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Propostas pedagógicas para o ensino de lutas em

escolas: uma visão sobre o universo do kung fu

Propuestas pedagógicas para la enseñanza de luchas en las escuelas: una mirada sobre el universo del kung fu

 

*Tecnólogo em Eletrônica Industrial pela Universidade Salesiana São José, UNISAL

Licenciado em Educação Física pela Faculdade Anhanguera de Campinas 3

Bacharelando em Educação Física pela Faculdade Anhanguera de Campinas 4

Professor coordenador de técnicas marciais da

Associação Phoenix de Kung Fu Tradicional (APKF)

** Doutoranda em Atividade Física Adaptada pela

Faculdade de Educação Física da UNICAMP

Mestre na área de Concentração Atividade Física Adaptação e Saúde pela

Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas. FEF-UNICAMP

Licenciada e bacharel em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP

Docente nas Faculdades Anhanguera de Campinas

e Centro Universitário Unianchieta-Jundiaí

João Luís Rebelo Torres*

joaoluis_torres@yahoo.com.br

Mariana Simões Pimentel Gomes**

marianaspg@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Observa-se que o conteúdo referente às lutas na realidade brasileira está longe de ser a ideal. Sua associação com a violência, com as brigas e com as guerras a tornaram muito estigmatizada pela nossa sociedade, repercutindo inclusive na escola, tanto pelos alunos, quanto pelos professores. Através de pesquisas bibliográficas foram compiladas informações referentes à formação profissional de professores de Educação Física escolar, buscando identificar os motivos pelos quais não são trabalhados os conteúdos de lutas no ambiente escolar. Há um breve referencial histórico à respeito da origem e caracterização do kung fu, e uma proposta pedagógica para o ensino desta arte marcial seguindo as idéias cognitivistas de aprendizado. Conclui-se que realmente há uma carência de estudos à respeito da inclusão das lutas e que há a possibilidade de se trabalhar com qualquer modalidade, incluindo a do kung fu, na disciplina de Educação Física escolar partindo de princípios condicionais e de seqüências pedagógicas de aprendizado.

          Unitermos: Lutas. Kung fu. Educação Física escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Apresentação

    Minha afinidade com o universo das lutas é antiga, porém começou mais tarde do que gostaria, pois meus pais tinham medo, receio e “pré-conceitos” com relação às artes marciais, fazendo-me ingressar em julho de 2000, aos 15 anos de idade, escondido deles, nas aulas de Kung Fu Wu Shu Wing Chun Chwan pela Associação Phoenix de Kung Fu Tradicional, na cidade de Campinas, interior de São Paulo. Associação esta que me incentivou às práticas corporais de movimento que tanto admirava quando pequeno, que nunca havia tido a oportunidade de vivenciar nem na escola e nem em clubes, e que hoje sou professor.

    Ao escrever este artigo, ainda me vejo informando minha mãe de que estava praticando uma arte marcial sem o consentimento dela, tentando convencê-la de que suas concepções quanto às lutas estavam erradas e de que necessitava reavaliar seus conceitos, procurando levá-la a assistir a, pelo menos, uma aula minha para tentar “remover” seus preconceitos.

    Sei que, assim como minha mãe, muitas outras mães pensam iguais e não me admiro. Talvez, se eu não tivesse a oportunidade de vivenciar o kung fu, pensaria também da mesma forma, afinal a luta é muito mal difundida pela nossa sociedade ocidental. As reais contribuições inerentes às lutas são escondidas pela mídia e desconhecidas pela maioria dos professores, tanto os de Educação Física escolar, quanto pelos próprios professores das modalidades.

    Sendo assim, procuro através deste artigo fazer uma pesquisa bibliográfica referente à formação dos profissionais de Educação Física escolar, buscando através de pesquisas em livros, sites, revistas científicas e trabalhos acadêmicos, identificar os motivos dos quais a luta é pouco praticada dentro das escolas, propondo ao final do artigo, possibilidades de trabalho e de inclusão do kung fu pelo professor, sendo ele kungfuísta ou não.

    A proposta pedagógica dar-se-á através de minha experiência empírica quanto às artes marciais chinesas, dos estudos de autores como Gomes (que classifica os princípios gerais que regem as lutas), Lima (que apresenta uma visão muito conveniente com este trabalho), Bock, Furtado & Teixeira (que propõem alternativas de ensino-aprendizagem baseadas nas teorias do cognitivismo), e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (que abordam as lutas em seus conteúdos de blocos).

