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Educação Ambiental e Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN): perspectivas de utilização no contexto escolar

Educación Ambiental y Actividades Físicas de Aventura en la 

Naturaleza (AFAN): perspectivas de aplicación en el contexto escolar

 

*Graduada em Educação Física, Licenciatura Plena e Bacharelado

Pesquisadora do Laboratório de Estudos do Lazer (LEL) da UNESP, Rio Claro

**Licenciada em Educação Física. Mestrado em Educação Física

Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP

Livre Docente pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora do LEL

***Graduado em Educação Física pela PUC de Campinas

Mestrado em Ciências da Motricidade. Doutorado em Psicologia

****Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física pela UNESP

Mestrado em Ciências da Motricidade. Doutorando em Ciências da Motricidade

Membro Efetivo do LEL

*****Graduada em Educação Física Licenciatura Plena

pela Universidade Federal de Uberlândia Minas Gerais

Doutoranda em Ciências da Motricidade Humana. Pesquisadora do LEL

Juliana de Paula Figueiredo*

Gisele Maria Schwartz**

István de Abreu Dobránszky***

Danilo Roberto Pereira Santiago****

Giselle Helena Tavares*****

julianapfig@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo, de natureza qualitativa, teve por objetivo verificar como está sendo desenvolvido o tema da Educação Ambiental nas escolas, identificando se as mesmas incluem em seus projetos pedagógicos vivências na natureza, tais como, estudos do meio ambiente e práticas de atividades físicas de aventura na natureza. O estudo foi composto por união de pesquisa bibliográfica e exploratória, utilizando-se como instrumento para a coleta de dados, um questionário aberto, aplicado aos coordenadores pedagógicos, diretores pedagógicos e professores do Ensino Fundamental, de quatro escolas públicas e privadas, do município de Campinas, SP. Os dados foram analisados utilizando a Técnica de Análise de Conteúdo Temático. Com base nos resultados encontrados, pode-se constatar que a educação ambiental tem ganhado reconhecimento nos interesses pedagógicos e representam um forte instrumento de tomada de consciência sobre os cuidados que se deve ter com o meio ambiente, contribuindo para a diversificação nas propostas pedagógicas. Além disso, foram evidenciadas algumas dificuldades, entre elas, a falta de conhecimento específico sobre essas atividades entre os profissionais que atuam nas escolas.

          Unitermos: Educação ambiental. Atividades de aventura. Escolas. Projetos pedagógicos.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    As vivências das atividades do contexto do lazer tem despertado muito interesse, e diversos fatores contribuem para isto. Com base em Marcellino (2002) e Dumazedier (1973), entre os diversos objetivos do lazer estão o brincar, o educar, o desestressar após o trabalho e fugir dos grandes centros. Nesse sentido, inúmeros são os motivos que induzem o indivíduo a buscar o lazer.

    Este fenômeno também apresenta a possibilidade de ser altamente educativo. Sendo assim, abre portas para diversas possibilidades pedagógicas. Nele está contido o jogo, o “faz de conta” e a brincadeira, podendo por intermédio destes, utilizar do lúdico para trabalhar a realidade, facilitando, deste modo, o entendimento dos alunos.

    Requixa (1980) aponta duas vertentes do lazer educacional: primeiro, educar pelo lazer e, segundo, educar para o lazer. No primeiro caso, seria o lazer como forma de viabilizar a educação, em que o indivíduo pratica as atividades do âmbito do lazer e nelas houvesse um conteúdo que lhes favoreçam a construção de conhecimentos, auxiliando em seu desenvolvimento e contribuindo para sua formação.

    Além disso, pode-se trabalhar a capacidade criadora, as atitudes e condutas de uma sociedade, despertando o interesse em ajudar sua comunidade. Esse aspecto é de fundamental importância para escolares, momento no qual poderiam realizar essas atividades e, ao mesmo tempo, ampliar os conhecimentos acerca dos conteúdos abordados nas escolas.

    O segundo aspecto educacional do lazer para Requixa (1980), se refere à educação para o lazer, onde o mesmo aborda a questão de se educar para a prática do lazer, de como otimizar o tempo destinado a este, equilibrando o tempo do trabalho com o tempo do lazer, sabendo usá-lo de forma produtiva, para que haja uma adequada arte de viver.

