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Determinação da intensidade relativa 

de esforço em corredores de endurance

Determinación de la intensidad relativa del esfuerzo en corredores de fondo

 

*Mestrando/a em Educação Física, UFSC

**Licenciado/a em Educação Física, UFSC

(Brasil)

Kristopher Mendes de Souza* | Talita Grossl*

Rubens José Babel Junior**

Naiandra Dittrich**

kristophersouza@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Os objetivos desse estudo foram: 1) determinar os valores de consumo de oxigênio (VO2), velocidade e freqüência cardíaca (FC) referentes ao segundo limiar de transição fisiológica (LTF2) e 2) verificar os percentuais do consumo máximo de oxigênio (%VO2max), velocidade correspondente ao VO2max (%vVO2max) e freqüência cardíaca máxima (%FCmax) em que o LTF2 é encontrado em corredores de endurance. Participaram deste estudo 11 corredores moderadamente treinados (28,36 ± 6,47 anos; 68,67 ± 8,05kg; 173,77 ± 7,23cm e; 10,62 ± 2,95% de gordura corporal) que competiam em provas de endurance e treinavam seis dias por semana, com um volume semanal que oscilava entre 70 e 90km. Todos os sujeitos foram submetidos inicialmente às avaliações antropométricas e em seguida a um teste incremental para determinação do VO2max, vVO2max, FCmax e LTF2. A velocidade inicial do teste foi de 12km.h-1 (1% de inclinação), com incrementos de 1km.h-1 a cada 3 minutos e com intervalos de 30 segundos entre cada estágio para a coleta de 25µl de sangue do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo. Os resultados são apresentados por meio de estatística descritiva (média e desvio padrão). Os valores de VO2max, vVO2max e FCmax foram de 64,2 ± 5,4 ml.kg-1.min-1, 18,3 ± 0,7 km.h-1 e 192 ± 6 bpm, respectivamente. Com relação aos valores absolutos de VO2, FC e velocidade correspondentes ao LTF2, estes foram de 51,5 ± 5,1 ml.kg-1.min-1, 167 ± 13 bpm e 14,6 ± 0,7 km.h-1, respectivamente. Já referente aos valores de %VO2max, %vVO2max e %FCmax correspondentes ao LTF2, estes foram de 80,4 ± 6,9%, 79,8 ± 5,1% e 88 ± 3,7%, respectivamente. Sendo assim, com base nos resultados encontrados, conclui-se que o VO2, a FC e a velocidade correspondentes ao LTF2 em corredores de endurance treinados indicam uma alta capacidade aeróbia, uma vez que os percentuais do LTF2 relativos aos indicadores de potência aeróbia máxima (VO2max, vVO2max e FCmax) foram encontrados entre 79 e 88%.

          Unitermos: Corrida. Consumo de oxigênio. Velocidade. Freqüência cardíaca. Segundo limiar de transição fisiológica.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    Na busca por variáveis fisiológicas que possam de maneira consistente predizer a performance e servir de referência para a prescrição do treinamento de corredores de endurance, muitos estudos vêm sendo realizados ao longo dos anos. Tradicionalmente, as principais variáveis que exercem importante relação com a performance de corredores de endurance incluem o consumo máximo de oxigênio (VO2max) (COSTILL et al., 1973), a velocidade correspondente ao VO2max (vVO2max) (MORGAN et al., 1989), o primeiro limiar de transição fisiológica (LTF1) (FARREL et al., 1979), o segundo limiar de transição fisiológica (LTF2) (TANAKA et al., 1984) e a economia de corrida (EC) (DANIELS; DANIELS, 1992).

    Conceitualmente, o VO2max pode ser definido como o nível máximo de captação (pulmões), transporte (coração e vasos) e utilização do oxigênio (principalmente pelos músculos), para a produção aeróbia de energia durante exercício dinâmico envolvendo grande massa muscular corporal (ASTRAND; RODAHL, 1986; DENADAI, 2000). Durante muito tempo, essa variável fisiológica foi considerada como “padrão ouro” para predizer performance, prescrever as intensidades relativas de esforço e controlar os efeitos do treinamento (HECK et al., 1985; DENADAI, 2000).


    Entretanto, embora o VO2max seja o parâmetro fisiológico que melhor expressa a aptidão cardiorrespiratória de um indivíduo (BASSETT; HOWLEY, 2000), este índice tem apresentado uma limitação para determinar a performance de endurance em provas que dependem mais da capacidade aeróbia (HECK et al., 1985). Além disso, outro aspecto que deve ser ressaltado é a baixa capacidade discriminatória da performance que o VO2max apresenta em atletas de alto nível, denotando, assim, a necessidade de identificação de outros índices fisiológicos que possam melhor predizer o desempenho esportivo e auxiliar na prescrição e no controle do treinamento.

    Referente às respostas de lactato sangüíneo ao esforço físico, a literatura tem apresentado a máxima fase estável de lactato (MFEL) como sendo o índice fisiológico mais adequado para a prescrição do treinamento de capacidade aeróbia (BILLAT et al., 2003). Essa variável pode ser definida como a máxima intensidade de exercício de carga constante em que se observa equilíbrio entre a taxa de liberação e remoção do lactato sangüíneo (BENEKE; VON DUVILLARD, 1996; JONES; DOUST, 1998).

    No entanto, para a determinação da MFEL, geralmente, são utilizados testes com protocolos de cargas retangulares e com duração de 30 minutos. Sendo assim, é necessário que o avaliado realize entre quatro e seis testes dessa natureza, requisitando que o mesmo compareça vários dias ao laboratório (FIGUEIRA et al., 2008).

    Contudo, para simplificar a determinação da MFEL, tem sido proposto nas últimas décadas metodologias que utilizam modelos de determinação dessa variável a partir de um único teste incremental (BALDARI; GUIDETTI, 2000). Assim, buscando considerar as variações individuais existentes na cinética de lactato e assumindo um comportamento exponencial característico dessa variável em resposta ao incremento de carga, Baldari e Guidetti (2000) estimaram a MFEL a partir do LTF2 identificado como a intensidade de esforço anterior ao segundo incremento de lactato sangüíneo consecutivo maior que 0,5 mmol.L-1 em um teste progressivo.

    Ainda, tem sido verificado que o LTF2 tem apresentado importante relação com a performance em provas de média e longa duração, além de ser uma variável importante para a prescrição do treinamento de capacidade aeróbia (SJÖDIN; JACOBS, 1981; MAFFULLI et al., 1991; DENADAI et al., 2004). Além disso, nos últimos anos, tem-se proposto também para o monitoramento e prescrição do treinamento a vVO2max (BILLAT et al., 1999). A utilização dessa variável se dá principalmente por apresentar uma melhor associação entre o VO2max e a EC explicando, assim, amplamente as diferenças na performance em indivíduos com semelhantes valores de VO2max (DENADAI, 2000).

    Nesse sentido, o percentual do VO2max (%VO2max), da vVO2max (%vVO2max) e da freqüência cardíaca máxima (%FCmax) que um corredor utiliza durante a prova é restrito ao acúmulo de lactato. Assim sendo, a velocidade de corrida em um alto valor relativo sem um acúmulo significativo de lactato, pode determinar o sucesso entre corredores que são homogêneos com relação a outras variáveis aeróbias, como por exemplo, o VO2max (MORGAN et al., 1989; BASSET; HOWLEY, 2000).

    O nível de treinamento, portanto, pode determinar modificações expressivas no valor relativo ao LTF2, sendo que indivíduos que se exercitam em um mesmo percentual do VO2max, vVO2max e FCmax podem, no entanto, estar em domínios fisiológicos diferentes e, com isso, apresentarem respostas e adaptações metabólicas diferenciadas (ALLEN et al., 1985; DENADAI, 2000; HELGERUD et al., 2007).

    Deste modo, os objetivos desse trabalho foram: 1) determinar os valores de consumo de oxigênio, velocidade e freqüência cardíaca referentes ao LTF2 e 2) verificar os percentuais do VO2max, vVO2max e FCmax em que o LTF2 é encontrado em corredores de endurance.

