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Síndrome de Down e a importância da 

hidroterapia: caminhos para um melhor equilíbrio

El Síndrome de Down y la importancia de la hidroterapia: caminos para un mejor equilibrio

 

*Graduada em Licenciatura em Educação Física

Especializanda em Educação Física Escolar pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

**Graduada Licenciatura Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria
Mestrado em Pedagogia do Movimento Humano pela Universidade Gama Filho
Doutorado em Motricidade Humana, com especialidade em Dança pela Universidade Técnica de Lisboa

Ana Paula Fernandes Bragança*
Mara Rubia Antunes**

paulinhafebra@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A Síndrome de Down se caracteriza por uma anomalia cromossômica de caráter genético que compromete o desenvolvimento psicomotor da criança. Baseado em livros e pesquisas, pode-se analisar através desse estudo a importância da realização de trabalhos específicos de equilíbrio, como é o caso da Hidroterapia, com crianças, jovens e adultos com Síndrome de Down. Dessa forma, o estudo justifica-se pela necessidade de refletir sobre o assunto, na tentativa de evidenciar a importância da pesquisa sobre tal problemática.

          Unitermos: Síndrome de Down. Hidroterapia. Equilíbrio

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    A Síndrome de Down (SD) também denominada trissomia do 21 é um distúrbio cromossômico de causa genética que tem como conseqüência o retardo mental moderado (MARTINS et al., 2006). A doença constitui uma das síndromes mais freqüentes, sendo sua incidência de 1:600 nascidos vivos, ocorrendo em média 8.000 casos no Brasil durante o ano. Em 2000, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calculou aproximadamente 300 mil portadores da patologia, dados estes semelhantes aos de outros países (RAMÍREZ et al.,2007).

    Clinicamente a SD se caracteriza por atraso mental, hipotonia generalizada em diferentes graus e um fenótipo característico. A hipotonia e o atraso motor acarretam experiências visuais, vestibulares, táteis e proprioceptivas limitadas, causando movimentos pobres (CORRÊA et al., 2005). De acordo com Schwartzman et al. (2003), isto prejudica o desenvolvimento do esquema corporal que é a representação relativa global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. Indivíduos que apresentam alterações do esquema corporal, também manifestam como decorrência distúrbios de lateralidade, equilíbrio, noção espacial e coordenação motora.

    A identificação da criança com a síndrome é feita imediatamente após o nascimento, e os profissionais que vão trabalhar com essas crianças precisam conhecer muito bem as características físicas para melhor executar o seu trabalho, são elas: Olhos – pálpebras estreitas levemente oblíquas com prega de pele no canto interno chamadas de prega epicântica. Íris – pequenas manchas brancas chamadas de manchas de Brushfield. Cabeça – geralmente menor e a parte posterior levemente achatada. Boca – pequena e muitas vezes se mantém aberta com a língua projetando-se para fora. Mãos – curtas e largas. Musculatura – de modo geral mais flácida. Orelhas - pequenas e conduto auditivo estreito. Dedos dos pés geralmente curtos com espaço maior entre o dedão e o segundo dedo. Algumas crianças têm pés chatos.
Disfunções no controle postural são freqüentemente des­critas em crianças e jovens com SD e relacionadas com dificuldades como coordenação motora, problemas com integração sensó­rio-motora ou simplesmente como movimentos desajeitados. Movimentos são considerados desajeitados quando os indiví­duos são lentos em se adaptar à tarefa e às condições mutáveis do ambiente ou são menos capazes de fazer ajustes posturais antecipatórios
.

    Para manter o equilíbrio em qualquer postura, o corpo humano precisa receber informações sobre a sua posição no espaço e sobre o ambiente. Essas informações são recebidas pelo corpo por meio do sistema neural, que integra a informa­ção sensorial para acessar a posição e o movimento do corpo no espaço e o sistema musculoesquelético que gera forças para controlar a posição do corpo, conhecido como o sistema de controle postural (Mochizuki, 2003).

    O controle postural possui dois objetivos comportamen­tais: a orientação e o equilíbrio postural. A orientação postural está relacionada ao posicionamento e ao alinhamento dos segmentos corporais um em relação aos outros e em relação ao ambiente. O equilíbrio postural é o estado em que todas as forças que atuam sobre o corpo estão balanceadas para man­ter o corpo na posição e orientação desejada. Para que esses dois objetivos comportamentais, a orienta­ção e o equilíbrio postural, sejam alcançados pelo sistema de controle postural, são necessários a percepção (integração das informações sensoriais para analisar a posição e o movimento do corpo no espaço) e a ação (capacidade de produzir forças para controlar os sistemas de posicionamento do corpo). Dessa forma, o controle postural exige uma interação contínua entre o sistema musculoesquelético e o neural.

Método

    Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, sendo realizada uma pesquisa em livros e artigos para obter as informações necessárias. Foram utilizados materiais escritos que serviram como fonte de informação para a pesquisa científica. É uma pesquisa explicativa, por esclarecer dúvidas sobre as possibilidades do trabalho com equilíbrio, com pessoas portadoras da Síndrome de Down.

Equilíbrio

    O equilíbrio é um fator de grande importância para o ser humano, pois sem ele seria difícil ou até impossível a realização de algumas tarefas. Trata-se de habilidades das articulações que as fazem retornar ao seu estágio inicial após a realização de um movimento que provoca instabilidade. Para a realização de tais habilidades o organismo utiliza o aparelho vestibular localizado internamente do ouvido humano que funciona não para ouvir e sim para equilibrar o organismo. O aparelho vestibular, formado por estruturas ósseas, tem seu interior preenchido por estruturas membranosas e líquidos que são responsáveis por enviar ao cérebro as informações da direção que o indivíduo esta oscilando, recebendo ainda informações das atividades sensoriais e das atividades motoras para funcionar bem.

    Por meio do equilíbrio é que se consegue permanecer de pé, andar, correr, pular e principalmente mexer todos os membros. Tais movimentações somente são realizadas porque o organismo, através do aparelho vestibular, consegue estabilizar as forças exercidas no movimento, fazendo com que estas sejam anuladas, ou seja, faz com que a força realizada seja compensada para que as articulações retomem a força inicial( BANKOFF, 1996).

Hidroterapia

    A hidroterapia pode ser conceituada como a execução de exercícios em meio líquido para recuperação de movimentos, utilizando as propriedades físicas da água, segundo Guimarães, 1996 e Marins, 1997. A hidroterapia é um método terapêutico que utiliza os princípios físicos da água em conjunto com a cinesioterapia e parece ser uma atividade ideal para melhorar ou tratar as dificuldades motoras, características da SD.

    Esse tipo de atividade pode associar exercícios de equilíbrio, força e propriocepção. Um melhor equilíbrio pode ser conseguido com treinamento muscular e isso pode auxiliar na melhora da hipotonia. Ao ser inserido no meio aquático, o organismo é submetido a diferentes forças físicas e, em conseqüência, realiza uma série de adaptações fisiológicas, além de possuir vantagens para esse grupo populacional, com aproveitamento das suas propriedades, possibilitando um melhor rendimento aos portadores da SD.

Considerações finais

    A criança portadora da Síndrome de Down é muito dócil, bem como jovens e adolescentes, o que acaba por tornar o trabalho com a hidroterapia muito gratificante para o profissional responsável. Na realidade, o ponto de partida é, justamente, o bom relacionamento, o diálogo, a confiança estabelecida entre o profissional e a pessoa com SD, uma vez que se sabe da dificuldade de sua inclusão e participação ativa na sociedade como um todo.

    Uma das características principais da Síndrome de Down, e que afeta diretamente o desenvolvimento psicomotor é a hipotonia generalizada, presente desde o nascimento (GALLAGHER, 1990). O tônus é uma característica individual, por isso há uma variação entre as crianças com esta síndrome. A criança que nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar, engatinhar, andar e correr, exceto se houver algum comprometimento além da síndrome. Quando ela começa a andar, há necessidade ainda de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação de movimentos. A hipotonia muscular faz com que haja um desequilíbrio de força nos músculos da boca e face, ocasionando alterações na arcada dentária, projeção no maxilar inferior e posição inadequada da língua e lábios com a boca aberta e a língua sempre para fora, a criança respira pela boca, o que acaba alterando a forma do palato. Esses fatores, dentre outros, fazem com que os movimentos fiquem mal coordenados.

    A hidroterapia poderá ser útil aos portadores da SD, pois o ganho de força muscular para pacientes com Síndrome de Down pode ser conseguido através da resistência da água ao movimento, o que pode ser incrementado com o aumento da velocidade durante a execução destes e, conseqüentemente possibilitar o trabalho muscular. A flutuação é outra propriedade que pode oferecer resistência, e neste caso o movimento deve ser realizado no sentido da superfície para o fundo da piscina. A viscosidade é outro fator que proporciona resistência ao movimento e está intimamente ligada à velocidade (MARINS, 2001).

    O trabalho de fortalecimento e equilíbrio muscular e determinadas posturas, pode utilizar a turbulência da água, provocada em diferentes velocidades, permitindo o desafio do equilíbrio para diferentes tipos de déficits motores. A adequação do tônus muscular pode ser realizada co-contração através de exercícios resistidos contra a flutuação e a viscosidade da água, durante algumas atividades lúdicas (GUIMARÃES, 1996). A densidade corporal destas crianças está diminuída pela hipotonia, fato este que leva a uma facilitação da posição de flutuação, possibilitando a realização de atividades como o nado adaptado, trazendo diversos benefícios, como o fortalecimento muscular global e o treino respiratório. A pressão hidrostática oferece estímulos proprioceptivos e táteis, que auxiliam na adequação do tônus, no trabalho sensorial, e também na resistência aos movimentos (FLINKERBUSCH, 1993).

    Assim, o progresso das crianças e jovens com SD depende muito da dedicação dos profissionais que vão atuar com eles e, principalmente da família. Sendo assim, alcançou-se os objetivos deste trabalho, refletindo sobre a importância de exercícios de equilíbrio e da hidroterapia, como forma de auxiliar no processo de desenvolvimento das pessoas com Síndrome de Down. Para tanto, a criança especial que for bem estimulada, aquela que se tornar participante de eventos sociais e familiares, poderá ter um desenvolvimento muito mais satisfatório.

Referências

  • BANKOFF, A. D. P. Postura corporal: fatores biológicos da postura ereta: causas e conseqüências. Brasília: Ministério da Saúde: Ministério da Educação e do Desporto,1996.

  • CORRÊA, F.I.; SILVA, F.P.; GESUALDO, T. Avaliação da imagem e esquema corporal em crianças portadoras da Síndrome de Down e crianças sem comprometimento neurológico. Revista Fisioterapia Brasil, v.6, 2005.

  • FLINKERBUSCH A.E; REGONATTI D.A; SANGLARD, E. MARTINELLI, F.A; TORRES, K; MEDEIROS, F.D: DOMINGUEZ, G.E. A importância das Atividades de Sopro em Crianças com Síndrome de Down. Fisioterapia em Movimento, 1993.

  • GALLAGHER, K. Educação da criança excepcional. São Paulo: Ed. Manole, 1990.

  • GUIMARÃES GP, SIMAS KMCS, GOEDE SZ, PINTO TR. Hidroterapia na Síndrome de Down. Fisioterapia em Movimento 1996.

  • MARINS, S.R. Síndrome de Down e Terapia Aquática: Possibilidades da influência dos efeitos físicos da água na musculatura estriada esquelética e na postura. Reabilitar, 2001.

  • MARTINS, C.C; MICHALICK, M.F.M; POLLO, T.C. O papel do conhecimento do nome das letras no inicio da Aprendizagem da Leitura: Evidência em indivíduos com síndrome de Down. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.19, 2006.

  • MOCHIZUKI L, AMADIO A.C. As funções do controle postural durante a postura ereta. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo, 2003.

  • RAMÍREZ, N.J. et al. Parental origin, nondisjunction, and recombination of the extra chromosome 21 in Down syndrome: a study in a sample of the Colombian population. Biomédica, Colômbia, v.27, 2007.

  • SCHWARTZMAN, J.S. et al. Síndrome de Down. 2ª.ed. São Paulo: Mackenzie, 2003.

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