efdeportes.com

Comparação dos comportamentos tácticos realizados por

futebolistas de quatro escalões do futebol no teste ‘GR3-3GR’

Comparación de las acciones tácticas realizadas por jugadores de fútbol de cuatro categorías del fútbol en la prueba ‘GR3-3GR’

Comparing tactical behaviours of youth soccer teams through the test ‘GK3-3GK’

 

*Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG, Brasil

**Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil

***Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal.

****Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto

CIFI2D, FADEUP, Portugal

Prof. Ms. Israel Teoldo da Costa* *** | Prof. Dr. Júlio Garganta*** ****

Prof. Dr. Pablo Juan Greco** | Profa. Dra. Isabel Mesquita*** ****

Prof. Ezequiel Müller*** | Prof. Bernardo Silva***

Prof. Daniel Castelão***

israelteoldo@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve por objetivo comparar os comportamentos tácticos realizados por jogadores de Futebol pertencentes a quatro escalões, através do teste “GR3-3GR”. Foram analisadas 2853 acções tácticas desempenhadas por 52 jogadores das categorias Sub-11, Sub-13, Sub-15 e Sub-19 de quatro clubes portugueses. Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS. Foi realizada a análise descritiva e análise estatística a partir dos testes Kolmogorov-Smirnov, Qui-quadrado e Kappa de Cohen. Verificou-se diferenças significativas entre os escalões para as acções tácticas em função dos “princípios de jogo” e “localização”. Constata-se que os jogadores do escalão de Sub-19 mantém mais a posse de bola em busca da melhor solução para a sequência da jogada e que, em termos percentuais, os jogadores do escalão Sub-13 se posicionam mais atrás da linha da bola quando a sua equipa está em processo ofensivo. Conclui-se que os comportamentos tácticos de jogadores de futebol apresentam diferenças entre escalões, o que requer dos treinadores uma elevada capacidade de sistematização do processo de formação dos jogadores.

          Unitermos: Comportamentos tácticos. Princípios de jogo. Futebol

 

Abstract

          This study aimed to compare the tactical behaviours performed by youth soccer players from four different age groups, using the “GK3-3GK test”. For such a purpose, 52 players (16 Under-11s, 12 Under-13s, 12 Under-15s and 12 Under-19s) from four Portuguese teams have been analyzed. These players performed 2853 tactical actions. It was carried out descriptive analysis, Kolmogorov-Smirnov, Chi-square and Kappa de Cohen. The results point up significant statistical differences between the youth teams for tactical actions performed according to game principles and place of action (p≤0.05). Statistical differences were found on the "Defensive Unity" between Under-11 and Under-13 players (p=0.03). Another differences can be seen regarding the principles of "Penetration", "Defensive Coverage" and "Balance", between Under-15 and Under-19 (p=0.00). It is also possible to assert that Under-19 players show of the highest time of ball possession and Under-13 players were placed many times behind the line of the ball while they are attacking. In conclusion, it is stated that tactical behaviours performed by soccer players are different, concerning players' age. Thus, it is recommendable that the coach should have great knowledge and evaluation about abilities and difficulties of each player to improve them with the training process.

          Keywords: Tactical behaviours. Game principles. Soccer

 

Agradecimento

          Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Européia para América Latina, bolsa nº E07D400279BR.

Esse trabalho foi apresentado na forma de pôster no I International Symposium of Sports Performance: Performance Enhanced by Bridging the Gap between Theory and Practice, Vila Real, Portugal – Julho 2009

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

1 / 1

Introdução

    Nas últimas décadas as capacidades tácticas e os processos cognitivos têm sido considerados essenciais para a performance de jogadores e equipas de Futebol (1-2). O crescimento do interesse de pesquisadores por esses tópicos tem contribuído para o aumento das investigações que objectivam compreender e caracterizar as acções do jogo no âmbito organizacional individual e colectivo (3).