Materiais e métodos

Sujeitos

    Participaram deste estudo 11 corredores moderadamente treinados (28,36 ± 6,47 anos; 68,67 ± 8,05kg; 173,77 ± 7,23cm e; 10,62 ± 2,95% de gordura corporal). Todos os corredores tinham no mínino dois anos de experiência com treinamento e provas de endurance e no período que antecedeu a realização desse estudo eles estavam treinando seis dias por semana, com um volume semanal que oscilava entre 70 e 90km. Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. Os participantes foram informados e familiarizados com todos os procedimentos do experimento, assim como os riscos e benefícios, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.

Protocolo experimental e procedimentos

    Os sujeitos foram instruídos a chegarem ao laboratório em totais condições de recuperação, hidratação e alimentação, sendo que, além disso, eles não poderiam realizar nenhuma atividade física de alta intensidade 48h antes do teste. O protocolo experimental foi realizado dentro de um prazo de uma semana. Em conversa prévia com os atletas, todos declararam terem experiência de corrida em esteira rolante e periodicamente realizavam exames médicos de ergoespirometria com protocolo semelhante ao desse estudo. Dessa forma, não foi necessário nenhum tipo de familiarização dos sujeitos com os equipamentos e o protocolo. Com relação às avaliações, inicialmente foram realizadas as mensurações antropométricas e em seguida os sujeitos foram submetidos a um teste incremental para determinação do VO2max, vVO2max, FCmax e LTF2. Todo o período do teste foi realizado em condições climáticas iguais (T = 22ºC e URA = 60%).

Avaliações antropométricas

    As variáveis antropométricas mensuradas foram: massa corporal (MC), estatura (ES) e percentual de gordura (%G). O %G foi estimado a partir do protocolo de Evans et al. (2005).

Determinação do VO2max, vVO2max, FCmax e LTF2

    O VO2max foi determinado utilizando-se um protocolo incremental em esteira rolante (IMBRAMED SUPER ATL, Porto Alegre, Brasil). A velocidade inicial foi de 12 km.h-1 (1% de inclinação), com incrementos de 1 km.h-1 a cada 3 min até à exaustão voluntária. Entre cada estágio houve um intervalo de 30 s para a coleta de 25µl de sangue do lóbulo da orelha para a dosagem do lactato sanguíneo. A análise do lactato foi realizada por meio de um analisador eletroquímico (YSI 2700 STAT, Yellow Springs, OH, USA). Durante o teste incremental, cada um dos sujeitos foi encorajado verbalmente a realizar o máximo de esforço.

    O VO2 foi mensurado respiração a respiração durante todo o protocolo a partir do gás expirado (K4b2, Cosmed, Roma, Itália), sendo os dados reduzidos à média de 15 s. O VO2max foi considerado como o maior valor obtido durante o teste nestes intervalos de 15 s. Para considerar que durante o teste os indivíduos atingiram o VO2max, foram adotados os critérios propostos por Taylor et al. (1955) e Lacour et al. (1991). A vVO2max foi considerada como sendo a menor velocidade de corrida, na qual ocorreu o VO2max (BILLAT et al., 1996; BILLAT et al., 1999).

    A velocidade referente ao LTF2 foi determinada utilizando o método proposto por Baldari e Guidetti (2000), a qual foi identificada como sendo a velocidade anterior ao segundo incremento de lactato sangüíneo consecutivo maior que 0,5 mmol.L-1. A FC foi monitorada durante todo o teste incremental por um monitor cardíaco (Vantage, Polar® S610i, Kempele, Finlândia) e os dados eram transmitidos por telemetria para um computador e reduzidos à média de 15 s. A FCmax foi considerada como o maior valor obtido durante o teste nestes intervalos de 15 s.

Análise dos dados

    Os dados foram tabulados e apresentados utilizando estatística descritiva, sendo expostos na forma de média e desvio padrão. Além disso, foi determinado o coeficiente de variação de todas as variáveis estudadas.

Resultados

    Os valores referentes aos índices fisiológicos determinados no teste incremental de esteira estão descritos na tabela 1. Esses dados fornecem informações adicionais que permitem melhor caracterizar o nível de aptidão física e a amplitude de variação dos atletas participantes desse estudo.

Tabela 1. Valores das variáveis determinadas no teste incremental

Variável

média

DP (±)

CV (%)

VO2max (ml.kg-1.min-1)

64,2

5,4

8,4

vVO2max (km.h-1)

18,3

0,7

3,7

FCmax (bpm)

192

6

3,4

v-LTF2 (km.h-1)

14,6

0,7

4,8

VO2-LTF2(ml.kg-1.min-1)

FC-LTF2(bpm)

51,5

167

5,1

13

9,9

7,8

VO2max = consumo máximo de oxigênio; vVO2max = velocidade referente ao consumo máximo de oxigênio; FCmax = freqüência cardíaca máxima; 

v-LTF2 = velocidade referente ao segundo limiar de transição fisiológica; VO2-LTF2 = consumo de oxigênio referente ao segundo limiar de transição fisiológica; 

FC-LTF2 = freqüência cardíaca referente ao segundo limiar de transição fisiológica.

    Na tabela 2, estão apresentados os valores dos percentuais do VO2max, da vVO2max e da FCmax correspondentes ao LTF2. Para todos esses indicadores de potência aeróbia máxima, o LTF2 foi encontrado entre 79 e 88%.

Tabela 2. Percentuais do LTF2 relativos ao VO2max, a vVO2max e a FCmax

%VO2max %vVO2max %FCmax

LTF2 80,4 ± 6,9 79,8 ± 5,1 88 ± 3,7

LTF2 = segundo limiar de transição fisiológica; %VO2max = percentual do consumo máximo de oxigênio referente ao LTF2; 

%vVO2max = percentual da velocidade correspondente ao consumo máximo de oxigênio referente ao LTF2; 

%FCmax = percentual da freqüência cardíaca máxima referente ao LTF2

Discussão

    Os resultados encontrados nesse estudo estão de acordo com os resultados apresentados na literatura (SJÖDIN; JACOBS, 1981; WELTMAN et al., 1990; BILLAT et al., 1994; BILLAT et al., 1999; DENADAI et al., 2004; HELGERUD et al., 2007). Com relação ao LTF2 expresso como %VO2max e da %vVO2max, Billat et al. (1994) mostraram valores semelhantes àqueles destacados pelo presente estudo, visto que em corredores de sub-elite a MFEL foi encontrada em 81,7% do VO2max e 79,6% da vVO2max. Já em outro estudo, Billat et al. (1999) apresentaram a velocidade correspondente ao LTF2 em 85% da vVO2max em corredores de endurance treinados.

    Segundo Kohrt et al. (1989), o LTF2 além de apresentar uma alta correlação com a performance, é também um índice que possibilita a avaliação dos efeitos do treinamento aeróbio, principalmente para um acompanhamento longitudinal. Isto pode ser observado no estudo de Tanaka et al. (1984), que analisaram os efeitos do treinamento em longo prazo (nove meses) na intensidade correspondente ao LTF2 em corredores universitários bem treinados. Os autores verificaram que o VO2 no LTF2 e o VO2max (expressos em ml.kg-1.min-1 e L.min-1) apresentaram mudanças significativas (entre 4% e 5%) com o treinamento, além de melhoras significantes na performance de endurance nas distâncias de 5km (13,4s) e 10km (68s). Por outro lado, não foi observada alteração significante no %VO2max correspondente ao LTF2, visto que o VO2 no LTF2 e o VO2max aumentaram similarmente.

    Em outro estudo, Billat et al. (2004) verificaram em corredores de endurance masters os efeitos do treinamento na velocidade associada à MFEL (vMFEL), no tempo de exaustão (tlimMFEL) em relação às possíveis modificações de balanço de substrato e, também, na concentração de lactato sanguíneo na vMFEL ([Lac]vMFEL). Os resultados encontrados indicaram um aumento significante na vMFEL e no tlimMFEL sem, entretanto, modificar o percentual de oxidação de carboidrato na vMFEL.

