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Estresse em jovens atletas: artigo de revisão

Estrés en jóvenes deportistas: un artículo de revisión

 

*Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Física

da Universidade Federal do Paraná.

**Professora Doutora do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal do Paraná

Centro de Estudos no Comportamento Motor

Priscilla Bertoldo Santos*

Joice Mara Facco Stefanello**

pri_bts@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os diferentes tipos de pressão vivenciadas por jovens atletas no contexto esportivo podem transformar-se em fatores geradores de estresse. Considerando que os jovens passam por alterações em diferentes níveis (físico, mental e social), encontram-se em fases sensíveis e críticas do seu desenvolvimento. Além disso, devido à sua pouca experiência, os atletas mais jovens podem apresentar maiores problemas para controlar suas emoções e reações diante de situações estressoras, aumentando a probabilidade de sentirem os efeitos negativos do estresse. Desse modo, torna-se extremamente necessário conscientizar a todos os envolvidos na prática esportiva destinada a jovens atletas (pais, professores, técnicos e demais profissionais), sobre a importância da administração das emoções e reações destes indivíduos frente a situações de estresse, a fim de tornar a prática esportiva uma experiência saudável e equilibrada.

          Unitermos: Estresse. Jovens atletas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    No contexto esportivo, os atletas estão constantemente sujeitos aos mais diversos tipos de pressão, externas ou internas. As pressões externas compreendem a avaliação do desempenho pelos técnicos e demais participantes, as expectativas do treinador em relação ao desempenho do atleta, o comportamento da torcida e as críticas dos companheiros de equipe. Já as pressões internas, incluem o alcance de objetivos pessoais, as expectativas de sucesso ou fracasso e as percepções dos atletas sobre vitórias e derrotas (DE ROSE JR, 1997).

    Os diferentes tipos de pressão podem transformar-se em fatores geradores de estresse, dependendo da percepção individual do atleta. Ou seja, determinada situação poderá ser considerada um fator gerador de estresse para certo indivíduo e não para os demais. Isso se deve ao fato de a percepção do estresse depender da avaliação da demanda, da qualidade de recursos e da experiência que o indivíduo dispõe para lidar com cada situação (STEFANELLO, 2007).

    Considerando que os atletas mais jovens se encontram em fases sensíveis de desenvolvimento da sua personalidade, estes poderão apresentar maiores dificuldades em controlar suas emoções e reações (SAMULSKI; CHAGAS, 1992). Têm mais sucesso aqueles que conseguem sobreviver às pressões do esporte e que superam angustias e incertezas (BRANDÃO, 2000). Nesse sentido, estudos que abordam o estresse em jovens atletas apresentam um papel relevante, pois não se pode ignorar que nesta fase do desenvolvimento do indivíduo, o seu organismo e a sua estrutura afetivo-emocional estão mais suscetíveis a desequilíbrios graves e de conseqüências perduráveis, especialmente quando submetidos a pressões constantes. A autocobrança em relação as pressões é que ocasiona os maiores níveis de estresse nos jovens atletas, e ,como conseqüência, poderá levá-los ao abandono da prática esportiva (BECKER JUNIOR, 2000; STEFANELLO, 2002; PIRES et al, 2005).

Estresse

    O estresse corresponde a uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa está diante de uma situação que, de algum modo, a irrite, amedronte, excite, confunda ou que a faça imensamente feliz (LIPP, 1996). É caracterizado pelas alterações fisiológicas e psicológicas quando o indivíduo se encontra em uma situação que requeira uma reação mais forte do que aquela que corresponde à sua atividade orgânica normal (VASCONCELLOS, 1995). Dessa forma, uma situação de estresse manifesta-se sempre que se apresenta um desequilíbrio entre a condição da ação individual e a situacional ou motivacional, isto é, quando ocorre uma discrepância entre as capacidades da pessoa e as exigências da situação ou entre suas necessidades e as possibilidades de satisfazê-las, com importantes conseqüências para o indivíduo (SAMULSKI et al., 1996). Nesse sentido, situações gerais que provocam o estresse são todas aquelas nas quais existem dúvidas, que são recentes, que exigem mudanças e urgência ou naquelas em que existe falta ou excesso de informação ou que faltam condutas para fazer frente e conduzir a situação (GARCIA, 2000).

Estresse no esporte

    No contexto esportivo, o estresse pode ser definido como uma situação vivenciada pelo atleta ou treinador, baseada em suas experiências, que é percebida de forma subjetiva em função de sua interação com o meio ambiente. Ou seja, de sua interação com o local, os adversários, os árbitros, os técnicos, a torcida, a preparação, o clima e, até mesmo, com os aspectos administrativos (registro de jogadores, patrocinadores, contratos e fatores paralelos como imprensa e torcida, etc.). Assim, é comum esperar que as pessoas envolvidas no ambiente esportivo sejam submetidas constantemente a um grande número de estressores, tais como observações, opiniões e julgamentos, que podem fazer com que estas pessoas criem expectativas, objetivos e pressões inadequadas para seu desenvolvimento (MARTENS, 1990).

    Atualmente, o estresse no contexto esportivo tem sido explicado como um processo onde as variáveis ambientais influenciam a percepção do atleta, proporcionando manifestações psicofisiológicas que irão interferir no seu desempenho (WEINBERG; GOULD, 2001). O modelo de estresse adaptado de McGrath por Weinberg e Gould (2001) é composto por 4 estágios inter-relacionados (Figura 1). O primeiro estágio consiste de situações ou demandas ambientais, o segundo estágio refere-se à percepção individual das demandas ou situações ambientais, o terceiro estágio corresponde à resposta do indivíduo à avaliação cognitiva do evento estressor, o quarto e último estágio compreende o comportamento ou o desempenho esportivo.