As lutas e a formação dos professores

    “Luta”, do latim “lucta”, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”; “arte” significa “conjunto de preceitos ou regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa”; e “marcial” significa “Marte (deus da guerra), relativo à militares ou a guerreiros” (FERREIRA, 1999).

    A luta, devido às razões culturais característicos de nosso país, é pouco difundida dentro de escolas de ensino fundamental e médio, se compararmos com as demais culturas corporais de movimento. Os esportes coletivos competitivos como o futebol, o voleibol, o basquetebol e o handebol são, notavelmente, os mais trabalhados (ou os únicos trabalhados) pelos professores de Educação Física escolar, esquecendo-se dos demais conteúdos que abrangem esta área do conhecimento, como as atividades rítmicas e expressivas, as artes circenses, os jogos, as ginásticas e as lutas, sendo este último, um grande instrumento socializador, essencial para o desenvolvimento integral do indivíduo e tema central deste artigo.

    Os professores de Educação Física escolar, muitas vezes, ficam inibidos de ensinarem lutas aos seus alunos caso não tenham vivenciado (ou pouco tenham vivenciado) tais práticas de movimentos corporais. Esta inibição é fruto de uma formação tradicional esportivista que, segundo Darido (2003, p. 26), é aquela que dicotomiza teoria e prática, que dá ênfase ao esporte, aos gestos técnicos, ao “saber fazer para ensinar” e que está presente, principalmente, nas instituições de ensino privadas.

    A formação tradicional esportivista está ligada diretamente às influências dos períodos militaristas e higienicistas, onde a Educação Física era vista como indicador de desenvolvimento e instrumento alienador do Estado, assimilando “Educação Física” com “esporte”, desviando a atenção de estudantes, comerciantes e pessoas vinculadas às políticas de oposição. Vendia-se, na época, uma falsa idéia de “ordem” política no país, tentando transparecer uma imagem de prosperidade e de desenvolvimento (DARIDO, 2003, p. 1-3).

    Mantendo esta idéia de “ênfase ao gesto técnico” e do “saber fazer para ensinar”, a inclusão do universo das lutas pelos professores de Educação Física escolar se agrava ainda mais quando se diz respeito às “modalidades” das lutas, como o caratê, o judô, a esgrima, o kung fu... Motivando os professores a negarem o ensino das lutas, ou das modalidades de lutas, em suas aulas, por não serem “faixas-pretas”, ou por não serem hábeis o bastante para executarem um chute corretamente, ou um soco, ou uma projeção que seja.

    Esta inibição por falta de experiência não acomete somente aos profissionais formados em escolas ditas tradicionalistas/esportivistas. Instituições de ensino cuja formação é dita “científica”, ou seja, aquelas que dão ênfase ao conhecimento teórico, que fornecem os elementos de compreensão do processo ensino-aprendizagem, que visam o “aprender a ensinar” e que estão presentes, principalmente, nas instituições de ensino públicas (DARIDO, 2003, p. 26), também são estagnadas às práticas dos esportes coletivos competitivos (futebol, voleibol, basquetebol, handebol...), contradizendo aos princípios da Educação Física escolar, no que diz respeito à diversidade de experiências de cultura corporal de movimentos inerentes à área. Esses professores com formação “científica”, segundo Darido (2003, p. 31), se ressentem de uma integração entre os conhecimentos produzidos pela teoria e os problemas enfrentados na prática pedagógica, e por isso não sentem necessidade de se manterem atualizados quanto ao conhecimento produzido pela universidade.

    Nota-se, portanto, que o “aprender a ensinar” cai em contradição no que se diz respeito à atualização do profissional, que nega o seu próprio aprendizado diante da acomodação da sua profissão, repetindo as mesmas coisas que lhe foram passadas há décadas pela universidade, e que hoje se estagnam no tempo por falta de uma atualização ou de uma reciclagem de conhecimentos científicos/práticos, impossibilitando-o de olhar para novos horizontes, novas formas de se trabalhar as práticas pedagógicas, inibindo, por exemplo, seu potencial de ensino de lutas em escolas.

    Darido (2003) faz um diagnóstico quanto à formação curricular dos professores de Educação Física escolar, baseando-se em pesquisas de diversos autores brasileiros:

    [...] os resultados dessa pesquisa mostraram que a população estudada se mostrou homogênea, retratando a tendência histórica da Educação Física voltada para o desenvolvimento de capacidades físicas e de rendimento esportivo. Além disso, identificou-se que os professores permanecem desinteressados dos avanços que se fazem na Universidade e desconhecem novas tendências ou abordagens para a Educação Física escolar. Os professores mostraram-se presos às atividades ligadas à sua formação, o que restringe os objetivos da Educação Física à visão esportivista, higienista e a divisão por gênero, sem se aterem às diferenças individuais. (DARIDO, 2003, p. 27).

