efdeportes.com

Contextualizando o trabalho do profissional de Educação 

Física na APAE de Carazinho, RS. Um estudo etnográfico

Contextualizando el trabajo del profesional de la Educación Física en la APAE de Carazinho, RS. Un estudio etnográfico

 

*Acadêmica do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho

** Orientadora. Mestre em Educação

Docente do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho

(Brasil)

Márcia Bernardi*

Patricia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciasiqueira@wavetec.com.br

 

 

 

Resumo

          Neste artigo, evidenciaremos o trabalho do profissional de Educação Física na APAE de Carazinho-RS. Durante o estágio tivemos um grande contato com essa profissional, a qual trabalha dezessete anos atrás com educação especial trabalho esse, que está fazendo a diferença em nossa região. A partir destas vivências elaboramos um estudo etnográfico sobre a importância dos processos pedagógicos do profissional de Educação Física na escola especial, dentre as quais emergiram três essências: A Educação Física e a educação especial; A Inclusão como realização profissional e a Atuação profissional: Uma práxis pedagógica diária. Com base nas falas percebeu-se quão é importante nosso trabalho na escola especial, e que ainda temos muito trabalho pela frente, porém é preciso querer e principalmente trabalhar com amor e dedicação.

          Unitermos: Educação Física. Inclusão. Pedagogia

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

1 / 1

Caracterizando o estudo

    O estudo caracteriza-se por ser um estudo de caso, do tipo exploratória de caráter etnográfico definidas seguindo-se as premissas de André (2004). A amostra do estudo de caso caracterizou-se por um indivíduo do sexo feminino, 40 anos, profissional de Educação Física, com especialização em Educação Especial - deficiência mental. O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96. Para manter o anonimato, utilizamos um codinome: “BEIJA-FLOR.

    As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):

O Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992):

    Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem às essências do estudo:

A Educação Física e a Educação Especial

    O papel do profissional de Educação Física Especial, como em qualquer outra modalidade de ensino, é o de criar desequilíbrios, apresentando a seu aluno, o novo e o desconhecido, pois diante do desafio, a criança tende assimilar o conhecimento, utilizando os recursos motores e mentais que possui. Provocar desequilíbrios, porém, não é deixar a criança à deriva, ela deve poder estabelecer uma ligação entre o conhecido e o desconhecido. (SOLER, 2002)

    O professor de Educação Física na Educação Especial, durante a atividade, deve observar individualmente cada criança, e descobrir suas necessidades e, a partir daí, planejar suas aulas. É muito importante que as crianças sintam-se desafiadas e estimuladas a cada vez aprender mais (SOLER, 2002).

    Independente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino/aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, afetiva, social e estética), garantindo a participação de todos, independente do seu grau de comprometimento cognitivo, perceptivo ou motor.

    Segundo Beija-flor:

    A Educação Física deve aliar a atividade física com a educação moral e intelectual, formando o indivíduo como um todo. A prática constante de atividades físicas beneficia os órgãos, os músculos e os ossos. Conseqüentemente, adquire-se uma boa condição física e nos dá maior resistência contra doenças e prazer nas realizações das tarefas diárias. Isto é fato e é comprovado cientificamente, porém, os benefícios relacionados ao afetivo, ao psicológico e à auto-estima são muito mais importantes no que diz respeito à inclusão. Freud sugere que, antes do trabalho existe o amor.

    E se no fim da história antes do trabalho, existe o amor, o amor deve ter estado sempre ali, desde o começo da história e deve ter sido a força escondida que forneceu a energia devotada ao trabalho e à construção da história (Norman O. Brown apud Marina Colasanti, 2000, p.7). Cabe, portanto, ao professor, por meio do amor pela profissão e pelo seu aluno; orientar, incentivar, resgatar a auto-estima e conscientizar o aluno a praticar exercícios com regularidade a fim de conseguir esses inúmeros benefícios que a Educação Física pode proporcionar.

    Então para Beija-flor, “... deve integrar o educando na cultura corporal do movimento, mas de uma forma completa, transmitindo conhecimento sobre saúde, adaptando o conteúdo das aulas à individualidade de cada educando e a fase de desenvolvimento em que estes se encontram”.

