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O mercado da bola: reflexões sobre 

a mundialização do futebol brasileiro

El negocio de la pelota: reflexiones sobre la mundialización del fútbol brasileño

 

Mestrando em História Comparada, UFRJ

(Brasil)

Nei Jorge dos Santos Junior

edfnei@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Pensar o futebol brasileiro na contemporaneidade requer uma análise minuciosa sobre as transformações decorrentes ao processo de mundialização da cultura. Esse estudo tem como objetivo desenvolver uma discussão sobre o processo de mundialização do futebol brasileiro, sabendo das transfigurações produzidas neste esporte que sobrevém numa cultura cada vez mais internacionalizada. Justificado por sua importância enquanto veículo de consolidação e afirmação de identidade nacional, relacionado intimamente à própria evolução da sociedade brasileira, apoiado nas condições históricas, pautados pela penetrabilidade social que ambos transcrevem sob os signos da modernidade.

          Unitermos: Futebol. Mundialização. Espetacularização.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    Ao final da década 1980, muitos hesitavam em reconhecer as transformações visivelmente ocorridas na sociedade. Na perspectiva dos administradores de empresas e homens de negócios associados a uma visão neoliberal, se deparavam sobre a magnitude do fluxo do mercado livre, na qual tinham completa recusa do agrarismo contemporâneo. Entrementes, discutia-se no âmbito das Ciências Sociais toda polêmica em torno dessas transformações da sociedade pós-industrial – Modernidade X Pós-modernidade – Habermas X Lyotard –. Ou seja, a modernidade como algo obsoleto, o pluralismo pós-moderno diante da uniformização do moderno. (ORTIZ, 2006b).

    No entanto, o debate sobre o pós-modernismo estiolou por não oferecer suporte suficiente para alentar uma concepção capaz de compreender os temas atuais que haviam sido propostos anteriormente. Nesse sentido, “a globalização se impõem assim como um processo real, diversificado, pleno de contradições, e a temática, nas Ciências Sociais, ganha direito de cidadania” (p.11).

    Todavia, a globalização, assim como a mundialização da cultura, se preocupa em compreender as novas formas de organização da vida social do mundo contemporâneo. Assim, a lógica que viabiliza a articulação desses dois fenômenos tem como pressuposto a transformação dos bens culturais em mercadorias ou bens simbólicos, e sua disponibilização aos mercados consumidores mundiais através das novas tecnologias.

    Nesse sentido, o futebol enquanto fenômeno sociocultural de massa nos abre um víeis para discussão dessas transformações decorrentes ao processo de mundialização da cultura, apoiado na construção de um campo esportivo1 que se destina aos agentes sociais, o qual procura encontrar uma demanda social, por refletir diretamente na prática maquinal das transações de jogadores de futebol, comercialização de produtos esportivos, patrocínio, publicidade, entre outros, num ritmo acelerado, correspondente a própria lógica capitalista de circulação de mercadoria.

    Esses novos parâmetros culturais cada vez mais presentes no futebol contemporâneo permitiram uma ascensão simbiótica com os meios de comunicação de massa (MCM), configurando uma nova realidade cultural na disponibilidade de produtos globais, expressado por um movimento de desterritorialização da cultura liberando-a, em muitos aspectos, de suas raízes geográficas. Essas ações vigentes são decisivas na contextualização de nossas experiências mundializadas, a fim de propiciar um encontro com diversas partes do mundo.2

    Compreender esses mecanismos de diálogos que têm marcado a sociedade contemporânea através do futebol mostra-se como problemática a ser investigada. Esse estudo tem como objetivo desenvolver uma discussão sobre o processo de mundialização do futebol brasileiro, sabendo das transfigurações produzidas neste esporte que sobrevém numa cultura cada vez mais internacionalizada. Justificado por sua importância enquanto veículo de consolidação e afirmação de identidade nacional relacionado intimamente à própria evolução da sociedade brasileira, apoiado nas condições históricas, pautados pela penetrabilidade social que ambos transcrevem sob os signos da modernidade.3

O futebol mundializado

    O futebol enquanto espetáculo esportivo opera com mecanismos de linguagens que facilitam sua comercialização e aceitação mundializada. Essa aceitação é condicionada por representações simbólicas que permitem sua compreensão globalizada, tornando-as mundialmente inteligível.

    Essas representações que caracterizam o futebol desde sua gênese aristocrática, ocidental e masculina, dialogam com enorme visibilidade na democratização e aumento do seu público de praticantes e espectadores em todo mundo. Notadamente, não é espantoso o fato em que a FIFA4– entidade máxima no futebol – conta com a filiação de 208 países, enquanto a ONU5 possui 192 países filiados. O que representa uma significativa expansão da geopolítica do futebol.

    Desde a Copa do Mundo de 1990, o futebol passou por um crescimento financeiro incomum. Ao final de 1994, o ainda presidente da FIFA, João Havelange, vangloriou-se ao dizer que o futebol se tornou a maior empresa multinacional do mundo, empregando direta e indiretamente um número aproximadamente de 450 milhões de pessoas em todo mundo. Além da movimentação financeira nas grandes capitais, “algo em torno de 180 bilhões de dólares em 1999, 200 bilhões em 2000, 259 bilhões em 2005.” (FRANCO JÚNIOR, 2007, p.179).

    Quando a primeira partida de uma Copa do Mundo foi televisionada – Iugoslávia 1 X 0 França, no dia 16 de junho de 1954 – praticamente não compartilhava com as proporções e cifras que hoje mantém.

    Em 1978 os direitos televisivos correspondiam, em valores atuais, somente 15 milhões de euros; em 1982, a 24 milhões – desde então começou lenta escalada – 30 milhões em 1986, 60 milhões em 1990, 72 milhões em 1994, 84 milhões em 1998 e depois um salto: 853 milhões na Copa de 2002, 991 milhões na de 2006. (ibid, p.123-124).

    O advento da televisão a partir das últimas décadas do século XX transformou esse meio de comunicação de massa como principal expressão da globalização econômica do futebol, por possibilitar um relatório vivo, não somente pelo áudio visual, mas pela sensação do ser, tão massificada pela televisão, ostentada pelas competições de forma a propiciar um espetáculo sem sair de suas casas (BECK; BOSSHART, 2003).

    Corroborado com essa idéia, em 1993 o até então o Presidente do COI, Marquês Juan Antonio Samaranch ressalta que:

    [...] os esportes que não se adaptarem à televisão estarão fadados ao desaparecimento. Da mesma forma, as televisões que não souberem buscar o acesso aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso financeiro e de público. (NUZZMAN, 1996, p. 15)

    No Brasil, o peso da renda proveniente a transmissão para a TV fica em torno de 15% a 40% dependendo da equipe6. Notadamente, essa situação possibilita a TV escolher horários e locais de seu interesse, pelo fato de ser a principal receita dos clubes brasileiros contra uma média de 20% da venda de jogadores e outras divididas entre patrocinadores e venda de ingressos. (Folha de São Paulo, 04/10/2007)

    Diante tal afirmativa, percebe-se que os meios de comunicação de massa assumem explicitamente um relacionamento mutuamente dependente com o fenômeno esportivo, tornando-se a principal fonte de recursos, gerados através das vendas de produtos e direitos de transmissão de imagens. Todavia, Debord (2006) afirma que “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediadas por imagens” (p. 14). Onde a televisão em busca do sensacional “convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter dramático, trágico” (BOURDIEU, 1997, p. 25).

    Portanto, a televisão assume o status como principal meio de propagação do futebol moderno, relacionado diretamente aos mesmos fatores que correspondem ao processo de mundialização da cultura. Características espetacularizadas que oportuniza uma adaptação ao público global, na atração de investimentos bilionários, visibilidade, recursos tecnológicos, publicidade, entre outras, nas quais irão traduzir e resignificar novos valores, articulados para consolidação de uma cultura internacional-popular7. Ou seja, objetos e referências culturais traduzidas em termos imagéticos, imediatamente inteligíveis, numa concepção global. (ORTIZ, 2006 a)

O futebol como megaevento

    De acordo com o censo realizado pela FIFA em 2000,8 o futebol é apontado como o esporte mais praticado no mundo. Cerca de 250 milhões de pessoas, ou 4,1% da população mundial, são participantes do jogo de futebol de alguma maneira. Nessa mesma pesquisa, identifica que no Brasil, cerca de 170 milhões de pessoas, sem contar as crianças e os praticantes ocasionais participam desse jogo.

