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A prática regular de exercícios físicos e a prevalência da fadiga

ocupacional e de distúrbios álgicos em auxiliares de limpeza

La práctica regular de ejercicios físicos y la prevalencia de la fatiga laboral y de trastornos algésicos en auxiliares de limpieza

The regular practice of physical exercises and the prevalence of occupational fatigue and algesic disorders in cleaning assistants

 

*Mestre em Atividade Física e Saúde (UCB)

Doutorando em Ciência da Saúde e do Desporto. UTAD, Portugal

Docente da Universidade Estadual de Montes Claros. UNIMONTES, MG

Docente das Faculdades do Norte de Minas. FUNORTE, Brasil

**Graduação em Educação Física

(Brasil)

Jean Claude Lafetá*

jclafeta@yahoo.com.br

Geraldo Magela Durães*

gmdmoc@yahoo.com.br

Marílis Aparecida de Meneses Ferreira**

marilisamf@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Os auxiliares de limpeza são profissionais que freqüentemente realizam atividades laborais com elevada sobrecarga física, ficando suscetíveis a vários distúrbios ocupacionais. O presente estudo teve como objetivo verificar a relação existente entre a prática regular de exercícios físicos e a prevalência da fadiga ocupacional e dos distúrbios álgicos em auxiliares de limpeza. Esta pesquisa pode ser delineada como descritiva, com análise quantitativa dos dados. Participaram deste estudo 20 funcionários, auxiliares de limpeza em uma instituição de ensino superior pública de Montes Claros (MG), selecionados de forma intencional por conveniência. Em todos os indivíduos foram avaliados os níveis de fadiga ocupacional (questionário bipolar), sintomatologia dolorosa e anamnese (dados ocupacionais e da prática de exercícios físicos). Na análise dos dados, recorreu-se à estatística descritiva (média, desvio-padrão, percentagens), aos testes de normalidade (Kolmogorov-Smirnov e Sapiro-wilk), aos testes t Student para amostras pareadas e independentes, Wilcoxon e Mann-Whitney, e análise de correlação de Spearman’s, com nível de significância de 5%. A partir dos dados, fica evidenciado que esses profissionais apresentaram uma elevada prevalência de distúrbios álgicos (95%) e de fadiga ocupacional (90%), que se acentuam de forma significativa com o decorrer da jornada de trabalho. Grande parte da amostra (80%) não realiza a prática regular de exercícios físicos. Contudo, percebe-se que os praticantes de EF apresentam menores níveis de sintomatologia dolorosa e fadiga ocupacional, embora de forma não significativa. Entretanto, não foi demonstrada uma correlação significativa existente entre a freqüência da prática de EF com os distúrbios álgicos e fadiga ocupacional.

          Unitermos: Prática regular de exercícios físicos. Distúrbios álgicos. Fadiga ocupacional. Auxiliares de limpeza.

 

Abstract

          The cleaning assistants are professionals that often make laboral activities with high physical strain, being susceptible to a variety of occupational disorders. The present study aimed to verify the relationship between the regular practice of physical exercises and the prevalence of occupational fatigue and algesic disorders in cleaning assistants. This research can be delineated as descriptive, with a quantitative data analysis. There were 20 employees participating of this study, all of them, cleaning assistants in a Public Institution of Higher Education in Montes Claros (MG) intentionally selected for conviniece. In all the individuals the levels of occupational fatigue were evaluated (bipolar questionnaire), painful symptomatology and anamnesis (occupational data and from the practice of phisycal exercises). The data analysis was based on descreptive statistics (mean, standard deviation, percentages) in normality tests (Kolmogorov-Smirnov and Sapiro-wilk) in Student t tests for paired and independent samples, Wilcoxon and Mann-Whitney, Sperman's correlation coefficient analysis, with a signifcance level of 5%. From the data, it is evidenced that these professionals present an elevated prevalence of algesic disorders (95%) and of occupational fatigue (90%), that are accentuated significantly over the course of the workday. Much of the sample (80%) does not perform regular physical exercise. However, it is noticed that the practitioners of EF (Physical Exercise) have lower levels of occupational fatigue and painful symptoms, although not significantly. However, no significant correlation between the frequency of the practice of EF (Physical Exercise) with algesic disorders and occupational fatigue was demonstrated.