    A Educação Física por meio de suas especificidades estará contribuindo de forma significativa no processo de inclusão escolar, quando, por intermédio de suas práticas coletivas, valorizar as diferenças e respeitar a diversidade, observando sempre as capacidades e habilidades individuais e praticando uma intervenção consciente e responsável. (FERREIRA 2006, p. 72).

    “É uma oportunidade de desenvolver as potencialidades de cada um, mas nunca de forma seletiva e sim, incluindo todos os educandos no programa”. (BEIJA-FLOR).

    O professor, durante a atividade, deve observar individualmente cada criança, e descobrir suas necessidades, e a partir daí, planejar suas aulas. É muito importante que as crianças se sintam desafiadas e estimuladas, a cada vez aprender mais. (SOLER, 2002).

    “A participação do aluno portador de necessidades especiais na aula de Educação Física é muito importante para que ele desenvolva suas capacidades perceptivas, afetivas, de integração, e de inclusão social, favorecendo a sua autonomia e independência”. (BEIJA-FLOR).

    O professor de Educação Física deverá fazer adaptações necessárias, nas regras, nas atividades, na utilização do espaço, em materiais para estimular, tanto no aluno portador de necessidades especiais como em todo o grupo, possibilidades que favoreçam a sua formação integral. (SOLER, 2002, p. 21.

    Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS, 1996): “Por desconhecimento, receio ou mesmo preconceito, a maioria dos portadores de necessidades especiais tendem a ser excluídos das aulas de Educação Física. A participação nessa aula pode trazer muitos benefícios a essas crianças, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades perceptivas, afetivas, de integração e inserção social, que levam este aluno a uma maior condição de consciência, em busca da sua futura independência”.

    ”Os educandos não devem acreditar que a aula de Educação Física é apenas uma hora de lazer ou recreação, mas que é uma aula como as outras, cheia de conhecimentos que poderão trazer muitos benefícios serem inseridos no cotidiano” (BEIJA-FLOR).

    As diferenças físicas ou um desenvolvimento perceptivo diferente ocasionam, frequentemente, a exclusão do belo, saudável e autônomo, ou seja, a diferença é caracterizada pelo fato de não pertencer aos parâmetros de normalidade constituídos pela sociedade. No entanto, a pessoa com deficiência é capaz de usufruir uma vida plena, desde que sejam feitas as adaptações necessárias. DIEHL, 2008, p.22.

    “O professor deve fazer adaptações, criar situações de modo a possibilitar a participação dos alunos especiais. Esse aluno poderá participar dos jogos ou danças, por exemplo, criando-se um papel específico para sua atuação, em cada limitação gerará um nível de solução, pois o desenvolvimento da percepção das possibilidades permite a sua conseqüente potencialização”. (BEIJA-FLOR).

    Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), “para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada, devendo firmar a convivência no contexto da diversidade humana, bem como aceitar e valorizar a contribuição de cada um conforme suas condições pessoais”.

    “Então me sinto feliz em poder propiciar um ambiente onde os princípios éticos sejam preservados a partir de normas de convivência saudáveis, favorecendo ao educando a compreensão de suas possibilidades e a dos outros”. (BEIJA-FLOR).

    Segundo Soler (2002, p. 34), o principal objetivo que a Educação Física tenta obter no trabalho com portadores de necessidades especiais é sua total reintegração à sociedade, com autonomia, liberdade, criatividade e alegria. Outros objetivos complementares também são tentados, como a melhora condição motora, domínio do corpo para o desempenho de atividades biopsicossociais e um desenvolvimento sociocultural.

    Nas aulas de Educação Física, a criança se move, brinca, atua entre seus colegas. As atividades que lhes propomos a levarão a descobrir o mundo dos outros, ao mesmo tempo que permitirão aprofundar-se na própria identificação, já que se propicia uma confrontação de cada uma com as outras crianças. (ARRIBAS, 2002, p. 143).

