efdeportes.com

Efeitos do treinamento contínuo e intervalado nos 

parâmetros antropométricos, relacionados à saúde,

de mulheres com excesso de gordura corporal

Efectos del entrenamiento continuo e intervalado en los parámetros antropométricos, 

relacionados con la salud, en mujeres con exceso de grasa corporal

 

*Departamento das Ciências da Educação Física e Saúde

Universidade Federal de São João del-Rei

São João del-Rei, MG

**Instituto de Ciências da Saúde

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG

(Brasil)

Rodrigo Barboza da Silva*

Pollyana Mara de Carvalho Moura*

Alejandro Salinas Peixoto*

Gustavo Ribeiro da Mota**

Alessandro de Oliveira*

rodrigobarboza85@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar e comparar os efeitos da prática de exercícios aeróbios, intervalado e contínuo, nos parâmetros antropométricos, relacionados à saúde, de mulheres com excesso de gordura corporal. A amostra foi composta por 8 mulheres na faixa etária entre 20 e 25 anos que apresentavam percentual de gordura maior que 24% e estavam a pelo menos 6 meses sem praticar atividade física regular. As voluntárias foram distribuídas em dois grupos: treinamento intervalado e treinamento continuo. Foram avaliados parâmetros e índices antropométricos antes e depois de 8 semanas de treinamento, sendo a análise inteiramente casualizada e índice de significância de 5%. Após análise e discussão dos dados, concluiu-se que o treinamento contínuo ou intervalado, realizado em sessões de 45 minutos, 3 vezes por semana em um período de 8 semanas, não possuem superioridade de efeito entre eles na redução dos parâmetros analisados, exceto no percentual de gordura, no qual o contínuo é mais eficaz.

          Unitermos: Treinamento contínuo. Treinamento intervalado. Obesidade.

 

Abstract

          The aim of this study was to analyze and compare the effects of the interval and continuous aerobic training in the anthropometric parameters of women with body fat excess. The sample consisted of 8 women aged between 20 and 25 years who presented fat percentage more than 24% and were at least six months without practicing regular physical activity. The volunteers were divided in two groups: interval training and continuous training. Anthropometric parameters were assessed before and after eight weeks of training, the analysis is completely random and index of significance of 5%. After analysis and discussion, concluded that the continuous or interval training, conducted in sessions of 45 minutes, 3 times a week over a period of 8 weeks, does not own superiority effect among the reduction of the analyzed parameters, except to the percentage of fat, in which the continuous training is more effective.

          Keywords: Continuous training. Interval training. Obesity.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

1 / 1

1.     Introdução

    Segundo Queiroga, (2005), a obesidade é caracterizada pela presença de uma maior quantidade de gordura corporal,


    Segundo Ciolac (2004), nas ultimas décadas ocorreu um rápido crescimento no número de pessoas obesas e com excesso de peso, tornando a obesidade um problema de saúde pública. Tal avanço alcançou proporções epidêmicas, acometendo cerca de 30% das mulheres adultas na sociedade ocidental (MOKDAD, 1999; WILLET, 1999).

    Os custos econômicos da obesidade foram recentemente estimados, incluindo não apenas tratamento, remédios, hospitalizações, mas também os gastos provenientes de outras doenças associadas à obesidade. Alguns cálculos indicam que, em muitos países, de 5% a 7% dos gastos totais nacionais em saúde são necessários para cobrir os custos da obesidade (BJORNTORP, 1997). Desta forma é importante desenvolver estratégias eficazes que poderiam favoravelmente diminuir os níveis de obesidade na população.

    Segundo Ferreira (2006), a obesidade é considerada uma doença de caráter multifatorial. O mesmo autor relata que, as causas da obesidade podem ser divididas em: fatores genéticos, que englobam raça, idade, sexo, fatores endócrinos e metabólicos; fatores macroambientais que envolvem cultura, padrões sócio-econômicos, dietas hipercalóricas e sedentarismo. Must (1999) aponta esses dois últimos fatores como responsáveis por causar um desequilíbrio entre gasto e consumo de energia resultando num aumento do depósito de triglicérides nas células adiposas.