    Outro fator de total relevância quanto à exclusão das lutas por professores de Educação Física escolar, é referente à escassez de bibliografias e trabalhos acadêmicos que visem propor alternativas pedagógicas para a inclusão das lutas em ambiente escolar com embasamento teórico/científico/prático. Sem embasamento teórico, a prática torna-se “repetição”, a repetição pela repetição torna-se alienante, se estagna, não produz, não desenvolve, não gera aprendizado, perde-se o sentido de se ter um professor frente à aula, do contrário teríamos técnicos ou instrutores seguindo atividades em pranchetas e apostilas pré-definidas. Há a necessidade, portanto, de uma divulgação mais abrangente com relação a esses trabalhos, de se compartilhar informações e de se dar continuidade com aquilo que já foi produzido.

    Dentre estes poucos trabalhos produzidos, destaco os de Gomes (que discorre, de uma forma geral, a inclusão e as possibilidades das lutas nos mais diversos ambientes à partir de princípios condicionais que regem as lutas), e de Lima (que discorre de forma específica, a inclusão e as possibilidades de se trabalhar com o kung fu dentro do contexto escolar).

    Poderia estar propondo aqui, qualquer outra arte marcial para o ensino de lutas, que inclusive são muito bem vindas, acredito que temos o dever como educadores propiciar isto aos nossos alunos. Mas aqui quis dar ênfase ao ensino de kung fu, já que o mesmo me proporcionou aquilo que eu gostaria de ensinar aos meus alunos, como o desenvolvimento pessoal, criativo, emocional, físico, cognitivo e social, através da disciplina, do equilíbrio do corpo e da mente, da persistência e do respeito ao próximo.

    Para me adentrar no universo do kung fu, aqui faço um breve relato histórico que remete desde sua origem como prática militar, até sua caracterização como arte marcial, esporte e filosofia de vida.

Kung fu: uma abordagem histórica

    Tornou-se comum a utilização do termo “Kung Fu” quando nos referimos àquela arte marcial chinesa que muito nos deslumbra por seus movimentos acrobáticos, chutes altos, atletas hiper-flexíveis e com grandes habilidades manipulativas de armas brancas. Tal simbolização do termo deve-se, principalmente, pela popularização da arte marcial pelos filmes e seriados de Bruce Lee e David Carradine no início dos anos 60 e, posteriormente, pelos atores Jet Li e Jackie Chan que estrelam até hoje grandes produções cinematográficas (APPOLONI, 2004, p. 11-12).

    Porém, aquilo que chamamos de “Kung Fu” não é bem kung fu: este termo não tem uma tradução correta para nós ocidentais, é uma forma interpretativa do termo cantonês “gong fu”, que, conotativamente, significa “tempo de habilidade”, “trabalho duro”, “maestria”, “trabalho árduo que leva a perfeição“, “habilidade em executar alguma coisa” (LIMA, 2000, p. 109), não define uma arte marcial em si, é uma expressão que designa o tempo e a energia dedicados ao desenvolvimento de uma certa habilidade fundamentada na arte, não necessariamente, a arte marcial em questão. Portanto, uma pessoa pode ser kungfuísta em pintura, em música, em poemas, em dança e também em artes marciais.

    Na China, o termo kuo shu é utilizado para designar as “artes nacionais”, das quais estão presentes a Ópera Tradicional Chinesa, a literatura, a caligrafia, a medicina, a filosofia e o wu shu (“Arte da Guerra” ou “Arte Marcial”), que é o termo correto para se referir à arte marcial que chamamos erroneamente de “Kung Fu”. Lima (2000, p. 114) diz que “o wu shu é apenas uma face do kung fu. Este, por sua vez, é um complexo artístico e filosófico que se manifesta principalmente por meio do wu shu”. Não se sabe ao certo de como essa difusão errônea do termo se deu, porém, segundo a Enciclopédia de Artes Marciais (1996), há relatos históricos da primeira utilização do termo pelos ocidentais no século XVIII pelo missionário jesuíta francês Jean Joseph Marie Amiot. A difusão do termo tornar-se-ia ainda maior devido à imigração de chineses cantoneses para a América.

    Filosoficamente falando, o kung fu não “surgiu” apenas. Segundo Lima (2000, p. 109) ele sempre existiu, desde que o homem se destacou como um “ser hábil”, passando por um longo filtro histórico que remete desde os tempos das cavernas até os dias de hoje, incorporando os elementos culturais, sociais e religiosos de cada época.

    O mais antigo sinal de cultura física, na China, foi encontrado nas cavernas de Zhoukoudian, onde os homens viviam há cerca de quinhentos mil anos. Inúmeros esqueletos de cavalos e cervos levaram pesquisadores a concluir que aquelas pessoas já possuíam muita habilidade em cavalgar. Equipamentos para jogos, como pequenas bolas, arcos e flechas, com aproximadamente quarenta mil anos, demonstraram quão antiga é a especialização da cultura física entre os chineses. (LIMA, 2000, p. 117).

    Mas este wu shu, derivado do kung fu, não surgiu como uma forma de expressão filosófica-cultural-artística ou de uma necessidade de se praticar algum exercício físico para o bem-estar e qualidade de vida como acontece nos dias de hoje. Em tempos antigos, a necessidade de se dominar uma arte marcial era essencial para a própria sobrevivência, tanto para caçarem e/ou se defenderem de animais, quanto para protegerem suas famílias de outras tribos. Assim, os homens construíram armas e instrumentos de trabalho dos quais aprenderam a manipulá-los para auxiliá-los quando necessário e, na ausência deles, faziam uso dos próprios punhos.

    A história das artes marciais na China pode remontar a pelo menos seis mil anos. Diz-se que durante o reinado do rei Huang-ti, cerca de 2700 a.C., os soldados repeliram bárbaros com espadas aguçadíssimas, desde então ocorreram períodos turbulentos. (FUNAKOSHI, 1988 apud MOREIRA, 2003, p. 10).

    Com o passar das eras, o homem não contente com o que tinha, sente a necessidade de dominar terras, animais e a sua própria espécie através da força, criando grupos, clãs e exércitos com tal finalidade. Assim, os dominantes criam formas de treinamento dos quais os objetivos são, justamente, para se fortificarem como exército e de defenderem aquilo que já conquistaram, enquanto os dominados criam formas de treinamento para defenderem suas terras e famílias desses dominantes. Nascem então as artes marciais e, por estarem na China, as chamaram de wu shu, assim como no Japão, que as chamaram de bu shi, utilizando o mesmo ideograma representado pela figura 01.

Figura 01. Ideograma “Wu” (chinês) ou “Bu” (japonês), que significa

“marcial”, representa a idéia de “parar a violência” (LIMA, 2000, p.112)

    Como já foi visto, sabemos que o kung fu / wu shu não se limita apenas na arte da guerra. A construção de seu conteúdo filosófico-cultural-artístico conhecido se deve, principalmente, por três importantes linhas de pensamento muito influentes daquela época: o confucionismo, o taoísmo e o budismo, que estão presentes até os dias de hoje em diversos países.

    Por volta do século V a.C., as idéias de Confúcio (confucionismo) e de Lao-Tsé (taoísmo) eram os sistemas filosóficos predominantes da época. Pregavam o equilíbrio fundamental entre todas as coisas existentes no Universo através da contemplação do Tao (“caminho”), do equilíbrio dinâmico entre as forças yin e yang (figura 02) em cada manifestação da natureza. Tais contemplações deram origem às escolas internas, moles ou taoístas de kung fu, dos quais, segundo Lima (2000, p. 125), caracterizavam-se por movimentos que visavam o desenvolvimento do ch’i (energia vital humana) através de exercícios respiratórios e de meditação, acreditando que o ch’i fortificaria naturalmente os órgãos internos, os ossos e músculos do corpo em busca da longevidade, uma busca de desenvolvimento do “interior para o exterior”. São exemplos de escolas internas taoístas o hsin-i (“boxe da mente e forma”), o baguazhang (“palma dos oito trigramas”) e o tai chi chwan (“punho do tai chi”).

Figura 02. T’ai C’hi Tu: símbolo formado pelas forças complementares yin (preto) e yang (branco)

    Com a vinda de Bodhidharma (28º sucessor de Buda) para a China, mais precisamente, para o mosteiro Shaolin (“jovem floresta”), na província de Honan e, junto com ele, uma grande bagagem cultural indiana como a religião budista, as práticas de ioga e as técnicas de luta do vajramushti , o kung fu se desenvolveria de forma à produzir os estilos externos, duros ou budistas, seguindo “um caminho de desenvolvimento do ‘exterior para o interior’ ” (LIMA, 2000, p. 125).