    Entende-se por atividade física e/ou esportiva inclusiva toda e qualquer atividade que levando em consideração as potencialidades e as limitações físico-motoras, sensoriais e mentais dos seus praticantes, propicie a sua efetiva participação nas diversas atividades esportivas recreativas e, consequentemente, o desenvolvimento de todas as suas potencialidades. (MEC; SEESP, 2002, p. 85)

    A Educação Física também é importante para desenvolver a autonomia, o respeito, a cordialidade e a cooperação. Tem o grande papel de promover o desenvolvimento motor básico, fazer com que o educando se integre, descubra e discuta sobre o mundo em que vive, entenda seu corpo e seus limites; melhore sua auto-estima, sua auto-confiança, melhore sua expressividade e em termos fisiológicos reduza as condições para o desenvolvimento de doenças crônicas ligadas ao sedentarismo como a pressão alta, doenças do aparelho respiratório, entre outras. (BEIJA-FLOR).

    Cabe ao professor zelar para que todos os alunos participem de cada atividade, valorizando a importância individual na construção de conceitos, oferecendo caminhos alternativos que permitirão a cada aluno adquirir novos conhecimentos escolares. (PAROLIN, 2006, p. 233).

A Inclusão como realização profissional

    “O princípio fundamental da Escola Inclusiva consiste em que todas as pessoas devem aprender juntas, onde quer que isto seja possível, não importam quais as dificuldades ou diferenças que elas possam ter”. (SASSAKI, Declaração de Salamanca, 1994)

    Jonsson, define a sociedade para todos como uma sociedade que se empenha em acolher as diferenças de todos os seus membros. Isso significa que temos que focalizar nossos esforços não mais em adaptar as pessoas à sociedade e, sim, em adaptar a sociedade às pessoas. O princípio fundamental da inclusão é a valorização da diversidade. Cada pessoa tem uma contribuição a dar (DENS, 1998, p. 110).

    Uma escola inclusiva tem como objetivo uma educação de qualidade para todos, respeitando todas as diferenças, evitando todo e qualquer mecanismo de exclusão, preconceito ou rótulo. O aluno com necessidades especiais não é visto mais a partir de suas limitações e sim sob o prisma de suas potencialidades, competências e capacidades como forma de desenvolver-se plenamente como cidadão. (WERNECK,1999, p. 166).

    Acredito na possibilidade de mudanças do educando, na possibilidade de crescimento e de aprendizagem. Compreendo o educando como um ser único, portanto as transformações devem partir dele próprio, na sua individualidade, a partir de estímulos voltados para sua prática vivencial, tornando a aprendizagem significativa, possibilitando a intervenção a partir do diálogo e da argumentação. (BEIJA-FLOR).

    Assim como a atividade física regular, a atividade motora adaptada também visa proporcionar, por meio de jogos, já existentes ou criados para pessoas com deficiência, maior bem-estar, qualidade de vida, maior auto-estima e o atendimento das necessidades motoras básicas. A atividade física adaptada assegura à pessoa com deficiência uma melhor qualidade de vida, pois a capacita a incrementar o seu desenvolvimento motor, perceptivo e socioafetivo. As relações sociais e afetivas levam um autoconceito positivo e, com isso, proporcionam à pessoa com deficiência a possibilidade de interagir socialmente. (BEIJA-FLOR).

    Os fatores emocionais, sociais, cognitivos e perceptivos não estarão recebendo estímulos para um perfeito desenvolvimento se as pessoas forem excluídas de ambientes de prática de atividades esportivas ou de recreação. O ambiente é importante para ampliar o repertório de movimentos. (ROSE, 1978).

    A atividade física e o esporte beneficiam crianças e jovens com deficiência, possibilitando que percebam e mostrem aos outros que são como qualquer pessoa, possuindo capacidades e limitações. A atividade física e o esporte farão aumentar suas possibilidades de conquista de espaços como cidadãos que são, à parte sua deficiência. (BEIJA-FLOR).

    Para que o aluno com deficiência tenha um autoconceito positivo, deverá sentir-se pertencente ao grupo, não apenas “fazendo parte dele”. Ele terá que ser valorizado e reconhecido pelos colegas, professores e por si próprio como sendo um sujeito integrante do grupo. Entretanto, deverá aceitar as regras, assim como o grupo precisa aceitar as limitações de cada colega e do conjunto, sem, contudo, deixar de tentar vencer as dificuldades. Segundo Haywood e Getchell (2004, p. 249), “A auto-estima influencia a participação em esportes e atividades físicas, bem como o domínio de habilidades.”

