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Análise do tempo no jogo de futsal

Análisis del tiempo de juego en el futbol sala

Time of analyze at indoor soccer in the game

 

*Universidad Autónoma de Asunción, UAA, Asunción, Paraguay

**Departamento de Jogos / EEFD, UFRJ, Rio de Janeiro

LABIMH-UFRJ/CNPq

***Centro de Excelência em Avaliação Física, CEAF

(Brasil)

Paulo Henrique Fernandes de Freitas*

José Fernandes Filho**

Paula Roquetti Fernandes***

giuph@globo.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo analisou a estrutura temporal do futsal masculino, através da partida final do Campeonato Mundial de Futsal de 2008. As variáveis analisadas foram o tempo de rally (TR), tempo de paralisação (TP), as situações de interrupção (SI) e a densidade entre o tempo de rally e o tempo de paralisação (DT). Os dados foram coletados, medindo-se o tempo com cronômetros e transcritos em planilhas específicas. Foram empregadas técnicas da estatística descritiva, valores de tendência central e a comparação entre os tempos de rally e paralisação através do teste estatístico de Mann-Whitney U, com significância de p<0,05. Durante o jogo se verificou uma mediana de 10 e 9 segundos para o tempo de rally e o tempo de paralisação, respectivamente, e ambos com uma concentração maior dos escores no intervalo de 0 a 10 segundos. Já a densidade de trabalho foi de 1.1:1. Não foram observadas diferenças significativas para p<0,05 entre os dois períodos de jogo para as variáveis estudadas. Estes resultados demonstram que no futsal predominam os esforços intermitentes de curta duração apontando para a predominância do metabolismo anaeróbico alático durante as ações específicas do jogo.

          Unitermos: Futsal. Análise temporal. Competição.

 

Abstract

          This study analyzed the temporal structure of male indoor soccer, through the World Championship final match in 2008. The analyzed variables were the rally time (TR), the pause time (TP), the interruption situations (SI) and the density between the rally time and the pause time (DT). The facts were collected, the time was measured with chronometers that were transcript in specific spreadsheets. In this study was used techniques of descriptive statistics, were employed values of central tendency and comparison among the rally times and pause through the Mann-Whitney U statistical test, mean at p<0,05. During the game a mean of 10 and 9 seconds was verified for the rally and pause time, respectively, and both with a higher concentration of the scores on the interval from 0 to 10 seconds. The density of work was 1.1:1. Significant differences were not observed at p<0,05 between the two periods of game to the studied variables. These results show that short-duration intermittent efforts are predominant in indoor soccer, pointing to the predominance of the alactic anaerobic metabolism during specific actions of the game.

          Keywords: Indoor soccer. Temporal analysis. Competition.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    O futsal surgiu oficialmente na década de 90, através da fusão entre o futebol de salão, praticado principalmente na América do Sul, e o futebol de cinco praticado na Europa e com essa fusão surgiram várias modificações nas regras, na maneira das equipes se organizarem ofensivamente e defensivamente e o ritmo do jogo atualmente é muito elevado(1). É um jogo de deslocamentos sem bola, de constante perda e recuperação da posse de bola, de cooperação, marcação intensa, de situações de igualdade, inferioridade e superioridade numérica, exigindo que os jogadores se desloquem por todas as posições de jogo e desempenhem múltiplas funções táticas(2).

    O futsal, como as modalidades esportivas coletivas, caracteriza-se por períodos de esforços de alta intensidade e curta duração, intercalados com períodos de pausas incompletas de baixa intensidade, estes são imprevisíveis, resultantes da espontaneidade do jogador, posição na quadra, disposição tática ou características próprias da partida(1). Sendo assim os esforços são de caráter intermitente, e a demanda metabólica sendo suprida pelos três sistemas energéticos, com predominâncias diferenciadas(3). Desta forma, através da informação recolhida a partir da análise do jogo, procura-se aumentar o conhecimento das demandas da atividade competitiva e já existem dados publicados com o futsal(4-6), entretanto as informações das variáveis relacionadas ao tempo de rally e tempo de paralisação são limitadas e para que possa ser adotado o treinamento que se aproxime das solicitações exigidas durante o jogo, mais pesquisas devem ser voltadas para as características específicas do esporte.

    Este estudo da análise do jogo de futsal de atletas de alto rendimento tem como objetivo quantificar e comparar os tempos de rally (TR) e tempos de paralisação (TP), e assim, identificar as situações de interrupção (SI) e verificar a densidade de trabalho (DT) entre o tempo de rally e o tempo de paralisação, com o propósito de estabelecer informações que contém definições de características extremamente específicas deste esporte.

Metodologia

Amostra

    Para a realização do estudo foi feita uma análise da filmagem do jogo da final do Campeonato Mundial de Futsal (2008), entre as equipes do Brasil e Espanha, quando foram identificados: tempos de rally (TR), período que a bola permanece dentro da quadra após ter sido colocada em jogo pelo goleiro ou jogador de linha; tempos de paralisação (TP), momento em que a bola sai pelas linhas limítrofes, ou quando a partida é interrompida pelo árbitro; as situações de interrupção (SI), que ocorrem quando a bola sai pelas linhas limítrofes da quadra (gol, reposição de bola, lateral e escanteio) ou quando a partida é interrompida pelo árbitro (falta, tiro de dez metros, pênalti, bola ao chão, pedidos de tempo e situações excepcionais) e a densidade de trabalho (DT), razão obtida entre o tempo de rally e o tempo de paralisação.

Instrumentação

    Para coleta dos dados foi utilizado um aparelho gravador de DVD (GRADIENTE/2005), acoplado à TV (LG/2006), para a gravação do jogo transmitida por um canal esportivo, e dois cronômetros da marca (CASIO/2008) para marcação dos tempos de rally e paralisação. Os avaliadores foram orientados de acordo com os procedimentos e condições propostas por Anguera(7), que propõe a utilização de dois observadores previamente treinados por um observador com maior experiência (treinador com notoriedade na modalidade) e foi utilizada a mesma filmagem do jogo avaliado. O índice de confiabilidade conseguido pelos avaliadores do estudo foi superior a 86%. Os dados obtidos foram transcritos em planilhas específicas elaboradas através da observação de outras pesquisas realizadas com o futsal(4, 5).

Análise estatística

    A análise estatística foi realizada através do programa computadorizado SPSS 11.5 for Windows, onde foram empregadas técnicas da estatística descritiva, identificando: mediana, valores mínimos e máximos, coeficiente de variação, distribuição de freqüência para determinar o percentual de ocorrências e a comparação entre os períodos de rally e os períodos de paralisação, para verificação de uma possível diferença entre os períodos, através do teste estatístico de Mann-Whitney U, após verificação da normalidade na distribuição dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov, ambos com significância de p<0,05.

Resultados

    As Tabelas 1 e 2 foram elaboradas para apresentar os dados do tempo de rally e da distribuição do tempo de rally no futsal masculino.

    Devido ao fato da elevada variabilidade obtida nos escores (coeficiente de variação > 20%), neste estudo a medida de tendência central utilizada foi a mediana.

Tabela 1. Dados descritivos do tempo de rally encontrado durante os períodos e o jogo

 

1º Período

2º Período

Jogo

N

87

75

162

Med #

10

13

10

Mín #

1

1

1

Max #

50

61

61

Cv (%)

87.1

85.6

86.6

N = tamanho da amostra; Med = mediana; Mín. = valor mínimo; Máx = valor máximo; # = valores em segundos; % = percentuais.

    Os escores do tempo de rally (Tabela 1) apresentaram uma duração total de 2400 segundos e uma mediana de (10), (13) e (10) segundos para os tempos de rally no 1º período, 2º período e no jogo respectivamente. A mediana maior no 2º período pode estar relacionada à fadiga muscular e a utilização de táticas de defesa (marcação linha 2 ou 3), que implica em uma transição defesa-ataque mais lenta. Entretanto, estes dados não apontaram para uma diferença significativa p=(0.375) entre os períodos do jogo.

Tabela 2: Distribuição da freqüência do tempo de rally encontrado durante os períodos e o jogo

Alto Rendimento

1º Período (%)

2º Período (%)

Jogo (%)

0-10 seg

56.5

46.6

51.3

11-20 seg

20.0

28.8

23.8

21-30 seg

15.3

15.1

15.6

> 30 seg

8.2

9.6

9.4

% = percentuais

    Quando observado a freqüência do tempo de rally (Tabela 2) verificou-se que existe no 1º período e 2º período uma distribuição maior no menor intervalo de rally (0-10 seg.), essa concentração foi ainda maior no 1º período proporcionando um aumento para o volume de rallies (Tabela 1). Durante o jogo ⅓ dos tempos de rally estão entre 0 a 20 segundos, com poucas ações para os intervalos (> de 20 seg.).

    Os resultados do tempo de paralisação, da distribuição do tempo de paralisação e do volume e o tempo das situações de interrupção são apresentados nas tabelas 3, 4 e 5.

Tabela 3. Dados descritivos do tempo de paralisação encontrado durante os períodos e o jogo

 

1º Período

2º Período

Jogo

N

89

77

166

Med #

9

9

9

Mín #

2

2

2

Max #

94

69

94

Cv (%)

112.2

92.6

103

N = tamanho da amostra; Med = mediana; Mín. = valor mínimo; Máx = valor máximo; # = valores em segundos; % = percentuais.

    Na Tabela 3 que demonstra o tempo de paralisação verificou-se um total de 2736 segundos excluindo o intervalo do jogo, a mediana encontrada no 1º período, 2º período e no jogo foi de 9 segundos. Estes resultados apontam para a existência de um padrão na distribuição do tempo de paralisação. Não foram verificadas diferenças significativas p=(0.828) entre os períodos de paralisação.

Tabela 4: Distribuição da freqüência do tempo de paralisação encontrado durante os períodos e o jogo

Alto Rendimento

1º Período (%)

2º Período (%)

Jogo (%)

0-10 seg

58.4

51.9

55.4

11-20 seg

21.3

16.9

19.3

21-30 seg

10.1

15.6

12.7

> 30 seg

10.1

15.6

12.7

% = percentuais

    Analisando a Tabela 4 que mostra a freqüência do tempo de paralisação, observa-se que no 1º período e 2º período os dados concentraram-se predominantemente no intervalo de 0 a 10 segundos e que em ocasiões escassas ocorrem paralisações prolongadas (>20 seg.). Este fato está relacionado com os tipos de situações de interrupção que mais aconteceram no jogo visto que o lateral e a reposição ocorrem com um tempo de duração menor (Tabela 5).

Tabela 5. Volume e o tempo das situações de interrupção encontrado durante os períodos e jogo

Situações de interrupção

1º Período

2º Período

Jogo

N

Med

N

Med

N

Med

Lateral

46

8

35

8

81

8

Reposição

22

7

17

5

39

7

Escanteio

11

6

11

21

22

18

Falta

8

29

7

21

15

29

Tempo

2

90

1

63

3

85

Gol

_____

_____

4

51

4

51

Bl ao chão

_____

_____

2

33

2

33

N = tamanho da amostra; Med = mediana.

    Os resultados do volume e o tempo das situações de interrupção (Tabela 5) mostram no 1º período uma concentração maior para o lateral em relação ao 2º período. Este resultado pode estar associado a uma melhor condição física, o que possibilita um aumento de combatividade das equipes.

    Para alcançar um maior conhecimento do perfil das exigências de solicitação do futsal, verificou-se a densidade de estímulo que está associada com a relação temporal entre o esforço e o descanso(8). Os valores demonstram que durante o jogo foi verificado um escore de 1.1:1. Este resultado aponta para uma participação do sistema anaeróbico alático e lático, notando-se uma predominância aeróbica, de alta intensidade(9).

Discussão

Tempo de rally

    O escore encontrado na Tabela 1 para o tempo de rally é similar ao encontrado por Barbero(4) (8.9 seg.), em jogos de futsal da Liga Nacional Espanhola e Soares et al.(6) (10.55 seg.), entre equipes profissionais de futsal do (RS). Os resultados verificados acima apontam para uma maior participação do metabolismo anaeróbico alático durante as ações específicas do jogo.

Freqüência do tempo de rally

    Os dados da Tabela 2 para a distribuição de freqüência do tempo de rally demonstraram resultados semelhantes aos valores observados por Garcia(5) (75%), para o intervalo de 1 a 18 segundos e inferiores aos escores obtidos por Barbero(4) (75,96%), entre 0 a 10 segundos, todos os estudos realizados com o futsal. O volume menor dos dados no menor intervalo no 2º período (Tabela 2) está relacionado à fadiga muscular e aos escores encontrados com o futsal na verificação da concentração de lactato no sangue(10) e das variáveis freqüência cardíaca, distância percorrida por minuto e de alta intensidade(1).

Tempo de paralisação

    O valor verificado na Tabela 3 para o tempo de paralisação é menor ao observado por Barbero(4) (12.2 seg.). A presença de “boleiros” indivíduos que fazem à coleta de bolas e a televisão para a transmissão do jogo ao vivo podem ter influenciado na diminuição deste escore em relação ao resultado obtido no estudo anterior. Os valores verificados para o tempo de paralisação mostram um aumento da participação do sistema anaeróbico, e conseqüentemente se eleva a dependência da potência aeróbica para restabelecimento dos níveis de ATP/CP e remoção do lactato para o esforço subseqüente.

