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Excesso de peso corporal em acadêmicos de Educação Física, Bahia

Weight body excess in students of course of Physical Education from State Bahia, Brazil

Sobrepeso corporal en estudiantes de Educción Física en Bahía, Brasil

 

Programa de Pós-Graduação em Educação Física da

Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC

(Brasil)

Thiago Ferreira de Sousa

tfsousa_thiago@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: identificar os fatores associados ao excesso de peso corporal em universitários de um curso de Educação Física no Nordeste do Brasil. Métodos: Foi realizado um estudo transversal com acadêmicos de um curso de Educação Física do Estado da Bahia, Brasil. A variável dependente foi o índice de massa corporal, analisado em relação a indicadores sóciodemográficos, comportamentais e de autopercepção de saúde. A estatística inferencial foi empregada para analisar a associação entre as variáveis. O valor de significância adotado foi de p<0,05. Resultados: a frequência de excesso de peso corporal foi de 27,4%. Apresentaram associação com o desfecho à faixa etária (p=0,03) e a autopercepção de saúde (p=0,02). Conclusões: Somente associou-se a variável desfecho a idade e o nível de saúde percebida. A realização de ações destinadas à manutenção do peso corporal ao longo dos anos, por meio da adoção de hábitos saudáveis representa uma importante medida de prevenção do excesso de peso corporal.

          Unitermos: Excesso de peso corporal. Estudantes. Estudos transversais

 

Abstract

          Objective: To identify factors associated with overweight and obesity in a university student of course Physical Education in Northeast Brazil. Methods: Was carried out a cross-sectional study with students from a course of Physical Education from State of Bahia, Brazil. The dependent variable was the body mass index, analyzed in relation to socio-demographic, behavioral and self-rated health indicators. The inferential statistics was used to examine the association between the variables. The value of significance was p<0.05. Results: The frequency of excess body weight (BMI ≥ 25 kg/m2) was 27.4%. Were associated with the outcome age (p = 0.03) and self-rated health (p = 0.02). Conclusions: The age and level of perceived health were associated with BMI. The adoption of healthy habits is an important measure to prevent excess body weight.

          Keywords: Overweight. Obesity. Students. Cross-sectional studies.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    A obesidade representa um dos principais problemas de saúde pública atual e que estão associadas com outras doenças crônicas não-transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes mellitus (WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO, 2002). Uma das medidas que tem sido utilizada freqüentemente em estudos de base populacional é o índice de massa corporal (IMC), como no sistema de vigilância para os fatores de risco e proteção do Brasil (VIGITEL). Recentes estudos desse sistema demonstraram maiores probabilidades de ocorrência de excesso de peso corporal (IMC ≥ 25 kg/m2) em adultos e idosos que reportaram diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemias quando comparados aqueles de IMC < 25 kg/m2 independente de sexo, idade e escolaridade (GIGANTE et al., 2009).

    Vale destacar que a questão da obesidade tem se agravado ao longo dos anos, conforme observada em estudos longitudinais realizados em países desenvolvidos (FLEGAL et al., 2002) assim como no Brasil (BRASIL, 2009). Outro destaque é a ocorrência do crescimento da obesidade em jovens, crianças e adolescentes, conforme destacado por autores que realizaram uma revisão sistemática dos principais estudos brasileiros (ARAÚJO et al., 2007) como em estudo com a população de jovens dos Estados Unidos (HEDLEY et al., 2004).


    Em universitários, alguns estudos têm sido desenvolvidos visando identificar o perfil de sobrepeso e obesidade nessa população (STOCK et al., 2001; LOCH et al., 2006; ABOLFOTOUH et al., 2007), haja vista principalmente a fase de transição ao qual esse grupo está suscetível, e que podem contribuir para a adoção de hábitos indesejados que apresentam íntima relação com a obesidade. Entretanto, informações sobre acadêmicos da região nordeste são limitadas (FONTES; VIANA, 2009), e em especial para acadêmicos que cursam Educação Física (MARCONDELLI et al., 2008).

    Sendo assim, considerando a magnitude do levantamento de informações relacionadas ao perfil do excesso de peso corporal em acadêmicos da região nordeste do Brasil, o presente estudo teve como objetivo identificar os fatores associados ao excesso de peso corporal em universitários de um curso de Educação Física no Nordeste do Brasil.

Métodos

    O presente estudo foi extraído da pesquisa Perfil dos Indicadores da Aptidão Física e Saúde dos Estudantes de Educação Física da Universidade Estadual de Santa Cruz (PAFIS - UESC/BAHIA) realizada em uma universidade pública da região sul do Estado da Bahia, localizada na região Nordeste do Brasil. Foram convidados a participar todos os acadêmicos (N=143) que estavam matriculados e desempenhando suas atividades regularmente no curso de Licenciatura em Educação Física em uma das quatro turmas do curso. As coletas foram realizadas nas salas de aulas do curso, durante três semanas no mês de maio de 2007.

    Visando padronizar a coleta de dados, foi realizado um treinamento prévio com a equipe responsável pela coleta de dados, formada por membros do Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde (GPAF) da Universidade Estadual de Santa Cruz. Para a obtenção das informações foi construído um questionário tendo como base outros instrumentos validados para estudos populacionais (BARROS, 1999; BRASIL, 2004) e composto pelos seguintes módulos: informações sociodemográficas, indicador de saúde e qualidade de vida, estilo de vida (atividade física, hábitos alimentares, controle do estresse, comportamentos preventivos e relacionamentos), satisfação e controle da massa corporal.

    Esse instrumento foi preenchido pelos estudantes de maneira livre, no entanto, no intuito de sanar possíveis dúvidas a equipe de aplicação assistiu aplicação e informou os acadêmicos quando necessário. A variável dependente deste estudo foi o índice de massa corporal (IMC), obtido pelas medidas referidas de massa corporal (peso) e estatura. Foi utilizado o seguinte cálculo para obtenção do índice (peso divido pela estatura ao quadrado). Posteriormente, para a classificação foram categorizados em sem excesso de peso corporal os acadêmicos que apresentaram IMC < 25 kg/m2 e com excesso de peso corporal aqueles com IMC ≥ 25 kg/m2. A categoria com excesso de peso corporal foi analisada em relação às seguintes variáveis sociodemográficas, comportamentais e de autopercepção:

  • Sexo: masculino e feminino;

  • Faixa etária: ≤ 20 anos, 21 a 30 anos e ≥ 31 anos;

  • Renda familiar mensal, mediantes múltiplos de salário mínimo do ano de 2007: ≤ R$ 1.750,00 e ≥ R$ 1.751,00;

  • Anos de estudo no curso: ≤ 2 anos e > 2 anos;

  • Atividade física no lazer, mediante o relato da prática de exercícios físicos, tais como a ginástica, caminhada e corrida, além de esportes, danças ou artes marciais: ativo no lazer (referir a prática de atividade física em no mínimo um (01) dia por semana nas duas semanas anteriores a coleta de dados) e inativo no lazer (não referir à prática de atividade física no lazer);

  • Consumo de frutas/sucos e verduras/saladas: ≤ quatro dias por semana e ≥ cinco dias por semana; e consumo de carne vermelha gordurosa ou frango com pele sem remover a gordura visível, salgados (coxinhas, pastéis, empanados, acarajé e outras frituras) e doces (bolos, tortas, sonhos e sorvetes): nenhum dia e ≥ um (01) dia por semana;

  • Autopercepção de saúde, obtida pela pergunta “Como você classifica o seu estado de saúde atual?”: autopercepção positiva de saúde (excelente e bom) e autopercepção negativa de saúde (regular e ruim).

    A análise dos dados foi realizada no pacote estatístico SPSS versão 15.0 e os testes de estatística descritiva foram empregados (média, desvio padrão, mínimo, máximo, freqüência absoluta e relativa). Para a associação entre as variáveis foi utilizado o teste do Qui-quadrado (c2) e teste Fisher’s Exact e o valor de significância adotado foi de p < 0,05.

    Destaca-se que os estudantes que participaram do estudo PAFIS – UESC/BAHIA foram informados sobre a participação voluntária na pesquisa e a possibilidade de retirada do consentimento a qualquer momento. Todas as informações foram disponibilizadas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e assinado anteriormente à aplicação do instrumento, além disso, as informações sobre os objetivos e as características do estudo foram apresentadas de forma oral aos estudantes pelos aplicadores do instrumento.

Resultados

    Do total de 143 acadêmicos elegíveis a participar, 105 estudantes estavam nas salas de aulas e responderam o questionário. A idade média foi de 23,2 anos (dp=4,9; mínino=17 e máximo=42 anos). As características sociodemográficas, comportamentais e da autopercepção de saúde são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Análise descritiva dos indicadores sóciodemográficos, comportamentais e da 

autopercepção de saúde em acadêmicos de Educação Física no Nordeste do Brasil. 2007

Variáveis

N

%

Sexo

 

 

Masculino

60

57,1

Feminino

45

42,9

Faixa etária

 

 

≤ 20 anos

32

32,0

21 a 30 anos

58

58,0

≥ 31 anos

10

10,0

Renda familiar mensal‡

 

 

≤ R$ 1.750,00

49

52,1

≥ R$ 1.751,00

45

47,9

Anos de estudo no curso

 

 

≤ 2 anos

50

47,6

≥ 3 anos

55

52,4

Atividade física no lazer

 

 

Ativos

80

76,9

Inativos

24

23,1

Consumo de frutas/sucos

 

 

≥ 5 dias por semana

45

42,9

≤ 4 dias por semana

60

57,1

Consumo de verduras/saladas

 

 

≥ 5 dias por semana

49

46,7

≤ 4 dias por semana

56

53,3

Consumo de carne/frango

 

 

Nenhum dia por semana

31

29,5

≥ 1 dia por semana

74

70,5

Consumo de salgados

 

 

Nenhum dia por semana

12

11,5

≥ 1 dia por semana

92

88,5

Consumo de doces

 

 

Nenhum dia por semana

08

7,7

≥ 1 dia por semana

96

92,3

Autopercepção de saúde

 

 

Positiva

90

85,7

Negativa

15

14,3

Variável com maior número de observações ignoradas (n=11).

    Observou-se que a frequência de excesso de peso corporal (IMC ≥ 25 kg/m2) foi de 27,4% e somente associaram-se ao desfecho a faixa etária (p=0,03) e a autopercepção de saúde (p=0,02) (Tabela 2). As informações acerca da relação entre o excesso de peso corporal e os indicadores sóciodemográficos, comportamentais e de autopercepção são apresentadas na Tabela 2.

    A freqüência de excesso de peso corporal em acadêmicos inativos no lazer foi de 25,0% e naqueles que referiram hábitos alimentares de risco foram: consumo de frutas/sucos ≤ 4 dias por semana 31,5%, verduras/saladas ≤ 4 dias por semana 32,7%, carne/frango ≥ 1 dia por semana 30,3%, salgados ≥ 1 dia por semana 28,9% e doces ≥ 1 dia por semana 27,9% (Tabela 2).

Tabela 2. Freqüência de excesso de peso corporal de acordo com indicadores sóciodemográficos, comportamentais e da autopercepção de saúde em acadêmicos de Educação Física do Nordeste do Brasil. 2007.

Variáveis

Excesso de peso corporal

 

N

%

p

Sexo

 

 

0,35*

Masculino

16

31,4

 

Feminino

10

22,7

 

Faixa etária

 

 

0,03**

≤ 20 anos

04

13,3

 

21 a 30 anos

16

30,8

 

≥ 31 anos

05

55,6

 

Renda familiar mensal

 

 

0,39*

≤ R$ 1.750,00

10

23,3

 

≥ R$ 1.751,00

13

31,7

 

Anos de estudo no curso

 

 

0,35*

≤ 2 anos

10

22,7

 

> 2 anos

16

31,4

 

Atividade física no lazer

 

 

0,74*

Ativos

20

28,6

 

Inativos

06

25,0

 

Consumo de frutas/sucos

 

 

0,30*

≥ 5 dias por semana

09

22,0

 

≤ 4 dias por semana

17

31,5

 

Consumo de verduras/saladas

 

 

0,20*

≥ 5 dias por semana

09

20,9

 

≤ 4 dias por semana

17

32,7

 

Consumo de carne/frango

 

 

0,33*

Nenhum dia por semana

06

20,7

 

≥ 1 dia por semana

20

30,3

 

Consumo de salgados

 

 

0,72**

Nenhum dia por semana

02

18,2

 

≥ 1 dia por semana

24

28,9

 

Consumo de doces

 

 

1,00**

Nenhum dia por semana

02

25,0

 

≥ 1 dia por semana

24

27,9

 

Autopercepção de saúde

 

 

0,02*

Positiva

19

23,2

 

Negativa

07

53,8

 

% = Freqüencia; * Teste Qui-Quadrado; ** Teste Exact Fisher’s.

Discussão

    O excesso de peso corporal observado no presente estudo (27,4%) foi superior as prevalências observadas em outros estudos com universitários, tais como o estudo com estudantes alemães (STOCK et al., 2001) e egípcios (ABOLFOTOUH et al., 2007) que observaram prevalências de 6,5% e 25,3% respectivamente. Em universitários da região sul do Brasil, Loch et al. (2006) identificaram prevalência de excesso de peso corporal de 14,8%, em contrapartida, em universitários da região nordeste observou-se prevalência de excesso de peso corporal de 21,0% (FONTES; VIANA, 2009). Embora essa diferenciação, destaca-se que questões culturais e econômicas são fortes fatores associados ao sobrepeso e obesidade, contudo, no presente estudo não foi identificada relação da renda familiar mensal com o IMC.

    Quanto à população adulta e idosa do Brasil, mediante as informações do sistema de vigilância brasileiro (VIGITEL), observaram no levantamento realizado no ano de 2008 que a prevalência de excesso de peso corporal foi de 43,3% (BRASIL, 2009). Vale destacar que as recentes informações desse sistema demonstraram um aumento na prevalência de obesidade (IMC ≥ 30,0 kg/m2) desde 2006, ano de início do primeiro diagnóstico. As prevalências de obesidade observadas foram: 2006=11,4%, 2007=12,9% e 2008=13,0% (BRASIL, 2009).

    Essa tendência de aumento de excesso de peso corporal foi observada em populações de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Flegal et al. (2002) demonstram o crescimento da obesidade nos estados unidenses entre 1960 a 2000. Em estudo com trabalhadores da indústria foi observado um aumento da prevalência de excesso de peso corporal de 1999 a 2004 (NAHAS; FONSECA, 2004). O fenômeno do crescimento do número de casos de excesso de peso corporal, também é evidenciado em estudos com adolescentes, como observada em revisão sistemática realizada por Araújo et al. (2007) e em estudo realizado com adolescentes de 10 a 15 anos de São Paulo (CINTRA et al., 2007) e crianças e adolescentes dos Estados Unidos (HEDLEY et al., 2004).

    Ressalta-se que em outros estudos brasileiros são observadas prevalências elevadas de sobrepeso e obesidade, como em estudo com servidores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Bahia, Brasil, a prevalência de sobrepeso e obesidade foi 31,9% e 10,3% respectivamente (CAIRES et al., 2005). Em escolares da capital da Bahia (Salvador) a prevalência de obesidade foi de 15,8%, e ao comparar a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes do sul e nordeste observa-se proporção superior para os jovens do sul do Brasil, com os rapazes da região sul com maior prevalência de excesso de peso corporal que os rapazes do nordeste e o oposto nas moças (MAGALHÃES; MENDONÇA, 2003). Isso pode ter ocorrido em função de outros aspectos que podem influenciar na autopercepção de corpo desses jovens e assim contribuir para a adoção de hábitos de aumento da massa corporal em rapazes e diminuição nas moças, principalmente no sul.

    Valores superiores de excesso de peso corporal em rapazes universitários foram observadas em estudos realizados com alemães (STOCK et al., 2001), chineses (SAKAMAKI et al., 2005) e em estudos com acadêmicos brasileiros de Santa Catarina (LOCH et al., 2006; SIMÃO et al., 2006) e Brasília, Distrito Federal (MARCONDELLI et al., 2008). No presente estudo não houve diferença significativa do IMC entre o sexo. Possivelmente, por cursarem Educação Física esses acadêmicos adotam o hábito de prática de atividade física que conseqüentemente contribui para o controle do peso (MARCONDELLI et al., 2008), e principalmente a adoção de hábitos alimentares saudáveis, em especial para as mulheres. Pois, conforme observado em estudo realizado com acadêmicos de Brasília, mediante procedimentos de seleção de variáveis identificou-se que somente o sexo permanecia associado ao IMC (MARCONDELLI et al., 2008).

    Além disso, destaca-se maior frequência de excesso de peso corporal foi observada nos acadêmicos de idade superior (≥ 31 anos) quando comparados os mais jovens, essa diferença foi observada em estudo com acadêmicos da universidade do município de Lages, Santa Catarina (SIMÃO et al., 2006). Em estudo realizado com a população das 26 capitais brasileiras e o Distrito Federal observou-se o crescimento da prevalência de obesidade juntamente com o aumento da idade em homens até os 54 anos e em mulheres até os 64 anos (GIGANTE et al., 2009). A tendência ao acúmulo de gordura corporal ao longo dos anos representa um processo comum durante a vida e de forma rápida em homens e continuada em mulheres.