    Para analisar o jogo e obter informações a respeito do desempenho dos jogadores e equipas, alguns investigadores têm recorrido à Análise Notacional (4) e/ou à Metodologia Observacional (5) as quais possibilitam aceder a conhecimentos relevantes sobre os comportamentos dos jogadores e retirar ilações a propósito das tendências evolutivas do jogo.

    Diante disto, e na medida em que evidências científicas revelam que o conhecimento táctico processual pode ser diverso entre jogadores de diferentes escalões de formação (6), com o presente estudo pretende-se comparar os comportamentos tácticos realizados por jogadores de Futebol pertencentes a quatro escalões, através do teste “GR3-3GR”.

Material e métodos

Amostra

    Foram analisadas 2853 acções tácticas desempenhadas por 52 jogadores das categorias Sub-11, Sub-13, Sub-15 e Sub-19 de quatro clubes portugueses. Não foram analisadas as acções em que não houve movimentação do jogador.

Instrumento

    O instrumento utilizado para a recolha e análise de dados foi o teste “GR3-3GR” desenvolvido no Centro de Estudos dos Jogos Desportivos da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O teste visa avaliar as acções tácticas desempenhadas por cada um dos jogadores participantes, de acordo com dez princípios tácticos fundamentais do jogo de Futebol, tendo em conta a localização e o resultado final das mesmas, num campo reduzido de 36m x 27m, durante 4min.

Procedimento

    Após a definição das equipas, os atletas foram informados sobre os objectivos do teste. Posteriormente, foram concedidos 30 segundos para “familiarização”, findos os quais se deu início ao mesmo.

Material

    A gravação dos jogos efectuada a partir de uma câmara digital PANASONIC NV – DS35EG. As imagens foram introduzidas em formato digital num computador portátil via cabo (IEEE 1394). Para o processamento dos dados foram utilizados os softwares Utilius VS e Soccer Analyser.

Análise estatística

    Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows®, versão 17.0. Foi realizada a análise descritiva (frequência, percentual) para as variáveis (princípio de jogo, localização e resultado da acção). Após aplicação do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov (p≤0,05), recorreu-se ao teste Qui-quadrado (c²), com um nível de significância p≤0,05, para verificar a associação entre as frequências de realização dos princípios de jogo para os quatro escalões avaliados. O teste Kappa de Cohen foi utilizado para aferir as fiabilidades intra e inter-observadores.

Análise da fiabilidade

    As observações foram realizadas por três observadores treinados que possuíam concordâncias inter-observadores de 0,93 (erro padrão=0,014), 0,82 (erro padrão=0,022) e 0,85 (erro padrão=0,020). Para efeitos de aferição da fiabilidade intra-observador, foram reavaliadas 1008 acções tácticas desempenhadas dos jogadores, o que representa 35,3% da amostra, portanto, uma percentagem acima do valor de referência (10%) apontado pela literatura (7). Os resultados da fiabilidade intra-observadores exibiram valores de Kappa de 0,95 (erro padrão=0,014), 0,89 (erro padrão=0,022) e 0,92 (erro padrão=0,018) para os três avaliadores, que também são superiores aos valores de referência (0,61) apontados pela literatura (8).

Resultados e discussão

    A Tabela 1 apresenta a frequência das acções tácticas em função dos princípios de jogo, localização e resultado da acção.

    Verifica-se na Tabela 1 que a média de acções por atleta no escalão Sub-19 é superior à verificada para os demais escalões, provavelmente devido à maior frequência de passes realizados entre os jogadores no Meio Campo Defensivo onde o risco de perder a bola é menor. Já os atletas da categoria Sub-11 apresentaram maior número de acções do que os Sub-13, o que pode ser explicado pelas maiores dificuldades no controlo de bola, o que aumenta o número de acções fragmentadas.