Figura 1. Processo de estresse adaptado de McGrath por Weinberg e Gould (2001, p. 98)

    O estresse é um aspecto inegável no esporte competitivo que pode ser vivenciado antes, durante ou depois das competições, ocorrendo independentemente da idade, do sexo, da posição específica ou do nível competitivo dos atletas (ANSHEL, 1990). Ele poderá ser positivo quando representado por uma necessidade de alcançar ou de manter uma ativação ótima antes e durante o evento, levando o atleta a mobilizar energias para alcançar seus objetivos. Mas, na maioria das vezes, ele será negativo, especialmente quando derivado de pressões externas ou do próprio indivíduo, tornando a situação uma ameaça ao seu bem estar ou à autoestima (CRUZ, 1996).

Jovens atletas

    As atividades esportivas podem contribuir para um desenvolvimento biopsicossocial harmonioso dos seus praticantes. Entretanto, para isso, é necessário que a prática esportiva aconteça de forma correta e coerente com as condições, características e necessidades dos seus atletas, correspondendo ao estágio do seu desenvolvimento (CAMPOS, 2004).

    O desenvolvimento de componentes físicos, técnicos, táticos e psicológicos, somado às condições naturais que o individuo traz ao nascer, em seu código genético é potencializado pelas atividades que ele realiza no meio social e cultural (CARRAVETTA, 2001). Assim, o ato de praticar esportes, em suas diferentes especificidades, exige dos jovens atletas um alto desenvolvimento de suas funções, qualidades e estados psíquicos para a sua permanência no processo de preparação e competição esportiva (CARRAVETTA, 2001), de modo que o início esportivo precoce e inadequado pode desencadear um processo de desgaste e desilusão do esporte chamado síndrome da saturação esportiva (BECKER JR, 2007).

    As rotinas de treinamentos, competições e seleções no esporte podem ser extremamente conflituosas e envolver uma série de obstáculos, como a separação do atleta de sua família e do seu meio social, a dificuldade de continuação dos seus estudos, o alto grau de cobrança nos treinamentos e competições e a incerteza quanto à continuidade de sua carreira esportiva (MARQUES; SAMULSKI, 2009). Além disso, é cada vez mais freqüente a utilização de modelos de treinamento esportivo destinados ao esporte profissional nos programas esportivos destinados a crianças e adolescentes (DE ROSE JR, 2002).

    No entanto, particularmente no período da adolescência, os jovens passam por alterações em diversos níveis (físico, mental e social) e por um processo de aquisição de características e competências que os capacitem a assumir os deveres e os papéis sociais de um adulto, encontrando-se em fases sensíveis e críticas do seu desenvolvimento (SAMULSKI, 2002; STEINBERG, 1993). Devido à sua pouca experiência competitiva, atletas adolescentes podem apresentar maiores problemas para controlar suas emoções e reações em situações de competição, aumentando a probabilidade de sentirem os efeitos negativos do estresse inerente ao processo esportivo (SAMULSKI; CHAGAS, 1992).

    O estresse para jovens atletas está relacionado à complexidade da tarefa (quando esta é maior que os recursos do praticante), à pressão exercida por adultos envolvidos no processo competitivo (pais e técnicos), à definição irreal de objetivos, ao nível de expectativa exagerado (pessoal e dos outros) em relação ao desempenho, e ao treinamento e especialização precoces (DE ROSE JR, 2002). Nesse sentido, os atletas devem estar preparados para as pressões do esporte de alto rendimento, para as incertezas e para as angústias que interferem no seu sucesso (BRANDÃO, 2000).

    A capacidade para lidar com o estresse, portanto, pode ser determinante para o rendimento de um atleta (DE ROSE et al, 2004; KORUC et al, 2007; PAIN; HARWOOD, 2007; STEFANELLO, 2007). No esporte, existe uma grande preocupação em relação à queda de produção do atleta nos treinamentos e nas partidas, que compromete a continuidade e a escalação do atleta para as próximas competições. Para atender o que se espera dele, o atleta precisa enfrentar adequadamente as expectativas do treinador, de seus companheiros de equipe, dos seus familiares, dos amigos e, em determinadas situações, dos meios de comunicação (BRANDÃO, 2000).

Conclusão

    Conclui-se, através da presente revisão, que é extremamente necessário conscientizar a todos os envolvidos na prática esportiva de jovens atletas (pais, professores, técnicos e demais profissionais), sobre a importância da administração das emoções e reações destes indivíduos frente a situações estressoras, a fim de tornar esta prática uma experiência saudável e equilibrada. Para tal, é importante que treinadores e professores se comuniquem com os atletas na linguagem deles, de forma madura, sem ameaças e não enfatizando demasiadamente os resultados e as formas de premiações. Também importante é não considerar o atleta apenas como uma ferramenta para chegar ao resultado esperado (a vitória em uma competição), mas desenvolver um trabalho de formação pautado em praticas diversificadas, enfatizando o esforço individual e as melhoras progressivas no desempenho.

Referências

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  • WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2° Ed, Porto Alegre: Artmed, 2001.

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