    Conforme Bjorntorp (1997), a obesidade é um fator de risco fraco ou insignificante para determinar a ocorrência de doenças cardiovasculares. O mesmo autor e Larsson (1984) defendem que as principais complicações da obesidade (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte prematura) estão relacionadas ao maior acúmulo de gordura abdominal, independente do peso corpóreo.

    O acúmulo de tecido adiposo abdominal pode aumentar a concentração de ácidos graxos livres no sistema porta hepático, causando distúrbios nas concentrações plasmáticas de lipídios, assim como hiperinsulinemia, e possivelmente aumento da pressão arterial (LARSSON, 1984).

    Outras possíveis complicações ocasionadas pela obesidade são citadas por Must (1999), Willet (1994) e Lohman (1992), que são: colecistopatias, esteatose hepática, artropatias degenerativas, sua influência no risco de câncer de mama, endométrio, vesícula biliar e cólon.

    Procedimentos duplamente indiretos são usados rotineiramente para diagnosticar a obesidade. Índices antropométricos como, Índice de Massa Corporal (IMC), Percentual de Gordura (%G), Relação Cintura-Quadril (RCQ) e Circunferência de Cintura (CC) podem predizer os níveis de obesidade, excesso de peso e o padrão de distribuição da gordura corporal, servindo também de diagnóstico na detecção de possíveis doenças crônico degenerativas (GUEDES e GUEDES, 2006; MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003).

    Gustat (2002) e Wareham (1998) apontam forte associação entre obesidade e inatividade física. Estudos de Lakka (2003), Rennie (2003) e Gustat (2002) demonstram associação inversa entre, atividade física, IMC, CC e RCQ.

    Ciolac (2004) mostra que a prática regular de atividades físicas tem sido recomendada para a prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas por diferentes associações no mundo. Tal medida é considerada uma das medidas terapêuticas no tratamento da obesidade, promovendo a elevação do gasto energético tanto de forma aguda quanto crônica, podendo alterar na taxa metabólica de repouso (FERREIRA, 2006).

    Segundo Mcardle, Katch, Katch (2003), o treinamento aeróbio constitui um elemento positivo para uma redução significativa na gordura corporal, entretanto sabe-se que fatores como intensidade, freqüência e duração do exercício influenciam profundamente as respostas ao treinamento aeróbio. Conforme Ferreira (2006), existem muitas discussões acerca de quais são o volume e a intensidade de exercício ideais para promover mudanças na composição corporal. Gutin (2002) relata a baixa quantidade de pesquisas que relacionam os efeitos da duração e intensidade do exercício aeróbio à composição corporal.

    O treinamento intervalado e o treinamento contínuo são métodos utilizados para aprimorar a aptidão aeróbica (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003). Para Brooks (2000) o treinamento intervalado consiste na aplicação repetida de exercícios e períodos de descanso de modo alternado. Já o treinamento contínuo constitui em exercício prolongado com ritmo cadenciado de intensidade aeróbica moderada ou alta (60 a 80% do VO2máx) (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003).

    Desta forma, o objetivo do presente trabalho é analisar os efeitos da prática de exercícios aeróbios (intervalado e contínuo) nos parâmetros antropométricos, relacionados à obesidade, de mulheres com excesso de gordura corporal.

2.     Metodologia

2.1.     Cuidados éticos

    Foram convidadas mulheres da população de São João Del Rei/MG que apresentavam excesso de gordura corporal (acima de 24%), idade entre 20 e 25 anos, sem problemas de saúde e estavam há pelo menos 6 meses sem praticar atividade física regular.

    Após a apresentação do projeto, obteve-se das voluntárias a permissão para a realização do mesmo, por meio da assinatura de termos de consentimento pós-informado (modelo em anexo), escrito de acordo com as normas 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Todas as voluntárias estavam cientes de que, a qualquer momento poderiam, sem constrangimento, deixar de participar do mesmo. Foram tomadas todas as precauções no intuito de preservar a privacidade das voluntárias. Para isto, as condições para a realização dos exercícios físicos, da coleta de dados e todas as informações individuais obtidas durante o estudo foram sigilosas e mantidas entre a equipe de pesquisadores e a voluntária. A saúde e o bem estar da voluntária estiveram sempre acima de qualquer outro interesse.