          Keywords: Regular practice of physical exercises. Algesic disorders. Occupational fatigue. Cleaning assistants.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introduçao

    O grande número de patologias ocupacionais, lesões e distúrbios álgicos músculo-esqueléticas, que atingem o trabalhador contemporâneo, tem despertado o interesse de vários estudiosos, dos sindicatos de trabalhadores, dos empregadores e do próprio governo, sendo relacionados à redução da produtividade, aumento do absenteísmo, menor qualidade de vida do trabalhador, além de aposentadorias precoces, indenizações (CARNEIRO; COUTO, 1997; FERRARI et al., 2004).

    Algumas profissões são mais predispostas aos distúrbios ocupacionais, decorrentes do ritmo acelerado do trabalho e da carga exaustiva; ao excesso de tarefas, à repetição das mesmas, à falta de rotatividade das funções.


    O cargo de auxiliar de limpeza é uma ocupação que apresenta elevada exigência aos funcionários, pois é uma das únicas profissões que não passam por transformações significativas, capazes de melhorar as condições de trabalho dos indivíduos, por ser um cargo em que os trabalhadores exercem, em quase a totalidade das atividades, serviços com equipamentos manuais. Estes se sujeitam às condições penosas de trabalho, que acarretam uma piora na saúde ocupacional dos mesmos, em função das atividades exercidas durante a jornada de trabalho.

    De acordo com a nova Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, 2002), o auxiliar de limpeza, conhecido também como faxineiro ou servente de limpeza, é o profissional encarregado pelos serviços de limpeza e conservação de edifícios – recintos (salas, gabinetes, auditórios, laboratórios, halls, corredores, escadarias, banheiros) e acessórios desses ambientes. Nesse sentido, o trabalho de limpeza é conhecido mundialmente como uma ocupação de serviço básico (ROCHA, 2003).

    A limpeza é uma atividade em que não há muita mecanização dos serviços, pois a maioria das tarefas é realizada manualmente, com a combinação de esforços dinâmicos e estáticos (ROCHA, 2003). As atividades mais comuns nessa profissão são: limpar vidro, superfícies (paredes, pisos, esquadrias), móveis e equipamentos, cortinas e persianas, equipamentos de saneamento; varrer, lavar, secar e encerar pisos, passar pano e recolher lixo. Como são tarefas que exigem bastante dos serventes, estes, para darem conta de todo o serviço, precisam realizá-las, em pouco tempo, o que torna o trabalho muito intensivo.

    Frequentemente existem relatos de queixas concernentes às dores e doenças ocupacionais nos membros superiores e costas de funcionários que atuam na limpeza, principalmente atribuídas aos diversos tipos de tarefas realizadas, que muitas vezes os levam a tomar posturas inadequadas (ROCHA, 2003). Por outro lado, existem os estressores psicossociais a que esses profissionais estão submetidos, além do baixo salário, da falta de pausas no trabalho, bem como à desvalorização e desprezo advindos da sociedade, que geram uma sobrecarga psicológica nociva à saúde (REIMBERG, 2007 apud AMARAL, 2008).

    Os distúrbios álgicos ocupacionais são aqueles desencadeados no ambiente de trabalho e que são advindos de uma organização desfavorável dos processos e postos de trabalho e da falta de soluções que amenizem as situações negativas da saúde do trabalhador (CRUZ, 2000; MERGENER et al., 2008).

    Para Kroemer e Grandjean (2005, p. 145), “a fadiga é expressa pela diminuição da capacidade funcional de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo, provocado por uma sobrecarga na utilização daquele órgão, sistema ou organismo”. A fadiga eleva a probabilidade de erros, aumenta o tempo de reação do indivíduo, bem como o risco de acidentes, pois os funcionários, quando fatigados, tendem a aceitar menores padrões de precisão e segurança (LEÃO; PERES, 2002).

    Dentre os sintomas da fadiga, observam-se: incidência do cansaço e do esgotamento, redução da atenção, da concentração e da força de vontade; sonolência e falta de disposição para o trabalho; dificuldade de pensar e perdas de produtividade em atividades físicas e mentais (KROEMER; GRANDJEAN, 2005).

    Vários estudos vêm investigando a associação entre atividade física com uma saúde corpórea adequada. A atividade física tornou-se uma necessidade integral para o homem, pois tem sido observada uma grande transformação da sociedade com o avanço tecnológico, proporcionando indivíduos cada vez mais estressados e ansiosos, principalmente correlacionados com a inatividade física (LEITE et al 2007; OLIVEIRA 2005).