    [...] enfatizam primeiro o fortalecimento dos ossos e dos músculos, que, por conseguinte, fortalecerão os órgãos internos e, por fim, a energia vital humana (ou ch’i). São estilos que se manifestam pelos movimentos velozes e bastante flexíveis, ou lentos e fortes, dependendo da característica de cada escola. (Id, p. 125).

    Devido às condições geográficas do norte e do sul da China, as escolas externas budistas passariam por duas divisões significativas com relação aos estilos de kung fu criados por seus mestres: As escolas externas do norte, devido ao seu relevo montanhoso e frio, desenvolveram técnicas visando principalmente a utilização de movimentos amplos de pernas, dos quais se destacavam as famosas “voadoras” ou “chutes voadores laterais”, que tinham por objetivo derrubar os cavaleiros de suas montarias. Pode-se citar como exemplos os estilos: tang lang quan (“louva-a-deus do norte”) e o bei shaolin (“jovem floresta do norte”).

    Já as escolas externas do sul, devido ao seu relevo plano, pantanoso e quente, desenvolveram técnicas das quais exigiam grande habilidade de utilização das mãos, associadas com uma base (de pernas) rígida e baixa, pois precisavam se manter em equilíbrio dentro dos barcos, por entre as regiões pantanosas. Pode-se citar como exemplos os estilos: hung gar (“boxe dos Hung”), fei hok phai (“garça voadora”) e o tang lang do sul (“louva-a-deus do sul”).

    A reputação dos monges lutadores logo se espalhou pela China, fazendo com que o Shaolin Kung Fu se difundisse amplamente pelo país, principalmente durante a Dinastia Ming (1368-1644), vindo mais tarde a conquistar outros países da Ásia e a dar origem a outros estilos de artes marciais, como o Karate em Okinawa. (SOUZA JÚNIOR, 2007, p. 21).

    Atualmente, na China, estão catalogados mais de 360 estilos diferentes de kung fu / wu shu (LIMA, 2000, p. 125), com características taoístas, budistas, do norte, do sul e mistos, considerados estilos tradicionais, pois os conhecimentos foram passados de professor para aluno durante gerações e, que ainda hoje, procuram manter esta tradição, buscando não perder este enorme acervo histórico-cultural do qual faz parte.

Propostas pedagógicas para o ensino do kung fu em escolas

    Uma das fontes mais utilizadas como referência, não só para a concepção de lutas, mas para toda a dimensão da Educação Física escolar, são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), dos quais procuram organizar e sistematizar as diversas manifestações da cultura corporal de movimento, de forma à auxiliar a reflexão da prática de professores através dos princípios da inclusão, dos temas transversais e das dimensões dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais.

    As lutas encontram-se no mesmo bloco de conteúdos dos quais englobam os esportes, as ginásticas e os jogos. No que diz respeito às lutas, assim a conceitua:

    [...] lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplos de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê. (BRASIL, 1998, p.70).

    Com relação aos aspectos histórico-sociais das lutas, o PCN assim diz em um de seus tópicos: “compreensão do ato de lutar: por que lutar, com quem lutar, contra quem ou contra o que lutar” (BRASIL, 1998, p. 96). Entretanto, em situações de combate e enfrentamento, seria interessante discutir e refletir sobre este assunto com nossos alunos: “Será que resolvemos algo através da luta?”; “Será que poderia vencer meu oponente sem lutar?”... Talvez pudéssemos acrescentar neste tópico o “como lutar” (somente com socos e chutes? Verbalmente? De modo cooperativo? Competitivo? “Com”? “Contra”? Para defesa pessoal?...).

    Há também outro tópico que diz o seguinte: “vivência de momentos para a apreciação e reflexão sobre as lutas e a mídia” (BRASIL, 1998, p. 97). Talvez este seja o mais difícil de ser trabalhado, principalmente pela infinidade de idéias das quais somos bombardeados pela mídia em nossos lares. A mídia vende uma imagem falsa de um dos lados bons da luta: “o fato de não lutar, mesmo possuindo o poder de vencer lutando”. Vemos na maioria dos filmes os “mocinhos” evitando lutas desnecessárias, dizendo que não treinam para brigar e que no final do filme caem em contradição, resolvendo todos os seus problemas derrotando o vilão em uma certa “luta final”, em uma certa rinha de briga.

