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Inclusão de alunos com necessidades especiais 

na escola: reflexões acerca da Educação Física Adaptada

Inclusión de alumnos con necesidades especiales en la escuela: reflexiones sobre la Educación Física Adaptada

 

*Mestrando em Actividade Física Adaptada

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal

**Psicóloga. Prefeitura Municipal de Santiago, RS

(Brasil)

Vinícius Denardin Cardoso*

Rafaele Rodrigues Bastilha**

vinicardoso@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular tem sido uma questão muito debatida nos últimos tempos, desde meados dos anos 80 e princípio dos anos 90, quando inicia-se no contexto internacional um movimento materializado por educadores, pais e pessoas com deficiência, que delineavam a necessidade de unificar a educação especial e a regular num único sistema educativo. Neste estudo busca-se refletir sobre os pressupostos teóricos que englobam a inclusão e a acessibilidade de alunos com necessidades especiais durante as aulas de educação física dentro da escola.

          Unitermos: Inclusão. Educação Física Adaptada. Escola.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    Desde meados dos anos 80 e princípio dos anos 90, inicia-se no contexto internacional um movimento materializado por profissionais, pais e as pessoas com deficiência, que delineavam a necessidade de unificar a educação especial e a regular num único sistema educativo, criticando a ineficácia da educação especial.

    Aparecia assim, pela primeira vez uma defesa importante à prevalência de um único sistema educativo para todos, que foi denominado de inclusão.

    De todas as conferências realizadas até então sobre o assunto, cabe destacar a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, de 1994, em Salamanca, por ser a que de maneira mais decisiva contribuiu para impulsionar a Educação Inclusiva em todo o mundo. Nesta Conferência reconheceram a necessidade e urgência de que o ensino chegasse a todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais no âmbito da escola regular.

    Outro documento também importante é a Declaração Mundial de Educação para Todos surgida após a Conferência de Jomtien na Tailândia em 1990, Plano de Ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, promovida pelas Nações Unidas para a educação, ciência e cultura (UNESCO), fundação das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD) e Banco Mundial. O objetivo era traçar ações concretas para mudar até 2000 a situação do analfabetismo, incluindo a situação das pessoas com necessidades educacionais especiais. (ROSSETO, 2006).

    Desse modo, a educação inclusiva pressupõe a formação docente de qualidade e a organização das escolas para garantia do direito de todos à educação. Este trabalho retratará o assunto que concerne à inclusão de Alunos com necessidades especiais no contexto escolar, mas cabe aqui lançarmos alguns questionamentos sobre o real significado do termo inclusão.

Inclusão: um direito de todos

    A inclusão deve dizer respeito a todos os alunos, pois tem o mesmo direito a uma educação de qualidade, portanto os sistemas educacionais têm de mudar pra poder responder a essas necessidades.

    Os questionamentos que surgem quando se fala em inclusão dizem respeito à real diferença que existe entre crianças com deficiência que não têm acesso às escolas ou são discriminadas na sala de aula e crianças sem deficiência que fracassam na escola, se evadem e são marginalizadas socialmente. Qual a diferença real se ambas são excluídas e tem violado o seu direito fundamental à educação? Qual a diferença real entre necessidades educacionais que foram geradas por uma deficiência e necessidades educacionais que foram geradas por uma deficiência social e econômica?

    Assim a educação inclusiva surge tentando compreender essas questões, dizendo respeito às várias barreiras que as crianças enfrentam, sejam barreiras de acesso à escolarização ou de acesso o currículo, que levam ao fracasso escolar e à exclusão social.

    Apesar do intenso debate sobre a necessidade urgente de transformação do sistema regular de ensino em um ambiente mais inclusivo, justo e democrático, as resistências ainda são muitas e, conseqüentemente, o progresso em direção a escolas mais inclusivas ainda é limitado. O movimento pelas escolas inclusivas tem como principal objetivo, romper com as práticas didático-pedagógicas autoritárias e alienantes, que não reconhecem o papel fundamental do aluno no processo ensino-aprendizagem.

    É na escola inclusiva que todos alunos devem participar das atividades, indescrimidamente, onde o aprender será um desenvolvimento em conjunto e global, porém, o espaço inclusivo da escola ainda é bastante discutido. Conforme Cidade e Freitas (2002), a escola inclusiva depende de uma série de fatores como arquitetura, engenharia, transporte, acesso, experiências, conhecimentos, sentimentos, comportamentos, valores, entre outros. E muito desses fatores são planejados e construídos por pessoas sem compreensão das limitações que cada pessoa com deficiência possui, o que afeta o desenvolvimento de uma escola verdadeiramente inclusiva. A Declaração de Salamanca (1994), aborda que o princípio fundamental das escolas inclusivas, consiste na aprendizagem em conjunto de todos alunos, sempre que possível, independente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se a vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação a todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoio e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.

    Pode-se mesmo dizer, que há múltiplos aspectos a serem considerados para a implementação de uma escola inclusiva. Dentre esses estão o oferecimento de cursos de reciclagem para capacitação de docentes; a importância da existência de um corpo técnico especializado (composto por psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo); o apoio da família do aluno com necessidades especiais; o número de alunos na classe; a eliminação de barreiras arquitetônicas; a revisão pela sociedade civil da concepção sobre a pessoa com necessidades especiais; o apoio da sociedade política; a destinação de verbas; a adequação de currículos, metodologias de ensino, recursos didáticos e materiais e sistemas de avaliação (ARANHA, 2000; MANTOAN, 1998; SASSAKI, 1999).

    O próprio conceito de inclusão, em relação às crianças com alguma deficiência ainda está sendo construído. Encontram-se diferentes definições em diferentes lugares, que ainda geram muitos desacordos e divergências.

Inclusão e integração

    Todas as formas de inserção escolar vigentes até então, partiam do pressuposto de que deveriam existir dois sistemas de educação: o regular e o especial. Os alunos com deficiência poderiam estudar em escolas regulares se fossem capazes de acompanhar seus colegas sem necessidades especiais Para isto, foi sendo desenvolvido um sistema de cascata para acomodar os diversos níveis de capacidade. Partia então do aluno, a necessidade de ajustar-se e adaptar-se à sociedade e à escola. Este é o paradigma da integração.

    Já a inclusão, consiste em adequar os sistemas sociais gerais da sociedade de tal modo, que sejam eliminados os fatores que excluíam certas pessoas do seu seio e mantinham afastadas aquelas que foram excluídas.

    Em relação a isso Jover (1999) afirma que: “A integração significa a inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na sociedade. Já a inclusão significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania”.

    Então é preciso preparar a escola para incluir nela o aluno especial, e não o contrário. Sem esquecer-se da acessibilidade e qualidade do ensino para alunos com necessidades especiais.

    Com o conceito apenas de integração, fomenta-se muitas vezes práticas de exclusão, porque geralmente era a pessoa com deficiência que estava obrigada a integrar-se na comunidade dominante e de forma ativa. Na inclusão, pelo contrário, é a instituição que se torna flexível a qualquer aluno que busque a escolarização nesta.

    É ideal que ambas caminhem juntas na transformação de uma sociedade mais igualitária, pois de nada adiantará alunos com necessidades especiais estarem aptos a interagir na sociedade, mas esta não reconhecê-la.

    Torna-se, portanto, necessário travar um embate contra a sociedade que ainda possui características excludentes e separatistas, e que traz consigo o estigma segregacionista. É necessário respeitar, aceitar e valorizar as limitações de cada ser humano como cidadão do nosso meio social (LIMA, 2001).

Inclusão Escolar de alunos com necessidades educacionais especiais (ANEEs)

    A educação de ANEEs ocorria através de um sistema paralelo de ensino, através da Educação Especial, com métodos ainda de forte ênfase clínica e currículos próprios. Atualmente a Educação Especial vem redimensionando o seu papel (que era antes restrito ao atendimento direto dos alunos) para atuarem prioritariamente como suporte à escola regular no recebimento destes alunos.

    A inclusão escolar passa a criar oportunidades contínuas pra todos os alunos aprenderem por meio do uso de estratégias diversificadas de ensino ao mesmo tempo em que cria base firmes para a melhoria da escola e para a capacitação contínua dos professores.

    As estratégias diversificadas de ensino devem ser elaboradas não levando em conta as limitações, o déficit, as incapacidades destes alunos, mas sim, basear-se no novo modelo da Organização Mundial de Saúde (OMS), que procura enfatizar a funcionalidade, a capacidade de viver a vida em sua total potencialidade, tornando-as membros ativos, em todos os sentidos, das diversas atividades em sua sociedade.

    A atenção sobre limitações e desvantagens dos ANEEs na estruturação dos processos de ensino, seguia bem um modelo biológico de corpo escolar, que visava à padronização de desempenho e de desenvolvimento, vendo o corpo como: um corpo formado por partes isoladas e estanques, entre as quais não existem inter-relações, e de que sua utilidade se restringe apenas à funcionalidade, e vendo os corpos deficientes incapazes e ineficazes diante do mundo do trabalho e do espaço da educação.

    Ser um corpo deficiente, pelo novo paradigma da Organização Mundial da Saúde (OMS), é ser visto, aceito, admirado e aplaudido pelas suas possibilidades.

    Este é o novo modelo pedagógico da educação, onde a valorização da individualidade é fundamental, valorizando o convívio entre os corpos diferentes, acreditando no aprendizado não só de conteúdos, mas de valores sociais e humanos, de construção de conhecimento individual e coletivo, estabelecendo o diálogo constante entre professor-aluno, aluno-aluno e de todos com o ambiente escolar e social.

Educação Física Adaptada na Escola

    A Educação Física Adaptada é uma parte de Educação Física, cujos objetivos são o estudo e a intervenção profissional no universo das pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades físicas. Seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento. Atividades como ginástica, dança, jogos e esportes, conteúdos de qualquer programa de atividade física, devem ser considerados tendo em vista o potencial de desenvolvimento pessoal (e não a deficiência em si). (GORGATTI; COSTA, 2005).

