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Os aspectos positivos e negativos sentidos pelos acadêmicos

de Educação Física do CEFD/UFSM durante a realização

do estágio curricular supervisionado

Aspectos positivos y negativos percibidos por los estudiantes de Educación

Física del CEFD/UFSM durante la realización de las pasantías supervisadas

 

*Especialista em Ciência do Movimento Humano (UNICRUZ)

Especialista em Esporte Escolar (UnB/UFSM)

Mestranda em Educação (UFSM)

Professora da Rede Pública de Ensino de Santa Maria (RS)

Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM)

**Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM)

Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSM)

Professor Associado do Departamento de Metodologia do Ensino (UFSM)

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM)

Marta Nascimento Marques*

martinhanm@yahoo.com.br

Hugo Norberto Krug**

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar os principais aspectos positivos e negativos sentidos pelos acadêmicos de Educação Física durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Licenciatura do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Quanto à metodologia esta pesquisa caracterizou-se como qualitativa do tipo estudo de caso. Utilizou-se como instrumento para coletar as informações um questionário com questões abertas que foi respondido por dezoito (18) acadêmicos do sétimo semestre do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III, no primeiro semestre letivo de 2010. A interpretação das informações foi realizada a partir da análise de conteúdo. Constatamos que entre os aspectos positivos sentidos pelos acadêmicos, o que mais se destacou foi a afetividade e interesse que os alunos demonstravam pelas aulas de Educação Física. Por outro lado, a indisciplina foi o principal aspecto negativo apontado pelos estagiários. Na definição desses futuros professores, a indisciplina é um fenômeno caracterizado pelo não cumprimento das regras estabelecidas, e mesmo, pela falta de respeito para com professores e colegas. Também é interessante destacar que, embora a indisciplina seja, de fato, um problema que aflige os estagiários, ela aparece adicionada à outras dificuldades, como as conversas e a falta de atenção nas aulas, a falta de espaço físico adequado e também a falta de experiência caracterizada pelo “choque com a realidade”.

          Unitermos: Acadêmicos de Educação Física. Estágio curricular supervisionado. Aspectos positivos e negativos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Considerações iniciais

    O meio educacional, bem como o contexto da formação de professores e as diversas peculiaridades que compõem os cursos de Licenciatura nos permite e nos instiga desenvolver diversos estudos e pesquisas a fim de contribuir com a nossa própria formação, assim como de fomentar questionamentos e trocas com os demais profissionais da educação e em especial da Educação Física.

    Nesse amplo quadro de possibilidades, um dos mais importantes componentes curriculares e de indiscutível relevância para a formação profissional do licenciando é a disciplina de Prática de Ensino ou como atualmente é denominada de Estágio Curricular Supervisionado. Nas palavras de García (1999) a Prática de Ensino representa uma oportunidade privilegiada para aprender a ensinar na medida em que se integrem as diferentes dimensões que envolvem a atuação docente, ou seja, o conhecimento psicopedagógico, o conhecimento do conteúdo e o conhecimento didático do conteúdo.

    Durante as práticas de ensino, os alunos aprendem a compreender a escola como um organismo em desenvolvimento, caracterizado por uma determinada cultura, clima organizacional, uma estrutura de funcionamento tanto explícita como implícita (micropolítica) e dotado de algumas funções de gestão necessárias para garantir o seu funcionamento. [...] Nesse sentido, é importante que os alunos em práticas de ensino analisem aspectos referentes as condições da profissão docente: cultura profissional, autonomia, implicação, compromisso, reivindicações, carreira docente, etc.. (GARCÍA, 1999, p.103).

    Na perspectiva de Miranda (2008) o Estágio/Prática de Ensino, nos cursos de formação de professores, é um momento único em que o acadêmico tem a oportunidade de interagir com os alunos e também enfrentar os desafios do cotidiano escolar, bem como é o espaço para a reflexão crítica e a formação da identidade docente. O estágio é, portanto, uma ação educativa e social, uma forma de intervir na realidade.