    Em relação ao LTF2 expresso como %FCmax, Weltman et al. (1990) mostraram que em corredores treinados, o LTF2 é identificado acima de 90% da FCmax, visto que, nessa intensidade a maioria dos sujeitos apresentavam concentrações de lactato sangüíneo inferior a 4mmol.L-1. Helgerud et al. (2007) realizaram um estudo para comparar métodos de treinamento com diferentes intensidades de exercício em indivíduos ativos e utilizaram o %FCmax para prescrever e verificar os efeitos do treinamento. Dessa forma, os autores observaram que o treinamento de alta intensidade (90-95% da FCmax) mostrou ser mais eficiente que o treinamento moderado a 70% e 85% da FCmax (correspondente ao LTF1), visto que aumentos significativos (7,2%) no VO2max (L.min-1) foram observados apenas no grupo que realizou o treinamento em uma intensidade correspondente a 90%-95% da FCmax (HELGERUD et al., 2007).

    Além disso, nesse estudo, foram observadas também melhoras significantes da EC (11,7%) e da vLTF1 (9,6%). Esses resultados de Helgerud et al. (2007) demonstram de forma mais específica que a efetividade do treinamento é mais acentuada em %FCmax acima do LTF2, visto que em intensidades inferiores não foram observadas alterações significantes após o treinamento.

    Outro aspecto também importante é que indivíduos que se exercitam em um mesmo %VO2max ou %FCmax podem estar em domínios fisiológicos diferentes e, com isso, apresentarem respostas e adaptações metabólicas diferenciadas (ALLEN et al., 1985; DENADAI, 2000; HELGERUD et al., 2007).

    Corredores que têm a velocidade do LTF2 em altos %VO2max são capazes de apresentar uma melhor performance do que corredores que apresentam velocidades correspondentes ao LTF2 em menores %VO2max (COSTILL et al., 1973). Dessa forma, quanto mais alto é o nível de aptidão física apresentado pelo atleta, mais alta é a sua capacidade aeróbia, visto que a intensidade correspondente ao LTF2 é encontrada em percentuais mais próximos da sua potência aeróbia máxima (BASSET; HOWLEY, 2000; DE-OLIVEIRA, 2004).

    Uma vez que o LTF2 freqüentemente ocorre entre 75 a 85% do VO2max para corredores de sub-elite, e entre 85% a 90% do VO2max para corredores de elite, ocorrendo também similarmente nessa faixa da vVO2max para ambas as categorias (COSTILL et al., 1973; BILLAT et al., 1999; DENADAI et al., 2004), essa variável tem sido um importante fator na performance de corrida de longa distância, visto que nessas distâncias a performance está mais associada a capacidade aeróbia (COSTILL et al., 1973; SJÖDIN; JACOBS, 1981; DENADAI et al., 2004).

    Em relação à aplicação prática e ao tipo de treinamento, recomenda-se para corredores, que competem em provas que exigem mais da potência aeróbia, a inclusão de uma a duas sessões semanais de treinamento intervalado de alta intensidade (100% vVO2max) (BILLAT et al., 1999), ou duas sessões de treino de força explosiva (PAAVOLAINEN et al., 1999), que, embora não modifiquem o VO2max de atletas, aumentam a vVO2max, por meio da melhora da EC e de alterações nas características neuromusculares. Além disso, pode-se incluir também uma sessão semanal de treinamento contínuo no LTF2 (BILLAT et al., 1999).

    Referente ao treinamento de capacidade aeróbia, Billat (2001) recomenda, no período específico, a inclusão de uma a duas sessões semanais de treino aeróbio contínuo (95-100% MFEL) ou intervalado (100-105% MFEL). No entanto, visto a desvantagem de determinação da MFEL, que necessita de quatro a seis sessões de exercício de carga constante, com duração aproximada de 30 minutos, realizados em diferentes dias, pode-se utilizar o LTF2 (expresso em %vVO2max ou %VO2max e %FCmax) como sendo a intensidade de treinamento utilizada para melhora da capacidade aeróbia.

Conclusão

    A partir dos resultados encontrados no presente estudo, conclui-se que o VO2, a FC e a velocidade correspondentes ao LTF2 em corredores de endurance treinados indicam uma alta capacidade aeróbia, uma vez que os percentuais do LTF2 relativos aos indicadores de potência aeróbia máxima (VO2max, vVO2max e FCmax) foram encontrados entre 79 e 88%.

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