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Os benefícios do atletismo em atividades diárias e em 

modalidades desportivas para pessoas com deficiência visual

Los beneficios del atletismo en actividades de la vida diaria y en modalidades deportivas para personas con discapacidad visual

 

*Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina

Especialista em Atividade Física Adaptada e Saúde (UGF)

Núcleo de Esportes Adaptados da Universidade Federal de Santa Catarina

**Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina

Mestrando do PPGEF da Universidade Federal de Santa Catarina

Núcleo de Esportes Adaptados da Universidade Federal de Santa Catarina

***Professor Adjunto do Centro de Desporto da Universidade Federal de Santa Catarina

Doutorado em Gestão do Conhecimento (UFSC)

Núcleo de Esportes Adaptados da Universidade Federal de Santa Catarina

Luiz Alberto Rodrigues*

Roger Lima Scherer**

Luciano Lazzaris Fernandes***

luizalbertorodrigues@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Neste texto, apresentaremos, a partir de nossas observações, os benefícios que o atletismo pode proporcionar as pessoas com deficiência visual no seu dia-a-dia e em outras modalidades esportivas.

          Unitermos: Esportes adaptados. Deficiência visual. Atletismo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    Considera-se deficiente visual o individuo com perda total ou parcial da capacidade de ver com o melhor mesmo após a melhor correção óptica (DIEHL,2006), abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo várias classificações da redução desta visão (CIDADE,2002).

    Devido esta redução da capacidade visual ou a inexistência dela, necessita-se criar adaptações e métodos de ensino/treinamento que possibilitem a iniciação e progressão das pessoas com esta característica em relação ao esporte praticado da maneira convencional.

    Esse processo de elaboração do método deve-se levar em consideração a classificação visual, pois você terá informações importantes que são utilizadas em futuras competições, como a utilização ou não de guia, as provas existentes para aquele nível de classificação e os tempos a serem trabalhados.

    Após a elaboração do método de ensino, mesmo sabendo que a cada dia são descobertos e criados novos movimentos que auxiliam o aprendizado das pessoas com deficiência deve-se introduzir as regras do desporto e melhorar seu desempenho.

    O ganho com o atletismo é significativo tanto para melhoria da qualidade de vida, quanto na utilização das características mais marcantes deste esporte que é saltar, lançar (arremessar), e o correr em modalidades esportivas.

A pessoa com deficiência visual

    O indivíduo com deficiência visual é uma pessoa normal, que não enxerga ou possui visão reduzida, mas que tem as mesmas condições de desempenhar muitas atividades assim como as que apresentam visão normal. Todavia a partir dos primeiros dias de vida sua limitação começa a refletir negativamente em seu desenvolvimento quando não estimulado.

    Sendo que durante os primeiro meses de vida as crianças interagem com o meio através da visão, já podemos citar que a criança com deficiência visual começa a sua vida com um atraso, pois a curiosidade que a visão proporciona é inexistente ou é mais dificultada dependendo do nível da capacidade de identificação dos objetos em comparação com uma criança vidente.

    Esse atraso compromete de certa maneira a criança deficiente visual em comparação com uma vidente, podendo se manter no decorrer da vida desta pessoa comparativamente a um vidente.

    Segundo Veríssimo (2006), a pessoa com deficiência visual apresenta locomoção insegura, pouco controle e pouca consciência corporal, problemas posturais e insegurança o que pode gerar comprometimento do equilíbrio (estático), coordenação, agilidade, controle corporal e postural. O Esporte pode ser uma ferramenta para minimizar estes problemas.

    Buscando reduzir os problemas relatados pelo autor supracitado, estimular uma prática em que ele possa desenvolver o equilíbrio, a lateralidade, a coordenação, a flexibilidade se torna imprescindível. Observa-se em pessoas cegas ou com baixa visão que tiveram esta estimulação uma maior facilidade no desempenho das atividades diárias e em atividades esportivas.