    Em meio a essa realidade existe a preocupação com a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, bem como o enfrentamento de diversas situações positivas ou negativas que se apresentam nesse meio, pois ser professor não é simplesmente dar aula, expor idéias, mas sim encontrar uma forma de encarar tais situações e fazer com que os alunos aprendam na medida em que os mesmos interajam e exponham suas idéias na construção do seu conhecimento. Também é importante salientar que o papel do acadêmico/professor na organização do ensino é insubstituível, porque é ele o responsável por criar situações em que se apresentam problemas de aprendizagem que considerem o nível de desenvolvimento real dos estudantes, instigando e promovendo a atuação desses em sua zona de desenvolvimento próximo ou potencial (SERRÃO, 2006).

    Nesse sentido, Freire (1996) destaca que ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção, e nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos de construção e reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Dessa forma, a prática docente do professor passa a ser construída e reconstruída juntamente com as necessidades que se fazem presentes nos processos de ensino-aprendizagem, pois, como salienta Zabala (1998), educar quer dizer formar cidadãos e cidadãs, que não estão parcelados em compartimentos estanques, em capacidades isoladas.

    Ainda durante essa experiência, diversas são as inquietudes que ocorrem na prática pedagógica do acadêmico, pois é nesse momento que ocorre o confronto direto entre a teoria e a prática. De acordo com Krug (2001) é importante o professor “refletir na” e “sobre a sua ação”, porque desta forma estará supervalorizando o “saber”, o “fazer” e o “por que fazer”, que são fontes do processo de produção de conhecimento.

    Diante do que foi exposto, este estudo teve como objetivo analisar os principais aspectos positivos e negativos sentidos pelos acadêmicos de Educação Física durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Licenciatura do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Metodologia

    Esta pesquisa é de cunho qualitativo, sendo que essa surgiu em contrapartida ao domínio da concepção quantitativa nas ciências humanas, caracterizando-se como uma alternativa metodológica para estudos voltados a educação. Para Triviños (1987) a pesquisa qualitativa não estabelece separações rígidas entre a coleta de informações e as interpretações das mesmas, o estudo desenvolve-se como um todo, onde todas as partes estão relacionadas.

    Quanto ao tipo de pesquisa, o estudo de caso representou a forma mais coerente de desvendar o problema de pesquisa. Segundo Lüdke e André (1986, p.18), o estudo de caso enfatiza a “interpretação em contexto”. As autoras sinalizam que “um princípio básico deste tipo de estudo é que, para uma apreensão mais completa do objeto, é preciso levar em conta o contexto em que se situa”.

    Na percepção de Goode e Hatt (1968, p.17) “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações.

    Utilizou-se como instrumento para coletar as informações um questionário com questões abertas, que foi respondido por dezoito (18) acadêmicos do sétimo semestre letivo do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III, no primeiro semestre letivo de 2010. Esses acadêmicos realizaram seu estágio em diferentes escolas da rede pública de Santa Maria (RS). Como forma de preservar a identidade dos participantes do estudo os mesmos foram identificados por números (1 a 18).

    A cerca do questionário, Cervo e Bervian (2002) relatam que ele representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja, de modo que apresenta um conjunto de questões relacionadas com o problema central. Sendo ainda considerado um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.

    A interpretação dos questionários foi realizada a partir da análise de conteúdo. Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise - que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, leitura de documentos, categorização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – fase onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que esta etapa de interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente apreendido.

Análise das informações

    Partindo das respostas dos acadêmicos de Educação Física destacamos algumas falas, as quais como seguem, se repetem de forma semelhante em algumas situações, sendo assim, unidas em um único ítem.