Tabela 1. Princípios, localização e resultados das acções tácticas decorrentes do teste “GR3-3GR”

 

SUB-11 (16)

SUB-13

(12)

SUB-15

(12)

SUB-19

(12)

PRINCÍPIOS

N

%

N

%

N

%

N

%

Penetração*

48

5,4

28

6,1

36

5,2

47

5,8

Cobertura Ofensiva

112

12,6

57

12,5

104

14,9

103

12,8

Espaço

165

18,5

55

12,0

140

20,0

148

18,3

Mobilidade de Ruptura

37

4,2

16

3,5

31

4,4

25

3,1

Unidade Ofensiva

51

5,7

57

12,5

25

3,6

64

7,9

Contenção

81

9,1

39

8,5

54

7,7

45

5,6

Cobertura Defensiva*

3

0,3

1

0,2

7

1,0

3

0,4

Equilíbrio*

118

13,3

45

9,8

97

13,9

103

12,8

Concentração

67

7,5

31

6,8

63

9,0

57

7,1

Unidade Defensiva*

208

23,4

128

28,0

142

20,3

212

26,3

LOCALIZAÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

- PRINCÍPIOS OFENSIVOS

 

 

 

 

 

  

 

 

Meio Campo Ofensivo*

194

21,8

119

26,0

135

19,3

145

18,0

Meio Campo Defensivo

219

24,6

94

20,6

201

28,8

242

30,0

- PRINCÍPIOS DEFENSIVOS

 

 

 

 

 

 

 

 

Meio Campo Ofensivo

215

24,2

80

17,5

209

29,9

192

23,8

Meio Campo Defensivo

262

29,4

164

35,9

154

22,0

228

28,3

RESULTADO

 

 

 

 

 

 

 

 

- FASE OFENSIVA

 

 

 

 

 

 

 

 

Remate à Baliza

29

3,3

22

4,8

28

4,0

29

3,6

Manutenção da Posse de Bola

290

32,6

149

32,6

236

33,8

317

39,3

Perda da Posse de Bola

94

10,6

42

9,2

72

10,3

41

5,1

- FASE DEFENSIVA

 

 

 

 

 

  

 

  

Recuperação da posse de Bola

106

11,9

40

8,8

72

10,3

44

5,5

Posse de Bola do Adversário

341

38,3

180

39,4

263

37,6

356

44,1

Remate do Adversário à Baliza

30

3,4

24

5,3

28

4,0

20

2,5

Média de Acções por Atleta

55,6

 

38,1

 

58,3

 

67,3

 

Desvio Padrão

11,8

 

7,1

 

11,7

 

5,2

 

TOTAL

890

 

457

 

699

 

807

 

(*) Diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05) entre os escalões de Sub-11 e de Sub-13 no princípio “Unidade Defensiva” e entre Sub-15 e Sub-19 (p=0,003) para os

 princípios de “Penetração”, “Cobertura Defensiva” e “Equilíbrio”. Para os Principios Ofensivos efetuados no Meio Campo Ofensivo entre Sub-13 e Sub-11, Sub-15 e Sub-19.

    Na mesma Tabela pode observar-se que as maiores frequências percentuais para as acções ofensivas em função dos princípios de jogo nos escalões Sub-11, Sub-15 e Sub-19 dizem respeito ao princípio “Espaço”. A categoria Sub-13 difere das demais no que toca ao princípio “Unidade Ofensiva”, porque, não raramente, os atletas desta faixa etária se situam com maior frequência atrás da linha da bola e fora do centro de jogo quando a equipe está em situação de ataque.

    No âmbito defensivo, a frequência mas elevada de acções em função dos princípios pertencem ao princípio “Unidade Defensiva”, para todas as categorias. No entanto, para os Sub-15 o percentual é reduzido em relação aos outros escalões. Também se verifica que o percentual relativo ao princípio “Equilíbrio” é inferior para os Sub-13, o que leva a supor que defensivamente os jogadores desse escalão não se aproximam tanto do “centro de jogo” quanto os jogadores dos outros escalões, até porque no princípio “Unidade Defensiva” apresentam um valores superiores.

    Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para as acções tácticas em função dos princípios de jogo apenas entre os escalões de Sub-11 e de Sub-13 (p=0,029) no princípio “Unidade Defensiva”, e entre Sub-15 e Sub-19 (p=0,003) para os princípios de “Penetração”, “Cobertura Defensiva” e “Equilíbrio”.

