efdeportes.com

Análise do perfil antropométrico e do desempenho 

físico-motor de praticantes de futebol de campo e 

ginástica artística na faixa etária de 08 a 12 anos

Análisis del perfil antropométrico y de rendimiento físico-motor de 

practicantes de fútbol de campo y gimnasia artística de 8 a 12 años

 

Centro Universitário de Araraquara

(Brasil)

Genivaldo Carlos da Silva | Roberto Ribeiro dos Santos

Cássio Mascarenhas Robert Pires

massa.ef@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se neste estudo, comparar o perfil antropométrico e o desempenho físico-motor de crianças praticantes das modalidades esportivas de Ginástica Artística e Futebol de Campo. Analisamos estas modalidades como fonte de desenvolvimento das capacidades físicas e das habilidades motoras em dois grupos de indivíduos de ambos os sexos com idade compreendida entre 08 (oito) e 12 (doze) anos. Para análise das habilidades motoras tomamos como referência as características descritas nas fases do desenvolvimento motor proposto por Gallahue (1989). Participaram do presente estudo 20 crianças na faixa etária entre 08 (oito) a 12 (doze) anos Sendo que 10 (dez) indivíduos praticantes de Futebol de Campo e outros 10 (dez) eram praticantes de Ginástica Artística no município de Araraquara - SP. Quando comparamos os dados dos grupos através do Test T de Student verificamos que não houve diferença significativa com p<0,05 para todas as variáveis analisadas. Outra forma de comparação dos dados, entre os grupos de sujeitos, foi quanto ao desempenho físico. Observamos que houve diferença significativa com p<0,05, entre as habilidades chutar, andar na trave e apoio invertido. Sendo que, para os ginastas a habilidade chutar foi a que apresentou menor desempenho. No caso dos futebolistas a dificuldade estava na execução do andar na trave e o apoio invertido. Tais diferenças podem ser explicadas devido à prática da habilidade específica em cada modalidade. A prática de modalidade esportiva entre 08 (oito) e 12 (doze) anos é importante, porém, necessita ser trabalhado a partir da variabilidade de experiências visando o desenvolvimento global dos sujeitos. Além disso, o acompanhamento das alterações antropométricas, do desempenho físico e do padrão motor é fundamental para os profissionais que atuam na Educação Física, principalmente na iniciação desportiva, visando evitar a especialização precoce.

          Unitermos: Treinamento. Avaliação. Morfologia. Ginástica artística. Futebol.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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I. Introdução

    Você  alguma vez já parou para pensar por que as pessoas são boas em diferentes atividades e o que torna alguns executantes tão capazes? É um fato bem estabelecido que com prática suficiente de uma tarefa qualquer um aumenta o seu nível de habilidade. Todavia, além deste nível, os melhores executantes parecem possuir a combinação correta de atributos que necessitam para atingir altos níveis de habilidades.

    Tais diferenças surgem segundo Schmidt (1993) e Magill (1984) devido a uma das variáveis de aprendizagem e desempenho que é: as diferenças individuais. Esta variável é influenciada por capacidades adquiridas a partir de experiências vivenciadas do meio ambiente e características inatas determinadas geneticamente.

    Na prática da iniciação e treinamento desportivo, bem como em outras atividades dos seres humanos, é comum verificarmos diferenças entre estes. Por exemplo: os ginastas habilidosos não somente são fortes e têm potência, mas eles também parecem possuir um nível de coordenação que lhes permite realizar acrobacias incríveis. Já no futebol, parecem deter atributos que são diferentes, em certo grau, pois possuem metabolismo energético diferente e os padrões de movimentos também são distintos.

    Neste estudo objetivou-se comparar o perfil antropométrico e o desempenho físico-motor de crianças praticantes das modalidades esportivas de Ginástica Artística e Futebol de Campo.  Buscamos, portanto, avaliá-las quanto aos parâmetros antropométricos e ao nível de desempenho na execução dos padrões de movimento das habilidades motoras básicas, bem como, de suas capacidades físicas.

    Comparamos estas modalidades como fonte de desenvolvimento das capacidades físicas e das habilidades motoras em dois grupos de indivíduos de ambos os sexos com idade compreendida entre 08 (oito) e 12 (doze) anos.  Para análise das habilidades motoras tomamos como referência as características descritas nas fases do desenvolvimento motor proposto por Gallahue (1989) assumindo as características do padrão maduro. Além disso, buscamos verificar se as práticas destas modalidades influenciam as características corporais em crianças.  Também  averiguamos o desempenho físico em alguns testes.

    Verificamos que em todos os testes os ginastas, em média, tiveram melhor desempenho que os futebolistas, sendo que nos testes flexão abdominal e flexibilidade, ocorreu diferença significativa quando aplicado o Teste t com p<0,05.  Tais diferenças no desempenho podem ser explicadas a partir da especificidade do treinamento, volume do treinamento e freqüência semanal.  Além disso, Tubino (1984) Dantas (1998) colocam que a flexibilidade e a resistência muscular localizada são qualidades físicas muito treinadas pelos ginastas.  Portanto, podemos justificar as diferenças encontradas neste estudo. 

II.     Revisão de literatura

    O desenvolvimento reflete tanto a individualidade quanto à universalidade do ser humano.

    A questão das diferenças individuais pode se discutida tanto com base nos atributos biológicos quanto nos socioculturais. A hereditariedade dos genitores e as condições ambientais asseguram que cada ser humano seja um indivíduo único, porém, a hereditariedade da espécie assegura a cada indivíduo características universais da espécie humana.

    Os teóricos do desenvolvimento humano buscam explicar essa aparente contradição apontando as características maturacionais como exemplo da universalidade do ser humano, pois independente da raça, da etnia, ou da nacionalidade, o ritmo da maturação parece obedecer a um mesmo relógio biológico.

    Um caso clássico dessa abordagem maturacionista é a teoria de Gesell, que fundamenta uma descrição normativa dos gradientes de crescimento. Essa descrição normativa que foi baseada em uma população infantil norte-americana foi referendada por Dockhorn (1995) em uma amostra de crianças da região do extremo sul do Brasil, reforçando assim a universalidade do desenvolvimento.

    Uma excelente explicação para a questão da individualidade e universalidade é encontrada no modelo de desenvolvimento motor proposto por Teeple (1978) citado por Krebs (1997). Nesse modelo a autora explica dos fenômenos: (a) fenômeno mudança, e (b) fenômeno status. Em relação ao primeiro fenômeno, a autora afirma que todo ser humano passa por uma série de mudanças, as quais são desencadeadas em uma seqüência mais ou mesmo previsível, permite que se elaborem curvas de crescimento. Essas curvas permitem o estudo da normalidade das mudanças de estatura e peso, principalmente durante a primeira década de vida.

    Por outro lado, o fenômeno status explica as diferenças de indivíduo pra indivíduo, em um mesmo processo de mudança. O status é um indicativo do nível das diferenças individuais. Considerando-se que o crescimento seja um fenômeno de mudança, estatura e peso são exemplos do fenômeno status.

    Desenvolvimento é um processo permanente que se inicia na concepção e cessa somente na morte; está relacionado à idade, mas não depende dela (GALLAHUE, 1989).      Segundo Bee e Mitchell (1986) e Gallahue (1989) mudanças quantitativas referem-se ao processo de crescimento físico do homem, o quanto aumentou seu corpo e suas partes em diferentes momentos.  As mudanças qualitativas dizem respeito à melhora no desempenho em nível da execução de habilidades.

    Tais aspectos estão inter-relacionados sendo que um influencia no outro. Por exemplo: o tamanho corporal influência na escolha da modalidade esportiva e os movimentos específicos.  Já a prática, de um grupo específico de exercícios físicos ou habilidades motoras pode influenciar a estrutura corporal dos praticantes (Eckert, 1998).

    O modelo apresentado por Gallahue (1989) aponta que no período da Infância o indivíduo esta na fase de transição entre as habilidades fundamentais (correr, saltar, equilibrar-se, lançar) e o início do desenvolvimento dos movimentos especializados relacionados aos esportes (correr e chutar – no futebol; rolar e parada de mãos – na ginástica artística). Na Figura 4 está apresentado o modelo de desenvolvimento motor proposto pelo autor.

Figura 4. Modelo desenvolvimentista de Gallahue (1989)

    Estudos de Bee (2003), Guedes e Guedes (2001), Gallahue (1989), já comprovaram que, devido aos métodos e meios de estímulo, os diferentes indivíduos obtêm características quantitativa e qualitativamente distintas em relação às características antropométricas, desempenho nas habilidades motoras e no desenvolvimento de suas capacidades físicas básicas, tais como: coordenação, lateralidade, equilíbrio, força, flexibilidade, noção espaço-temporal, da RML (resistência anaeróbia), entre outras.

    A modalidade de Ginástica Artística tem como característica principal a predominância de atos motores que envolvem resistência muscular localizada, equilíbrio, lateralidade, coordenação motora fina, ritmo, agilidade, alto grau de flexibilidade, total domínio e controle corporal sendo metabolicamente enquadrada no sistema energético anaeróbio (ATP-CP). É também uma modalidade individual, onde o resultado de suas tarefas depende única e exclusivamente do próprio executante.  Além disso, utiliza padrões locomotores e estabilizadores na seqüência de movimentos nos diferentes aparelhos e séries.     A modalidade de Futebol de Campo apresenta a predominância de gestos motores com maior exigência dos membros inferiores, envolvendo habilidades locomotoras e manipulativas (Gallahue, 1989).  A prática desta modalidade também exige as seguintes capacidades físicas: resistência aeróbia, anaeróbia e muscular localizada de membros inferiores, potência, velocidade, coordenação, lateralidade, equilíbrio (Tubino, 1984). 

III. Metodologia

    Participaram do presente estudo 20 crianças na faixa etária entre 08(oito) a 12(doze) anos.  Sendo que 10 crianças estavam vinculadas no primeiro semestre de 2005 a uma “escolinha” de Futebol e 10 crianças eram praticantes de uma academia de Ginástica Artística no município de Araraquara - SP. 

    Os indivíduos selecionados encontravam-se com tempo de prática igual ou superior a 06 (seis) meses nas modalidades de Futebol de Campo e Ginástica Artística.

    Foram avaliadas as medidas antropométricas, as capacidades físicas e as habilidades motoras básicas dos dois grupos de sujeitos, praticantes de Futebol de Campo e Ginástica Artística, para posterior comparação. Para análise antropométrica foram coletados dados de: altura, peso, altura do tronco e envergadura. A partir destes dados foram obtidos: o Índice de massa corporal e a classificação do perfil antropométrico conforme descrito por Guedes e Guedes (2001).

    Quanto ao desempenho físico foram aplicados testes que avaliaram as capacidades físicas como: força, resistência aeróbia e muscular localizada, velocidade e flexibilidade, conforme proposto por Guedes e Guedes (2001).

    Já  quanto ao nível de desempenho das habilidades motoras básicas dos indivíduos foram analisados os padrões fundamentais de movimento: manipulativos (chutar, receber e arremessar), locomotores (andar, correr e saltar a distância) e estabilizadores (equilíbrio em um pé, andar no banco e apoio invertido), conforme proposto por Gallahue (1989) e Gallahue e Ozmun (2003).  Além disso, buscamos relacionar a idade cronológica com a idade motora, conforme propôs Rosa Neto (2002), a partir da aplicação de testes que envolvem: lateralidade, motricidade fina e global, equilíbrio esquema corporal, organização espacial e temporal.

    Em todos os testes foram realizadas filmagens para avaliação qualitativa do desempenho apresentado.  Além disto, foram anotados os escores de desempenho nos testes de capacidade física. Tais resultados serviram para compararmos os sujeitos a partir da modalidade esportiva praticada pelos mesmos.

    A comparação foi realizada a partir da média, desvio padrão, bem como a aplicação do Teste T de Student, visando verificar diferenças significativas nas medidas antropométricas, nos escores de desempenho físico.  Além disso, buscaram-se correlacionar esses dados a avaliação qualitativa da execução das habilidades motoras fundamentais. Os testes para medir a eficiência e caracterizar o nível de desenvolvimento dos indivíduos foram filmados e comparados com os padrões de movimento do desenvolvimento humano proposto por GALLAHUE (1989).

    Os horários para coleta de dados e avaliação destes indivíduos foram os mesmos para as duas amostras (futebol e ginástica) mais em dias diferentes.

    Os materiais e locais para realização dos testes foram os mesmos para ambos os grupos experimentais, para que os resultados não viessem a sofrer influência na execução dos testes de avaliação. Foram avaliados 09 (nove) padrões de movimentos fundamentais, sendo três locomotores, três manipulativos e três axiais. 

Descrição dos testes aplicados para análise

    Teste de corrida de 1.000 (Klissouras, 1973) (Matsudo, 1983), Teste abdominal – Pollock e Wilmore, (1993), Teste de flexão dos braços – Pollock e Wilmore (1993), Sentar e alcançar – seat and reach test - (Johnson e Nelson (1979), testes de Avaliação do Desempenho Motor: andar, correr, saltar horizontalmente, arremessar, apanhar/receber, chutar, andar no banco sueco, equilíbrio em um pé e apoio invertido e aferição de Medidas Antropométricas: Altura total, altura do tronco, envergadura, peso e IMC. 

IV. Resultados e discussão 

    A partir do objetivo proposto no presente estudo, no Quadro 01 estão apresentados os escores médios e o desvio padrão das medidas antropométricas e do cálculo do IMC realizado nos sujeitos dos dois grupos. 

Quadro 01. Comparação entre as médias e desvio-padrão das medidas antropométricos dos sujeitos dos dois grupos

Variável

Ginastas

Futebolistas

Peso corporal

31,68±0,14

32,89±0,14

Altura

135,9±0,85

136,35±0,85

Altura tronco-cefálica

71,95±0,86

71,7±0,86

Altura das pernas

63,95±0,61

64,65±0,61

Envergadura

135,87±0,37

138,2±0,37

IMC

17,07±0,98

17,09±0,98

       Quando comparamos os dados dos grupos através do Test T de Student verificamos que não houve diferença significativa com p<0,05 para todas as variáveis analisadas.

    Desta forma, podemos concluir de uma forma geral que os sujeitos analisados praticantes de modalidades distintas, ginástica e futebol, não apresentaram diferenças na sua estrutura corporal de forma significativa.

    Tais dados contrariam, a priori, o que aponta Eckert (1998), visto que, para o autor a prática de exercício físico em modalidades diferentes influenciaria na estrutura corporal dos praticantes.  Afirmava ainda mais, que a própria escolha da atividade a ser praticada, muitas vezes, ocorre em função da estrutura corporal.

    Uma explicação para não termos encontrado diferença significativa entre estas variáveis seria o tempo de prática dentro da modalidade. Magill (1984) e Schmidt (1993) apontam que a quantidade de prática é  a principal variável que leva a mudança de comportamento.

    Além disso, em se tratando de mudanças na estrutura corporal Guedes e Guedes (1997) apontam que estas vão aparecer quando a prática for regular e ocorrer uma adequação entre o volume e a intensidade dos exercícios. Por outro lado, Chipkevitch (1995) alerta que as alterações corporais quando da prática de exercícios de impacto em excesso na fase da puberdade, em uma única modalidade, podem interferir negativamente no processo de crescimento e desenvolvimento motor, ou seja, influenciar na estatura final bem como limitar o repertório motor dos sujeitos.

    Quando analisamos as medidas de forma individualizada entre os sujeitos no grupo e entre os grupos, verificamos diferenças nas proporções corporais.  Tal aspecto pode ser explicado pelas diferenças individuais, devido as características genéticas e influências do ambiente (Schmidth 1993; Bee, 2003; Gallahue e Ozmun, 2003).  Desta forma, é possível visualizar diferenças na altura e peso corporal.

    Utilizando a comparação de peso e altura média para as faixas etárias como proposto por Moura (1993) apresentada na Tabela 01, e os dados obtidos em nosso estudo para estas variáveis nos dois grupos conforme a Tabela 02 verificou-se que os sujeitos estudados são mais pesados e mais altos que os dados da literatura.

    Em média de 03 kg mais pesados em cada faixa etária e 03 cm mais altos em cada faixa etária.

    Ressaltamos que, somente na variável altura aos 12 anos, o dado obtido se iguala ao da literatura.  Este aumento no escore destas variáveis pode ser explicado a partir da tendência secular conforme discute Corbin (1980) e Eckert (1998).  Ou seja, a cada década os seres humanos estão se tornando mais altos e mais pesados. 

Tabela 1. Peso e Altura média, para indivíduos do sexo masculino de acordo com Marcondes in Moura (1993)

  Tabela 2. Comparação de Peso corporal e Altura média, para o sexo masculino segundo testes do grupo em estudo

     Observamos também, a partir dos dados da Tabela 2 que ocorreu aumento no peso e altura corporal nos indivíduos dos dois grupos estudado. Este aspecto era esperado na literatura (Corbin, 1980; Gallahue, 1989, Bee, 2003). Sendo que, quando divididos por faixa etária, os sujeitos do futebol possuem peso corporal ligeiramente superior aos ginastas.  Somente na idade de 11 anos esta medida se iguala.  Quanto à altura a superioridade dos futebolistas ocorre apenas na idade de 08 anos.

    Quando comparamos a relação altura total com a altura do tronco e altura das pernas, verificamos que os percentuais que representa estas variáveis se alteram com o passar da idade. Estas variações ocorrem de forma semelhante nos dois grupos analisados.

    Em média a altura do tronco corresponde a 52,94% e 52,58% da altura total, nos ginastas e futebolistas, respectivamente.

    Já a altura das pernas corresponde a 47,06% e 47,42% da altura total, nos ginastas e futebolistas, respectivamente.

    A variável tronco é superior a variável altura das pernas em todas as idades, Porém,  o percentual da altura das pernas aumenta na idade de 12 anos diminuindo o da altura do tronco, podendo sinalizar o início da fase do estirão de crescimento.

    Variações semelhantes ocorreram quando comparamos a envergadura com a altura total, aonde os escores dos sujeitos vão se alterando com o passar da idade podendo sinalizar esta entrada na fase do estirão de crescimento.  Porém, esta medida possuiu maior variabilidade entre os sujeitos, explicada pelas diferenças individuais e também que o crescimento ocorre em ritmos diferentes nas diferentes partes do corpo (Corbin, 1980).

    Quando calculamos o índice de massa corporal verificamos que também não ocorreu diferença significativa entre os sujeitos dos dois grupos.  Na tabela 3 estão apresentados os índices de todos os sujeitos divididos por faixa etária e grupo.

Tabela 3. Valores de I.M.C (Kg/m2) dos sujeitos dos dois grupos por faixa etária

Faixa Etária

Futebol de Campo

Ginástica Artística

08

16.35

15.82

08

16.79

17.36

09

15.13

15.98

09

15.91

17.22

10

17.07

17.15

10

16.89

17.84

11

17.58

13.16

11

18.34

17.85

12

18.63

17.11

12

18.09

21.42

    A partir destes dados podemos classificar segundo Fernandes Filho (2002) que a maioria dos sujeitos, nas diferentes faixas etárias está dentro da normalidade quanto ao IMC.  Somente um aluno de 11 anos, está abaixo do esperado para este índice.  Dado este importante, já que estudos de Osmondes (2003), Prado Jr. et. al (1999) encontraram nesta faixa etária crianças com sobrepeso e obesidade devido a pouca estimulação motora nas aulas de Educação Física e descontrole na ingestão alimentar.  Portanto, neste estudo a prática de uma modalidade de forma regular pode estar contribuindo para que o quadro de obesidade infantil não se instale nos sujeitos.  Na tabela 4 estão apresentados, os escores médios e os desvios padrões obtidos nos testes, divididos por grupo.

Tabela 4. Comparação entre as médias e desvio-padrão dos testes de capacidade física

Variável

Ginastas

Futebolistas

Flexão  de braços

20,33±0,33

19±0,33

Flexão abdominal

36,7±0,04*

32,4±0,04

Flexibilidade

17,2±0,01*

13,6±0,01

Vo2máx

46,38±0,54

45,62±0,54

*Diferença significativa quando aplicado o Test T de Student com P >0,05

    Verificamos que em todos os testes os ginastas, em média, tiveram melhor desempenho que os futebolistas, sendo que nos testes flexão abdominal e flexibilidade, ocorreu diferença significativa quando aplicado o Teste t com p<0,05.  Tais diferenças no desempenho podem ser explicadas a partir da especificidade do treinamento, volume do treinamento e freqüência semanal.  Além disso, Tubino (1984) Dantas (1998) colocam que a flexibilidade e a resistência muscular localizada são qualidades físicas muito treinadas pelos ginastas.  Portanto, podemos justificar as diferenças encontradas neste estudo.

    Nas Tabelas 05 e 06 estão apresentadas as avaliações dos padrões fundamentais de movimento analisados a partir do estudo de Gallahue (1989), dos ginastas e dos futebolistas respectivamente.  Esta análise foi qualitativa a partir da descrição dos movimentos.  Porém, substituímos o sim e o não por número 1 e 2 e comparamos os grupos através do Teste t.  Observamos que houve diferença significativa com p<0,05, entre as habilidades chutar, andar na trave e apoio invertido.  Sendo que, para os ginastas a habilidade chutar foi a que apresentou menor desempenho.  No caso dos futebolistas a dificuldade estava na execução do andar na trave e o apoio invertido.

    Tais diferenças podem ser explicadas devido à prática da habilidade específica em cada modalidade.  Ou seja, novamente a variável quantidade de prática influenciou o desempenho dos alunos, reforçando a idéia de Magill (1984) e Schmidth (1993).  Além disso, demonstra a necessidade da variabilidade na vivência de diferentes habilidades nesta faixa etária para ampliar o repertório motor dos sujeitos (Eckert, 1998; Bee, 2003).

    Isso se deve ao fato de haver pouco ou nenhum estímulo de habilidades de natureza manipulativa para os praticantes de Ginástica Artística, com elevado grau de especificidade para as demais habilidades presentes em sua prática cotidiana.  Porém, demonstra também, falha na estimulação nas etapas anteriores de desenvolvimento, bem como na estimulação da Educação Física Escolar (Prado Jr., et. al. 1999).

    Mas o cuidado para os profissionais de Educação Física é não super- estimular determinados padrões em detrimento a outros, levando a uma limitação no repertório motor a partir da especialização precoce (Chipkevitch, 1995).   Tabela 05. Análise do padrão maduro a partir da execução dos movimentos fundamentais dos sujeitos da modalidade de Ginástica Artística 

Tabela de Análise do padrão maduro a partir da execução dos movimentos fundamentais dos sujeitos da modalidade de Ginástica Artística

 

Habilidade Motora

Sujeitos

Andar

Correr

Salto horizontal

Equilíbrio em um pé

Andar na trave

Apoio invertido

Receber

Arremessar

Chutar

1

2

2

2

2

2

2

2

1

1

2

2

2

2

2

2

2

2

1

1

3

2

2

2

2

2

2

2

2

1

4

2

2

2

2

2

2

2

2

1

5

2

2

2

2

2

2

2

2

1

6

2

2

2

2

2

2

2

2

1

7

2

2

2

2

2

2

2

2

1

8

2

2

2

2

2

2

2

2

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9

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2

2

2

2

2

2

2

2

10

2

2

2

2

2

2

2

2

2

Padrão maduro = Sim (1)

Padrão não-maduro= Não (2)

Tabela comparativa de padrões de movimentos fundamentais dos resultados da modalidade de Futebol de campo

 

Habilidade Motora

Sujeitos

Andar

Correr

Salto horizontal

Equilíbrio em um pé

Andar na trave

Apoio invertido

Receber

Arremessar

Chutar

1

2

2

2

1

1

1

2

2

2

2

2

2

2

1

1

1

2

2

2

3

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2

2

2

1

1

2

2

2

4

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2

2

2

1

1

2

2

2

5

2

2

2

2

2

1

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2

2

6

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2

2

2

2

1

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2

2

7

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2

2

2

2

1

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2

2

8

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2

2

1

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9

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2

2

10

2

2

2

2

2

1

2

2

2

Padrão maduro = Sim (1)

Padrão não-maduro= Não (2)

V.     Conclusão

    A partir do objetivo proposto podemos verificar que encontramos diferenças significativas entre os sujeitos que praticam diferentes modalidades esportivas, principalmente quanto às variáveis de desempenho físico e habilidades motoras manipulativas e estabilizadoras. Não encontramos diferenças significativas entre os sujeitos dos dois grupos quanto às variáveis antropométricas.

    Em relação às variáveis antropométricas as diferenças surgem de forma individualizada referente ao peso, altura e proporções corporais.  Porém, pudemos identificar o aumento dessas variáveis com o passar da idade como era esperado na literatura.  Já não podemos inferir, neste estudo, que a prática das modalidades proporciona diferenças na estrutura corporal como indicado na literatura.  Isto pode ser explicado devido à análise de poucos indivíduos, neste estudo.  Ou ainda, devido ao tempo de prática dos sujeitos em cada modalidade.  Portanto, serão necessários novos estudos com um número de participantes maior para comprovar a influência do treinamento nas proporções corporais.

    Um resultado importante foi que nenhum sujeito encontra-se com sobrepeso ou obeso, estado esse que vem aumentando nesta faixa etária devido à falta de atividade física regular e desequilíbrio na ingestão calórica.  Assim, podemos supor que a prática regular das modalidades pode estar sendo benéfica para estes sujeitos.

    Quanto ao desempenho físico os ginastas obtiveram desempenho melhor em todos os testes.  Provavelmente pelo maior controle entre volume e intensidade de exercícios no treinamento desta modalidade.  Isto pode ter ocorrido devido à especificidade da modalidade e os testes utilizados.

    No desempenho das habilidades motoras encontramos o padrão maduro em todas as habilidades locomotoras.  Porém, para os ginastas a maior dificuldade foi quanto à realização da tarefa do ato de chutar.  Já para os futebolistas as dificuldades surgem nas habilidades estabilizadoras, andar no banco sueco e apoio invertido.  Isto demonstra que os sujeitos necessitam de maior estimulação nestas habilidades e o resultado obtido pode ser devido ao fato de pouca experiência anterior.

    A prática de modalidade esportiva entre 08 e 12 anos é importante, porém, necessita ser trabalhado a partir da variabilidade de experiências visando o desenvolvimento global dos sujeitos.  Além disso, o acompanhamento das alterações antropométricas, do desempenho físico e do padrão motor é fundamental para os profissionais que atuam na Educação Física, principalmente na iniciação desportiva, visando evitar a especialização precoce.

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