    Ao mesmo passo, Marcellino (2002), expõe a existência de um duplo processo educativo, assim como Requixa, em que o primeiro é um veículo de educação e o segundo, visto como objeto de educação. O autor, na mesma obra, destaca que é necessário, para a prática das atividades do contexto do lazer, uma iniciação aos conteúdos culturais, o aprendizado e o estímulo e, por meio da crítica e da criatividade, superar o conformismo.

    Neste sentido, novas tendências no âmbito do lazer vão emergindo, sendo uma delas as Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN). A intenção em fazer das AFAN um meio de trabalhar a Educação Ambiental (EA), têm surgido recentemente, sendo discutida por vários autores, como Paiva e França (2007). Os mesmos afirmam que, a EA e a Educação Física, representam importantes instrumentos para desenvolver a consciência ambiental, possibilitando a relação ser humano-meio ambiente e suas reflexões, havendo a necessidade de buscar opções que viabilizem estas práticas.

    As AFAN englobam uma variedade de atividades, como o trekking, arvorismo, escalada, tirolesa, rapel, mergulho, observação da vida silvestre, rafting, bóia-cross, espeleologia, surf e paraquedismo. Durante a realização destas, deve-se também, conscientizar sobre a preservação do espaço ali presente, do planeta em geral, e ainda, da sobrevivência da própria espécie humana (PAIVA E FRANÇA, 2007).

    Semelhante a Paiva e França (2007), Betrán e Betrán (2006) falam da importância de desenvolver as AFAN, assim como promover um trabalho interdisciplinar para educar os alunos por meio dessas práticas. Os autores ressaltam que, estas atividades podem proporcionar aos alunos a conscientização e a sensibilização, oportunizando experiências de estresse, dificuldade e risco.

    De acordo com Marinho (2004), ao aliar as aulas de educação física com experiências na natureza, tem-se a possibilidade de desenvolver nos alunos habilidades motoras, capacidades físicas, podendo trabalhar até mesmo os fundamentos esportivos específicos. Pode-se também utilizá-las para abordar os objetivos educacionais, desenvolvendo o coletivo, o pessoal, o cognitivo e o físico, contemplando a autoestima, tomadas de decisão e resolução de problemas, entre outros.

    Sendo assim, nota-se que as AFAN podem, ao mesmo tempo, trabalhar a EA, como desenvolver a proposta da educação física escolar, abrangendo todas suas interfaces. Nessa mesma perspectiva, Paiva e França (2007), apontam a possibilidade de novas experiências por meio dessas atividades, além da articulação das diversas áreas do saber, como geografia, psicologia, educação, educação física, entre outras.

    Além dos benefícios citados anteriormente, estas atividades podem proporcionar abordagens transversais da temática ambiental e desenvolver a consciência crítica dos praticantes. Outros autores também vêem o “‘fenômeno da aventura’ como uma oportunidade significativa para a vivência de emoções e sensações, que podem ser capazes de contribuir para mudanças de comportamentos e atitudes, atreladas às demais esferas da vida humana.” (MARINHO; INÁCIO, 2007, p.61).

    Barbosa (2004) afirma que para realizar as atividades de aventura na natureza deve haver um deslocamento até um local, caracterizando assim a viagem, a qual pode ser utilizada como objeto de estudo e interpretação, contribuindo para a reflexão quanto ao ambiente onde está sendo utilizado para a prática das atividades, assim como com o indivíduo que irá praticar. Dessa maneira, ressalta-se a necessidade de despertar nos alunos a análise crítica do ambiente onde se encontram, aproveitando dessas vivências para resgatar os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

    Outra questão importante se refere à relação direta entre as AFAN e o ecoturismo, destacada por Serrano (2000), onde, ela explicita que, devido ao contexto em que ambas surgem e se desenvolvem, podem propiciar um momento em que se aliam o divertimento ao conhecimento, possibilitando mudanças nas ações que fazem com que os indivíduos se afastem da condição animal/natural. A mesma autora ainda ressalta que as AFAN podem possibilitar, por meio do lúdico, o prazer e alegria. Entretanto, estas sensações somente serão atingidas se a atividade for realizada pelo indivíduo em plena harmonia com ele próprio e com o ambiente em que se encontra inserido.