    Ainda na Tabela 1 constata-se que o escalão de Sub-13 diverge dos demais nas acções relacionadas com o local em que realiza os princípios ofensivos. De facto, os valores mais expressivos dizem respeito ao Meio Campo Ofensivo, com diferenças significativas (p<0,001), o que indica uma organização espacial mais avançada no terreno, em comparação com os demais escalões.

    Já para os princípios defensivos, os jogadores que apresentaram comportamentos dissemelhantes em relação à localização das acções, pertencem ao escalão Sub-15, tendo apresentado um número superior de acções relativas aos princípios defensivos no meio campo ofensivo. Isto pode indicar uma organização defensiva com maior pressão em sectores mais avançados do que nos outros grupos estudados.

    Ao comparar as frequências percentuais dos resultados na fase ofensiva, verifica-se que as categorias Sub-11, Sub-13 e Sub-15 mostraram resultados semelhantes, enquanto que na categoria Sub-19 o percentual para a variável “Manutenção da Posse de Bola” foi superior ao dos outros escalões, com uma variação média de 16,1% ±1,7. Já na variável “Perda da Posse de Bola” a frequência percentual foi menor, com variação média de 96,4% ±14,3, o que atesta que os atletas pertencentes ao escalão de maior idade (Sub-19) tendem a seleccionar mais as acções mantendo mais a posse da bola.

    Para a fase defensiva observou-se também diferenças percentuais entre os escalões de faixa etária mais baixa em comparação com os Sub-19, principalmente para os indicadores “Recuperação da posse de Bola” e “Remate do Adversário à Baliza”. Nestes casos, a frequência percentual atingiu valores inferiores em comparação com os outros grupos, com variações médias de 87,7%±28,7 e 68,4%±38,3, respectivamente. Em relação aos resultados das acções tácticas não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas.

    Conclui-se que existem diferenças significativas entre os escalões somente para as acções tácticas em função dos princípios de jogo. Não obstante, em termos percentuais também se verificam diferenças para as variáveis “localização e resultado da acção”. Tal permite constatar que os jogadores do escalão de Sub-19 estudados seleccionaram mais as acções tácticas em comparação com os outros escalões e que em termos percentuais os jogadores do escalão Sub-13 estiveram mais situados atrás da linha da bola quando a sua equipa estava em processo ofensivo.

    Com base nestes resultados é possível concluir que os comportamentos tácticos de jogadores de futebol apresentam diferenças entre escalões. Assim, o treinador deve conhecer e avaliar as habilidades e dificuldades de cada jogador para sistematizar o processo de formação.

Referências

  1. Greco P. Conhecimento técnico-tático: o modelo pendular do comportamento e da ação tática nos esportes coletivos. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte 2006:107-29.

  2. Garganta J. Modelação táctica do jogo de futebol – estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento. [Tese de Doutoramento]. Porto: Universidade do Porto; 1997.

  3. Gréhaigne JF, Bouthier D, Godbout P. Performance assessment in team sports (Evaluation de la performance en sports collectifs). Journal of Teaching in Physical Education 1997;16(4):500-16.

  4. Hughes C, Franks I. Notational analysis of sport. London: E. & F.N Spon; 1997.

  5. Anguera M, Blanco A, Losada J, Hernández A. La metodología observacional en el deporte: Conceptos básicos. Lecturas: Educación Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires. Nº 2000 Agosto. http://www.efdeportes.com/efd24b/obs.htm

  6. Giacomini DS. Conhecimento tático declarativo e processual no futebol: estudo comparativo entre jogadores de diferentes categorias e posições. [Dissertação de Mestrado]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2007.

  7. Tabachnick B, Fidell L. Using Multivariate Statistics. New York: Harper & Row Publishers; 1989.

  8. Landis JR, Koch GC. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics 1977; 33: 1089-91.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados