no que se referem à reeducação e a terapia. Hoje em dia, ambos buscam no campo da psicanálise seus fundamentos teóricos para justificar a prática que propõem, e esta tendência passa a se constituir em alicerce da psicomotricidade relacional proposta por eles. (NEGRINE, 1995, p.74).

A importância do brincar no desenvolvimento infantil

    Muitas vezes pais e até mesmo alguns educadores não sabem o valor e a importância que se deve dar ao brincar para o desenvolvimento físico e psíquico das crianças, pois de certa forma para alguns o brincar é apenas um passatempo, sem funções importantes, ou seja, serve para entreter a criança em atividades que sejam prazerosas para ela. Isto também acontecia nos tempos mais remotos de nossa sociedade, onde não se dava a devida atenção à criança e muito menos a seu brincar, os jogos eram extremamente sociais.

    O professor dentro da escola deve atuar como facilitador durante o brincar deve ser capaz de interpretar os jogos que a criança realiza sem ter a preocupação de julgar o mérito de suas ações e sempre que preciso acrescentar elementos a fim de propiciar momentos mais ricos de possibilidades de exploração. Não basta oferecer espaços físicos e materiais para que as crianças realizem seus jogos, è fundamental definir as pautas de intervenções pedagógicas para ajudar a criança a evoluir a partir da atividade lúdica.

    O trabalho sustentado nesta ação permite inferir com base nas observações seletivas que são realizadas, que a capacidade de imitar sinaliza, de certa forma, os avanços da capacidade perceptiva e do desenvolvimento do pensamento, fundamentalmente, das transformações dos processos mais elementares em processos superiores. Observar a criança brincar sem bases teóricas significa deixar escapar a essência do ato. Quando falta fundamento teórico, fica difícil compreender o que ocorre quando a criança brinca.

O desenvolvimento infantil em Piaget

    Jean Piaget construiu sua teoria dos estágios do desenvolvimento ao longo de mais de 50 anos. Para o biólogo e epistemólogo suíço, o processo de construção do conhecimento ocorre em etapas que evoluem progressivamente por meio de estruturas e raciocínio que surgem com base em um mecanismo de adaptação do organismo em novas situações. É, portanto, pelas próprias experiências que a criança constrói seu conhecimento, concepção que originou o famoso termo “construtivismo”.

    Dentro desta visão fica claro que a criança aprende e desenvolve-se através do uso de material concreto e de experiências de vida. È percebível também que o uso do jogo simbólico na construção e reconstrução de mundo é de fundamental importância para que este possa compreender o mesmo através de vivencias assumindo um papel por certo tempo de outra pessoa tentando entender suas atitudes.

    Dentro de um marco de referencia condutista, ambos aparecem identificados, visto que um dos princípios que controlam as respostas, e a aprendizagem em si nada mais é do que a substituição de uma resposta por outra num marco piagetiano de referencia, pelo contrário à distinção entre ambos é clara - e necessária - visto que um dos princípios básicos desta teoria é que os estímulos não atuam diretamente, mas sim que são transformados pelos sistemas de assimilação do sujeito. (FERREIRO, 1999, p.29).

    Assim cada sujeito responde diferentemente aos estímulos do meio, ou seja, o meio não determina o processo de aprendizagem e sim a resposta de cada um. Para que os indivíduos construam seu conhecimento é necessário que assimilem estes estímulos inquietantes e os adaptem aos esquemas mentais já adquiridos em experiências anteriores, construindo então novos esquemas mentais mais elaborados.

    Na psicomotricidade relacional este processo acontece com o passar das sessões. Materiais que inicialmente não chamaram a atenção por não fazerem parte de seu meio de convívio com o passar das sessões ao observá-lo mais de uma vez este passa a ser incorporado a sua realidade e desta forma é manipulado e explorado suas possibilidades.

    O desenvolvimento mental se dá em acordo com os períodos de idade, sendo assim conforme o desenvolvimento físico o raciocínio também é desenvolvido.

O desenvolvimento infantil em Vygotsky

    Este teórico nos mostra uma visão em que você aprende a interagir com os alunos. O russo defendeu uma teoria sócio-cultural do desenvolvimento, para ele, é nas relações pessoais que o ser humano se constrói; é por meio delas que o individuo internaliza os elementos da cultura. A aprendizagem impulsiona o desenvolvimento e, portanto, o professor tem um papel de interferir, propondo desafios desencadeando avanços e estimulando a interação entre as crianças.

    Apesar de Piaget e Vygotsky nunca terem desenvolvido uma teoria junta, suas idéias se completam. Somente nos dias de hoje, após muitas discussões sobre as teorias, é que se aceita esta afirmação. Vygotsky nem chegou a ter conhecimento sobre a obra de Piaget, e este só foi tomar conhecimento da existência de Vygotsky 25 anos após a morte do mesmo. Devido sua morte prematura muitas de suas obras foram escritas por terceiros que durante suas conferencias realizavam registros de suas idéias.

    A criança através da interação com o meio e ao longo de várias experiências acaba incorporando um significado dado por seus semelhantes a seus atos passando a realizá-los objetivamente de acordo com suas necessidades, passando a estabelecer uma comunicação informal com os mesmos. Portanto, os elementos mediadores entre o homem e o mundo são fornecidos pelas relações com seus semelhantes.