    Para entender esse crescimento, é preciso reconhecer que o futebol se constitui de um campo de concorrência no interior, onde antes restritos a praticantes e aos espectadores presenciais, alcançaram as massas quando esses eventos, através dos meios de comunicação de massa, se transformaram num produto midiático. Esse cenário presente, representa a passagem de um esporte praticado em círculos sociais restritos, otimizado pela máxima do amadorismo, para um esporte espetacularizado, com produção profissional especifica e destinado ao consumo de massa. (BOURDIEU, 1983)

    Corroborando com o processo entrevisto por Bourdieu há quase trinta anos, Alvito (2006) chama a atenção para a existência de um campo esportivo planetário diante de novas instituições e agentes articulados ao crescimento de canais mundiais especializados em esportes, ao grande consumo de produtos esportivos produzidos pelas multinacionais e às novas formas de consumo do espetáculo proporcionado pela internet e telefones celulares.

    Esse leque de variedades para a venda e comercialização do futebol, esta ligado diretamente aos mecanismos de linguagem que facilitam sua comercialização e aceitação mundializada. A facilidade de inteligir esse espetáculo proporciona ao futebol diversas formas de comercialização dos seus produtos: TV, telefone celular, videogames dos mais variados tipos, revistas especializadas, canais próprios de futebol, sites com conteúdos exclusivos, álbum de figurinhas e simuladores para administração de clubes.9

    O futebol como espetáculo é uma construção social que envolve diferentes atores sociais - atletas, dirigentes, jornalistas, patrocinadores, torcedores, autoridades públicas - em ação no campo esportivo. Nesse sentido, Bourdieu (1997) aponta que os meios de comunicação de massa ocupam um espaço de suma importância por tornar o espetáculo esportivo num produto fora do comum, proporcionando uma correria para associação de produtos dos mais variados ramos a ocupar um espaço de destaque no maior patrimônio de marketing esportivo mundial: as camisas dos clubes de futebol.

    Um levantamento feito pelo Estado de Minas no Campeonato brasileiro de 2007 releva que apenas doze, das principais equipes localizadas São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, foi feito um investimento de 143,75 milhões10 para divulgar os nomes das empresas nos uniformes das equipes.

    Mesmo com investimentos tão altos o retorno para essas empresas tem garantia. Estima-se que pode ser no mínimo seis vezes o valor aplicado. A marca ganha visibilidade e fica guardada na memória de milhões de brasileiros, que se tornam também potenciais consumidores de seus produtos. (Estado de Minas, 27/05/2007)

    Nesse sentido, Debord (2006) afirma que, “a raiz do espetáculo está no terreno da economia que se tornou abundante, e daí vêm os frutos que tendem afinal a dominar o mercado espetacular”. (p.39) Onde o espetáculo proporcionado dentro das quatros linhas ganha abrangência pelas grandes jogadas de marketing, cercado pela publicidade e não mais por aquele que promoveu as jogadas, onde esse, ganha status de celebridade, transformado, enfim, em uma grande produção hollywoodiana.

A mundialização no futebol brasileiro

    Em 189411 se inicia a prática oficial do futebol no Brasil. Sua chegada dá-se a ida de jovens filhos de industriais à Inglaterra, com objetivo de estudo ou negócios, já que o Brasil mantinha fortes laços comercias com o país naquele período, onde o futebol já se encontrava consolidado como prática esportiva popular e profissionalizado desde meados da década de 1880. (HOBSBAWM, 2008)

    Esse esporte introduzido no Brasil sob signo do novo vinha entrelaçado pelos ideários da modernidade. Perspectiva pedagógica européia presente no país desde o parecer de Rui Barbosa sobre a Reforma do Ensino Primário em 1882, com objetivo de modernizar o corpo pelo exercício físico e pela competição. Elementos essenciais para atualização de uma nova elite brasileira. (FRANCO JÚNIOR, 2007)

    Diferentemente da Inglaterra, o futebol brasileiro por manter sua prática oficialmente apenas pelas elites urbanas, passaria um longo período enraizado no amadorismo, onde se profissionalizaria somente na década de 30, decorrente de uma enorme popularização do esporte e suas constantes discussões em torno do direito dos atletas a receberem salários e serem profissionais, além da grande rivalidade entre cariocas e paulistas. “O processo não foi nada fácil e afetou a política relacionada à preparação do Brasil para os mundiais de 1930 e 1934.” (GURGEL, 2006, p. 22). No entanto, mesmo não obtendo bons resultados nessas competições, alguns jogadores brasileiros se depararam com um enorme assédio por parte dos europeus. Sobretudo italiano.

    Essa pressão externa ajudou desfazer o imbróglio que existia em torno dos interesses dos clubes contra a profissionalização dos jogadores, que se acentuava nas inúmeras excursões pela Europa. Para se ter idéia, em 1931durante uma excursão na Espanha, o Vasco da Gama viu seu meio-campista Fausto a “maravilha negra”, abandonar o time para jogar no Barcelona, que tinha lhe oferecido a quantia de 30 mil pesetas.

    A transição política coincidia com extenuado amadorismo. Com isso, outros Jogadores passariam pelo mesmo processo em busca do profissionalismo no exterior como Leônidas (1931, Peñarol), Tupi, Vani, Ramon, Teixeira e Petronilho (1931, San Lorenzo de Almagro), Del Debbio e De Maria (1931, Lazio), Ministrinho (1931, Juventus), Rato e Filó12 (1932, Lazio) e Domingos da Guia (1933, Nacional do Uruguai). (FRANCO JÚNIOR, 2007)

    Nesse sentido o país se encontrava num estágio diferenciado, que posteriormente se tornaria tão comum no futebol brasileiro pelo padrão de troca entre diferentes países de forma desigual e dependente de suas posições no contexto econômico político mundial. Se no início do século XX o Brasil recebia imigrantes e importava mercadorias manufaturadas e produtos da indústria cultural, a situação do cenário econômico se transformou. Hoje milhares de brasileiros vivem no exterior com os mesmos objetivos dos imigrantes do início do século XX que vieram para terras brasileiras em busca de melhores condições de vida. Essa mudança configura-se pela abertura do mercado global, apoiado pelo processo de revolução tecnológica nas comunicações e na eletrônica, acompanhado de transformações econômicas que reduziram os processos de integração regionais ao âmbito das culturas nacionais.

Uma seleção brasileira global

    No cenário contemporâneo os meios de comunicação de massa se mobilizam por uma corriqueira criação de celebridades globais no mundo do futebol, onde cada vez mais, os valores, símbolos e produtos culturais extravasam as fronteiras nacionais, e cada vez menos, eles podem ser reduzidos à mera soma das culturas locais, ou à extroversão imperialista de uma cultura nacional hegemônica. Ou seja, os jogadores de futebol – sobretudo aqueles que jogam nas principais ligas – são transformados em celebridades globais para a consolidação de uma cultura popular-internacional. (WAGG, 2006)

    A seleção brasileira é um forte exemplo desse processo. A tradição em exibir jogadores excepcionais, transforma a seleção num objeto de contínuo fascínio popular, por suas conquistas e pelo grande numero de jogadores atuantes nas mais variadas ligas internacionais, transformando-a num símbolo global.

    Esse símbolo global proporcionou entre contratos de patrocínio, cotas de amistosos e vendas de direitos de transmissão, cerca de 35 milhões de dólares em 2006 nos cofres da CBF. É o equivalente a cinco vezes o faturamento registrado em 1994. (Revista Exame, 04/ 2006)

    Mais da metade da receita anual da seleção brasileira é garantida por quatro grandes contratos de patrocínio; Nike, cervejaria Ambev, telefonia celular Vivo e o Banco Itaú. Outra fatia importante do faturamento vem das cotas pagas ao time pelos amistosos disputados no exterior. Nesse caso, vem sendo também registrado aumento substancial de valores ao longo dos últimos anos. De acordo com a Revista Exame publicada em abril de 2006, o jogo mais caro da história aconteceu em março 2006, quando a federação russa pagou 1,5 milhão de dólares para ver as estrelas comandadas pelo até então técnico Carlos Alberto Parreira enfrentar a seleção local, no Lokomotiv Stadium, em Moscou. É quase o equivalente ao cachê de um show de estrelas do rock, como os Rolling Stones e o U2.

A multiplicação dos lucros

Depois da conquista do tetracampeonato na Copa de 1994, os valores envolvidos nos negócios da seleção deram um salto formidável

  

1994

2005

Patrocínios (em dólares)

3,4 milhões

26 milhões

Cota média por amistoso

150 000 dólares

800 000 dólares

Direitos de transmissão por amistoso

400 000 dólares

600 000 dólares

Fonte: Revista Exame, Abril de 2006

    A freqüência de amistosos no exterior, mais notadamente na Europa, sempre com estádios lotados e grande apelo publicitário, mostram o grande poder de espetacularização que a seleção proporciona. Como quase todos os jogadores atuam no velho mundo, torna-se mais viável marcar um jogo naquele continente e ter a liberação por parte dos clubes mais facilitada ou menos dificultada, além do lucro garantido. E cabe ao torcedor brasileiro - que não vive na Europa, ou seja, a grande maioria - ligar sua televisão e ver o jogo na sala de sua casa. Notadamente, especula-se que aqueles que costumam ir ao estádio, acabam por não criar com a seleção, o mesmo vínculo que cria com seu clube de coração, já que fica impossibilitado de acompanhá-la.

    Todavia, Canclini (2006) chama atenção que esses atletas “não deixam de estar inscritos na memória nacional, os consumidores populares são capazes de ler a citações de um imaginário multilocalizado que a televisão e a publicidade reúnem”. (p. 68). Ou seja, é preciso compreender que “a cultura nacional não se extingue, mas se converte em uma fórmula para designar a continuidade de uma memória história instável, que se reconstrói em interação com referentes culturais transnacionais.” (p. 46).

    Esses apontamentos revelam o futebol com business e, como tal, passa a transcender a nação da qual faz parte. Portanto, cotidianamente estamos resignificando novos valores mundializados, expresso por um mecanismo que reorienta a organização das sociedades contemporânea, onde o futebol enquanto fenômeno sociocultural incorpora essas expressões pelo poder de penetrabilidade social que o concebe, atraindo olhares significativos de todas as companhias do mundo.

    Entender o processo de mundialização da cultura brasileira através desse fenômeno esportivo mostra-se de suma importância por possibilitar uma leitura da representação da vida social, sob um enorme apreço popular, tendo a necessidade de um olhar global, pois dificilmente, sua compreensão enquanto fenômeno poderá ser respondido somente no âmbito da esfera nacional.

Considerações finais

    Indiscutivelmente não há como recusar a realidade atual de um mercado de trabalho mundial para jogadores de futebol profissional. Nesse sentido, a lentidão na percepção dos clubes brasileiros sobre a nova forma de olhar o futebol sob a ótica da mundialização, contribuiu para a não valorização de sua marca, atrelado a situação financeira do país e pelo amadorismo na administração dos clubes.

    De fato, esse caminho percorrido pelos clubes brasileiros salientou a venda de jogadores como principal fonte de receita dos clubes, ocasionando uma falta de identificação do público, ao ponto de não lembramos o clube brasileiro que o jogador havia defendido antes de sua venda.

    Contudo, ao traçar uma discussão sobre esse processo de mundialização do futebol brasileiro, mostrando sua capacidade de penetrabilidade social, além de apontar os mecanismos de diálogos que facilitam sua compreensão mundializada, na resignificação de novos valores de uma cultura internacional-popular, atraindo olhares significativos de todas as companhias do mundo. Além da importante contribuição dos avanços tecnológicos dos meios de comunicação de massa, sobretudo, a mídia televisiva que socializa valores atrelados à indústria do consumo, na transformação da prática de futebol em business e seus personagens – jogadores de futebol – em verdadeiras estrelas hollywoodianas.

Notas

  1. Para Bourdieu (1983, p. 89), campos são "espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem das posições nestes espaços, podendo ser analisadas independentemente das características de seus ocupantes (em parte determinadas por elas)".

  2.  Para Ortiz (2006b), isso tem pouco a ver com uma ideia de pluralidade e fim da exclusão. É preciso reconhecer que o mundo conectado não é um mundo integrado.

  3. A chegada do futebol no Brasil apresenta ares de novo. Caracterizado por sua exclusividade nos clubes de elites, ao proporcionar uma forma de modernizar seu corpo com a sociedade em que ele estava inserido. Gurgel (2006).

  4. Féderation Internationale de Football Association

  5. Organizações das Nações Unidas.

  6. Alguns clubes como Flamengo e Corinthians recebem da TV cerca de 9 milhões por ano. (Estado de Minas, 27/05/2007)

  7. Categoria trabalhada por Renato Ortiz no livro Mundialização e cultura (2006), para definir uma memória cultural coletiva compartilhada por diversas nações.

  8. Dados retirados do site oficial da FIFA referente ao censo realizado pela entidade em 2000.

  9. Como exemplo pode ser citado o Cartola FC fantasy game disponível no site globo.com. O usuário funda uma liga onde se ganha ou perde pontos de acordo com o desempenho real dos atletas nos jogos. As atuações em campo são medidas através das estatísticas oficiais da TV globo.

  10. Como os valores de alguns patrocinadores não foram revelados, estima-se que esse valor pode chegar a R$ 200 milhões.

  11. Anteriormente a essa data, Colégios confessionais e laicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul praticavam futebol desde 1880, como marinheiros ingleses que jogavam em praias brasileiras em dias de folga. (FRANCO JUNIOR, 2007)

  12. Filó se tornaria campeão Mundial jogando pela seleção italiana.

Referências

  • ALVITO, M. A parte que te cabe neste latifúndio: o futebol brasileiro e globalização. Análise Social, v.41, n. 179, p.451-474, 2006.

  • BECK, D.; BOSSHART, L. Sports and Media. Communication research trends: Centre for the Study of Communication and Culture, Vol. 22, n. 4, 2003.

  • BOURDIEU, P. Como é possível ser esportivo. In: ________. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

  • _____________. Sobre a Televisão. Traduzido por: Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

  • CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Traduzido por: Maurício Santana Dias. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.

  • DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Traduzido por: Estela dos Santos Abreu. 7. impressão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

  • FRANCO JÚNIOR, H. A dança dos deuses: futebol, sociedade, cultura. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

  • GALDIERI, P.; PERRONE, R. Auditoria esmiúça balanços dos 21 times que mais arrecadaram em 2006. Folha de São Paulo, São Paulo, p.7. 4 out.2007.

  • GURGEL, A. Futebol S/A: a economia em campo. São Paulo, Saraiva, 2006.

  • HOBSBAWM, E. J. Mundos do trabalho: Novos estudos sobre história operária. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 2008.

  • MENDES, K. Marcas em campo. Estado de Minas, Minas Gerais, p.6. 27 Mai. 2007.

  • NUZZMAN, C. A. A importância do marketing esportivo para o desenvolvimento do esporte. In: SEMINÁRIO INDESP DE MARKETING ESPORTIVO. Anais... Brasília: Indesp, 1996.

  • ORTIZ, R. Mundialização e cultura. 8. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2006 a.

  • ________. Mundialização: saberes e crenças. São Paulo: Brasiliense, 2006 b.

  • SEIBEL, F. Máquina de ganhar dinheiro. Revista Exame, São Paulo, p. 12. Abr. 2006.

  • WAGG, S. Anjos de todos nós? Os treinadores de futebol, a globalização e as políticas de celebridades. Análise Social, v.41, n. 179, p.347-369, 2006.

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