    Além disso, observou-se a não ocorrência de diferença na frequência de excesso de peso corporal nos acadêmicos com até dois anos de curso com aqueles com três ou mais anos. Apesar da influência exercida pelas atividades acadêmicas no comportamento dos estudantes, parece não haver diferença entre graduandos dos primeiros anos com os dos anos finais de curso quanto aos seus hábitos de vida (FRANCA; COLARES, 2008), sendo assim parece não exercer influência direta no IMC. Outro aspecto observado no presente estudo foi a não associação do consumo de alimentos protetores, além de outros componentes alimentares considerados de risco à saúde com o IMC, muito embora em outro estudo tenha sido evidenciado que maior escore para uma alimentação saudável representava fator de proteção contra o aumento do IMC para as mulheres e um maior consumo de frutas, verduras e legumes positivamente associado ao IMC em homens (SICHIERI; MOURA, 2009). Contudo, vale destacar a extrema relação exercida entre uma alimentação saudável, rica em frutas, verduras e legumes, assim como um baixo consumo de alimentos com grandes concentrações de gordura saturada para a manutenção do peso corporal (WHO, 2002), além da ampla relação entre distúrbios alimentares e maiores proporções de IMC (VITOLO et al., 2006).

    Em relação à prática de atividade física, amplamente difundida como um componente relacionado à manutenção da massa corporal (UNITED STATES DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES – USDHHS, 2008), destaca-se não ter sido observada diferenças estatísticas entre ativos e inativos no lazer no presente estudo. Em contrapartida, em estudo com a população das 27 cidades brasileiras observou-se relação negativa entre a frequência de prática de exercícios físicos com o IMC para as mulheres, ou seja, quanto à maior prática menor o IMC (SICHIERI; MOURA, 2009). Além disso, em servidores da UEFS observou-se menor prevalência de sobrepeso e obesidade naqueles funcionários que se exercitavam em academia (CAIRES et al.,2005).

    Outro a relação interessante foi uma maior proporção de excesso de peso corporal em universitários que apresentaram autopercepção negativa de saúde quando comparados aqueles que percebem positivamente a saúde. Além disso, adultos e idosos que referiram perceber seu nível de saúde como regular e ruim apresentaram maiores chances de excesso de peso corporal (GIGANTE et al., 2009). Em universitários egípcios que referiram saúde ruim foi observada maior proporção de sobrepeso quando comparados aqueles que autoperceberam a saúde como boa (ABOLFOTOUH et al., 2007). Importante destacar que autopercepção de saúde representa uma importante medida de saúde e predição de morbidade (SVEDBERG et al., 2006) e mortalidade (IDLER; ANGEL, 1990).

    Dentre as limitações cita-se a utilização de medidas referidas de peso e estatura que podem apresentar um possível viés de resposta (GIGANTE et al., 2009) e que conseqüentemente representam um índice de massa corporal geral (MAGALHÃES; MENDONÇA, 2003). Contudo, essa medida tem sido amplamente utilizada em outros estudos de base populacional, como no sistema de vigilância de fatores de risco e proteção brasileiro (BRASIL, 2009), em função da fácil obtenção das informações e por apresentar uma boa correlação com outros indicadores de risco à saúde. Além disso, o número pequeno de sujeitos envolvidos inviabilizou possíveis estratificações, pois, reduziriam o poder estatístico da análise. Contudo, o importante caracterizar a padronização da coleta de dados, assim como o período curto de realização que maximizam as informações obtidas, além de representar informações pertinentes acerca de um problema de saúde pública atual, e em especial em acadêmicos de Educação Física que representa uma das profissões que atuam diretamente com essa temática.

    Observou-se que dentre os fatores analisados, somente a idade e a autopercepção de saúde apresentaram associação com o IMC. Vale salientar que medidas de prevenção ao longo dos anos devem ser priorizadas, haja vista um aumento do acúmulo de gordura corporal com o passar dos anos, tendo como foco a promoção de hábitos saudáveis de vida e que conseqüentemente podem contribuir para uma melhor autopercepção de saúde.

    Destaca-se que o papel do profissional de Educação Física na prevenção e manutenção da obesidade é de extrema relevância, dessa forma os graduandos em Educação Física devem apresentar um ótimo nível de conhecimento sobre esse assunto e principalmente a possibilidade de utilização de medidas eficazes para a promoção da saúde, por meio de um estilo de vida ativo e saudável.

    Sugere-se que outros estudos sejam desenvolvidos em acadêmicos de Educação Física da região nordeste, assim como de outras regiões do Brasil, tendo em vista a necessidade de diagnóstico do perfil do estilo de vida desses acadêmicos, a fim de contribuir com futuras intervenções pautadas na melhoria dos conhecimentos e modos de vida desses futuros profissionais.

Agradecimentos

    Aos acadêmicos de Educação Física que participaram do presente estudo, a coordenação do curso e aos membros do Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde (GPAF), pelo apoio na realização da presente pesquisa.

Referências

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revista digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires, Junio de 2010  
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