    Os conteúdos filosóficos não são mencionados no PCN, conteúdos que fazem parte da maioria das lutas, principalmente das lutas orientais, como o taoísmo dos estilos internos de kung fu e o budoísmo do caratê. Isso se deve, principalmente, pelo processo de ocidentalização e esportivização das artes marciais aqui no Brasil, selecionando aquilo que é mais atrativo aos olhos da população (acrobacias, chutes, socos, MMAs (Mixed Martial Arts)), e excluindo os valores atitudinais, éticos, morais, cívicos e filosóficos intrínsecos à sua essência.

    Acredito que muito do que o PCN nos propõe é de total relevância, mas é necessário ter uma boa interpretação para se sair do senso-comum e ser bem crítico com relação àquilo que se é proposto para não estigmatizarmos ainda mais o conceito de luta na nossa sociedade, buscando dissociar a “luta” da “violência”. A luta pode, e deve ser trabalhada nas escolas, pois tem, em toda sua plenitude, fatores e qualidades que propiciam o desenvolvimento integral do indivíduo, em seus aspectos motores, cognitivos, sociais e (por que não) espirituais.

    Para inserirmos o kung fu no ambiente escolar, é necessário que saibamos antes os princípios condicionais que regem as manifestações de lutas, para aí sim partirmos para a especificidade do kung fu. Os princípios condicionais são: o contato proposital, a fusão “ataque/defesa”, a imprevisibilidade, o oponente como alvo e as regras (GOMES, 2008, p. 42).

    Para Gomes (2008), a luta se define como:

    Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfrentarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre um alvo móvel personificado no oponente. (p. 49).

    No kung fu, o contato proposital se dá por meio de chutes, socos, rasteiras e pequenos momentos de agarres, visando derrubar o adversário após um contra-ataque. Os golpes objetivam o semi-contato, ou seja, apenas o toque no oponente (na altura das orelhas, tronco, parte anterior da coxa e parte posterior da perna), sem levá-lo à nocaute. Estas características definem o kung fu, como uma modalidade de luta de média distância:

    A distância média seria um espaço moderado que permite a aproximação em situações de ataque entre os oponentes, pois a intenção e o propósito ofensivo vão determinar a distância entre os lutadores. Os golpes caracterizam o contato e não dependem dele para acontecer como na curta distância (o contato é um fim e não o meio). (GOMES, 2008, p. 47).

    Quanto a parte prática de vivência motora, se a proposta das aulas é o da aprendizagem do universo do kung fu, então a “aprendizagem” será um processo à ser investigado, visando “o que”, “com quem”, “quando”, “onde” e “como” este processo pode ser desenvolvido dentro do contexto escolar, buscando uma forma de trabalhá-lo de maneira pedagógica e de acordo com suas especificidades.

    Bock, Furtado & Teixeira (2002) separam em duas grandes categorias as teorias de aprendizagem: teorias do condicionamento e teorias cognitivistas:

    No primeiro grupo, estão as teorias que definem a aprendizagem pelas conseqüências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem. [...] No segundo grupo estão as teorias que definem a aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo externo e que tem conseqüências no plano da organização interna do conhecimento [...]. (p. 115).

    Olhando pela perspectiva da escola, tomando como referência os PCNs e a formação científica ideal de professores citada na primeira parte deste artigo, as teorias cognitivistas parecem se adequar melhor às necessidades dos educandos e dos educadores, uma vez que trabalham diretamente com os pontos de ancoragem dos alunos, visando à organização e estruturação da matéria de forma eficiente e significativa para o aprendiz.

    Os pontos de ancoragem são formados com a incorporação, através de uma estrutura cognitiva, de informações ou idéias relevantes para a aquisição de novos conhecimentos e, com a organização destes, busca generalizar de forma progressiva a formação de conceitos (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2002). A aprendizagem significativa processa-se quando um novo conteúdo é correlacionado a estes pontos de ancoragem, havendo, portanto, a necessidade do professor estruturar o conteúdo a ser passado de modo progressivo, de situações mais simples para situações mais complexas.

    Diante de uma aula de kung fu, assim como de outras artes marciais, parte-se do pressuposto prático da iniciação dos movimentos através das posições básicas de luta, sendo elas a posição do cavalo (ma pu), a posição do arco e flecha (gong bu) e a posição do gato (xu pu), todas elas facilmente encontradas em sítios eletrônicos, revistas especializadas, livros, artigos, fotos e vídeos, porém, a orientação de um praticante (caso o professor não tenha vivenciado tais práticas) poderá agregar maior riqueza de detalhes para o planejamento e execução dessas aulas, mas não o tornará dependente do mesmo.