    Vitor da Fonseca (1988) descreve que a "Psicomotricidade" é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio.

    Através do brinquedo a criança aprende de forma lúdica, este processo se aproxima da compreensão da zona proximal. As brincadeiras das crianças são determinadas pelas situações concretas em que elas se encontram. Numa situação de faz-de-conta (Vygotsky) ou jogo simbólico (Piaget), a criança atua em um mundo imaginário onde ela representa uma realidade ausente, o que permite a criança a separar objetos e significados o que na vida adulta resultará numa capacidade de desvinculação de situações concretas. No brincar as atitudes são mais avançadas do que na realidade compreendendo os diferentes papéis que desempenha.

    Apesar de sua teoria completar a obra de Piaget, Vygotsky não contribuiu para a ruptura da psicomotricidade, talvez por desconhecimento de sua obra ou falta de compreensão da profundidade de seu pensamento sobre o desenvolvimento e aprendizagem infantil.

O desenvolvimento infantil em Wallon

    Para Wallon a afetividade faz a criança emergir do mundo orgânico para o conceito coletivo, é o motor do movimento e aproxima-se com o desenvolvimento gnosico. O ato mental estabelece por ato motrizes, ou seja, ação igual pensamento; As emoções são responsáveis pela aprendizagem.

    Segundo este autor os jogos das crianças são somente no âmbito funcional, sendo divididos em: jogos de ficção, estes cuja interpretação é mais ampla, exemplo jogo de bonecas; jogos de aquisição são atividades lúdicas que trabalham a audição e o olhar, os alunos precisam compreender imagens, coisas e canções; jogos de fabricação se resumem em organizar, agrupar, modificar objetos e usar a criatividade para recriá-los. Para ele desde que uma atividade se torne utilitária e subordinada como meio a um fim, perde a característica de jogo.

    Negrine (1994): A imitação é a regra do jogo, no caso das crianças menores; Sendo muito difícil para elas captar a determinação abstrata utilizam, basicamente o mundo concreto e real.

    A imitação se torna alimento para o brincar, sendo utilizado este artifício pela criança em indivíduos que tem prestigio para ela, ao qual esta se espelha em suas condutas e comportamentos, e obviamente tem admiração, sentimentos, estando assim relacionado ao lado afetivo.

    Imitação, para ele, não è mera còpia de um modelo, mas reconstrução individual daquilo que è observado nos outros. Essa reconstrução è balizada pelas possibilidades psicológicas da criança que realiza a imitação e constitui, para ela, criação de algo novo a partir do que observa no outro. (OLIVEIRA, 1997, p.63).

    No jogo a criança age muitas vezes com inquietação e culpabilidade que se combina com agressividade, a origem comum dessas variáveis é o desejo da criança em se colocar no lugar dos adultos. Wallon propõe jogo de papai-mamãe, ou de estar casados para tentar saciar esta necessidade do universo infantil. Assim as crianças envolvidas no processo vão buscar a reprodução de atos ou gestos de seus pais, levados pela curiosidade ou até mesmo por não terem os compreendido, e assim imitam buscando motivos em suas experiências de jogo.

    Naquilo que se refere ao ato motor, situação predominante nos jogos das crianças, Wallon é de opinião que o movimento pode ser técnico ou simbólico, sem fazer referencia ao plano de representação e do conhecimento. Concluo que Wallon segue tanto uma linha de Lapierre como de Aucouturier um defendendo o jogo no âmbito de exercícios e outro no jogo simbólico seguindo visões vigotskiana.

Conclusão

    Pode se concluir então que a psicomotricidade relacional através do brincar tem um papel importante como auxiliar nas aprendizagens, estimulando o desenvolvimento integral da criança, através do trabalho em torno de desafios, fazendo que ela explore, crie e desenvolva suas habilidades com objetivo de expandir o seu potencial. Assim se apropriando de atividades prazerosas de forma lúdica e autônoma, onde os educando possam explorar experiências motoras que vão lhe ser útil para o desenvolvimento humano integral, tais como: engatinhar, rolar, andar, correr, saltar, esquivar-se, contribuindo para o fortalecimento do tônus muscular.

Referências

  • BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação; trad. Ramos, Patrícia – Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1998.

  • FALKENBACH, Atos Prinz. Um estudo de casos: as relações de crianças com síndrome de down e de crianças com deficiência auditiva na psicomotricidade relacional. 2003. 448 f. Tese (Doutorado em educação) – Faculdade de educação física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

  • GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa; São Paulo: Ed. Atlas, 2002.

  • LAPIERRE, André. A educação psicomotora na escola maternal. São Paulo: Manole, 1986.

  • LEBOULCH, Jean. A educação pelo movimento. Porto Alegre. Artes Médicas, 1983.

  • NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil – Simbologia e jogo. Porto Alegre: Ed. Prodil, 1994a.

  • NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil – Perspectiva psicopedagógicas. Porto Alegre: Ed. Prodil, 1994b.

  • NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil – Psicomotricidade: alternativas pedagógicas. Porto Alegre: Ed. Prodil, 1995.

  • OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo: Ed. Scipione, 1997.

  • SERAPIÃO; João de Aguiar: Educação inclusiva, jogos para o ensino de conceitos; Publicado por Editora Papirus Ltda, 2004.

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