Os aspectos positivos sentidos pelos acadêmicos durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado

    A disciplina de Prática de Ensino/Estágio Curricular Supervisionado representa uma atividade teórica e prática ao aproximar o aprendiz-professor da realidade concreta, futuro campo profissional, por isso, precisa oferecer condições para que os diferentes saberes aprendidos revertam-se em capacidades específicas no exercício docente. Habilidades como: autonomia intelectual, domínio dos conteúdos e de metodologias de ensino, competência prático-reflexiva, repertório cultural diversificado, visão ética e política da prática profissional, respeito intelectual e pessoal pelos alunos e outras habilidades adequadas às singularidades da prática tornam o aprendiz-professor sujeito responsável por suas escolhas, quanto à sua própria formação continuada e o tipo de prática pedagógica que desenvolverá como profissional (CASTRO apud MIRANDA, 2008).

    O estágio é uma vivência única na vida do acadêmico, na qual ele convive com diversas situações tanto positivas quanto negativas. Tais vivências servirão de aprendizagem e experiência para o resto de suas vidas como profissionais.

    Em relação a essas vivências podemos constatar, através das falas dos acadêmicos, que entre os principais aspectos positivos sentidos durante a realização do estágio, o que a maioria deles destacou diz respeito aos alunos: “a afetividade, entusiasmo e progresso dos alunos foi o que senti de positivo” (Acadêmicos 3; 7; 9; 19; 11; 13; 16; 17 e 18). Temos o conhecimento que, na maioria das escolas, a relação do professor de Educação Física e seus alunos são bastante amigáveis e descontraídas. Sobre isso Daólio (1995) menciona que o relacionamento desses educadores é mais próximo em comparação com os professores das demais disciplinas. Essa proximidade pode ser notada pelo tipo de cumprimento e pelas expressões faciais dos alunos ao encontrar seus professores, os quais expressam esse afeto pelo carinho e pela atitude paternal.

    Assim como para os acadêmicos estudados os alunos foram os responsáveis pelos sentimentos positivos que tiveram durante o estágio, o que é confirmado em estudo feito por Silva e Krug (2004; 2007) que destaca que as principais manifestações de sentimento de satisfação dos professores de Educação Física com a docência é a boa afetividade com os alunos e o seu aprendizado.

    Ainda nessa perspectiva, Cunha (1992) afirma que são bastante comuns nos discursos de professores expressões como: “a relação com os alunos me gratifica muito” ou “a convivência com os alunos renova a gente”. Segundo a autora, estas relações se dão em clima de reciprocidade, onde o comportamento do professor influencia o comportamento dos alunos e vice-versa, instalando-se uma empatia entre as partes.

    Além da afetividade dos alunos, os acadêmicos destacaram como aspecto positivo quando a turma “participava e compreendia o que tinha feito” (Acadêmicos 4; 5; 8; 12 e 14). Nesse sentido, Gonçalves (1997) aponta a importância existente no fato de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que, os movimentos mecânicos, realizados abstratamente só contribuem para a inibição da criação e da participação dos alunos em aula e, por conseqüência, os torna indivíduos que deixam de interpretar o mundo por si próprios e passam a interpretá-lo pela visão dos outros.

    Segundo Tani (1988) o principal objetivo da Educação Física é buscar nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem motora do ser humano, a fundamentação teórica da disciplina.

    Também o “domínio da turma” (Acadêmicos 1 e 6), foi sentido pelos acadêmicos como um aspecto positivo, pois com a atenção e o interesse dos alunos facilitava o andamento de suas aulas, tornando assim um espaço agradável e a sensação de desenvolver um bom trabalho.

    De acordo com García (1999) esse tipo de interação e conhecimento não se adquire senão em contato com os alunos e as escolas reais, e assim, as práticas de ensino constituem-se na oportunidade mais adequada para promover essa articulação.

    Para Cunha (1996) a aula é um lugar de interação entre pessoas e, portanto, um momento único de troca de influências. Assim, a relação professor-aluno no sistema formal é parte da educação e insubstituível na sua natureza. Destaca que o aluno espera ser reconhecido como pessoa e valoriza no professor as qualidades que os ligam afetivamente.