    O processo de exclusão-inclusão envolve também questões de preconceito étnico, lingüístico, distinção sexual (gêneros), personalidades e estilos cognitivos. Cabe a nós, professores, com nossas atitudes, permitir ou não o desenvolvimento das potencialidades de nossos alunos, convivendo com as diferenças e buscando uma forma dinâmica de vivenciar o processo de inclusão.(FERREIRA, 2006, p. 64).

    Segundo Edler (2001), podemos conjugar o verbo incluir entendo-o como um ato de apenas um tempo, sem prolongamentos, ou o oposto, tendo a conotação de ir juntando, incluindo em vários tempos; uma ação que necessita de um processo e da reunião de várias e diferentes atitudes. Um conjunto de medidas que envolve a todos os que constituem o universo do sujeito a ser incluído: família, escola e comunidade.

    “O corpo expressa a unidade na diversidade, entrelaçando o mundo biológico e o mundo cultural e rompendo com o dualismo entre os níveis físicos e psíquicos. Com meu corpo, atuo no mundo”. (NÓBREGA, 2005, p. 63).

    Consideramos o corpo tanto sujeito como objeto, numa relação dialógica, nem sempre harmoniosa, porém constante, em que se abre para a descoberta da identidade que é própria e única. Refletindo sobre a constituição do ser humano diz: “O corpo é o todo. É no corpo que somos o que somos. É nele que nossa individualidade se apresenta e, ao mesmo tempo, é na sua integralidade que nos apresentamos inteiros.” Pensando que o sentido da existência pertence a todos os seres humanos, as ações sociais e culturais, devem estar ao alcance de todos, sendo cada um participante e contribuinte da produção sócio-cultural”. (NÓBREGA, 2005).

    A inclusão escolar é uma proposta que representa valores simbólicos e importantes, condizentes com a igualdade de direitos e de oportunidades educacionais para todos. A dignidade, os direitos individuais e coletivos garantidos pela Constituição Federal impõem às autoridades e à sociedade brasileira a obrigatoriedade de efetivar a política de inclusão como um direito público para que as pessoas com deficiência tenham a oportunidade de preparar-se para a vida em comunidade”. (NÓBREGA, 2005).

    “Então me sinto feliz em poder propiciar um ambiente onde os princípios éticos sejam preservados a partir de normas de convivência saudáveis, favorecendo ao educando a compreensão de suas possibilidades e a dos outros” (BEIJA-FLOR).

    De acordo com Serrão e Baleeiro (1999), a aceitação das diferenças individuais e do jeito de ser de cada um possibilita a compreensão de que a diferença é um elemento que enriquece, mostrando outras formas de ser e fazer.

    O principal objetivo que a Educação Física deve tentar obter no trabalho com pessoas com necessidades especiais é a sua total reintegração na sociedade, com autonomia, liberdade, criatividade e alegria. Os outros objetivos complementares também são tentados, como melhora da condição motora, domínio do corpo para o desempenho de atividades biopsicossociais e um desenvolvimento sócio-cultural (SOLER, 2002).

    A inclusão escolar necessita ser repensada a cada momento Pode ser uma prática altamente comprometida com o ser humano, e em decorrência, com a educação, com a aprendizagem e com os instrumentos que esse sujeito necessita para construir, para viver adequadamente neste mundo e ser feliz. (BEIJA-FLOR).

    As aulas de Educação Física, para Pereira (1997), concentram-se no conjunto professor-aluno-conhecimento, (teoria, prática e inter-relacionamentos dos exercícios físicos) e ainda ressalta que a Educação Física é um meio para a realização humana.

Atuação profissional: Uma práxis pedagógica diária

    Por meio das atividades físicas, propostas pela Educação Física, podem-se educar, aprimorar e melhorar os movimentos, além de desenvolver o bem-estar físico, psíquico e social. De acordo com Teixeira, (1997, p. 11), “estas atividades preparam também para uma melhor convivência social, política, biológica e ecológica”.

    O planejamento profissional de um programa deve contemplar o desenvolvimento do saber, do saber fazer, do saber ser e do saber conviver, o que pressupõe considerar o ser humano na sua totalidade incluídos aos domínios cognitivo, motor, emocional e social. (BEIJA-FLOR)

    Embora numa aula de Educação Física os aspectos corporais sejam mais evidentes, mais facilmente observáveis e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o aluno precisa ser considerado como um todo, no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estejam inter-relacionados em todas as situações. (FERREIRA, 2006, p. 21).