    Pelo fato do ambiente ser em cenário natural, pode-se evidenciar na atividade um caráter prazeroso, por propiciar aos alunos, saírem dos muros da escola e ampliar os seus limites de atuação, podendo, efetivamente, auxiliar na construção de valores, e com isso, na EA. Sendo assim, faz-se necessário despertar nas pessoas e, principalmente desde a infância, a preocupação em cuidar do meio ambiente, utilizando o meio favorável e relaxado propiciado para as AFAN, podendo, assim, ser desenvolvido um trabalho de conscientização.

    Neste sentido, pode-se observar que, a escola exerce um papel essencial na construção formal do conhecimento ambiental dos alunos. Durante uma ação mais prática, os conteúdos ficam mais claros e o entendimento torna-se melhor, os alunos deixam de ser assistentes e se tornam ativos na construção do saber. Tozoni-Reis (2004) propõe como sendo duas as funções da educação na sociedade: a primeira, que seria educar para a convivência harmônica e ideal dos indivíduos na sociedade, colocando a educação como instrumento de desenvolvimento individual, podendo resultar na organização harmônica e equilibrada da sociedade.

    A segunda função, que seria educar para transformar as condições sociais estabelecidas pelos humanos, para construir as relações sociais, coloca a educação como responsável por preparar intelectual e moralmente os indivíduos para assumirem seu papel na sociedade. Quanto à EA, seria, especificamente, preparar os alunos intelectualmente para assumirem o papel de sujeitos ambientalmente corretos.

    Tratando-se especificamente do contexto escolar, em meados da década de 80, segundo Reigota (1994), foi muito discutida a implantação ou não da EA como disciplina curricular. Porém, justamente por essa complexidade que envolve o tema e a necessidade de haver uma inter-relação das outras disciplinas, a EA acabou não se tornando uma disciplina que, por si só, abordava a temática ambiental, sendo esta decisão final tomada pelo Conselho Federal da Educação.

    Desta maneira, Reigota (1998) acrescenta que a EA, ao estar presente em todas as disciplinas do currículo escolar, tem a possibilidade de contribuir para que a escola amplie a concepção do seu papel na formação de valores ecológicos nos alunos em nível local e planetário. Reigota (1994) ainda reforça a idéia de que é necessário levar em conta a faixa etária a ser trabalhada e os contextos educativos nos quais inserem as atividades, para que possam ser contemplados vários conteúdos.

    No ponto de vista de Oliveira (2000), “o desafio do tratamento interdisciplinar, na abordagem das questões ambientais, se coloca efetivamente frente à complexidade da problemática ambiental.” (OLIVEIRA, 2000, p. 91). Sendo assim, tornam-se imprescindíveis iniciativas favoráveis à interdisciplinaridade para esse fim.

    Cada vez mais, se faz importante a abordagem destes temas na escola, usando-se de diversas ferramentas para que o aluno realmente se interesse e torne para ele um hábito, para que, em qualquer lugar que esteja, se sinta responsável em cuidar do meio ambiente no qual se insere. Vale ressaltar que o trabalho de EA deve ser longo e contínuo, proporcionando assim, o entendimento de conceitos e valores pertinentes à ação correta diante da natureza.

    Ao formular os temas transversais, BRASIL (1998), enfatiza “a urgência da implantação de um trabalho de Educação Ambiental que contemple as questões da vida cotidiana do cidadão e discuta algumas visões polêmicas sobre essa temática.” (p.169). Também aponta como desafio da escola o reconhecimento da diversidade como parte inseparável da identidade nacional e de se dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro.

    Parece ser mais interessante às crianças que elas pudessem vivenciar efetivamente os conceitos, indo até os locais diretamente envolvidos na reflexão, quando possível, para que lá aprendessem de forma motivante e inesquecível. Para isso, o desenvolvimento de projetos pedagógicos extra-classe são essenciais. Nesse sentido, Matsushima e Meyer ressaltam que, “na medida em que consigo transportar as leis que regem a natureza ao universo do humano, esse universo passa a ser constituído de um significado.” (MATSUSHIMA; MEYER, 1992, p.91).

    Matsushima e Meyer (1992) salientam que deve-se considerar o processo de ensino-aprendizagem como um todo e que a proposta pedagógica deve contemplar as alterações das transformações resultantes dos fenômenos naturais e ações antrópicas. Também destacam a necessidade de considerar que os grupos sociais se apropriam de maneiras diferentes dos recursos naturais, em função de fatores históricos, econômicos e culturais.

