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Depressão puerperal: humanização da assistência

na perspectiva do ‘cuidar’ em enfermagem

Depresión postparto: la humanización de la atención desde la perspectiva del 'cuidado' en enfermería

Postpartum depression: humanitarian assistance in view of the ‘care’ in nursing

 

*Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA)

**Enfermeira pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).

***Enfermeiro Mestre em Motricidade Humana

Pela Universidade Castelo Branco (UCB)

Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA)

Ana Caroline Guedes Souza*

Gisele Lobo Braga**

Mário Antônio Moraes Vieira***

lorackk@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O presente estudo trata da humanização da assistência na perspectiva do “cuidar” em enfermagem aos casos de Depressão puerperal, tendo como principal objetivo compreender de que forma se dá o “cuidar” pelos enfermeiros aos casos de depressão puerperal. Método: Estudo com abordagem qualitativa descritiva, que se desenvolveu em uma instituição do Governo Estadual, referencia estadual em psiquiatria, cardiologia, nefrologia e obstetrícia, onde foram entrevistadas 5 enfermeiras que prestam assistência a pacientes portadoras de depressão puerperal. Resultados e discussão: Através da análise do conteúdo proposta por Bardin apud Triviños (1987), foram construídas 07 categorias: “O conhecimento dos enfermeiros sobre humanização”, “O cuidado destinado às portadoras de depressão puerperal”, “A preparação da equipe para ‘cuidar’ de um caso de Depressão puerperal”, “A preparação do enfermeiro para ‘cuidar’ de um caso de Depressão puerperal”, “Humanização do ‘Cuidar’”, “Facilidades para se promover uma assistência humanizada” e “Dificuldades para se promover uma assistência humanizada”. Conclusão: A análise dos dados possibilitou o entendimento sobre como está sendo realizado o “cuidar” pelos enfermeiros às portadoras de Depressão puerperal, assim como de que forma a humanização vem sendo empregada nesse processo, contribuindo com os profissionais enfermeiros, assim como com os futuros profissionais de saúde, através do repasse de informações, estimulando de forma indireta a melhoria da assistência, e fomentando a discussão sobre o tema e sobre a necessidade da busca de conhecimentos sobre o mesmo.

          Unitermos: Humanização. Cuidar. Depressão puerperal.

 

Abstract

          Objective: The present study is the humanization of care in view of "caring" in nursing in cases of postpartum depression, with the primary objective to understand how it takes "care" for nurses in cases of postpartum depression. Method: Study with a qualitative description, which developed into an institution of state government, state reference in psychiatry, cardiology, nephrology and obstetrics were interviewed 5 nurses who provided care to patients suffering from postpartum depression. Results and quarrel: Through content analysis proposed by Bardin apud Triviños (1987), were constructed 07 categories: "The knowledge of nurses on humanization," "The care given to women who suffer from postpartum depression," "Preparing the team for 'taking care' of a case of postpartum depression", "Preparing for the nurses 'care' of a case of postpartum depression, "Humanization of 'Caring'," "facilities to promote a humanized" and "difficulties in promoting a humanized". Conclusion: The data analysis allowed the understanding of how it is being carried out "care" the nurses suffering from postpartum depression, as well as how the humanization has been used in the process, contributing to the professional nurses, as well as future professionals health through the transmission of information and indirectly stimulating the improvement of healthcare, and fostering discussion on the topic and the necessity of searching for knowledge about it.

          Keywords: Humanization. Care. Postpartum depression.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    O período pós-parto é considerado um período de risco psiquiátrico aumentado no ciclo da vida da mulher. A depressão puerperal pode se manifestar com intensidade variável, tornando-se um fator que dificulta a criação de um vínculo afetivo entre a mãe e o bebê, podendo interferir nas futuras relações interpessoais estabelecidas pela criança (BALLONE, 2001).

    Segundo Cury & Vieira Filho (2003), o puerpério é um período de grandes alterações no âmbito social, psicológico e físico da mulher, o que a torna mais vulnerável ao aparecimento de síndromes psiquiátricas. Os transtornos que se iniciam e recidivam no puerpério com mais freqüência são os transtornos de humor.

    De acordo com Araújo (2000), a depressão puerperal é um distúrbio de grau moderado à severo, com início entre seis e oito semanas após o parto, atingindo cerca de 15% a 20% de todas as parturientes. Entretanto, esses números podem ser bem maiores já que muitas pacientes não buscam ajuda para o problema, além das dificuldades de se diagnosticar a doença, devido alguns de seus sintomas assemelharem-se aos de outras patologias.

    Segundo Botega & Dias (2002), as doenças psiquiátricas do puerpério foram descritas inicialmente pelo médico francês Louis Marcé. Este, percebendo a associação da alta prevalência de quadros psicóticos e o fato de algumas dessas pacientes terem apresentado efeitos da septicemia como trauma, dor e perda de sangue e exaustão, propôs que tais quadros teriam caráter orgânico.

    A partir do século XX, com a diminuição da incidência de infecções puerperais, houve uma diminuição conseqüente nos casos de quadros confusionais psicorgânicos. Isso, juntamente à variabilidade de sintomas psiquiátricos, fez com que esses quadros passassem a ser abordados com uma nova visão.

    Com isso, passou-se a perceber a importância desta patologia dentro do ciclo de vida desta mãe, e a necessidade de se ter a humanização como ponto primordial para um cuidar adequado a cada caso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

    Atualmente o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM–VI) não considera os quadros confusionais ocorridos no puerpério como específicos desse período, sendo o período puerperal visto apenas como um especificador. No entanto, diversos autores defendem a importância da especificidade dos quadros desses transtornos dentro do período puerperal.

    O grande desafio para a enfermagem na atual conjuntura é reconstruir seu saber-fazer a partir de novas formas de interpretação do que é o cuidado, cuidar e ser cuidado. Assim, é importante reconstruir novos conhecimentos, práticas e reflexões, incorporando estes novos significados, de modo a produzir diferentes maneiras de identificar o que se chama de cuidar e de cuidado, no cenário amplo chamado mundo e não somente num cenário de saúde e doença. Dessa forma, a enfermagem carece de pesquisas que fundamentem seu saber-fazer e que aponte novas perspectivas do agir primando por mais autonomia de acordo com os preceitos ético-legais da profissão.

Objetivo

    Compreender de que forma se dá o “cuidar” pelos enfermeiros aos casos de depressão puerperal;

Método

Tipo de estudo

    Foi realizado um estudo descritivo com abordagem qualitativa, pois este modelo metodológico possibilita uma interpretação mais profunda sobre a atuação do enfermeiro nos casos de depressão puerperal. A pesquisa foi realizada no âmbito hospitalar de uma instituição do Governo do Estado, referência estadual obstetrícia na cidade de Belém.

Procedimento metodológico

    Para a realização da coleta de dados as informantes selecionados passaram por uma entrevista individual semi-estruturada, na qual foi utilizado um roteiro com perguntas abertas.

    Realizou-se então a análise do conteúdo obtido com as entrevistas, segundo o método de tratamento de informações proposto por Bardin apud Triviños (1987), que utiliza a idéia de que ele deve ocorrer em três etapas: pré-análise, descrição analítica e interpretação referencial. As entrevistadas foram codificadas com o nome de flores: Rosa, Jasmim, Hortência, Sândalo e Bromélia.

Resultados e discussões

    Constatou-se que as entrevistadas têm uma boa visão sobre o que é humanização, apontando seus aspectos mais importantes como respeito e compreensão as dificuldades as quais as pacientes enfrentam, assistindo-a como um todo, procurando “cuidar” atendendo suas necessidades biopsicoespirituais. A enfermeira rosa ressalta ainda um ponto muito importante para a humanização que é responsabilidade técnica, pois a busca por conhecimento possibilita que o profissional tenha mais segurança no trabalho que executa, e é importante que ele passe essa segurança a paciente durante a realização dos cuidados.

    Estes aspectos relevantes são mencionados por Ballone (2001), quando refere que Humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem estar constantemente sorrindo, mas também, compreender seus medos e angustias dando apoio e atenção. Além do atendimento fraterno e humano, deve-se estar sempre procurando aperfeiçoar os conhecimentos e valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos os elementos implicados no evento assistencial para realizar um “cuidar” realmente humanizado.

    Observou-se que tanto Sândalo quando Hortência se reportaram a uma situação muito importante que é a realização do diagnóstico, que deve ser realizado de forma correta, pois os sintomas de depressão puerperal se confundem muito com o de outras doenças. Além disso, a maioria das entrevistadas informou que ao perceberem alterações de humor significativas nas pacientes solicitam a ajuda da equipe multiprofissional.

    Parafraseando Shannon e Irene (2002), “os enfermeiros estão em uma posição estratégica. Uma falha pode resultar em conseqüências trágicas”; e uma dessas falhas pode começar pelo diagnóstico, que se não for bem realizado pode ocasionar conseqüências dramáticas tanto para a paciente quanto par o seu filho.

    Outro ponto comum entre as entrevistadas é a atenção e apoio que são destinadas a paciente, que devem ser aumentados, devidos aos riscos apresentados tanto para o bebê quando para a própria puérpera. Daí a necessidade de se realizar um diagnóstico de enfermagem direcionado as necessidades humanas básicas alteradas identificadas pelo profissional no momento da assistência. Esse felling é diretamente proporcional à preparação acadêmica e experiência acumulada ao longo da vida profissional.

    Rocha (apud BOTT & SILVA, 2005), aponta como medidas preventivas dos transtornos depressivos puerperais o máximo de apoio emocional e físico durante a gravidez, parto e puerpério (obstetra, enfermagem e pediatra).

    Notou-se que todas as enfermeiras consideram equipe multiprofissional, envolvida no cuidado a puérpera com depressão, preparada para atender essas pacientes, e todas concordam que essa equipe é composta por enfermeiros, médico, psicólogo e psiquiatra, sendo ainda citados o técnico de enfermagem, o terapeuta e o assistente social.

    Simão (apud BOTT & SILVA, 2005), afirma que cabe a equipe de saúde um preparo e percepção a cerca dos sinais iniciais da doença intervindo de maneira segura e competente.

    Apenas Jasmim e Hortência afirmaram terem sido preparadas na acadêmia para atender a esses casos, as outras entrevistas concordaram que sua preparação se deu na prática profissional através do contato com casos da doença e troca de experiências com outros profissionais, além disso, Bromélia disse ter participado também de várias palestras sobre o tema, e Rosa afirmou que sua apresentação se deu em um curso de psicologia.

    Constatou-se que todas as entrevistadas consideram o atendimento prestado as portadoras de depressão puerperal humanizado, apenas Sândalo concorda em partes, pois afirma que ainda falta humanização por parte de alguns profissionais da instituição, como parte da equipe médica e dos técnicos de enfermagem.

    Verificamos que a humanização é empregada pelas enfermeiras através da utilização de alguns instrumentos como a sistematização de enfermagem, o acolhimento e a visita diária para ouvir a paciente e a partir disso “cuidar” da mesma de forma individualizada, respeitando as necessidades de cada caso.

    Segundo o Ministério da saúde (2006), entre os dispositivos utilizados para a operacionalização da Política Nacional de Humanização destaca-se o “acolhimento”, que tem a característica de um modo de operar os processos de trabalho de saúde dando atenção a todos que procuram os serviços de saúde, procurando ouvir suas necessidades e assumindo uma postura capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas junto aos usuários.

    Observou-se que as enfermeiras consideram como pontos que contribuem para uma assistência humanizada uma estrutura adequada, uma equipe capacitada e consciente da importância de se humanizar o atendimento. Hortência cita ainda o fato das pacientes poderem ter acompanhantes, o que facilita a assistência. É indispensável por parte dos profissionais o estabelecimento de um vinculo afetivo com os paciente, para que se possa estar mais próximo dele; e com os profissionais também para que dentro das relações interpessoais se possa haver troca de experiências melhorando a qualidade assistencial.

Conclusão

    Ao analisar de que forma se dá o “cuidar” pelos enfermeiros aos casos de depressão puerperal, podemos perceber que a maioria dos profissionais de enfermagem envolvidos nesse processo são conscientes da importância do estabelecimento de ações mais humanas e aproximadas às pacientes, para que a assistência prestadas à elas atenda não somente suas necessidades físicas, mas também as suas necessidades psicoespirituais.

    Ressaltamos ainda, na fala das entrevistadas, que é de extrema importância à educação continuada permanente, oferecida pela instituição aos profissionais, sobre humanização das relações profissional-profissional e profissional-paciente, o que é um fator facilitador para que a equipe multiprofissional atue de forma mais eficaz através de troca de experiências e de apoio mútuo para tender aos pacientes.

    Constatou-se felizmente que um “cuidar” humanizado vem sendo empregado através de relações interpessoais mais afetivas e da utilização de instrumentos indispensáveis a um cuidado de qualidade, como a sistematização de enfermagem, principalmente realizando um bom diagnóstico e assim direcionando um tratamento mais eficaz, além de um acolhimento adequado e visitas diárias as enfermarias para o acompanhamento mais próximo de cada caso.

    Contudo, percebeu-se que ainda há por parte de alguns enfermeiros falta de habilidade ao defrontar-se com um caso de depressão puerperal, apesar de todas as entrevistadas já terem passado por essa experiência, devido terem assistido pacientes portadoras de depressão puerperal.

    Com relação às dificuldades encontradas para se realizar uma assistência humanizada podemos dizer ainda que, infelizmente, encontramos a adoção de Normas pela instituição que dificultam a presença de amigos e familiares junto a puérpera, o que poderia facilitar a recuperação dessas pacientes, mas ao que tudo indica essas normas são para a própria segurança das pacientes, já que a instituição não possui uma estrutura física capaz de permitir esse acesso sem colocar a saúde das próprias pacientes em risco; além de que apesar de todo o empenho de alguns profissionais, ainda há alguns obstáculos que dificultam o desenvolvimento do trabalho da equipe multiprofissional, pois ainda há por parte de alguns membros da mesma uma certa resistência em adotar posturas mais humanizadas durante a prestação da assistência aos clientes, o que felizmente não impede que um trabalho de qualidade de seja realizado na instituição.

    E como contribuição deste estudo apresento as seguintes recomendações que deixam claro aos profissionais de saúde e aos futuros enfermeiros que há sim a possibilidade de se desenvolver um “cuidar” de qualidade pautado na humanização, e que é possível fazer as coisas acontecerem, pois elas dependem mais de conscientização, esforço e boa vontade dos que fatores materiais. Somos pessoas que cuidam de pessoas, sendo assim fica clara a importância da humanização e da necessidade de se ter como foco o atendimento das necessidades dos seres humanos, sejam eles pacientes ou profissionais.

Referências

  • ARAÚJO, A. Agenda da mamãe. Disponível em: http://www.rodrigo.pro.br.agendadamamae.htm. Acesso em: 13 dez. 2006.

  • BALLONE, G. Psiqweb: Depressão pós-parto, 2001.

  • BOTEGA, N. & Dias (org.). Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • BOTT & SILVA. Depressão puerperal - Uma revisão de literatura. Revista eletrônica de enfermagem, V.2, n.2, p.236, 2005.

  • CURY & VIEIRA FILHO. Protocolos assistenciais. Clínica obstétrica da faculdade de medicina da USP. 2. ed. São Paulo: ATENEU, 2003.

  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual Técnico. Pré-natal e Puerpério: Atenção qualificada e humanizada. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. 2. ed. Brasília: FEBRASGO, 2003.

  • SHANNON, E. & IRENE, M. O cuidado em enfermagem materna. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • TRIVIÑOS, A. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em ação. São Paulo: Atlas, 1987.

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