    Segundo González (2002), com a educação inclusiva os professores têm possibilidades de:

  1. Criar clima adequado para a interação e a cooperação;

  2. Motivar os alunos, produzindo expectativas positivas e utilizando reforços de auto-estima e reconhecimento;

  3. Aceitar a diferença como componente da normalidade;

  4. Fomentar a convergência de todos os educadores por meio da atividade em equipe.

    Com estas informações são planejadas atividades, que precisam ter uma complexidade crescente, acompanhando o desenvolvimento motor e cognitivo de cada educando, também devem propiciar formas facilitadoras de aprendizagem cognitiva e afetivo-social. Planejo com o objetivo de tornar as aulas dinâmicas, estimulantes e interessantes. As atividades devem, através das vivências corporais, fazer com que cada um conheça um pouco mais de si, suas possibilidades e saibam antes de tudo, conviver com os outros. (BEIJA-FLOR)

    Tendo como referência a diversidade que as crianças apresentam em relação às competências corporais, um aspecto a ser considerado na organização das atividades e na avaliação deve ser o de contemplar essa mesma diversidade, valorizando as diferenças. (BEIJA-FLOR)

    Ainda para Ferreira (2006, p. 26), a diversidade de competências corporais a serem consideradas inclui a facilidade e a dificuldade para lidar com situações estratégicas, de simulação, de cooperação, de competição, entre outras. É necessário fazer-se compreender que todos, sem exceção, têm algum tipo de conhecimento e que é valioso e fundamental no trabalho final de um grupo.

    Para o planejamento é necessário conhecer o educando. Então, inicialmente analiso as avaliações realizadas: fisioterapeuta, fonoaudiólogo, neurologista, pediatra, pedagógica, psicóloga. A partir destas avaliações construo os instrumentos que utilizarei nos testes de aptidões específicas da área de Educação Física. Nos conta Beija-flor.

    A pluralidade de ações pedagógicas pressupõe que o que torna os alunos iguais é justamente a capacidade de se expressarem de forma diferente.

    O esporte, a recreação e a dança são componentes fundamentais para a melhoria de algumas necessidades motoras básicas na vida de todos os seres humanos. Habilidades físicas/motoras tais como: equilíbrio, força, agilidade, resistência muscular localizada, resistência cardiorrespiratória e também as potencialidades que envolvem o movimento e a orientação espacial, são estimuladas por meio das atividades físicas e se tornam essenciais para uma vida prazerosa e saudável.

    Como argumenta Diehl (2002), espaço de lazer que possibilitam a prática de atividades físicas, como escolas, clubes, escolinhas, praças, parques e muitos outros, são lugares onde crianças e adultos se (re)descobrem. As atividades corporais inerentes ao lazer esportivo são também formas de lazer social. As atividades esportivas, recreativas e expressivas proporcionam experiências corporais necessárias à saúde física e mental. Durante os momentos de lazer esportivo, criam-se situações nas quais o indivíduo deverá aprender como superar obstáculos, lidar com a competição, saber a cooperar e outras situações que contribuirão para seu crescimento individual como cidadão.

    Nos jogos e brincadeiras, emergem sentimentos de curiosidade e coragem que levam a criança ou o adulto a se conhecer mais, ter mais maturidade e desenvolver o espírito de cooperação. (DIEHL, 2008, p. 37).

    Os parâmetros e o trabalho realizado respeitam a diversidade humana. Os métodos buscam democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica em Educação Física. Trabalho com esportes, jogos ginástica, bem como atividades rítmicas e expressivas, os educandos tomam conhecimento sobre o corpo e, em aulas com temáticas de saúde, meio ambiente, sexualidade, os educandos são estimulados a resolverem problemas se tornarem cidadãos ou cidadãs. Experimentam ambientes, onde os movimentos são explorados como cultural corporal, com significados, sentimentos, emoções, individualmente ou em pequenos e grandes grupos. (BEIJA-FLOR).