    Estas atividades podem desenvolver nos alunos a responsabilidade e a consciência para com o meio ambiente no qual vivem e fazem parte. Sendo assim, é importante observar se está havendo a inserção de projetos de EA no contexto da educação escolar, e se inseridos, verificar como estão sendo desenvolvidos. Estas foram algumas das inquietações que motivaram a realização deste estudo, no sentido de analisar as estratégias utilizadas pelas escolas para desenvolver a temática educação ambiental, uma vez que carece de estudos acadêmicos nessa área, principalmente quando relacionada à Educação Física.

Objetivo

    Este estudo, de natureza qualitativa, teve por objetivo analisar as estratégias utilizadas pelas escolas para desenvolver a temática educação ambiental, identificando se as mesmas incluem em seus projetos pedagógicos vivências na natureza, tais como, estudos do meio ambiente e práticas de Atividades Físicas de Aventura na Natureza.

Método

    Este estudo, de natureza qualitativa, constou de uma revisão de literatura aliada a uma pesquisa exploratória, desenvolvida por meio da utilização de um questionário contendo perguntas abertas, aplicado individualmente à amostra pertinente ao estudo. Esse instrumento forneceu dados importantes ao tema estudado e permitiu desencadear vários tópicos relacionados ao estudo.

    O referido instrumento foi aplicado a uma amostra intencional, sendo funcionários de quatro escolas da cidade de Campinas, estado de São Paulo, onde duas são públicas e duas privadas. A amostra foi composta por coordenadores pedagógicos, diretor pedagógico e professor do ensino fundamental, sendo um representante de cada escola.

    Primeiramente, o pesquisador apresentou-se à Instituição escolar por intermédio da entrega da Carta de Apresentação do pesquisador. Os objetivos da pesquisa foram esclarecidos ao responsável, e estando este de acordo, foi solicitado que assinasse a Carta de Autorização da Instituição para participação na pesquisa. Posteriormente, foi solicitado que assinasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e que respondesse ao questionário.

    Os dados foram analisados, descritivamente, pela Técnica de Análise de Conteúdo Temático (Bardin, 1977).

Resultados

    Os resultados a seguir são baseados na pesquisa exploratória destinada ao Ensino Fundamental, feita em quatro escolas na cidade de Campinas, sendo as escolas 1 e 2 da rede pública de ensino e as escolas 3 e 4, pertencentes à rede privada.

    A primeira questão teve por objetivo analisar o Projeto Pedagógico das escolas, verificando como a Educação Ambiental é desenvolvida. Na Escola 1 a proposta é feita no âmbito da conscientização, realizando passeios (considerados estudo do meio) como “Lixo tour” e “Minha escola vai à SANASA”; na Escola 2, o projeto é realizado por meio de uma parceria com a FAPESP, Petrobrás Ambiental e UNICAMP, havendo um grupo de estudo de professores e alunos que se dedicam a estudar essa área; na Escola 3 a Educação Ambiental é proposta não como uma disciplina específica, mas como atividade presente no cotidiano e nas aulas de professores especialistas; e na Escola 4 a ênfase na educação ambiental, no projeto pedagógico, é feito em conjunto com as disciplinas de ciências e geografia.

    Segundo as respostas encontradas, notou-se que as escolas se preocupam em abordar a EA valorizando o recurso de estudos do meio, e, além disso, trabalham a interdisciplinaridade. Os projetos de EA, independentemente da ênfase dada, tornam-se importantes, desde que sejam articulados interdisciplinarmente na escola, e sempre que possível, estar presente no Projeto Político Pedagógico da escola.

    A interdisciplinaridade destaca-se como forte aliada do ensino, possibilitando o enriquecimento e ultrapassando a integração dos elementos do conhecimento. Os fatos ou soluções são conseqüências da relação entre muitos outros. Porém a interdisciplinaridade encontra múltiplas barreiras materiais, pessoais e institucionais, como aponta Fazenda (1996). Esta mesma autora destaca que, quando ultrapassadas essas barreiras, é preciso despertar uma nova forma da relação com a experiência vivida, proporcionando mais conhecimento para o aluno se autoentender, entender o outro e o mundo. Este é o conhecimento interdisciplinar, indo além da sala de aula e chegando à amplitude da vida social.

    No que se refere ao Projeto Político Pedagógico, Veiga (1999) aborda a necessidade de democratização do processo de tomadas de decisões, devendo ser construído na própria instituição, e tendo o apoio técnico e financeiro das instâncias superiores do sistema de ensino, principalmente no que se refere às escolas públicas, que inúmeras vezes esbarram-se em dificuldades econômicas para realização de atividades. É necessária a continuidade das ações e a realização de avaliações globais em rumo de melhorias.

    Torna-se importante o envolvimento dos alunos, pais e professores, para analisarem e construírem um projeto coerente com a instituição e o cotidiano dos alunos, proporcionando ampla quantidade de atividades que satisfaçam o conhecimento e oportunize vivências. É imprescindível que os responsáveis pela escola se encarreguem de ter autonomia para organizar e dar continuidade a projetos diferenciados, os quais exigem esforços, mas proporcionam inúmeros benefícios ao aprendizado, construindo cidadãos responsáveis, participativos e criativos.

    Na questão número dois foi indagado aos responsáveis pela instituição, se ocorrem atividades externas, com o intuito de desenvolver a temática da Educação Ambiental.

Gráfico 1. Ocorrência de atividades externas

    Constatou-se que a Escola 1 realiza estudos do meio, como os descritos na questão anterior; a Escola 2 também realiza atividades de estudo do meio, porém essas atividades são destinadas apenas para o grupo de estudo, e não a todos os alunos dessa escola; a Escola 3 leva os alunos a locais como: PETAR, Cidades Históricas, Núcleo Picinguaba e Brodowski; e a Escola 4 utiliza-se do trabalho de estudo meio, o qual é realizado uma vez por ano, como por exemplo a visitação em fazendas.

    Pode-se perceber que, as escolas pesquisadas, apresentam interesse em realizar atividades de estudo do meio com seus os alunos, levando-os à análise crítica de determinado local. Este tipo de atividade pode estar atrelada aos fundamentos básicos da EA, os quais, segundo Reigota (1994), são seis: conscientização, conhecimento, comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação.

    Neste sentido, os estudos do meio podem apresentar a oportunidade de transmitir o conhecimento e a conscientização do aluno, relacionando ao seu cotidiano. Além disso, apresentam a possibilidade de mudanças nos comportamentos e atitudes dos mesmos perante a natureza, contemplando momentos de participação e avaliação da atividade praticada e dos objetivos alcançados. E por fim, podem auxiliar no desenvolvimento de competências dos alunos.

    Nessa mesma perspectiva, a necessidade do trabalho de EA se justifica com Dias (2004), afirmado a pretensão de desenvolver conhecimento, compreensão, habilidades e motivação para adquirir valores, atitudes e condutas necessários para lidar com questões/problemas ambientais e encontrar soluções sustentáveis. Na elaboração do projeto pedagógico, as escolas devem se preocupar com estes itens acima citados podendo garantir efetivamente os objetivos do trabalho de EA. A utilização de atividades externas, por sua vez, proporciona diversificação à exposição dos conteúdos, despertando maior interesse perante a presente questão.

    A questão número três, teve como finalidade verificar se há o deslocamento dos alunos a locais para realizarem Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN) ou se os professores utilizam recursos para abordarem essas atividades em sala de aula.

Gráfico 2. Realização de trabalhos com AFAN

    As Escolas 2 e 4, da rede pública e privada, respectivamente, disseram não realizar nenhum tipo de AFAN ou nem mesmo algum tipo de abordagem. Já a Escola 1 realiza o trekking ao redor da escola, fazendo um trabalho de conscientização sobre o lixo - no entanto, esse tipo de atividade não se caracteriza como trekking, mas sim como um passeio – e os professores abordam, esporadicamente, por intermédio de vídeos essas atividades. Ao passo que a Escola 3, além de levar os alunos para realizar AFAN, os professores utilizam diferentes recursos, como por exemplo, treinar mergulho em piscinas antes de realizar a atividade na natureza.

    As AFAN, como destaca Schwartz (2006), fazem parte do lazer contemporâneo. Ao mesmo passo, a Educação Ambiental se apresenta como um tema emergente do mundo atual. Assim, a importância de aliar os dois temas, unindo as diferentes disciplinas escolares para que o aluno tenha uma consciência global dos problemas da natureza onde vive e faz parte.

    Da mesma maneira, Betrán e Betrán (2006) falam da importância de trabalhar as AFAN, assim como promover um trabalho interdisciplinar para educar os alunos por meio dessas práticas, podendo proporcionar aos mesmos a conscientização e a sensibilização, além de experiências diferentes como a dificuldade e o estresse.

    Como foi possível observar nas respostas dos responsáveis das escolas pesquisadas, são contemplados passeios fora do ambiente escolar. No entanto, das 4 escolas pesquisadas, somente 1 leva os alunos à prática de AFAN e a outra aborda, por meio de vídeos, uma de suas modalidades, que é o trekking.

    Galvão, Rodrigues e Sanches Neto (2005), ressaltam que é necessário propor diversas vivências aos alunos, para que haja a não-exclusão de alunos durante as diferentes vivências. Dessa forma, é importante que a escola ofereça aos alunos atividades diversificadas a todos, permitindo a eles experimentarem as possibilidades que a cultura corporal do movimento abrange.

    A questão número quatro tinha a finalidade verificar se as atividades já trabalhadas continuariam a ser desenvolvidas.

    A Escola 1 levantou a dificuldade de desenvolver estas atividades, pela falta de profissionais especializados. A Escola 2 não respondeu a essa questão, visto que não realizam e não abordam as AFAN e também não praticam estudos do meio com todos seus alunos. A Escola 3 afirmou que pretende, sim, continuar realizando essas atividades, assim como variar os locais de prática, ressaltando que existem locais que a escola visita há 20 anos. A Escola 4 apontou que as atividades de estudo do meio fazem parte do projeto pedagógico da escola, sendo um projeto anual, e que a escola vê como necessária a conscientização dos alunos, relatando que continuarão realizando-as.

    No que se refere às dificuldades para realização das AFAN, Cardoso, Silva e Felipe (2006) apresentam alguns obstáculos que os profissionais de educação física encontram, como falta de apoio do próprio ambiente escolar, falta de conhecimento sobre possibilidades mais acessíveis para realizá-las, e também falta de preparação específica para trabalhar com essas atividades devido formação acadêmica deficitária. Observa-se que uma das escolas destacou essa última dificuldade, questionando não haver profissional especializado, sendo esta, uma das possibilidades de atuação do profissional de Educação Física.

Conclusão

    Após as análises das pesquisas bibliográfica e exploratória abrangendo Projetos Pedagógicos, Educação Ambiental e AFAN, pode-se concluir que, representando dados significativos, mas não generalizados, encontram-se escolas, tanto na rede pública quanto privada de ensino, realizando atividades e estudos relacionados ao meio ambiente e às AFAN, demonstrando que essas práticas estão ganhando valorização aos interesses pedagógicos. No mesmo sentido, foram encontrados trabalhos de EA associados à essas atividades, existindo o predomínio da realização de atividades de estudo do meio, durante as quais é desenvolvida a conscientização sobre o meio ambiente de maneira interdisciplinar.

    Quanto às dificuldades apresentadas, foi relatada a falta de conhecimento específico sobre essas atividades entre os profissionais que atuam nas escolas, ressaltando, assim, a importância de aliar disciplinas, como educação física, ciências, geografia, entre outras, para facilitar o desenvolvimento dessas atividades de maneira eficaz. Contemplar essas atividades no Projeto Político Pedagógico é uma maneira de enriquecê-lo e variar suas ações. Esse pode ser um meio de incluir os alunos nas aulas, que por muitas vezes não participam por não satisfazer os seus anseios.

    Pesquisas futuras acompanhando o desenvolvimento dessas atividades no meio escolar são necessárias no sentido de observar diretamente as mudanças apresentadas, enriquecendo, assim, esta perspectiva. Evidenciou-se que os responsáveis pelas escolas reconhecem a importância de desenvolver a temática da Educação Ambiental com os alunos, investindo em propostas diferenciadas. Essas atividades estão ganhando reconhecimento na sociedade contemporânea e representam um forte instrumento de tomada de consciência sobre os cuidados que se deve ter com o meio ambiente, contribuindo para a diversificação nas propostas pedagógicas.

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