    A Educação Física Adaptada na Escola deve proporcionar o pleno desenvolvimento de seus alunos, de forma que estes consigam adaptar-se em função das suas limitações em decorrência da deficiência apresentada. Também deve propiciar que seus alunos ganhos em relação à melhora de sua independência e autonomia das atividades do cotidiano, estimular os contatos sociais facilitando o processo de Inclusão, respeitando as capacidades e limitações de cada um, proporcionando um melhor desenvolvimento motor, intelectual, social e afetivo.

    Segundo Rosadas (1989), A Educação Física Adaptada deve ensinar os alunos a fazer mudanças dentro de si, para conseguir isso, deve-se respeitar a individualidade de cada um, respeitar suas diferenças e limitações, trabalhar suas potencialidades, nunca subestimá-los, vibrar com suas conquistas, motivá-los a dar novos passos e oferecer oportunidade para que eles possam desfrutar da alegria proporcionada pela prática recreativa e esportiva.

    Para Gorgatti e Costa (2005), é importante focalizar o desenvolvimento das habilidades, selecionando atividades apropriadas, providenciando um ambiente favorável à aprendizagem encorajando a auto-superação, a todos os participantes da Educação Física Adaptada.

Considerações finais

    O professor de Educação Física Adaptada deve estar preparado e motivado para desenvolver conteúdos estimulantes e criativos, adaptando-se aos diferentes níveis de aprendizagem e limitações de seus alunos. Dessa forma garantindo a oportunidade de educação a todos estes alunos com necessidades especiais. Dessa forma o professor contribuirá para o pleno desenvolvimento de seus alunos.

    A escola deve se adaptar as necessidades dos alunos, de modo que ofereça diferentes estratégias de aprendizagem e avaliação, garantindo que nenhum aluno será excluído das atividades desenvolvidas, os cuidados com a acessibilidade devem ser seguidos desde a construção e reformas da escola, através de uma planificação criteriosa e das limitações de pessoas com deficiência e seus alunos.

    A inclusão é um direito de todos; e, como profissionais da educação, é o nosso dever estarmos conscientes das possibilidades desta inclusão nas aulas de Educação Física. Mantoan (2005), afirma que:

    A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.

Bibliografia

  • ARANHA, M. S. F. Inclusão Social e Municipalização. In: MANZINI, E. J. Educação Especial: temas atuais. Unesp: Marília – Publicações, 2000.

  • CARDOSO, C. S. Aspectos Históricos da Educação Especial: da exclusão a inclusão uma longa caminhada. Educação, n. 49, p. 137-144, 2003.

  • GORGATTI, M. G. (org.), DA COSTA, R; F. Atividade Física Adaptada: Qualidade de Vida para Pessoas com Necessidades Especiais. Manole, Barueri – SP, 2005.

  • JOVER, A. Inclusão: qualidade para todos. Revista Nova Escola, V.15, n. 123, 1999, p. 8-17.

  • LIMA, S; M; T. Educação física e a escola inclusiva. In: CIDADE, R; E. (org). Temas em educação física adaptada. Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada – [S.L]: SOBAMA. Curitiba,

  • MANTOAN, M. T. E. Integração X Inclusão - Educação para Todos. Pátio, n. 5, p. 49-51, 1998.

  • MAUEBERG-DE CASTRO, E. Atividade Física Adaptada. Ribeirão Preto: Tecmed, 2005.

  • PEDRINELLI, V; J. VERENGUER. R; de C; G. Introdução ao universo das possibilidades. In: GORGATTI, M; G. COSTA da, R; F. Atividade Física Adaptada: Qualidade de Vida para Pessoas com Necessidades Especiais. (org.) Barueri: Manole, 2005.

  • RODRIGUES, D. A. Inclusão na Universidade: Limites e possibilidades da construção de uma universidade inclusiva. Revista de Educação Especial da UFSM, n. 23, 2004.

  • ROSADAS, S. C. de. Atividade Física Adaptada e Jogos Esportivos para o Deficiente. Eu posso. Vocês duvidam? Rio de Janeiro / São Paulo: Atheneu, 1989.

  • ROSSETTO, E. Processo de Inclusão: um grande desafio para o século XXI. Disponível: http://www.presidentekennedy.br/rece/trabalhos-num3/artigo09.pdf Acessado em 05 de Fevereiro de 2010.

  • SASSAKI, R. K. Inclusão - Construindo uma Sociedade para Todos. 3. ed. Rio de Janeiro: WVA, 1999.

  • SASSAKI, R; K. Inclusão: o paradigma do século 21. Inclusão: Revista da Educação Especial/Secretária de Educação Especial. v.1, n.1 (out. 2005). – Brasília: Secretária de Educação Especial, 2005.

  • UNESCO. Declaração de Salamanca: sobre princípio política e prática em educação especial. 1994. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf, Acesso em: 10 dez. 2009.

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