2.2.     Amostra

    O presente estudo contou com a participação de 8 mulheres, as quais foram divididas aleatoriamente em dois grupos, sendo o primeiro grupo composto por 4 mulheres (idade: 21,95 +/- 1,45 anos; percentual de gordura: 34,86 +/- 3,69 %; IMC: 26,28 +/- 1,17 kg/m2) que realizaram o treinamento contínuo, o segundo grupo também foi composto por 4 mulheres (idade: 23,08 +/- 2,03; percentual de gordura: 36,07 +/- 4,08 %; IMC: 27,82 +/- 3,24 kg/m2) que realizaram o treinamento intervalado.

2.3.     Tratamento experimental

2.3.1.     Sugestão nutricional

    A princípio, as voluntárias foram submetidas a uma avaliação nutricional feita por uma nutricionista colaboradora do projeto, a qual teve a função de calcular a TMB (taxa metabólica basal) de cada voluntária e prescrever uma sugestão alimentar baseando-se no total calórico, de acordo com a fórmula sugerida pela Organização Mundial da Saúde (1985):

QDR = 1,2 x TMB

Onde:

QDR: Quantidade diária recomendada (kcal)

    As participantes do projeto foram instruídas a seguir esta orientação nutricional durante as oito semanas de treinamento para prevenir um aumento ou diminuição da ingestão calórica induzidas pelo exercício.

2.3.2. Treinamento físico

    O treinamento físico consistiu de 3 sessões semanais de exercícios físicos aeróbicos em esteira, realizados em dias aleatórios, com duração de 45 minutos por sessão, realizado nas dependências do Laboratório de Cineantropometria e Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de São João Del Rei (LACFE-UFSJ) durante 8 semanas.

    Para enunciar a intensidade do exercício utilizou-se o percentual da freqüência cardíaca com base na freqüência cardíaca máxima (FCmáx) obtida pela equação de Tanaka (2001): FCmáx = 208 – (0,7 X idade)

    A frequência cardíaca submáxima (FC) foi monitorada individualmente por frequencímetro da marca Polar, modelo RS200.

    O treinamento contínuo baseou-se na tabela de equivalência, intensidade (%VO2máx) e volume (tempo em minutos) proposta por Dantas (2003), na qual para uma sessão de 45 minutos a intensidade deve ser de 51 a 70 % do VO2máx. Assim estipulou-se um trabalho a 70% da FCmáx, que equivale a 58% do VO2máx (LONDEREE, 1995).

    Dantas (2003) afirma que a intensidade dos estímulos para o treinamento intervalado deve estar entre 60-80% do VO2máx. Segundo Mcardle, Katch, Katch (2003) para treinar o sistema energético aeróbio através do treinamento intervalado, a relação do intervalo de exercício – recuperação costuma ser de 1:1 ou 1:1,5, e as séries repetidas de exercícios variam de poucos segundos a vários minutos ou mais. Desta forma, as séries de treino intervalado consistiram em 2 minutos de estímulo a 83% do VO2máx que equivale a 90% da FCmáx e 2 minutos de intervalo de recuperação ativa a 40% do VO2max equivalente a 60% da FCmáx (LONDEREE, 1995), até serem completados 45 minutos de sessão.

2.4. Variáveis coletadas

    Após a assinatura dos termos de consentimento, as voluntárias foram submetidas a uma avaliação antropométrica, sendo que após 8 semanas de treinamento tais avaliações foram repetidas.

    As voluntárias passaram pelas seguintes medidas antropométricas:

  1. Estatura: realizada por meio de estadiômetro portátil da marca Sanny® com precisão de 1 cm.

  2. Peso Corporal: mensurado por meio de uma balança digital com precisão de 50g da marca Líder® modelo LD1050.

  3. Mensuração de dobras cutâneas: realizada nos seguintes pontos anatômicos: triciptal, supra-ilíaca, coxa, abdominal e perna medial sendo utilizado um plicômetro científico da marca Sanny® com precisão de 1 mm.

  4. Perimetria: nas regiões anatômicas da cintura, quadril, antebraço, perna e coxa, utilizando fita métrica convencional da marca Sanny® com precisão de 1cm.

2.5.     Índices obtidos

    A partir das variáveis coletadas foram obtidos os seguintes índices: Índice de Massa Corpórea (IMC), Percentual de Gordura (%G), massa gorda, massa magra, massa muscular e Relação Cintura Quadril (RCQ)

2.6.     Análise estatística

    Os parâmetros e índices antropométricos coletados estão expressos em média e desvio padrão [ X (DP)]. O delineamento estatístico foi inteiramente casualizado sendo utilizado o teste de Shapiro-Wilk para a determinação da normalidade (p>0,05).

    As variáveis que apresentaram normalidade foram utilizadas a ANOVA two-way (grupo e tempo) para medidas repetidas e para as variáveis não paramétricas foi utilizado o teste de Kruskall-Wallis para a comparação das médias. O teste utilizado para comparação entre as diferenças pré-pós intra e inter grupos foi ANOVA com teste t de Student post hoc. Para todos os parâmetros o índice de significância foi de 5%.

3.     Resultados

    Os valores médios dos parâmetros antropométricos (Tabela 5.1) demonstram a caracterização da amostra, sendo mulheres jovens excesso de gordura corporal segundo Lohman (1992 apud QUEIROGA, 2005, p. 9).

Tabela 5.1. Média (Desvio-Padrão) das características gerais antropométricas da amostra antes do treinamento

  

Grupo Treinamento Contínuo (n=4)

Grupo Treinamento Intervalado

(n=4)

Idade (anos)

21,95 (1,45)

23,08 (2,03)

Percentual de Gordura (%)

34,86 (3,69)

36,07 (4,08)

 

Tabela 5.2. Valores médios encontrados nos parâmetros antropométricos dos grupos de voluntárias 

do treinamento contínuo e do treinamento intervalado, antes e após 8 semanas de treinamento

  

Grupo Treinamento Contínuo

Grupo Treinamento Intervalado

Pré

Pós

Pré

Pós

Peso (Kg)

69,09 (9,25)

67,53 (7,87)

77,93 (13,61)

77,10 (13,73)

Massa Magra (Kg)

45,18 (7,97)

45,27 (7,47)

49,62 (7,66)

49,44 (7,67)

Massa Muscular (Kg)

31,11 (6,67)

30,02 (6,32) *

38,81 (9,34)

35,70 (7,63)

Massa Gorda (Kg)

23,91 (2,33)

22,26 (1,39) *

28,3 (6,91)

27,66 (6,9)

Circunferencia de Cintura (cm)

79,88 (4,62)

78,88 (2,56)

79,44 (5,15)

78,58 (5,21)

Relação Cintura Quadril - RCQ

0,77 (0,03)

0,77 (0,03)

0,72 (0,01)

0,71 (0,01)

Indice de Massa Corporal - IMC (Kg/m2)

26,28 (1,17)

25,73 (1,15)

27,82 (3,24)

27,55 (3,7)

Percentual de Gordura - %G (%)

34,86 (3,69)

33,23 (3,68) * #

36,07 (4,08)

35,58 (4,1)

* diferença significativa entre os valores pré e pós treinamento (p<0,05)

# diferença significativa entre os grupos contínuo e intervalado (p<0,05)

    Ao analisar os resultados do presente estudo (Tabela 5.2) observou-se que houveram diminuições significativas (p<0,05) para os parâmetros massa gorda, percentual de gordura e massa muscular no grupo de treinamento contínuo. No grupo que realizou o treinamento intervalado, não foram encontradas diferenças significativas (p>0,05) entre os valores pré e pós treinamento. Apesar das alterações significativas do grupo contínuo, estas não foram estatisticamente significantes em relação às reduções encontradas no grupo que realizou o treinamento intervalado, exceto no percentual de gordura corporal, no qual a redução do treinamento contínuo foi superior (p<0,05) à redução encontrada no treinamento intervalado.

    Esses resultados sugerem que o treinamento intervalado e o treinamento contínuo, prescritos da mesma maneira e para o mesmo tipo de população do presente estudo, não possuem superioridade de efeito entre eles na redução dos parâmetros analisados, exceto para o percentual de gordura, no qual o treinamento contínuo é mais eficaz que o treinamento intervalado.

    Weineck (1999) diz que, na elaboração do treinamento aeróbio são levadas em conta a prescrição de diversas variáveis, entre elas a duração do treinamento, o número de sessões semanais de treino, o tempo de cada sessão, a intensidade do exercício, o tipo de exercício e o tipo de população na qual o treinamento será aplicado. Desta forma, existe uma grande dificuldade em encontrar estudos que tenham usado protocolos de treinamento semelhantes para o mesmo tipo de população, limitando assim a comparação com este trabalho. A literatura atual apresenta efeitos de variadas metodologias de exercícios aeróbios, com diversos volumes e intensidades, em diversos parâmetros antropométricos, para variados tipos de populações.

    Ferreira (2006) afirma que os benefícios do exercício físico podem ser melhor observados quando os indivíduos continuam fazendo parte do tratamento, principalmente após os seis primeiros meses iniciais. Esta variável possivelmente pode ser a responsável pelas reduções significativas nos parâmetros antropométricos relacionados à obesidade (peso corporal, IMC, RCQ e CC), fato que não foi percebido no presente estudo. Talvez se o experimento tivesse sido aplicado por um maior número de semanas, seria possível perceber diferenças significativas entre os 2 grupos de treinamento.

    Contrastando a hipótese acima, Dias (2006) realizou um trabalho com mulheres em estado de sobrepeso durante 4 semanas. As sessões consistiam de 40 minutos de exercícios aeróbios a 60% da FCmáx, complementados pela prática de exercícios resistidos, sem alteração na ingestão calórica. Em seus resultados não ocorreram reduções significativas na CC e RCQ. Isto confirma a hipótese de que um período curto de treinamento não é suficiente para provocar alterações significativas nos índices relacionados à obesidade.

    Yoshioka (2001) observou que o exercício de alta intensidade (77% VO2max) realizado por aproximadamente 30 minutos, promoveu maior elevação no consumo de oxigênio pós-prandial e oxidação de gordura durante o repouso, do que exercícios de baixa intensidade (38% VO2max) realizados por 65 minutos, sugerindo que o exercício de alta intensidade favorece a redução do percentual de gordura corporal, podendo estar relacionado com o aumento no metabolismo energético pós-exercício, mediado pela estimulação adrenérgica. Estudos de Bahr (1991) e Phelain (1997) têm mostrado que os exercícios de alta intensidade, quando comparados àqueles de intensidade moderada com a mesma duração, promovem maiores efeitos no consumo de oxigênio pós-exercício. O metabolismo elevado após o exercício, ou seja, um gasto energético pós-exercício acima dos níveis de repouso é denominado consumo excessivo de oxigênio pós-exercício (EPOC) (WILMORE, 2001). Talvez se ambos os treinamentos, intervalado e contínuo, tivessem sido aplicados durante um maior período de tempo, o grupo intervalado poderia ter respostas mais significativas, em relação ao grupo contínuo, nos parâmetros antropométricos, devido à intensidade maior do treinamento intervalado.

    Bryner (1999) observou que o treinamento aeróbio tem efeito redutor da massa magra e taxa metabólica basal, dificultando assim a redução de peso a longo prazo e a manutenção de um programa de emagrecimento. Segundo Ferreira (2006), além do treinamento aeróbico, atualmente o treinamento de força com volumes e intensidades elevadas também vem sendo sugerido como ótima opção de redução na gordura corporal. Acredita-se que esse tipo de treinamento possa elevar o consumo de oxigênio pós-exercício (EPOC), e assim promover uma maior oxidação dos lipídios durante o processo de recuperação. Alexander (2002) relata que o metabolismo basal está relacionado à quantidade total de massa magra, desta forma quanto maior é a quantidade de massa muscular do indivíduo maior é seu metabolismo e sua oxidação de gordura em repouso.

    Assim, se um treinamento, visando redução dos níveis de obesidade, contribuir para a elevação da massa muscular, poderá favorecer a redução de gordura corporal, podendo também evitar ganhos futuros de peso. Este fato não ocorreu no presente estudo, pois nos resultados foram percebidas perdas de massa muscular em ambos os grupos, sendo esta significativa no grupo contínuo.

    Conforme Filho (2008), combinar dieta hipocalórica e treinamento físico é uma excelente intervenção não farmacológica para o tratamento da obesidade. Kraemer (1997) combinou exercícios aeróbicos com dieta hipocalórica, em mulheres com sobrepeso, num experimento que durou 12 semanas, constituído de 50 minutos de exercícios aeróbios com intensidade de 70 a 80% da FCmáx, 3 vezes por semana, e percebeu reduções significativas na massa gorda, peso corporal e percentual de gordura. No presente trabalho, a orientação nutricional que as voluntárias receberam não foi hipocalórica, este pode ter sido outro fator que limitou a redução dos índices de obesidade.

Conclusão

    As diferenças metodológicas quanto à elaboração do treinamento aeróbio tornam difícil a comparação com estudos que, por meio do treinamento aeróbio, buscam saber qual seria o volume, intensidade e método de exercício ideal para redução dos índices relacionados à obesidade.

    Após análise e discussão dos dados pode-se concluir que um treinamento contínuo ou intervalado, realizado em sessões de 45 minutos, 3 vezes por semana em um período de 8 semanas, não possuem superioridade de efeito entre eles na redução dos parâmetros analisados, exceto para o percentual de gordura, no qual o treinamento contínuo é mais eficaz que o treinamento intervalado.

    Tendo em vista os resultados obtidos, o presente estudo sugere que posteriores pesquisas com mesmo objetivo dêem mais ênfase ao volume total de treinamento, a intensidade dos exercícios aeróbicos e a inclusão de exercícios resistidos, além de controlar melhor a alimentação da amostra oferecendo uma dieta que promova perda de peso.

Referências bibliográficas

  • ALEXANDER, J.L. The role of resistance exercise in weight loss. Strenght and Conditioning Journal, v.24, n.1, p.65-69, 2002.

  • BAHR, R.; SEJERSTED, O.M. Effect of intensity of exercise on excess postexercise oxygen consumption. Metabolism, n.40, p.836-841, 1991.

  • BJORNTORP, P. Body fat distribuition, insuline resistence, and metabolic diseases. Nutrition, n.13, p.795-803, 1997.

  • BRYNER, R. W. et al. Effects of Resistance vs Aerobic Training Combined with an 800 calorie liquid diet on lean body mass and resting metabolic rate. Journal of the American College of Nutrition, v.18, n.1, p.115-121, 1999.

  • CIOLAC, E.G.; GUIMARÃES G.V. Exercício físico e síndrome metabólica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 10, n. 4, p. 319-324, 2004.

  • DANTAS, E.H.M. A prática da preparação física. 5° edição. Rio de Janeiro. Shape. 2003. 463p.

  • DENADAI, R.C, et al. Efeitos do exercício moderado e da orientação nutricional sobre a composição corporal de adolescentes obesos avaliados por densitometria óssea. Revista Paulista de Educação Física, n.12, p.210-218, 1998.

  •  DIAS, R. et al. Efeitos de diferentes programas de exercícios nos quadros clínico e funcional de mulheres com excesso de peso. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 8, p. 58-65, 2006.

  • FERREIRA, S. et al. Aspectos Etiológicos e o Papel do Exercício Físico na Prevenção e Controle da Obesidade. Revista de Educação Física, n.133, p.15-24, 2006.

  • FILHO, A. D. R. et al. Efeitos do treinamento em circuito ou caminhada após oito semanas de intervenção na composição corporal e aptidão física de mulheres obesas sedentárias. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo, v.2, n.11, Set./Out., 2008.

  • FOX, E.L.; BOWERS, R.W; MERLE, L.F. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 4°ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.

  • GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.R.P. Manual Prático para Avaliações em Educação Física. São Paulo: Manole, 2006, 484p.

  • GUSTAT, J. et al. Relation of self-rated measures of physical activity to multiple risk factors of insulin resistance syndrome in young adults: the Bogalusa Heart study. Journal Clinical Epidemiology, n.55, p-997-1006, 2002.

  • GUTIN, B. et al. Effects of exercise intensity on cardiovascular fitness, total body composition, and visceral adiposity of obese adolescents. American Journal of Clinical Nutrition, n.75, p.818-826, May, 2002.

  • KRAEMER, W. J. et al. Physiological adaptations to a weight-loss dietary regimen and exercise programs in women. Journal Applied of Physiology, n.83, p.270–279, 1997.

  • LAKKA, T.A. et al. Sedentary life style, poor cardiorespiratory fitness, and the metabolic syndrome. Medicine and Science in Sports and Exercise, n.38, p.1279-1286, 2003.

  • LARSSON, B. et al. Abdominal adipose tissue distribution, obesity, and risk of cardiovascular disease and death: 13 year follow up of participants in the study of men born in 1913. Br Med Journal, n.288, p.1401-1404, 1984.

  • LONDEREE, B.R.; et al. %VO2máx versus %HRmáx regressions for six modes of exercise. Medicine Science of Sports and Exercises, v 27, n.458, 1995.

  • MARTIN, A.D. et al. Anthropometrical estimation of muscle mass in men. Medicine Science of Sports and Exercises, v.22, p.729-733, 1990.

  • MCARDLE, W.D.; KATCH, F.I.; KATCH, V.L. Fisiologia do Exercício: Desempenho Humano, Nutrição e Energia. 5o ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 1113p.

  • MOKDAD, A.H. et al. The spread of the obesity epidemic in the United States. 1991-1998. JAMA 1999; 282:1519-22.

  • MUST, A. et al. The disease burden associated with overweight and obesity. JAMA, n.282, 523-529, 1999.

  • PHELAIN, J.F. et al. Postexercise energy expenditure and substrate oxidation in young women resulting from exercise bouts of different intensity. Journal of the American College of Nutrition, n.16, p.140, 1997.

  • QUEIROGA, M. R. Testes e medidas para avaliação da aptidão física relacionada à saúde em adultos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 202 p.

  • REAVEN, G.H. Role of insulin resistence in human disease. Diabetes, 1988.

  • RENNIE, K.L. et al. Association of metabolic syndrome with both vigorous and moderate physical activity. Int. Journal of Epidemiology, n.32, p.600-606, 2003.

  • TANAKA, H.; MONAHAN, K.D.; SEALS, D.R. Age-predicted maximal heart rate revisited. Journal of the American College of Cardiology. v.37, n.1, 2001.

  • WAREHAM, N.J.; HENNINGS, S.J.; BYRNE, C.D. A quantitative analysis of the relationship between habitual energy expenditure, fitness and the metabolic cardiovascular syndrome. Br J Nutr, n.80, p.235-241, 1998.

  • WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. 9 ed. São Paulo: Manole, 1999. 740 p.

  • WILLETT, W.C.; DIETZ, W.H.; COLDITZ, G.A. Guidelines for healthy weight. N. England Journal Med., n.341, p.427-434, 1999.

  • WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia: do esporte e do exercício. 2 ed. Barueri: Manole, 2001. 702 p.

  • YOSHIOKA, M. et al. Impact of high-intensity exercise on energy expenditure, lipid oxidation and body fatness. International Journal of Obesity, v.25, n.3, p.332-339, 2001.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, N° 146, Julio de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados