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A prática pedagógica das disciplinas de Educação Física 

e Estudos Sociais nos anos iniciais do ensino fundamental

La práctica pedagógica de las disciplinas Educación Física y Estudios Sociales en los primeros años de la enseñanza básica

 

*Bacharel em Educação Física pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS

Professor de Educação Física da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul

**Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do RS, PUR, RS

Professora do curso de História da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS

(Brasil)

André Luis da Silva*

tuti12@yahoo.com.br

Claudia Schemes**

claudias@feevale.br

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo procura identificar como se dá a prática pedagógica das disciplinas de Educação Física e Estudos Sociais nos anos iniciais do ensino fundamental. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo qualitativa, que buscou analisar as relações entre a formação dos professores nas disciplinas mencionadas e a sua aplicação na sala de aula.

          Unitermos: Educação Física. Estudos Sociais. Prática pedagógica.

 

Abstract

          This article aims to identify how pedagogy practice happens in the teaching of Physical Education and Social Studies in the first years of education. The metodology used was the qualitative research, which tried to analyse the links between the training of teachers in the subjects mentioned and the way they are applied in the classroom.

          Keywords: Physical Education. Social Studies. Pedagogy practice.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    Este artigo partiu de reflexões e conversas informais de uma professora de Estudos Sociais e um professor de Educação Física a respeito das dificuldades encontradas por professores dos anos iniciais do ensino fundamental em lecionar essas duas disciplinas que requerem uma formação específica, e que a maioria das instituições que formam os professores, tanto em nível de ensino médio quanto superior, não contempla.

    A prática pedagógica nos anos iniciais é um assunto que nos inquieta há bastante tempo, e, através da experiência de sala de aula, observamos que nem todas as áreas do conhecimento são bem trabalhadas pelos professores e aceitas pelos alunos.

    Nossa experiência mostrou que alguns professores não gostam de ministrar disciplinas ou trabalhar com áreas do conhecimento que não fazem parte de sua formação principal, que é mais generalista.

    Essa constatação nos instigou a realizar uma pesquisa para podermos iniciar uma discussão a respeito da concepção pedagógica desses profissionais. Nossos problemas principais de pesquisa são os seguintes: de que forma um professor sem formação específica em Estudos Sociais e Educação Física trabalha com essas disciplinas nos anos iniciais? Quais suas dificuldades? Como os alunos vêem essas disciplinas?

    Partimos da hipótese de que os professores encontram dificuldades em trabalhar ambas as disciplinas, mas por motivos diferentes. A Educação Física, mesmo exigindo conhecimentos específicos como qualquer outra matéria, é muito bem recebida pelos alunos, o que facilita o trabalho do professor, enquanto que as disciplinas que envolvem os Estudos Sociais, não são tão bem vindas, pois normalmente são trabalhadas de forma muito tradicional, na qual os alunos são mais ouvintes que participantes.

Pesquisa de campo: a prática pedagógica dos professores das séries iniciais

    Para podermos iniciar uma discussão a respeito das questões por nós levantadas, realizamos uma pesquisa de campo com professores de 1ª a 4ª série de uma escola da rede pública e uma da rede privada, totalizando oito professores.

    Como esta pesquisa visa compreender o comportamento de um grupo de pessoas frente a um determinado contexto, o paradigma que melhor proporciona a abordagem do tema é a pesquisa qualitativa.

    A pesquisa qualitativa é descritiva, na qual a palavra escrita ocupa lugar de destaque e desempenha um papel fundamental, tanto no processo de obtenção das informações, quanto na disseminação dos resultados. Nela, os investigadores partem de questões ou focos de interesse amplos que vão se tornando mais diretos e específicos no transcorrer da investigação.

    O paradigma qualitativo tem como principal interesse a compreensão e interpretação das informações coletadas juntamente com o que significam para as pessoas, suas intenções e ações.

    Segundo TAYLOR e BOGDAN (1987), o pesquisador qualitativo busca informações descritivas para sua pesquisa através de entrevistas, observações, pesquisas, documentos e outras fontes descritivas.

    A forma de coleta de dados utilizada foi a entrevista semi-estruturada que, segundo NEGRINE (1999), constitui uma estratégia que permite ao entrevistador o estabelecimento de um vínculo maior com o entrevistado e uma maior profundidade nas questões abordadas. Esse tipo de entrevista, em geral, parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogações, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebe as respostas do informante. (TRIVIÑOS, 1990)

    A validade na pesquisa qualitativa se dá de forma natural e direta, pois o pesquisador à medida que se aprofunda no estudo vai buscando referências para, desta forma, poder validar os dados que estão sendo coletados. Já a fidedignidade da entrevista refere-se à consistência dos dados e a repetibilidade dos resultados, em se repetindo os mesmos procedimentos em situação semelhante. (BRESSAN, 2000)

    Para uma pesquisa qualitativa é necessário que o pesquisador busque dentro da literatura disponível o máximo de informações sobre o objeto de estudo para que, assim, quando chegar a fase de interpretação de dados, este possa comparar aquilo que foi coletado com o que foi pesquisado.

    A análise utilizada para a sistematização das entrevistas foi a análise de conteúdo que, segundo BARROS e LEHFELD (1990), se constitui num conjunto de instrumentos metodológicos, que asseguram a objetividade, sistematização e influência aplicadas aos discursos diversos.

    BARDIN apud TRIVIÑOS (1990, p.160), diz que “análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores qualitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimento relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) das mensagens”.

    A análise de conteúdo apresenta algumas peculiaridades, sendo que uma delas é a de analisar as comunicações entre as pessoas, colocando ênfase no conteúdo das mensagens, e o investigador que se utiliza da análise de conteúdo, além de analisar os conteúdos escritos de documentos, entrevistas e outras formas de coleta de dados, deve também avaliar tudo aquilo que está por trás das inferências de cada pesquisado ou do objeto de estudo.

    Segundo LÜDKE e ANDRÉ (1986), a classificação e organização dos dados preparam uma fase mais complexa da análise, que ocorre à medida que o pesquisador vai reportar os seus achados. Para apresentar os dados de forma clara e coerente, ele provavelmente terá de rever as suas idéias iniciais, repensá-las e novas idéias podem então surgir nesse processo. Para os mesmos autores, após a coleta de dados, inicia-se um passo importante para a pesquisa que é a análise deste material para que seja feita a divisão e a construção de um conjunto de categorias descritivas, sempre baseadas no referencial teórico do projeto.

    Em alguns casos, pode ser que essas categorias iniciais sejam suficientes, pois sua amplitude e flexibilidade permitem abranger a maior parte dos dados. Em outros casos, as características específicas da situação podem exigir a criação de novas categorias.

    Segundo LÜDKE e ANDRÉ (1986) é preciso que a análise não se restrinja ao que está explícito no material, mas procure ir mais a fundo, desvelando mensagens implícitas, dimensões contraditórias e temas sistematicamente “silenciados”.

    As categorias que privilegiamos nas entrevistas foram a formação dos professores, as dificuldades encontradas por eles e a recepção dos alunos a essas disciplinas sob a ótica dos professores.

    Em relação à primeira categoria, percebemos que os professores que tem curso superior na área de Pedagogia tiveram algumas disciplinas que envolvem as questões do corpo e de Estudos Sociais e, em alguns casos, as disciplinas de Metodologia de Ensino de Educação Física e de Estudos Sociais, já as professores que tem apenas o curso de magistério de nível médio reclamaram que tiveram uma formação muito pobre nas disciplinas específicas.

    Dentre as respostas dos professores, destacamos:

    “Eu acredito que o magistério não forme o professor para a prática de Educação Física, nada é muito aprofundado. Dizer que o jogo é bom para a 4ª série é uma coisa, mas saber qual é o benefício que esse jogo traz, isso o magistério não te ensina.”

    “Não tive uma preparação específica para trabalhar com História. Sendo assim, quando sinto dificuldades procuro ler, pesquisar, trocar idéias e sanar dúvidas com os professores desta área.”

    “Sempre buscamos apoio dos outros professores de História da escola para nos auxiliarem nas questões mais pontuais, uma vez que nossa formação é mais geral.”

    “Os profissionais da área de Educação Física nos auxiliam trazendo livros e jogos para que possamos aplicar em nossos alunos.”

    Observamos, portanto, em relação às dificuldades encontradas pelas professoras, que tanto aquelas com curso superior, quanto as formadas em magistério não se consideram totalmente preparadas para as aulas específicas, pois muitas vezes sua formação foi muito mais teórica que prática. Essas professoras suprem esses problemas com as dicas e orientações de colegas que trabalham em séries mais adiantadas e que possuem formação superior, dando-lhes sugestões de atividades que podem ser utilizadas em sala de aula e com adaptações daquilo que aprenderam na faculdade.

    As professoras, na sua maioria, têm liberdade na hora de planejarem as suas aulas, mas o problema que percebemos é que elas não sabem se estão trabalhando da forma correta:

    “Eu me sinto frustrada por não saber se estou trabalhando bem ou não.”

    “Muitas vezes fico insegura quando vou preparar alguma aula, pois não sei se estou usando a metodologia correta, se estou atualizada, etc.”

    Outra questão que nos chamou a atenção, ainda relacionada com a questão da formação, diz respeito à memória dos professores em relação às aulas que tiveram quando eram crianças. Alguns professores reproduzem aquilo que faziam quando eram alunos e outros procuram se afastar do tipo de aula que tinham, pois não gostavam da forma como as aulas eram dadas.

    Uma professora relatou que quando era criança suas aulas de Educação Física estavam muito mais direcionadas para a competição, portanto, para ela, a atividade física estava sempre relacionada com o rendimento dos alunos.

Outra disse que: “Sempre detestei as aulas de Estudos Sociais, pois a professora falava demais! Hoje procuro fazer o contrário disso.”