    Foi ainda sentido pelos acadêmicos como aspecto positivo a “inclusão de aluno com necessidades especiais na turma” (Acadêmicos 2 e 15). A inclusão nas aulas de Educação Física Escolar é um fator bastante importante e que vem crescendo cada vez mais. Apesar de existir a falta de preparo dos professores que irão atuar diretamente com os alunos, ou até mesmo a falta de vontade de mudar, o processo inclusivista não pretende apenas colocar os alunos no espaço físico da escola, e sim que os métodos sejam adaptados atendendo não apenas aos alunos com necessidades educativas especiais e sim a todos aqueles alunos que algum dia possa vir a apresentar dificuldade de aprendizagem.

    Sobre esse assunto Darido e Júnior (2007) acrescentam que para facilitar a inclusão de todos os alunos durante a aula é importante diversificar as atividades desenvolvidas com a turma, além dos conteúdos tradicionais como o futebol, vôlei ou basquetebol deve-se proporcionar aos alunos a oportunidade de vivenciarem a ginástica, as brincadeiras, as danças, etc.

    Darido e Júnior (2007, p.18) afirmam ainda que “transformar opiniões preconceituosas sobre a Educação Física constitui um enorme desafio para os professores da disciplina”.

Os aspectos negativos sentidos pelos acadêmicos durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado

    Nos dias atuais a indisciplina é um dos problemas mais presentes tanto dentro da escola como fora dela, tais situações chamam a atenção dos educadores e exigem destes certa postura, ocasionando assim sérias dificuldades.

    Sabemos que o tema da indisciplina é bastante complexo e delicado, pois envolve no mínimo duas dimensões: a política, das relações democráticas, penetrando em várias instituições, a destacar a família e a escola; e a ética, da falta de limites, que traduz uma crise de valores. Dessa forma a indisciplina parece ser causada pela soma de diversas razões distribuídas igualmente entre a escola, família, desigualdade social, aluno e professor.

    Nesse sentido, as fala dos acadêmicos não se distanciam disto, pois para a maioria deles um dos aspectos negativos sentidos durante a realização do estágio diz respeito a “agitação e indisciplina dos alunos” (Acadêmicos 4; 6; 8; 13; 14; 16 e 17). Sobre essa questão Aquino (1996) destaca que, há muito tempo, os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais. Também está claro que a maioria dos educadores não sabe como interpretar e administrar o ato indisciplinado.

    Ainda de acordo com Silva e Krug (2002), assim como os professores que já possuem mais tempo de serviço, também os futuros professores em situação de estágio, tornaram-se reféns do emaranhado de situações que a indisciplina escolar comporta, ocasionando, assim, dificuldades na prática pedagógica dos mesmos.

    Outro aspecto também sentido pelos acadêmicos de forma negativa foi as “conversas e falta de atenção dos alunos nas explicações” (Acadêmicos 1; 2; 5 e 9). Eles salientaram que tais situações atrapalhavam o andamento das suas aulas, dificultando o desenvolvimento de seus objetivos, bem como a aprendizagem dos alunos.

    É importante frizar que o aluno precisa ter limites para conversar, ele tem que saber que em determinados momentos a conversa vai atrapalhar e vai acabar prejudicando a si e a turma, porém também não se pode exigir que os alunos fiquem calados durante as aulas, pois ele precisa interagir, participar e dar suas opiniões. Nesse sentido, Freire (1996) segue o mesmo raciocínio e enfatiza que ter liberdade para dialogar sem nenhum tipo de barreira ou inibição é fundamental na postura do professor e dos alunos, permitindo dessa forma que um possa explorar ao máximo o conhecimento do outro.

    Também um dos problemas que afetam a Educação Física Escolar, bem como os professores dessa disciplina foi sentido pelos acadêmicos durante as aula de estágio, se refere a “falta de espaço físico e influências externas na quadra” (Acadêmicos 7; 8; 11 e 18). Muitas vezes o professor não consegue desenvolver a aula que planejou porque chove, aí não possui espaço adequado, ou influências externas da rua ou até mesmo na própria escola atrapalham o andamento de suas aulas, isso tudo acaba dispersando os alunos e com isso diminui a qualidade do ensino e da aprendizagem.

    Sobre tais dificuldades, Nóvoa (2002) assinala que os professores vivem momentos de grande instabilidade profissional, convivendo com tensões ao lidarem com realidades locais e situações escolares marcadas por fenômenos de exclusão, de agressividade e de conflito social.

    Nessa seqüência de aspectos negativos sentidos pelos acadêmicos foi citado ainda a “falta de experiência, não conseguir motivar muito os alunos e não fazer com que entendam” (Acadêmicos 3; 10 e 15).

    Nas palavras de Gonçalves (1992), o professor tem como função ensinar, transmitir conhecimentos específicos e diversificados aos alunos, organizar o trabalho em aula, manter a disciplina, estabelecer relações com as pessoas, pois ele exerce um papel de educador junto aos alunos. Também cabe ao professor, promover a animação de atividades, o que implica desgaste, fadiga, eventualmente problemas, e, sobretudo, capacidade de integração.

    Acreditamos que esse também deva ser o papel dos acadêmicos em situação de estágio, afinal eles estão atuando no lugar do professor da turma e precisam se esforçar para desempenhar tais funções.

    Também de acordo com Kunz (1991), o ensino está atrelado ao conhecimento e experiência dos professores. Somente ele decide e determina o que deve acontecer nas aulas de Educação Física. Entretanto, pode-se dizer que a função do professor é a de promover o entendimento dos vários sentidos que a Educação Física possa ter para os alunos, bem como de resolver os conflitos que possam surgir em sua aula para que haja harmonia e ocorra uma aprendizagem significativa.

    Miranda (2008, p.18) quando diz que o acadêmico em situação de estágio ou Prática de Ensino está com sua “identidade em formação, respaldada pelos saberes instituídos e pelo confronto das representações acerca desses saberes e das demandas educacionais e sociais.”

Considerações finais

    Com a realização desse estudo podemos constatar a grande importância que o Estágio Curricular Supervisionado exerce na vida dos acadêmicos, pois concordando com Miranda (2008) o Estágio/Prática de Ensino, nos cursos de formação, é um momento único em que o acadêmico tem a oportunidade de interagir com os alunos e também enfrentar os desafios do cotidiano escolar, bem como é o espaço para a reflexão crítica e a formação da identidade docente. O estágio é, portanto, uma ação educativa e social, uma forma de intervir na realidade.

    Pela análise das falas dos estagiários podemos constatar que entre os aspectos positivos sentidos pelos mesmos o que mais se destacou foi a afetividade e interesse que os alunos demonstravam pelas aulas de Educação Física.

    Por outro lado, a indisciplina, sem dúvida, foi o principal aspecto negativo sentido pelos estagiários. Na definição desses futuros professores, ela é um fenômeno caracterizado pelo não cumprimento das regras estabelecidas, e mesmo, pela falta de respeito para com professores e alunos. Também é interessante destacar que, embora a indisciplina seja, de fato, um problema que aflige os estagiários, ela aparece adicionada a outras dificuldades, como as conversas e falta de atenção nas aulas, falta de espaço físico inadequado e também a falta de experiência ou de acordo com a definição de Huberman (1992) o “choque com a realidade”.

    Estudarmos os principais aspectos positivos e negativos sentidos pelos acadêmicos na Prática de Ensino/Estágio Curricular Supervisionado em Educação Física no CEFD/UFSM foi fundamental para entendermos as principais dificuldades encontradas por estes nas escolas e também, para sabermos como essa experiência docente colabora para a formação inicial dos mesmos.

    Destacamos, ainda, que esse estudo tornou-se importante porque trouxe à tona as necessidades, os anseios e as dificuldades encontradas pelos acadêmicos e, em contrapartida, tudo aquilo que de positivo ou negativo foi possível para eles descobrirem e construírem durante esse momento único que é o estágio.

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