    As habilidades individuais precisam ser percebidas e respeitadas. Temas como costumes, hábitos regionais, personagens históricos, valores de um povo, folclore demonstram uma realidade construída pelas diferenças. Incentive esses conhecimentos por meio de pesquisas, danças folclóricas, brincadeiras regionais, confecção de brinquedos utilizados antigamente, como pé de lata, vaivém, bola de meia, taco etc. (FERREIRA, 2003, p. 102).

    Essas idéias são apenas sementes, outras poderão surgir dentro da sala de aula e só desta maneira, pode acreditar, estaremos auxiliando na construção do conhecimento, relacionando a teoria e a prática.

    O profissional de Educação Física deve passar por um processo de formação, para que possa conhecendo o assunto, incorporá-lo no seu dia a dia, fazendo com que sua aula, que hoje abarca tantas diferenças, passe a respeitar outras. E, sobretudo, assumindo a questão da sociedade inclusiva como sua. (SOLER, 2002, p.65).

    Ainda para Soler (2002), ação Física deve ser um exercício de convivência, onde as pessoas aprenderão a construir uma nova sociedade, sem discriminação, e com atitudes de solidariedade, respeito e aceitação, e na qual não haverá lugar para o preconceito e a exclusão.

    Na Educação Especial, a prioridade é diagnosticar o nível motor em que se encontra cada criança. E aos poucos ir criando desequilíbrios, ou seja, começa-se com uma atividade simples de fácil execução, e vai-se ampliando o nível de dificuldade, fazendo com que a aprendizagem se torne significativa.

    O professor deve sempre propor tarefas que estejam ao alcance dos alunos, pois se ela (tarefa) estiver aquém do momento motor do aluno, ele não se sentirá desafiado, e como a executará muito facilmente, perderá o interesse rapidamente. Do mesmo modo, se a atividade for muito complexa, fora do alcance cognitivo e motor da criança, ela não conseguindo atingir o objetivo, se frustrará e fatalmente desistirá. (SOLER, 2002, p. 46).

    O professor deve buscar identificar em suas aulas, quais as necessidades e capacidades de cada pessoa, e com isso procurar potencializar sua autonomia e independência. O professor de Educação Física deverá fazer as adequações necessárias, nas regras, nas atividades, na utilização do espaço, em materiais para estimular, tanto no aluno portador de necessidades especiais como em todo grupo, possibilidades que favoreçam a sua formação integral. (SOLER, 2002, p. 21)

    “Procuro adequar a linguagem ao nível de conhecimentos dos alunos, evitando o máximo possível o exagero de informações; busco sempre, através de estímulos positivos e motivadores, a participação de todos nas atividades propostas, respeitando sempre suas limitações; estímulo a autonomia dos educandos para que estes possam mostrar seu conhecimento a cerca da atividade proposta; durante a execução das atividades; sempre que possível, enfatizo outros conhecimentos relacionados àquelas atividades como cor, formas, tamanho dos objetos, posicionamentos, direção, que estimulem sua aprendizagem cognitiva” (BEIJA-FLOR).

    O educador deve sempre ter em mente o seguinte; não basta medir para avaliar, pois isso não leva em conta os meios que o aluno utiliza para chegar aos resultados, meios esses que são os elementos mais indicativos do progresso de seu conhecimento.

    As adaptações devem ser feitas não somente durante o processo ensino/aprendizagem, mas também na avaliação. Como a inclusão pressupõe direitos iguais, os deveres também o são; tanto adaptações quanto avaliações devem ser feitas sem paternalismo. Tem-se que ter em mente que incluir não é procurar uma forma generosa, assistencialista de melhorar a vida das pessoas possuidoras de necessidades especiais, e sim dar-lhes reais possibilidades de desenvolver suas potencialidades.

    O que se busca no processo avaliativo com os educandos é, primeiramente, a participação e a integração de todos durante a aula, ou seja, essa participação parcial ou integral, dada às limitações individuais dos educandos. A partir daí, conduzi-los a uma aprendizagem dos conteúdos, sendo verificada através da participação e do envolvimento dos mesmos, da identificação, por meio de gestos e verbalizações, das principais características da atividade proposta e também do reconhecimento das semelhanças e diferenças entre os conteúdos tratados.

    Buscando a exercitação física educativa otimizada, particularizada a cada aluno, mas em ambiente coletivo, onde todos pedagogicamente, formalmente são iguais, apenas os conteúdos de cada aula poderiam ser adequados a determinadas particularidades de alunos que por atividades e necessidades ímpares, possam ter certa participação diferenciada durante as aulas (PEREIRA, 1997, p. 81).

    A marca das experiências com resultados positivos apóia-se num pressuposto extremamente simples: a construção de um projeto-processo coletivo. Responsabilidade tem estreita correlação com liberdade. Diferentes graus de responsabilidade e de liberdade resultam em distintas propostas e tentativas, portanto, o sucesso será maior à medida que se encontrem maneiras para compartilhar as vivências. (GORGATI; COSTA, 2005, p. 21).

    Conforme Werneck (1999, p. 189) “a avaliação é concebida como um processo, no qual preponderam os aspectos qualitativos da aprendizagem sobre os aspectos quantitativos dos conteúdos”. A avaliação é diagnóstica, contínua e permanente, paralela ao trabalho de classe. É um momento de reflexão para melhor encaminhamento da aprendizagem, servindo também para projetar a continuidade do trabalho.

    É importante lembrar que há caminhos alternativos, percursos e tempos diferentes. Por isso mesmo a escola deve buscar soluções para que todo e qualquer aluno possa se desenvolver, aprender e apropriar-se de conhecimentos, valores e significados. (PAROLIN, 2006, p. 233).

    Com relação ao educador físico, cabe a este profissional a organização de um ambiente de respeito mútuo em sala de aula, abrindo espaço para a participação cooperativa de todos sem comparação de performances. O professor é um agente de mediação; na busca desse objetivo, deverá procurar ensinar seus alunos através de um processo de interação dialógica; colaborando para o desenvolvimento da auto-estima do educando, coibindo rótulos, evitando a baixa expectativa e tendo o potencial da criança como foco central na sua atuação. (PAROLIN, 2006, p. 233).

    Os profissionais da Educação Física sabem que há um longo caminho a ser percorrido, experiências a serem adquiridas, velhos hábitos a serem abandonados, novas estratégias a serem desenvolvidas. Têm consciência de que entre a teoria das leis vigentes os discursos emocionados e a prática do dia a dia na sala de aula há uma grande distância. (PAROLIN, 2006, p. 234).

    A Educação Física escolar pode estimular a cooperação como forma de aproximar as diferenças, antes reforçando a auto-estima de quem se sente diferente, e fazendo com que, ao final, todos estejam jogando e vivendo em comum-unidade. A cooperação está vinculada à comunicação, à confiança e ao desenvolvimento de habilidades positivas de interação social.

    Nesse sentido, Canfield (1998), alerta que o professor precisa saber que é seu aluno, do que ele precisa, de seus limites, de seus desejos, para que o seu fazer pedagógico seja revestido de importância na vida do aluno. O professor precisa saber do poder de sua aula, da possibilidade que tem de poder proporcionar um ambiente ótimo de aprendizagem para seus alunos, não só o aspecto motor, mas no seu todo.

    Como mensagem final beija-flor nos coloca: “Educar é encharcar de sentido cada ato da vida cotidiana.” (Paulo Freire). É assim que sinto ao olhar os olhos dos educandos durante as aulas: “encharcados” de vida, de alegria, de amor, de carinho. Aprendemos juntos a aceitar o outro da forma que ele é, amá-lo, respeitá-lo. Aprendemos a valorizar a vida acima de tudo, desde as coisas mais simples. Nosso trabalho não vende nada material, vende sonhos. Esperança, paz, amor, alegria! (BEIJA-FLOR).

Considerações finais

    Através deste estudo, ficou evidenciada a importância da Educação Física na Educação Especial, onde os profissionais que trabalham com pessoas com necessidades especiais deverão ter qualificação profissional adequada para realizar seu papel perante toda uma sociedade, priorizando pela qualidade do ensino/aprendizagem e ao atendimento direcionado à essas pessoas, onde prevaleçam a responsabilidade e a ética profissional.

    Na perspectiva de que o processo de inclusão realmente aconteça é preciso que esforços e competências sejam somadas com o fim de viabilizar a inserção das pessoas com necessidades especiais neste contexto numa forma integral e total, somente assim poderemos exercer a inclusão escolar com a inclusão social.