    Sobre a receptividade dos alunos a essas disciplinas, pudemos perceber que as aulas de Educação Física são bem recebidas por todos os alunos:

    “Os alunos adoram sair da sala de aula para realizar uma atividade diferente, mesmo que seja apenas um jogo com bola.”

    “Nunca tive aluno que reclamasse de ter que ir pra aula de Educação Física.”

    “Os alunos adoram todo tipo de atividade que envolve o corpo.”

    Em relação às aulas de Estudos Sociais, notamos que nem sempre as mesmas são recebidas tão bem quanto as de Educação Física:

    “Os alunos gostam de fazer atividades diferentes, como pesquisas na internet, entrevistas com avós, alguns jogos pedagógicos de Estudos Sociais, mas não gostam muito quando tem que ficar nos seus lugares escutando muita falação.”

    “Sempre procuro realizar atividades diversificadas quando tenho que trabalhar algum conteúdo de Estudos Sociais, justamente pra desmistificar a idéia de que essas disciplinas são chatas.”

    Esse tipo de entrevista por nós realizada, conforme salienta Negrine (1999), permitiu o estabelecimento de um vínculo maior com o entrevistado e uma maior profundidade nas questões abordadas, já que pudemos conversar, não só a respeito de questões objetivas, mas também um pouco sobre suas histórias de vida que constituem um elemento importante na formação pedagógica de cada educador.

    Além das entrevistas, as observações realizadas por nós no dia-a-dia do magistério nos autorizam a levantar algumas hipóteses e procurar testá-las, mesmo que apenas introdutoriamente.

Considerações finais

    A literatura disponível a respeito da prática de ensino em sala de aula, dificilmente aborda de forma comparativa duas áreas do conhecimento tão distintas quanto os Estudos Sociais e a Educação Física. E foi isso que nos instigou a realizar essa breve pesquisa para podermos iniciar uma discussão sobre a formação de professores, suas dificuldades e de que forma eles vêem a recepção das suas aulas pelos alunos.

    As especificidades dos conhecimentos discutidos nesse artigo, seus objetos de estudo, seus procedimentos científicos e objetivos éticos trazem, contudo, a necessidade de uma formação teórica sólida nas disciplinas e em suas metodologias, o que percebemos que não ocorre nos espaços de formação dos professores das séries iniciais, gerando uma lacuna a ser preenchida.

    As nossas hipóteses iniciais foram parcialmente confirmadas, pois observamos que, realmente, as professoras encontram dificuldades em trabalhar as disciplinas específicas, ou por causa de sua formação deficitária, ou até por causa de sua memória escolar.

    Quanto à recepção por parte dos alunos, observamos que vai depender muito mais de como as aulas são conduzidas do que especificamente da disciplina lecionada. Sempre que o professor propõe uma atividade dinâmica, criativa, interativa, os alunos gostam, e o contrário também é verdadeiro, pois quando é proposta uma atividade na qual o aluno é mero receptor de informações, o seu interesse diminui sensivelmente.

    Acreditamos que essa discussão está em seus passos iniciais e muitas outras pesquisas devem ainda ser realizadas, mas essa discussão é importante no momento em que se discute a qualidade do ensino no Brasil e a importância de uma formação adequada dos professores.

Referencias bibliográficas

  • BARROS, Adil de Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de Pesquisa: propostas metodológicas. Petrópolis: Vozes, 1990.

  • BRESSAN, Flávio. O Método do Estudo de Caso. Administração On Line. Volume 1 Número 1. São Paulo, SP, 2000.

  • FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Didática de educação física: formulação de objetivos. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara, 1987.

  • FERREIRA, Vera Lucia Costa. Prática da educação física no 1º grau: modelo de reprodução ou perspectiva de transformação?. São Paulo, SP: IBRASA, 1984.

  • GODOY, Arlida Schmidt. Introdução à Pesquisa Qualitativa e Suas Possibilidades. Revista de Administração de Empresas, São Paulo: v.35, n.2, p. Mar/Abr. 1995.

  • LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

  • NEGRINE, Airton. O Ensino da Educação Física. Rio Grande do Sul: Globo, 1983.

  • PORTELLA, Rosalva Alves; CHIANCA, Rosaly Maria Braga. Didática de estudos sociais. 6. ed. São Paulo, SP: Ática, 1999.

  • SCHÄFFER, Margareth; BONETI, Rita V. F.; AZAMBUJA, Leonardo D. de; ADAMS, Francisco Silvério. O ensino em estudos sociais. Ijuí, RS: UNIJUÍ, 1991.

  • SCHEMES, Claudia; REICHERT, Inês Caroline. Formação de professores de história em um projeto de articulação com a Escola de Aplicação: relato de uma experiência. OPSIS, Catalão, GO, v. 7, n. 9, p. 269-278, jul.-dez. 2007.

  • TAYLOR, S. J.; BOGDAN, R. Introducción a Los Métodos Cualitativos de Investigación. Buenos Aires, Argentina, 1987.

  • TRIVIÑOS, A. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1990.

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