    Quanto maior o número de atividades feitas anteriormente maior também será a facilidade de adaptação a novas atividades como, começar a jogar bocha sendo que praticou o goalball (esporte criado para deficientes visuais) durante um tempo.

Princípios do atletismo e suas utilizações cotidianas

    Se pararmos alguns minutos para observar ações cotidianas das pessoas, veremos alguns movimentos motores fundamentais do ser humano, seja na ação de correr para embarcar num ônibus, de ter que saltar uma poça para não sujar os sapatos, ou lançar algo para outra pessoa reduzindo assim à distância a ser percorrida para realizar a entrega. Facilmente encontraríamos essas três características em um canteiro de obras em uma construção civil, por exemplo.

    No esporte não é diferente, principalmente em esportes coletivos realizados em campos ou quadras, o que é comum na prática do desporto adaptado e principalmente para as pessoas com deficiência visuais.

    Mas, antes de analisarmos essas características em algumas modalidades esportivas, iremos conceituar cada uma dessas citando algumas curiosidades e especificidades desses movimentos.

Correr

    Nas várias formas do homem se locomover destaca-se a corrida, que é a maneira mais rápida de percorrer um determinado utilizando apenas o corpo. Enquanto andando existe uma série de apoios sucessivos dos pés no solo de modo alternado, sem nunca perder o contato com o mesmo, correndo, intercalamos entre os apoios uma fase de suspensão, portanto, perdemos o contato com o solo. Isto é o que caracteriza a corrida, atividade natural, simples, espontânea (FERNANDES, 1979).

    A corrida desempenha importância fundamental nas atividades esportivas, pois além de desenvolver várias qualidades físicas, estimula e ativa as funções cardiorrespiratórias.

Arremessar (lançar)

    Para o português, de acordo com o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, a palavra arremesso significa o ato ou efeito de arremessar; arremessar vale como atirar ou lançar com força, e finalmente, lançar é igual a atirar com força ou arremessar.

    Para o regulamento oficial, editado e distribuído pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e DED (Departamento de Educação Física e Desporto), fornecido pela federação que rege o atletismo, é utilizada a palavra lançamento para o dardo, o disco e o martelo e arremesso para o peso, cuja diferenciação é também encontrada nos livros alemães e ingleses. Isto se deve ao fato de que existe uma pequena diferença quanto ao gesto que caracteriza a maneira de o atleta soltar o implemento ao ar, onde observamos que o peso é empurrado e o disco, o dardo e o martelo são projetados com características diferentes (FERNANDES, 1978).

    Com tudo isso conclui-se que o arremesso e o lançamento têm o mesmo significado e as diferenças são apenas em alguns casos ou situações e em nosso estudo será mencionado o termo arremesso para ambas as formas.

Saltar

    Saltar: é o ato de elevar-se do chão com esforço; atirar-se de um lugar para outro; passar por cima; transpor; pular.

    No atletismo isso tem o mesmo sentido, porém no salto não se leva apenas em consideração o fato de transpor, atira-se de um local para o outro, mas deve-se considerar a manutenção da integridade física do praticante na queda. O fato de não saber amortecer uma queda pode retirar um atleta de uma competição (FERNANDES, 2003).

    A pessoa com deficiência visual tem pouca noção de profundidade e, por exemplo, acaba muitas vezes tendo este salto facilitado por um buraco que não deveria deveria existir, ou uma calçada mais alta, sendo importante a fase de amortecimento/queda para evitar uma lesão mais grave. O treinamento que utiliza o salto poderia ajudá-lo no amortecimento destes saltos não programados.

    Mas não apenas nessas situações, o fato é que poderia ser uma grande ferramenta em modalidades esportivas, pois, para um salto, dependendo da metodologia utilizada no treinamento deve-se também dar valor a retomada do equilíbrio.

Os benefícios do atletismo em função das modalidades para pessoas com deficiência visual

    Os exercícios e treinos atléticos têm efeitos benéficos no desenvolvimento do organismo humano. Práticas adequadamente selecionadas – bem como seu uso em todos os grupos etários e em todos os domínios da educação física – asseguram, no decurso do processo de treino físico, o devido funcionamento e desenvolvimento do corpo humano.