Freqüência do tempo de paralisação

    Os resultados observados na Tabela 4 da freqüência do tempo de paralisação foram semelhantes aos escores encontrados por Barbero(4) (51.4%), no intervalo de 0 a 10 segundos e inferiores aos valores verificados por Garcia(5) (83%), entre 0 a 15 segundos. Os dados observados no jogo para as paralisações de 0 a 20 segundos (Tabela 4), estão associados com os resultados verificados por Alvarez et al.(11) e Alvarez et al.(1), que observaram um percentual de 6.9% para a freqüência cardíaca abaixo de 150 spm e 85% para o ritmo cardíaco máximo durante 83% do jogo respectivamente, já que os mesmos demonstram que os períodos de intervalos curtos no futsal predominam.

Situações de interrupção

    Os escores da Tabela 5 do volume e o tempo das situações de interrupção apresentaram-se semelhantes aos obtidos por Barbero(4) e Soares et al.(6). Tais informações contribuem para verificar a demanda do jogo e a organização de jogadas ensaiadas ao longo da partida.

Densidade de trabalho

    O resultado deste estudo para a densidade de estímulo indica que os jogadores realizaram um tempo de rally maior que o tempo de paralisação, o que não corrobora com as afirmações de Barbero(4), que encontrou uma relação de esforço/pausa de 1:1.4, indicando assim uma pausa superior. Contudo Garcia(5), verificou resultado semelhante ao estudo em questão, quando observou uma relação entre o tempo de esforço e paralisação de 1:1.

Conclusão

    A verificação da estrutura temporal das atividades esportivas coletivas, cujo formato atende a execução de atividades de natureza intervalada sugere a verificação não somente do esforço, mas também da pausa e sua respectiva densidade.

    Desta forma, os escores verificados no jogo foram: 10 segundos para o tempo de rally, 9 segundos para o tempo de paralisação e uma densidade de trabalho de 1.1:1. Entretanto, neste estudo foi relatado que, durante o 2º período ocorreu uma diminuição dos escores de 0 a 10 segundos para o tempo de rally fato este associado à fadiga muscular. Isto demonstra que as substituições podem se tornar uma estratégia interessante a ser utilizada durante o jogo.

    Sendo assim, estas informações permitem estabelecer um padrão da atividade competitiva, proporcionando parâmetros para elaboração de um modelo de treinamento intervalado no futsal seja físico, técnico, ou tático.

Referências bibliográficas

  1. ALVAREZ JCB, SOTO VM, BARBERO-ALVAREZ V, GRANDA-VERA J. Match analysis and hear trate of futsal players during competition. Journal of Sports Sciences. 2008;1(26):63 - 73.

  2. SOARES BH, FILHO HT. Análise da distância e intensidade dos deslocamentos, numa partida de futsal, nas diferentes posições. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. 2006 Abril e Junho;20(2):93 - 101.

  3. MEDINA J. A. OES, SALILLAS L. G., MARQUETA P. M., VIRÓN P.C. Perfil cardiovascular en el fútbol-sala. Respuesta inmediata al esfuerzo. 2001;XVIII(83):193-204.

  4. BARBERO JC. Análisis cuantitativo de la dimensión temporal durante la competición en fútbol sala. European Journal of Human Movement. 2003;10:143-63.

  5. GARCIA GA. Caracterización de los esfuerzos en el fútbol sala basado en el estudio cinemático y fisiológico de la competición. EFDeportes.com, Revista Digital, Nº 77, 2004. http://www.efdeportes.com/efd77/futsal.htm

  6. SOARES ESO, SIGNOR, J., SOARES B. Quantificação nas situações de jogo no futsal XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte da Ciência Básica para a Ação Efetiva 2004 outubro; São Paulo; 2004. p. 307.

  7. ANGUERA MT. Manual de prácticas de observación. Méjico: Trillas; 1987.

  8. LA ROSA AF. Treinamento desportivo carga, estrutura e planejamento. São Paulo: Phorte Editora; 2001.

  9. DANTAS PMS, FERNANDES FILHO J. Correlação entre dermatoglifia, Vo2máximo, impulsão vertical e % g em atletas adultos do Vasco da Gama, modalidade de futsal. Caxambu /MG. 2001 outubro;1(1):197.

  10. MOLINA R. Lactato sanguíneo em partida de futsal: relações com o condicionamento físico e com desempenho. Rio Claro: UNESP; 1996.

  11. ÁLVAREZ JCB, VERA, J. G., HERMOSO, V. M. S. Análisis de la frecuencia cardíaca durante la competición en jugadores profesionales de fútbol sala. Educación Física y Deportes. 2004:71-8.

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