    A saúde do homem pode ser protegida e aprimorada pela prática regular de AF – exercício físico (CARVALHO et al, 1996). As práticas regulares de atividade e esportes físicos apropriados possibilitam às pessoas, de ambos os sexos, com várias idades, inúmeros benefícios de saúde física, mental e social (BRASIL, 2002). Entretanto, são limitadas as evidências que demonstrem a associação entre a prática regular de exercícios físicos com a fadiga ocupacional e os distúrbios álgicos em profissionais que atuam como auxiliares de limpeza.

    Portanto, este estudo teve como objetivo identificar a relação existente entre a prática regular de exercícios físicos e a prevalência da fadiga ocupacional e dos distúrbios álgicos em auxiliares de limpeza.

Metodologia

    O presente estudo se caracterizou como uma pesquisa descritiva, com corte transversal e análise quantitativa dos dados. Para a análise quantitativa dos dados pode-se utilizar de entrevistas, questionários, formulários, e empregar procedimentos de amostragem, para que assim se possa delinear ou analisar as características de fatos ou fenômenos, avaliar programas, ou isolar as variáveis principais (LAKATOS; MARCONI, 2001).

    A população desta investigação foi constituída por funcionários que exerciam atividades laborais de auxiliares de limpeza em uma instituição pública de ensino superior do município de Montes Claros - MG. A amostra foi composta por 30 funcionários (27 mulheres e 3 homens), que foram selecionados de forma intencional e por conveniência, independentemente do gênero e da idade, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: ser funcionário da empresa responsável pela terceirização do serviço e registrado na mesma; ser funcionário do setor de limpeza há pelo menos 3 meses; exercer as funções/atividades cabíveis somente ao serviço de limpeza; não apresentar DORT’s ou outras doenças comprovadas por diagnóstico clínico que possivelmente comprometeriam os resultados da pesquisa; aceitar participar de todas as etapas da pesquisa.

    Vale ressaltar que devido ao não cumprimento dos critérios de inclusão, tais como recusa em participar de todas as etapas da pesquisa e o não preenchimento adequado dos questionários, 10 pessoas foram excluídas da amostra, limitando-se esta a um total de 20 indivíduos participantes (18 mulheres e 2 homens).

    Para a coleta de dados foram utilizados um formulário de autorização da instituição pesquisada, o termo de consentimento livre e esclarecido, uma ficha de identificação e anamnese ocupacional, a escala visual analógica (EVA) adaptada, além do questionário bipolar (análise da fadiga ocupacional e distúrbios álgicos).

    Após a autorização da instituição de ensino superior para a coleta de dados, todos os participantes assinaram o termo de consentimento e responderam os questionários. O questionário bipolar foi aplicado em dois momentos, ou seja, indicando com se sentiam no início e no final da jornada de trabalho. Todos os itens possuíam uma escala de 1 a 7 pontos, sendo que o escore 1 correspondia a ausência da sensação/sintomas e o escore 7, ao extremo da sensação/sintomas. Quanto mais se aproximasse do índice 7, maior seria o nível da fadiga ocupacional.

    Os dados foram tabulados e interpretados pelo programa SPSS 13.0. for Windows. Para avaliar a aderência à normalidade foram utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Nesta análise recorreu-se à estatística descritiva, com média, desvio-padrão, percentagens, frequências, etc. Para avaliar o aumento do nível de fadiga ocupacional e distúrbios álgicos entre o início e o final da jornada de trabalho, foram usados os testes t Student para amostras pareadas e Wilcoxon, com nível de significância de 5%. Já para analisar os índices de fadiga e distúrbios álgicos dos indivíduos ativos e não ativos, foram utilizados os testes t de Student para amostras independentes e Mann-Whitney, com p< 0,05. Para averiguar a associação entre a prática regular de exercícios físicos e a menor prevalência de fadiga ocupacional e distúrbios álgicos, foram empregadas as análises de correlação de Spearman’s, com nível de significância de 5%.

Análise e discussão dos dados

    Nesta investigação, a amostra foi composta por 20 auxiliares de limpeza, sendo que deste total, 10% eram do gênero masculino (2) e os outros 90% do gênero feminino (18). A média de idade atribuída ao grupo foi de 39,8 anos (± 9,17), com o mínimo de 26 anos e o máximo de 53 anos. O tempo de serviço apontado pelos participantes foi em média 57,15 (±53,14) meses, sendo o mínimo de 4 meses e o máximo de 180 meses de serviços prestados. O predomínio do gênero feminino pode ser atribuído às características da profissão, visto que exercem atividades que se assemelham às desenvolvidas no lar, que sem dúvida, ainda é dominado pelas mulheres.

    Um fato preocupante encontrado e que merece ser evidenciado deve-se ao nível de escolaridade apresentada pela amostra. Apenas um dos participantes (5%) declarou cursar o ensino superior. Grande parte afirmou que possuía o ensino médio completo (40%), sendo que o restante encontra-se entre o ensino médio incompleto (15%) e fundamental completo (20%) e uma parte não possuía nem ensino fundamental (20%). Apesar de o ensino fundamental completo ser requisito obrigatório para atividades de auxiliares de limpeza, conforme a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), observa-se que o mesmo não foi averiguado nesta amostra. Além desse aspecto, a CBO afirma que em algumas circunstâncias, pode-se determinar que os futuros ingressantes nessa profissão se qualifiquem através de um curso básico para aprender quais são as tarefas desempenhadas pelo profissional (BRASIL, 2002).

    O trabalho é visto como algo vital para o ser humano. Torna-se a fonte de sustentabilidade para as suas famílias. Ainda que sejam mal remunerados, o fato de ter um emprego, com carteira assinada, promove satisfação para o trabalhador, pois hoje em dia, tem-se tornado cada vez mais complicado conseguir um emprego quando não se tem um bom nível de escolaridade. Neste estudo, todos os indivíduos participantes da pesquisa afirmaram estar satisfeitos com seu trabalho, pois este era a sua única fonte de subsistência, uma vez que nenhum deles afirmou ter outra ocupação. Desse modo, garantir a estabilidade em seu emprego mostra-se essencial, promovendo assim grande satisfação pessoal.

    Apesar de nenhum dos sujeitos ter afirmado possuir outro emprego, esta não pode ser considerada como a única profissão dos participantes, visto que, pesquisas apontam que grande parte das mulheres enfrenta uma jornada dupla ou às vezes tripla de trabalho, tendo que desempenhar, além das funções da ocupação remunerada, as funções cabíveis a donas de casa e o cuidado com os filhos (PORTO, 2000; COUTO, 2002).

    A profissão de auxiliar de limpeza é uma ocupação que promove grande desgaste físico, em decorrência da sobrecarga muscular promovida pelas atividades desenvolvidas durante a sua jornada de trabalho. Fato este confirmado nesta investigação, visto que foi constatado que estes profissionais vivenciam no seu dia-a-dia distúrbios álgicos recorrentes, com tensão e rigidez muscular principalmente na região cervical e ombros, além da sensação de estresse e cansaço elevada. Percebeu-se que 95% dos auxiliares de limpeza apresentaram distúrbios álgicos corpóreos, sendo que 30% destes sentiam dores frequentes e 65% somente às vezes. Apenas 45% da amostra não se sentiam estressados. Tais números evidenciam que se trata de uma atividade com elevado nível de estresse físico e psíquico.

    A sensação de cansaço foi apontada por 90% da amostra, sendo que destes, 25% sentiam-se cansados frequentemente. A região cervical e da cintura escapular demonstram uma sobrecarga laboral diária, pois 85% dos participantes descrevem apresentar rigidez e tensão muscular nestes segmentos anatômicos. Portanto, a sintomatologia encontrada pode ser influenciada pelos fatores ocupacionais destes profissionais, visto que são várias atribuições em curto período de tempo com um número de funcionários reduzidos. Além disso, foi constatado que a empresa não disponibiliza pausas programadas (repouso) no trabalho, com exceção do período de almoço e lanche.

    Os auxiliares de limpeza são profissionais que desenvolvem atividades, em sua maioria, desgastantes, intensivas e com alto grau de exigência, uma vez que a boa visibilidade de um local depende da limpeza e do asseio verificado em seus recintos. Esses trabalhadores realizam em pouco tempo muitas tarefas, que envolvem trabalho manual excessivo e que são consideradas fisicamente pesadas. Além disso, o número de funcionários é insuficiente para demanda de serviços.

    Em estudo realizado em um Hospital do Reino Unido foi identificada a alta prevalência de desconforto e dor músculo-esquelética nesta classe de trabalhadores. Em outra pesquisa semelhante, foi observado que os auxiliares de limpeza de uma instituição de ensino particular apresentaram uma alta prevalência de dores e desconfortos, principalmente nos membros superiores, costas, coxas e pés, resultantes da sobrecarga muscular, atribuída ao grande número de atividades desenvolvidas e das más condições de trabalho (ROCHA, 2003).

Tabela 01. Análise da Fadiga Ocupacional, Nível de Sensação de Cansaço e Distúrbios

Álgicos do Inicio e Final da Jornada de Trabalho de Auxiliares de Limpeza

 

 

Inicio da Jornada de Trabalho

Final da Jornada de Trabalho

 

 

N

Média

D.P

Média

D.P

t / Z

Sig

Fadiga Ocupacional

20

2,11

0,77

3,29

0,77

- 6,04

0,000*

Distúrbios Álgicos

20

2,27

0,95

3,27

1,14

- 3,62

0,000*

Nível de Cansaço Físico

20

2,70

1,84

6,50

0,95

-3,82

0,000*

*Significância p< 0,05

    Para avaliar o nível de fadiga ocupacional apresentada pelos funcionários, recorreu-se ao questionário bipolar, que foi aplicado aos trabalhadores para quantificar os sintomas/sinais apresentados no início e final da jornada de trabalho. A partir dos dados, constatou-se que o nível de fadiga ocupacional dos auxiliares de limpeza no início do expediente era considerado leve, com média de escore de 2,11 (±0,76), em 7 pontos possíveis. Entretanto, percebe-se através da tabela 01 o aumento gradativo durante a atividade laboral desempenhada, pois ao final do trabalho era considerada moderada, com média de 3,29 (± 0,77) pontos. Já na análise da sensação de cansaço físico, apresentaram dados preocupantes. No início das atividades laborais , os funcionários apresentaram média de 2,70 (± 1,84) pontos. Ao término da jornada, ocorreu um aumento para 6,50 (± 0,95), caracterizando-se como um nível quase insuportável de cansaço físico. Esses dados confirmam o quão extenuante são as tarefas desenvolvidas pelas auxiliares de limpeza nesta instituição de ensino superior.

    Os distúrbios álgicos desta amostra foram avaliados de duas formas: através do questionário bipolar (análise de algias de vários segmentos corpóreos do inicio e final da jornada do trabalho) e com a escala visual analógico da dor (EVA) – adaptada (índice de 0 a 10 pontos). Na análise dos distúrbios álgicos pela escala EVA, foi verificado que no início do trabalho, estes funcionários apresentavam um índice de 2,98 (± 2,28) pontos em 10 possíveis, considerado de forma geral como leve. Os segmentos que apresentaram maiores níveis de dor foram a região do trapézio superior e da coluna torácica, com médias de 4,30 (± 3,71) e 4,45 (± 4,01), respectivamente, caracterizando-as como sensação álgica moderada. As demais regiões (coluna cervical, cinturas escapulares direita e esquerda) apresentaram médias consideradas leves. Esses segmentos corpóreos são as regiões mais acometidas pelas sintomatologias dolorosas ocupacionais (LIMA, 2003; ROCHA, 2003). Portanto, torna-se uma região de grande interesse nas investigações científicas profiláticas ocupacionais.

    Durante a anamnese ocupacional destes auxiliares de limpeza foram averiguados dados concernentes à prática regular de exercícios físicos, bem como as modalidades esportivas realizadas e a frequência semanal de EF.

    Nesse sentido, foram observados dados preocupantes, visto que apenas 20% da amostra apresentavam uma prática regular de exercícios físicos, sendo que 80% não apresentaram um estilo de vida ativo. As modalidades esportivas praticadas foram o ciclismo, com dois integrantes, e a caminhada, com o mesmo número de adeptos da modalidade anterior. A frequência semanal de EF era realizada pela maioria (n=3) era de durante cinco vezes por semana e apenas um integrante realizava durante três vezes semanais. Outra característica relevante averiguada foi que apenas profissionais do gênero feminino realizam a prática regular de exercícios físicos.

    A prática regular de EF acompanha-se de benefícios que se manifestam sob todos os aspectos do organismo humano, proporcionando benefícios econômicos em termos de redução de custos no campo da saúde pública, aumentando assim a produtividade, e promovendo ambientes físicos e sociais mais saudáveis. Do ponto de vista músculo-esquelético, auxilia na melhora da força e do tônus muscular e da flexibilidade, fortalecimento dos ossos e das articulações (RONQUE et al, 2007).

    A partir dos resultados (tabela 02) fica evidenciado que os auxiliares de limpeza que praticavam EF regularmente demonstraram possuir um menor nível de fadiga ocupacional, de distúrbios álgicos e de sensação de cansaço físico que os funcionários não praticantes de EF, embora esses dados não sejam significativos. Portanto, corroborando com a literatura científica, a prática regular de EF demonstra promover benefícios em vários componentes orgânicos, envolvendo fatores físicos e psíquicos.

Tabela 02. Análise da Fadiga Ocupacional, Nível de Sensação de Cansaço e

Distúrbios Álgicos entre Praticantes e Não Praticantes de Exercício Físico - EF

 

Praticantes de EF

Não Praticantes de EF

  

N Média D.P N Média D.P t / Z Sig

Fadiga Ocupacional

04

3,13

0,81

16

3,33

0,63

0,367

0,718

Distúrbios Álgicos

04

3,19

1,04

16

3,28

1,25

0,139

0,891

Cansaço Físico

04

6,00

1,15

16

6,63

0,86

-1,245

0,385

*Significância p< 0,05

    A prática regular de AF é um fator de promoção da saúde e prevenção de doenças, especialmente, daquelas ligadas à área crônico-degenerativas (hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, doenças do aparelho locomotor e doenças pulmonares). A atividade física regular (6 a 7 dias na semana), em intensidade moderadas, de forma contínua ou acumulada, mesmo não promovendo mudanças nos níveis de aptidão física, tem-se mostrado benéfica na redução do risco de diversas doenças (AHA apud NAHAS, 2003).

    A prática regular de atividade física (exercícios físicos) tem sido frequentemente associada à prevenção de doenças crônico-degenerativas e à melhoria da qualidade de vida. Nesta investigação foi verificado que os praticantes de EF apresentaram menor prevalência de fadiga ocupacional e de distúrbios álgicos. Entretanto, não foram demonstradas de forma significativa as correlações existentes (tabela 03) entre a prática de EF e a fadiga ocupacional, os distúrbios álgicos e a sensação de cansaço físico.

Tabela 03. Coeficiente de correlação de Sperman’s entre a Prática de Exercícios Físicos e a 

Fadiga Ocupacional, Nível de Sensação de Cansaço e Distúrbios Álgicos de Auxiliares de Limpeza

 

 

Prática de Exercícios Físicos

N

Coef. Correlação

Sig

Fadiga Ocupacional

20

- 0,067

0,779

Distúrbios Álgicos

20

0,19

0,935

Nível de Cansaço Físico

20

- 0,256

0,276

*Significância p< 0,05

    Os auxiliares de limpeza desempenham atividades laborais desgastantes, com grande esforço físico e posturas inadequadas. Além desses fatores, existe normalmente a dupla jornada de trabalho, visto que grande parte desses profissionais é do gênero feminino. Para um aprimoramento da qualidade de vida desses profissionais devem-se ocorrer algumas adaptações ergonômicas, tais como a promoção de pausas regulares, a utilização de mobiliários mais adequados, a adoção da prática de exercícios físicos no ambiente do trabalho (ginástica laboral) e o estímulo à prática regular esportiva. Entretanto, para alcançar os benefícios associados à saúde corpórea, os exercícios devem contemplar principalmente os componentes que envolvem a aptidão física relacionada à saúde (flexibilidade, força muscular, condicionamento aeróbico e composição corporal).

    Guedes et. al. (1995) afirma que a prática de exercícios físicos habituais, além de promover a saúde, influencia a reabilitação de determinadas patologias relacionadas ao aumento do número de morbidade e da mortalidade. A prática da AF influencia os índices de aptidão física e é influenciada por eles, os quais determinam o estado de saúde e são determinados por ele.

Conclusão

    A partir dos resultados obtidos, percebeu-se que os auxiliares de limpeza apresentaram uma elevada prevalência de distúrbios álgicos e de fadiga ocupacional, acentuando-se de forma significativa com o decorrer da jornada de trabalho. A maior parte desses funcionários não realiza a prática regular de exercícios físicos. Entretanto, evidenciou-se que os praticantes desses exercícios apresentaram menores níveis de sintomatologia dolorosa e fadiga ocupacional, embora de forma não significativa. Por outro lado, não foi demonstrada uma correlação significativa existente entre a frequência da prática de exercícios físicos com os distúrbios álgicos e a fadiga ocupacional.

    Desse modo, pode-se inferir que tais trabalhadores necessitam de medidas ergonômicas preventivas (ginástica laboral, orientações posturais, etc.) que proporcionem uma melhoria da saúde ocupacional, das condições do trabalho, bem como da qualidade de vida e bem-estar laboral.

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