    Marchar, correr, saltar e arremessar objetos à distância são atividades físicas que contribuem para o desenvolvimento dos sistemas cardiovascular, nervos, etc. e, portanto para o aperfeiçoamento das qualidades físicas fundamentais.

    A prática de atletismo em campo ou em pista consolida as formas basilares da atividade motora do ser humano (marcha, corrida, salto, lançamento) e desenvolve aptidões valiosas. Essas especialidades aperfeiçoam a coordenação geral do organismo, melhoram as capacidades físicas e proporcionam melhor desenvolvimento nas tarefas diárias.

    Além disso, o treino e a competição dão apreciável contribuição ao desenvolvimento mental. O conhecimento da técnica, da tática, das regras, da metodologia, e da função da atividade desportiva na sociedade alarga o campo do saber e as aptidões dos atletas, além de contribui para o desenvolvimento das faculdades mentais.

    Por fim, essas atividades são um meio de desenvolvimento da força de vontade dos jovens e de modelação de seu caráter. O comportamento dos atletas nos treinos e nas competições dá aos instrutores desportivos boas oportunidades para ministrar também educação moral. Sob a sua orientação, e com o auxílio dos companheiros, os jovens têm oportunidade de enriquecer qualidades como: coragem, decisão, força de vontade, perseverança, autodisciplina, lealdade, espírito coletivo e prontidão.

    Por desenvolver todas essas qualidades, tanto físicas como psicológicas e sociais, a prática do atletismo só traz benefícios à prática das outras modalidades. Em termos gerais, um atleta que já praticava o atletismo e decide começar a praticar outra modalidade vai estar melhor preparado (melhor aptidão física, preparo, vivência motora) do que outro atleta que comece a praticar a mesma modalidade a experiência do atletismo.

Classificação visual

    Segundo a CBDC (2008) com a intenção de agrupar as pessoas em condições visuais próximas, uma classificação é feita nos atletas com deficiência visual, sendo ela:

  • B1: desde a inexistência de percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção luminosa, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão a qualquer distancia ou direção.

  • B2: desde a capacidade para reconhecer a forma de uma mão até acuidade visual de 2/60 pés e ou campo visual inferior a 5 graus.

  • B3: acuidade visual entre 2/60 e 6/60(pés, ou 0,6/18 metros e 1,8/18 metros) ou campo visual entre 5 e 20 graus.

  • Observação: Todas as classificações levam em consideração o melhor olho com a melhor correção óptica possível.

Atletismo como ponto de partida para outras modalidades

    O atletismo é uma modalidade que pode servir como ponto de partida para as outras modalidades desportivas para pessoas com deficiência visual e, é constituído basicamente por todas as provas que compõem as regras oficiais da Federação Internacional de Atletismo - I.A.A.F., com exceção das provas de salto com vara, lançamento do martelo, corridas com barreira e obstáculos (IBSA, 2010; VERÍSSIMO e RAVACHE, 2006). Ele não descaracteriza o atletismo convencional, sendo que as pequenas adaptações são feitas para que ele ocorra com mais segurança e com mais chance de sucesso.

    Corredores da classe B1 utilizam o guia humano para auxiliar durante a corrida. Eles correm com uma corda no braço para que seja manter o contato corpo a corpo tendo assim a orientação. Os atletas da classe B2 podem escolher entre usar ou não o guia. E os da classe B3 não correm com o auxilio do guia. O guia deve sempre estar no lado ou atrás do atleta.

    Já no salto em distância convencional a tábua que é de 30 centímetros de comprimento fica maior para os deficientes visuais. O desafio fica na parte de planejar seus treinamentos, pois, se tornando de algo novo quando se inicia o treinamento para cegos ou baixa visão, você pouco conhece como se trabalhar as valências e a cada dia se descobre um método mais eficaz para cada pessoa, afinal devido aos aspecto da individualidade e a pouca ou total falta de orientação visual destes atletas você tem que adaptar também a metodologia de ensino e não querer impor uma única maneira para fazer a técnica para um determinado movimento.

Algumas modalidades para pessoas com deficiência visual e suas características particulares com o atletismo

    Como citado anteriormente, utilizaremos três características para indicar os princípios do atletismo nas demais modalidades para deficientes visuais. Sendo assim começaremos agora a indicar a particularidades e o tipo de desporto, sendo essas modalidades reconhecidas pela Confederação Brasileira de Desporto para Cegos, CBDC, e algumas que são praticadas em eventos com os Jogos Paradesportivos de Santa Catarina, PARAJASC e Copa Catarinense de Cegos e Baixa Visão. Esses esportes são:

  • Futebol: Dividido em duas categorias. Na categoria B1, onde apenas o goleiro é vidente, e, na categoria B2 e B3 onde todos os jogadores se encaixam na mesma classificação. Esse esporte utiliza a corrida para que seus deslocamentos aconteçam com maior velocidade.

  • Goalball: Esse esporte que não é uma adaptação feita para os deficientes visuais como são tantos outros, foi criado exclusivamente para eles. Todas as classes (B1, B2 e B3) participam do mesmo jogo. Porém, na intenção de igualar todos é colocado tampão ocular e venda com viseira negra em todos os jogadores. Esse esporte utiliza os lançamentos com forma de atacar os adversários.

  • Natação: Esporte que inicialmente não se encontra uma relação direta com o atletismo, porém, assim como algumas pessoas videntes, o deficiente visual também tem seus problemas com a falta do espaço para treinamento. Então, o nadador utiliza a corrida para aumenta a sua resistência cardiorrespiratória. Também é dividido pela classificação visual.

  • Bocha: Esporte relativamente novo utiliza tampão ocular e venda com viseira negra em todos os jogadores. Acreditamos que este esporte com o passar do tempo será dividido nas classificações visuais, mas hoje todas as classes jogam juntas. Esporte que utiliza os lançamentos como forma de aproximar as bochas do bolin.

Considerações finais

    Como visto anteriormente, a atividade física é importante para o funcionamento do organismo, para as relações sociais e psicológicas, ou seja, para a qualidade de vida.

    Para as pessoas com deficiência visual, essas práticas se tornam mais importantes, pois assim elas conseguem desenvolver melhor a lateralidade, equilíbrio e coordenação, além de também contribuir com a prática de outras modalidades esportivas, por exemplo, o atleta deficiente visual começar a jogar goalball por já ter praticado o atletismo e ter uma melhor noção de espaço e coordenação. Sendo assim, o atletismo é uma modalidade importante no desenvolvimento motor das pessoas com deficiência visual, quanto na transferência de movimentos para outras modalidades esportivas.

Referências

  • CBDC. Confederação Brasileira de Desporto para Cegos. Disponível em: http://www.cbdc.org.br. Acesso em: 08.jul.2008.

  • CIDADE, Ruth Eugênia Amarante; FREITAS, Patrícia Silvestre. Introdução à educação física e ao desporto para pessoas portadoras de deficiência. Curitiba: Editora UFPR. 2002.

  • DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as diferenças: Jogos para crianças e jovens com deficiência. São Paulo: Editora Phorte. 2006.

  • FERNANDES, Jose Luis. Atletismo: corridas. São Paulo: EPU, 1979.

  • FERNANDES, Jose Luis. Atletismo: os saltos. Nova ed. rev. e ampl. São Paulo: EPU, 2003.

  • FERNANDES, Jose Luis. Atletismo: arremessos. São Paulo: EPU/EDUSP, 1978.

  • IBSA. International Blind Sports Federation. Athletics. Disponível em: http://www.ibsa.es/eng/deportes/athletics/presentacion.htma. Acesso em: 07.abr.2010.

  • VERÍSSIMO, Amaury Wagner, RAVACHE, Rosicler. Atletismo paraolímpico: manual de orientação para professores de educação física. Brasília: Comitê Paraolímpico Brasileiro, 2006.

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