    A progressão pode seguir através de deslocamentos, alternando as posições de base (cavalo, arco e flecha, gato...) para frente, para trás, para esquerda, direita e diagonais. Pode-se, durante estes deslocamentos, incluir golpes como socos e chutes de diversas formas, ainda aplicando o conceito de progressão de ordem do mais simples para o mais complexo, assim os chutes podem seguir a seguinte progressão: chutes diretos (com a ponta do pé, com o peito do pé, com a borda externa do pé...), chutes de cobertura (realizados com os joelhos estendidos à todo o momento, visando o ataque no momento descendente do chute), chutes giratórios (no sentido longitudinal do corpo, gira-se utilizando um pé de apoio no solo e outro realizando o golpe com o calcanhar, com a borda interna do pé, externa do pé, com o peito do pé...), chutes saltantes-giratórios (os mesmos que os chutes giratórios, porém acresce-se uma fase aérea, onde o aluno deve retirar os dois pés do solo durante um salto para a realização do chute) e chutes combinados (que associam dois ou mais tipos de chutes em um breve período de tempo).

    As rasteiras também fazem parte do repertório motor do kung fu, também possivelmente trabalhadas e divididas em seqüências pedagógicas, iniciando-se com as “varridas” a partir da posição de pé, progredindo até chegarem (ou se aproximarem) da altura e posição correta (sentados sobre um dos tornozelos mantendo a perna oposta com extensão de joelho). As rasteiras podem ser feitas girando o corpo para frente e para trás, podendo ser combinada de diversas formas de acordo com a criatividade do professor ou do aluno.

    Os rolamentos, kippes, mortais e as demais auto-projeções seguem os mesmos princípios de seqüência pedagógica que a ginástica artística. Porém o rolamento deve ser feito colocando um dos pés mais à frente que o outro na hora de se levantar, de preferência, já na posição de guarda de luta. As facilitações com colchonetes, planos inclinados, planos rebaixados (saindo de uma posição de maior altura para uma de menor altura), auxílio na hora de rolar de cócoras e na hora de ficar de pé, todos são bem vindos e possíveis de serem trabalhados, mesmo o professor não tendo uma formação marcial, basta transferir os conhecimentos que tem previamente, advindos de outras atividades, para a criação de um novo repertório motor.

    Porém o kung fu wu shu não se limita somente a esses aspectos técnicos, mas eles são necessários para o aprendizado das formas (toishaos e katis). Gomes (2008, p. 50) define as formas como uma “combinação de elementos e técnicas tradicionais, que expressam a essência dos movimentos das Lutas, arranjados numa seqüência pré-estabelecida, podendo ser executada na presença de adversários reais ou imaginários”. Essas formas dão um grande destaque para esta modalidade de luta, principalmente pela sua beleza e vigor, sendo expressas através de movimentos de animais, recebendo influências das filosofias budistas e/ou taoístas, podendo, ou não, utilizar armas brancas como espadas, facões, nunchakus, bastões, etc.

    Para o professor de Educação Física escolar, a realização das formas pode ser feita tranqüilamente, mesmo não sabendo seqüência alguma. Basta utilizar os movimentos de chutes, socos, rasteiras, defesas, projeções e todo o repertório que possui para a criação de uma seqüência coreografada em toishaos ou em taolus. Propor a criação de formas pelos próprios alunos é uma boa alternativa para desenvolverem o trabalho em equipe, a criatividade e a expressão corporal, além de ser uma ótima ferramenta de feedback e avaliação para o professor.

    Os movimentos direcionados para o combate serão, portanto, extraídos dos movimentos dos taolus e dos toishaos, por isso a necessidade de se trabalhar bem os aspectos técnicos, para que possam desenvolver a precisão, o equilíbrio, a força, a flexibilidade e as demais capacidades físicas, fazendo com que, através de golpes mais técnicos, o risco de se machucarem diminua. Uma alternativa para praticarem a ponderância de força nos golpes, é a utilização de outros alvos que não sejam uma pessoa, podendo-se então utilizar colchonetes, aparadores de mão, raquetes acolchoadas, bolas diversas, fitas, jornais, etc. Mas é interessante incentivá-los a praticarem com seus colegas de sala (desde que bem orientados) às práticas combativas. Assim conseguirão associar melhor a diferença entre briga e luta, desenvolverão melhor o sentimento de empatia (de se colocar no lugar do outro) e, por que não, lhes proporcionarão oportunidades de vivência de lazer.