    Por Educação Inclusiva se entende não só o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus, mas fundamentalmente de todas as diferenças, pois hoje é fato que cada ser humano é uno e as oportunidades devem ser iguais para todos. (SOLER, 2005, p. 53)

    Cabe ao profissional de Educação Física além de estar em contínua busca da qualidade profissional também de forma dinâmica e decisiva interagir com a família, a sociedade e a escola, mostrando-lhes a importância e a responsabilidade que cada um tem perante o processo de inclusão.

    Ramos (2005) relata que é necessária uma efetiva preparação de profissionais de educação, que proporcione um desenvolvimento contínuo pedagógico e educacional que resulte numa nova maneira de perceber e atuar com as diferenças de todos os alunos em classe. Preparação que os faça conscientes não apenas das características e potencialidades dos seus alunos, mas de suas condições para ensiná-los em um ambiente inclusivo, assim como da necessidade de refletirem constantemente sobre a sua prática, com o intuito de modificá-la quando necessário.

    Os profissionais de educação Física deveriam, segundo Gorgatti e Costa (2005, p.18), assumir um papel transformador com a competência específica da área, sendo atores vivos que constroem, mantém e alteram significados sobre a área, sobre si próprios e sobre as atividades pelas quais respondem. Uma atitude profissional que assume princípios baseados nas diferenças individuais é, segundo Sherrill apud Gorgatti e Costa (2005, p. 18).

    Sabemos que é um processo lento, contínuo e necessário para que as pessoas com necessidades especiais sejam realmente reconhecidas e aceitas com os seus devidos valores e condições de seres humanos, como todos nós. É preciso muita dedicação, carinho, perseverança, responsabilidade e amor para se realizar um trabalho construtivo e eficiente para o desenvolvimento integral dessas pessoas com uma melhor qualidade de vida.

Referências

  • ARRIBAS, Teresa Lleixà. A Educação Física de 3 a 8 anos. 7 edição. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as diferenças. São Paulo: Phorte, 2006.

  • DUARTE, Edison; LIMA, Sônia Maria Toyoshima. Atividade física para pessoas com necessidades especiais: experiências e intervenções pedagógicas. Rio de Janeiro – RJ: Copyright, 2003.

  • FERREIRA, Vanja. Educação Física, interdisciplinaridade, aprendizagem e inclusão. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática pedagógica. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

  • GONZÁLEZ, José Antônio Torres. Educação e Diversidade: Bases Didáticas e organizativas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • GORGATTI, Márcia Greguol; COSTA, Roberto Fernandes da. Atividade física adaptada. Barueri – São Paulo: Manole, 2005.

  • MANTOAN, M. T. E. O direito de ser, sendo diferente, na escola. Campinas: UNICAMP, 2005.

  • NÓBREGA, T. P. da. Corporeidade e Educação Física: do corpo – objeto ao corpo – sujeito. Natal: UFRN, 2005.

  • PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Aprendendo a incluir e incluindo para aprender. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2006.

  • PEREIRA, Flávio Medeiros. O cotidiano escolar e a Educação Física necessária. Pelotas – RS: Ed. Universitária UFPEL, 2 edição, 1997.

  • RAMOS, Rossana. Passos para a Inclusão. São Paulo: Cortez, 2005.

  • SASSAKI, Romeu K. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

  • SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Maria Clarice; Aprendendo a ser a conviver. São Paulo: FTD, 1999.

  • SILVA, JUNIOR, Afonso Gomes da. Aprendizagem por meio da ludicidade. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

  • SOLER, Reinaldo. Brincando e aprendendo na Educação Física Especial. São Paulo: Sprint, 2002.

  • SOLER, Reinaldo. Educação Física Inclusiva; em busca de uma escola plural. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

  • WERNERCK, Claúdia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 2000.

  • WERNERCK, Claúdia. Sociedade inclusiva: quem cabe no seu todo? Rio de Janeiro: WVA, 1999.

  • WINNICK, Joseph P.. Educação Física e Esportes Adaptados. Barueri – São Paulo: Manole, 2004.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

revista digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires, Abril de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados