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Avaliação física em futebolistas 

profissionais no início da pré temporada

Evaluación física de jugadores de fútbol profesional al inicio de la pretemporada

 

*Acadêmico de Educação Física, UFSM

**Mestrando em Treino de Alto Rendimento UTL/FMH – Portugal

***Mestrando em Educação Física, UFSC

****Graduado em Educação Física, UFSM

*****Drª Ciência do Movimento Humano, UFSM

(Brasil)

Lucas Cancian*

Kenji Fuke**

Vanderson Luis Moro***

Everton Granato de Leon****

Rafael Dias****

Silvana Corrêa Matheus*****

lucascucuia@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O futebol é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intermitentes, com movimentos acíclicos e repetidas mudanças de intensidade. Por esses motivos, pode ser descrito como um desporto que utiliza fontes energéticas distintas e com algumas generalidades fisiológicas. Dessa maneira, objetivo desse trabalho foi comparar a capacidade aeróbica e a capacidade anaeróbica em atletas de futebol profissional, de acordo com sua posição de jogo, no período preparatório (pré-temporada). Para isso, foram avaliados 22 atletas profissionais de futebol, do sexo masculino, participantes da 2ª divisão do Campeonato Gaúcho da temporada 2010. Os atletas foram divididos por posição de jogo (Zagueiros, laterais, meio-campistas e atacantes). Foram mensuradas a massa corporal e estatura, seguindo o protocolo de proposto por Petroski (2007), após, iniciou-se a bateria de testes, utilizando o Anaerobic Sprint Test (RAST) e o Teste de 3200m, proposto por Weltman (1989). Os dados foram expressos em média e desvio-padrão. Para comparar as variáveis nas diferentes posições, utilizou-se ANOVA one way completadas pelo teste post hoc de Tukey. Adotou-se 5 % como nível de significância e foi usado o programa estatístico GraphPad Prisma 5 para armazenar e analisar os resultados. Os resultados encontrados permitem concluir que não houve diferença estatisticamente significativa para variável VO2máx, entre os jogadores de diferentes posições, porém verificou-se diferença significativa na capacidade anaeróbica (potência média e no índice de fadiga), quando comparados atletas que atuam em diferentes posições.

          Unitermos: Futebol. Capacidade aeróbica. Capacidade anaeróbica.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    O futebol é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intermitentes, com movimentos acíclicos e repetidas mudanças de intensidade. Por esses motivos, pode ser descrito como um desporto que utiliza fontes energéticas distintas e com algumas generalidades fisiológicas (EKBLON, 1986; CAMPEIZ, 2001; SANTOS E SOARES, 2001). Para Fernandes (2002) essa natureza, essencialmente intervalada, que o futebol esta inserido, alternando períodos de baixa, média e alta intensidade induz a diferentes impactos fisiológicos, que devem ser respeitados para prescrição do treinamento.

    Apesar de que 88 % de uma partida de futebol envolvem atividades aeróbicas (GUERRA, et al. 2001), essas são realizadas, na maior parte, sem a posse de bola (REILLY, et al. 2000). Esse fato demonstra que as ações diretamente envolvidas em um jogo são altamente anaeróbicas como roubadas de bola, saltos, fintas e arremates a gol (REILLY, et al. 2000). Além dessas (resistência aeróbica e anaeróbica), Bangsbo (2004) propõe que outras variáveis são de suma importância para o treinamento do futebolista, tais como a força, a velocidade, a agilidade, a flexibilidade. Um bom nível de aptidão dessas variáveis dará o suporte técnico, tático e psíquico necessário para treinos e jogos.

    Para tanto, é necessário utilizar métodos modernos de treinamento e técnicas mais específicas para fazer as avaliações, buscando sempre uma maior precisão para o diagnóstico, controle e prescrição das atividades, pois isto é fundamental para o nível em que se encontra esse desporto nos dias de hoje (FUKE, et al. 2009).

    A especificidade é outro fator que deve ser bastante considerado no momento de prescrever o treinamento para os atletas de futebol. A função tática desempenhada pelo atleta na equipe determina o nível de solicitação metabólica, que por sua vez causa adaptações diferenciadas nos processos de produção de energia (REILLY, 1997).

    A partir das reflexões acima expostas, este estudo teve como objetivo comparar a capacidade aeróbica e a capacidade anaeróbica em atletas de futebol profissional, no início da temporada (período preparatório), de acordo com sua posição de jogo.

Metodologia

Grupo de estudo

    Foram avaliados 22 atletas profissionais de futebol, do sexo masculino, idade média de 24,8 ± 5,7 anos, participantes da 2ª divisão do Campeonato Gaúcho na temporada 2010, sendo que 5 eram zagueiros; 7 meio-campistas; 7 laterais e 3 atacantes.

    Os testes foram realizados antes de iniciar os treinamentos do período preparatório. Os participantes foram informados verbalmente e por escrito, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a respeito dos procedimentos que seriam adotados na pesquisa e possíveis riscos à saúde.

Materiais e métodos

    O trabalho foi realizado junto a um clube de futebol, participante da 2ª divisão do Campeonato Gaúcho (temporada 2010). Foram realizados dois testes físicos (Running Anaerobic Sprint Test (RAST) proposto por Zacharogiannis, et al. (2004) e o teste de 3200 metros proposto por Weltman (1989) com intervalo de 24 h entre eles.

    Inicialmente, os atletas foram divididos por posição de jogo (Zagueiros, laterais, meio-campistas e atacantes) e submetidos à avaliação da composição corporal. Para a determinação da massa corporal (MC) foi utilizado uma balança da marca Welmy com estadiômetro acoplado, capacidade de 150 kg e precisão de 100 g para a massa corporal e régua de 210 cm de altura com resolução de 0,5 cm para mensurar a estatura. Para a obtenção dessas medidas seguiu-se os procedimentos sugeridos por Petroski (2007).

    Após a avaliação da composição corporal, iniciou-se a bateria de testes na ordem apresentada abaixo:

1º teste: Running Anaerobic Sprint Test (RAST)

    O RAST é composto por quatro fases distintas: aquecimento, pausa, teste RAST e recuperação. No teste RAST os atletas realizam seis sprints de 35 m com intervalos de 10 segundos entre eles. A potência máxima foi determinada através do melhor tempo nos sprints, a potência média é o somatório dos valores dos seis sprints divididos por seis e o índice de fadiga é a diminuição da potência máxima em watts (W) pela potência mínima em watts (W) divididos pela somatória de tempo (seg.) das seis corridas.

2º teste: Teste de 3200 metros

    Utilizou-se o protocolo de campo de 3200 m proposto por Weltman (1989) para obter-se os resultados referentes ao VO2máx. Tal teste consiste em percorrer os 3200 metros no menor tempo possível. O VO2máx é estimado pela seguinte equação:

VO2máx (ml.kg.min-1) = 118,4 - 4,774 (T)

T = tempo em minutos e fração decimal dos 3200 m.

    O teste foi realizado em um campo de futebol, com os atletas usando calçado adequado. Sempre o mesmo avaliador e um anotador participaram para mensuração dos tempos de corrida de ambos os testes (RAST e 3200 m). O avaliador, utilizando um cronômetro manual marca (Cassio), marcava o tempo que o atleta levava para percorrer a distância previamente estipulada nos testes.

    Os testes foram realizados em um campo de futebol no horário entre 16 hs e 17 hs, em dias diferentes e com intervalo de recuperação de 24 hs. No dia que precedia os testes, os atletas foram orientados a não executar atividades exaustivas, não ingerir bebidas alcoólicas e não fumar.

Estatística

    Os dados foram expressos em média, desvio-padrão. Para comparar as variáveis nas diferentes posições, utilizou-se ANOVA one way completadas pelo teste post hoc de Tukey. Os valores de p<0,05 foram aceitos como estatisticamente significativos. Os dados foram analisados pelo programa estatístico GraphPad Prism 4.

Resultados

    A Figura 1 apresenta a comparação do VO2máx entre zagueiros (Zag), laterais (Lat), meio-campistas (MCamp) e atacantes (Atac).

Figura 1. VO2máx dos atletas separados por posição de jogo. ANOVA One-way. (p>0,05)

    O VO2máx investigado no presente estudo apresentou valores médios de 51,96±5,29 ml/Kg/min-1 para os zagueiros, de 55,44±4,28 ml/Kg/min-1 para os laterias, de 55,62±3,73 ml/Kg/min-1 para os meio-campistas e de 51,72±9,56 ml/Kg/min-1 para os atacantes. Conforme verificado na Figura 1 não houve diferenças estatisticamente significativas entre as posições.

    A Figura 2 apresenta a comparação da potência média entre zagueiros (Zag), laterais (Lat), meio-campistas (MCamp) e atacantes (Atac).

Figura 2. Potência Média dos atletas separados por posição de jogo.

ANOVA One-way confirmada com post hoc de Tukey. **(p<0,01)

    A Figura 2 mostra que a potência média dos atacantes apresentou valores maiores (810,2±53,38 w) e estatisticamente significantes (p<0,01) em comparação com os laterais (597,9±73,63 w) e meio-campistas (602,1±74,69 w). Já os valores dos zagueiros (701,2±34,48 w) não apresentaram diferença estatisticamente significativa (p>0,05) ao comparar com as outras posições de jogo.

    A Figura 3 apresenta a comparação do índice de fadiga entre zagueiros (Zag), laterais (Lat), meio-campistas (MCamp) e atacantes (Atac).

Figura 3. Índice de fadiga dos atletas separados por posição de jogo.

ANOVA One-way confirmada com post hoc de Tukey. *(p<0,05)

    A Figura 3 mostra que o índice de fadiga dos atacantes apresentou valores maiores (11,86±1,95 w.seg) e estatisticamente significantes (p<0,05) em comparação com os laterais (8,5±0,99 w.seg) e meio-campistas (7,96±3,21 w.seg). Já os valores dos zagueiros (13,92±4,09 w.seg) não apresentaram diferença estatisticamente significativa (p>0,05) ao comparar com as outras posições de jogo.

Discussão

    O consumo máximo de oxigênio é a variável mais estudada no futebol. Alguns estudos (CARZOLA & FARHI, 1998; BOSCO, 1993) demonstram por meio de mensurações diretas e indiretas que este se caracteriza como uma variável indispensável para tornar o atleta apto ao desempenho de alto nível, bem como para recuperar dos esforços curtos e intensos característicos do jogo de futebol (CAMPEIZ, 2004). Seguindo esta linha de raciocínio, Bangsbo, et al. (2006) consideram que bons níveis de condicionamento aeróbico são requeridos para retardar a fadiga em atletas.

    Resultados encontrados por Oliveira (2000) em um estudo feito com 327 jogadores de futebol divididos por posição de jogo, através do Yo-yo Intermitent Endurance Test, apontaram diferenças significativas na capacidade aeróbica entre as quatro posições. Resultados semelhantes são observados no estudo de Santos e Soares (2001) em estudo realizado com 91 futebolistas também divididos por posição de jogo. Esses resultados vão de encontro aos observados por Balikian (2002), em um estudo realizado com 25 atletas profissionais da segunda divisão do campeonato paulista, que apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre as posições, sendo que os laterais e meias, assim como o estudo de Santos e Soares (2001), apresentaram o VO2máx mais elevado que os zagueiros e atacantes.

    Esses resultados divergem dos encontrados no presente estudo (Figura 1), quando nenhuma diferença estatisticamente significativa no VO2máx foi detectada entre atletas de diferentes posições. Esses resultados podem ser compreendidos pelo fato dos atletas deste estudo estar voltando do período de férias, ou seja, iniciando a pré-temporada. Esses resultados podem ser esclarecidos devido ao período de transição, pois nessa fase os atletas acabam não tendo influencia do treinamento específico e conseqüentemente ocorre uma nivelamento do VO2máx.

    Outra variável investigada neste estudo foi a capacidade anaeróbica quando foram analisadas a potência média e índice de fadiga dos atletas por posição de jogo.

    Diferentemente dos resultados apresentados por Davis, et.al (1992), que não encontraram diferença significativa ao analisarem a potência máxima, a potência média e o índice de fadiga, em futebolistas de diferentes posições, por meio dos testes de Wingate, esse experimento apresentou diferença significativa nessas variáveis, sendo que os atacantes tiveram, tanto potência média quanto índice de fadiga, significativamente maiores que os meio campistas e laterais. Essa correlação entre potência e fadiga pode ser explicada pelo estudo realizado por Silva (1999) com jogadores da Seleção Nacional da Jamaica, demonstrando que os atletas que possuíam boa potência muscular tinham pouca resistência anaeróbia. Esse acontecimento pode ser explicado pelo fato de que percentual de fibras musculares de contração rápida é determinante no resultado da potência anaeróbia máxima, contudo apresenta um rápido declínio e um maior índice de fadiga (SANTOS,1999).

    Resultados encontrados em nosso estudo são semelhantes aos observados por Al-Hazaa, et.al (2001), que utilizando o mesmo teste de Wingate, com jogadores da seleção da Arábia Saudita de futebol de 1998, também encontraram diferença significativa na potência média, porém, nesse estudo, os zagueiros tiveram o melhor desempenho quando comparados com jogadores de outras posições.

Conclusão

    Analisando os dados encontrados, pode-se concluir que apesar da distância percorrida e as formas de deslocamento ser diferentes conforme a posição que cada atleta atua (BANGSBO, et al,. 1991), não houve diferença significativa na capacidade aeróbica quando comparados os resultados dos testes segundo a posição de jogo, porém observou-se diferença, na capacidade anaeróbica.

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