Considerações finais

    Observa-se, portanto, que não é impossível de se trabalhar com o conteúdo de lutas nas escolas, mesmo o professor não sendo um fiel praticante marcial. As lutas obedecem à certos princípios para que ocorram (oponente alvo, fusão ataque/defesa, imprevisibilidade, contato proposital e regras próprias) conforme os estudos de Gomes (2008). Sendo assim, podemos criar inúmeras atividades das quais podem ser trabalhados estes princípios, de forma isolada e/ou associando, de forma progressiva, os demais princípios.

    Também é importante ressaltar que os exercícios devem respeitar os limites individuais de cada aluno, bem como seu nível de aspiração, ou seja, no que diz respeito à auto-estima, ao repertório de erros e acertos, as vitórias e fracassos vivenciados, bem como aos objetivos ou metas de uma tarefa:

    Se as metas dos alunos forem muito altas ou muito baixas, eles provavelmente encararão a atividade como “impossível” ou “desinteressante”, não se sentindo motivados a participar. As pessoas raramente se dedicam com afinco a uma tarefa que sabem que não conseguirão finalizar, ou que sabem que irão finalizar sem nenhum esforço. (LIMA, 2000, p. 150).

    O mesmo vale para os professores que, diante das dificuldades que encontram (baixos salários, condições precárias de trabalho, má valorização profissional, estresse contínuo...) muitas vezes sentem-se desmotivados e, por conta disto, não lecionam como deveriam, prejudicando o aprendizado de vários futuros cidadãos conscientes e integralmente desenvolvidos.

    As crianças aprendem com os erros, mas elas se motivam com os êxitos. Portanto, é nosso dever como professores proporcionar-lhes um ensino de qualidade, integrador, propício ao aprendizado motor, cognitivo, afetivo e social, levando a prática do pensamento reflexivo diante das diversas informações provindas da mídia e de concepções preconceituosas de nossa sociedade.

    O professor bem subsidiado possui clara noção do seu papel político como formador de cidadãos que se constituem em sujeitos do processo de aprendizagem. Desta forma, o educador não deverá limitar sua formação aos saberes específicos dos conteúdos, mas conhecer de forma ampla as questões pedagógicas e o processo de aprendizagem do ser humano para elaborar e adequar situações de ensino com especial atenção aos níveis de conhecimento reais dos seus alunos, prevendo objetivos concretos e exeqüíveis. (MATTOS, 2008, p. 59).

    A inserção do universo cultural do kung fu representa apenas uma das mais diversas e milhares de modalidades de lutas existentes. Não proponho aqui o ensino exclusivo de kung fu nas aulas direcionadas às lutas no contexto escolar, mas deixo claro que ele possui características que podem ser trabalhadas sim, por professores não kungfuístas e, despertando assim, o interesse pela prática da modalidade por entre seus alunos. Acredito que não devemos “marcializar” o aluno nas aulas de Educação Física escolar, mas temos a obrigação de oferecer-lhes oportunidades contínuas de aprendizagem, explorando o máximo possível de cultura corporal de movimentos, e o kung fu, por toda sua história, filosofia e disciplina, pode vir a se somar com aquilo que o aluno já possui, basta nosso interesse em proporcionar-lhes isto.

Referências bibliográficas

  • APOLLONI, Rodrigo Wolff. “Shaolin à brasileira”: estudo sobre a presença e a transformação de elementos religiosos orientais no kung fu praticado no Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2004. 221p.

  • BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 368p.

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  • BULL, Wagner J. Aikido: o caminho da sabedoria – a teoria. São Paulo: Cultrix, 2003. 488p.

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  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 2128p.

  • FUNAKOSHI, Gichin. Karatê – do Nyumon: texto introdutório do mestre. São Paulo: Cultrix, 1988.

  • GOMES, Mariana S. P. Procedimentos pedagógicos para o ensino das lutas: contextos e possibilidades. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. 119p.

  • LIMA, Luzia Mara Silva. O tao da educação: a filosofia oriental na escola ocidental. São Paulo: Ágora, 2000. 220p.

  • MATTOS, Mauro Gomes de. Educação física infantil: construindo o movimento na escola. 7. ed. São Paulo: Phorte, 2008. 130p.

  • MOREIRA, Sandro Marlos. Pedagogia do esporte e o karatê-dô: considerações acerca da iniciação e da especialização esportiva precoce. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2003.

  • SOUZA/JÚNIOR, Orlando Marreiro de. Estratégias de enfrentamento utilizadas por praticantes de artes marciais. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) – Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2007.

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revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
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