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Percepções de futuros professores de 

Educação Física sobre as deficiências

Las percepciones de los futuros profesores de Educación Física sobre la discapacidad

 

*Mestre em Educação – UFRJ

Licenciada plena em Educação Física – UFRJ

Professora substituta da Escola de Educação Física e Desportos – UFRJ

Pesquisadora do LaPEADE- Laboratório de Pesquisa, Estudos e

Apoio à Participação e à Diversidade em Educação- UFRJ.

**Graduanda em Educação Física- UFRJ

Membro do Grupo de Pesquisa em

Educação Física Adaptada. EEFD – UFRJ

Ms. Michele Pereira de Souza da Fonseca*

michelepereira22@yahoo.com.br

Acad. Ivye Francine Marins Machado**

ivyemachado@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          É crescente o número de pessoas com deficiência, no Brasil. Por isso, é necessário que existam profissionais da saúde dispostos e, consequentemente, preparados para trabalhar com este grupo. Assim sendo, esta pesquisa tem como objetivo de investigar como pensam e como se sentem os ainda estudantes de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando questionados sobre o possível trabalho com este grupo especial, durante sua carreira. Para isso, foi distribuído um questionário com oito perguntas a respeito do interesse e opiniões ligados ao trabalho profissional com pessoas com deficiência para um total de 33 estudantes de períodos que variam entre terceiro e o nono. A partir da organização de respostas de forma qualitativa e quantitativa, observou-se que os estudantes possuem, entre si, opiniões bem diferentes e, em alguns casos, até incoerentes. O que nos remete a pensar: Será que estes futuros profissionais estarão preparados para trabalhar com este grupo especial que tanto necessita de suas habilidades profissionais?

          Palavras chave: Formação docente. Educação Física adaptada. Inclusão

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    Numa proposição de  educação para todos, busca-se que os professores de qualquer nível ou disciplina participem mais ativamente das intenções, discussões e desdobramentos acerca da Educação Inclusiva.

    Quando nos referimos a educação para todos, falamos acerca de todas as pessoas, sem distinção de gênero, etnia ou classe social, dentre outras particularidades, sejam elas deficientes ou não. Nesse sentido, entendemos que o conceito de pessoas com necessidades educacionais especiais:

    [...] abrange, além das crianças portadoras de deficiência, aquelas que estejam experimentando dificuldades temporárias ou permanentes na escola, [...] as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem em condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as que sejam vítimas de guerras e conflitos armados, as que sofrem de abusos contínuos físicos, emocionais e sexuais [...] (Declaração de Salamanca, 1994).

    Para os fins desse estudo, entendemos que o conceito de Inclusão exige um esforço coletivo e participação de todas as pessoas envolvidas na sociedade. Assim, a Inclusão envolve muitas mudanças e por isso é um processo dialético sem fim, com vistas a aumentar a aprendizagem e participação plena de todos os sujeitos (SANTOS 2003; SAWAIA, 2008, grifo nosso).

    Nesta pesquisa, voltamos nosso foco especificamente para as pessoas com deficiências. Assim sendo, é importante que os professores, para além de formados e preparados, estejam abertos e propensos a  trabalharem com esse público específico. É importante ressaltar que falamos aqui de preparo não como uma preparação prévia técnica-metodológica para o trato das diversidades e sim, um preparo atitudinal, crítico, cidadão, investigativo, criativo e desarmado.

    Em setembro de 2005, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estipulou que, aproximadamente, 24,6 milhões de brasileiros (14,5% da população nacional) apresentavam algum tipo de incapacidade ou deficiência. Após os últimos quatro anos, não há dúvidas de que esses números cresceram, o que reforça a preocupação de procurar formas de incluir essas pessoas à sociedade, incentivando sua participação ativa e permitindo seu conforto e liberdade de ir e vir, como qualquer outro cidadão.

    A Educação Física Adaptada é uma disciplina obrigatória da Universidade em questão nesta pesquisa e talvez seja o único, ou o primeiro contato que os alunos têm com esse universo da deficiência. Para além desse conhecimento acadêmico oferecido pela Universidade, buscamos investigar o que sentem e o que pensam os estudantes acerca do trabalho com pessoas com deficiências.

    Desse modo, o objetivo da presente pesquisa é investigar se os alunos do curso de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro – futuros professores -  têm intenção de trabalhar com Pessoas com Deficiência, e suas expectativas diante dessa possibilidade de atuação profissional.

    Sob essa perspectiva, não temos a pretensão de julgar o que é certo ou errado, mas apenas identificar a intenção profissional desses professores em formação.

Método

    O presente estudo constitui uma pesquisa qualitativa, uma vez que foi realizada análise interpretativa de dados; no entanto, nos utilizamos de abordagens quantitativas como forma de complementar os procedimentos e os dados qualitativos. Muitos autores (ALVES-MAZOTTI & GEWANDSZNAJDER, 2004; MINAYO & SANCHES, 1993) atualmente apontam para superar a contraposição entre abordagens quantitativas e qualitativas, e articular essas duas vertentes.

    De modo geral, os levantamentos abrangem um universo de elementos tão grande que se torna impossível considerá-los em sua totalidade. Por essa razão, trabalharemos com uma amostra, ou seja, com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo.

    Na Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD – UFRJ), existem cerca de 3.200 alunos no curso de licenciatura e bacharelado em Educação Física oferecido pela referida Universidade. Para a realização deste estudo, optamos por uma adesão voluntária por parte dos estudantes dos cursos citados, e a coleta de dados foi realizada ao longo do mês de julho de 2009.

    Trinta e três estudantes responderam a um questionário composto de questões abertas e fechadas; dezenove cursam o bacharelado, do quinto ao nono período; e quatorze cursam a licenciatura, no terceiro, quarto, sétimo e nono períodos.

    Optamos por manter o anonimato dos participantes da pesquisa, sendo assim, denominamos números aleatórios para cada estudante que respondeu ao questionário. Ao usarmos citações das falas, nos referimos a eles como R4, por exemplo; R igual a respondente, e quatro relativo ao estudante.

Resultados e discussões

    Para atingirmos nosso objetivo nesse estudo, decidimos mapear a área de interesse desses estudantes, perguntamos qual a área de atuação que pretendem seguir no campo da Educação Física. A maioria dos estudantes questionados aponta sua intenção de trabalho para atuação em academias 29,09% (16), 23,64% (13) preferem a educação física escolar, 16,36% (9) apontam para atuação em atividades aquáticas, 16,36% (9) apontam para outras possibilidades que não estavam listadas do questionário como: cruzeiro, área sócio cultural e lazer, reabilitação, pesquisa e carreira acadêmica, e 14,55% (8) preferem a atuação em clubes.

    Perguntamos aos estudantes se, enquanto alunos, já estagiaram ou estagiam na área de Educação Física Adaptada. 81,82% (27) afirmaram que não, e 18,18% (6) responderam que sim.

    Quando perguntamos se depois de graduados, os estudantes teriam interesse em trabalhar com pessoas com deficiência, 57,58% (19) responderam positivamente a questão. Uns se mostraram muito abertos e propensos a trabalharem nessa área: “Porque é uma área da Ed. Física muito gratificante, pelo menos pra mim que trabalho com pessoas com deficiência” (R.4); “Sim, pois acho muito importante ajudar no crescimento de quem precisa e é muito gratificante ver como o seu trabalho pode dar certo ajudando uma pessoa e contribuindo para acabar com o preconceito que ainda existe” (R.8); “Sim. É um mercado de trabalho gratificante, mas não no sentido monetário, e sim pelo fato de podermos ajudar a fazer a diferença.” (R.10).

    No entanto, em algumas respostas fica claro que não há um interesse especifico no trabalho com deficientes, mas os estudantes se abrem para o trabalho em qualquer área: “[...] devemos ter o conhecimento sobre todas as áreas.” (R.14); “Pretendendo trabalhar em toda área que minha profissão me capacitar” (R.19). Outros, apesar de terem respondido positivamente a questão, demonstram em suas respostas que não é seu objetivo principal: “Não é o meu objetivo, mas gostaria de ter experiência como profissional e como pessoa” (R6).

    33,33% (11) dos estudantes indagados afirmam diretamente que não tem objetivo de lidar com pessoas que tenham alguma deficiência, mas ressaltam que não se recusariam a trabalhar com esse público: “Não. Posso vir a trabalhar sim, mas não é o que pretendo.” (R.31); Não. Porque não é o meu foco. Se no meio do meu caminho aparecer pessoas com deficiência não me recuso a trabalhar, entretanto, não pretendo me voltar especificamente para esta área.” (R.3); “não. [...] Não tenho o intuito de trabalhar com pessoas com deficiência, porém, se me deparar com elas espero estar o mais preparado possível.” (R.5).

    A questão acerca de remuneração aparece claramente em algumas respostas, outros citam a falta de preparo/capacitação para lidar com deficiências: “Não. No Brasil este tipo de trabalho não é muito valorizado, e os salários são baixos.” (R.18); “Não. Porque o curso não oferece tanta instrução para se trabalhar com pessoas com deficiência física.” (R.23); “Não. É um mercado de trabalho pouco divulgado, e acredito que mal remunerado.” (R.26).

    9,09% (3) responderam talvez à referida questão: “A melhor resposta seria talvez. Não descarto a possibilidade, mas não tenho como objetivo” (R.1); Sim, pelo fato de ser dado uma atenção toda especial que requer bastante estudo. E não, por ser uma área que seja mal remunerada. (R.24)

    Ao perguntarmos se os estudantes acham importante que todos os profissionais de Educação Física tenham, obrigatoriamente, que ter conhecimento sobre a Educação Física adaptada, 96,97% (32) estudantes afirmaram que sim.

    Muitos estudantes utilizaram expressões como inclusão e integração para aludir a necessidade de participação das pessoas com deficiência nas atividades propostas. 54,55% (18) foram claros ao responder que um dos papeis da Educação Física é promover a inclusão social do aluno e outros 12,12% (4) disseram que o profissional deve promover a integração do aluno nas aulas e sociedade.

    18,18% (6) afirmaram que o profissional deve estar preparado para reagir a qualquer situação que apareça; outros 12,12% (4) deixam claro que a formação nesse sentido é importante para que eles não sejam pegos de surpresa ao se depararem como um aluno com deficiência: “pois os deficientes físicos podem procurar ambientes que não sejam específicos para eles” (R.2); “para evitar constrangimento caso um deficiente apareça em nossa profissão” (R.5); “para não se intimidar se houver necessidade de trabalhar com pessoas com deficiência” (R.21)

    Apenas 3,03% (1) da amostra responderam que o profissional não tem a obrigatoriedade de conhecer mais sobre esse trabalho: “Quem se interessar pelo assunto, deve procurar este conhecimento por vontade própria” (R.31).

    Perguntamos aos respondentes qual seria sua atitude se aparecesse alguma pessoa com deficiência interessada em fazer as atividades que ele, como professor, oferecesse. Foi absoluta (100% - 33) a resposta de que a atitude seria receptiva, o que causa uma certa contradição com algumas respostas anteriores.

    Todavia, 15,15% (5) de todos os estudantes indagados impuseram condições para tal atitude: “se ela for capaz e se o ambiente não oferecer riscos será um desafio e um prazer (R.1). 24,24% (8) buscariam mais informações sobre a deficiência em questão, para melhor reproduzir suas aulas: “Eu estudaria o caso para ver se teria conhecimento suficiente para trabalhar com suas limitações” (R.31), e outros 24,24% (8) demonstraram-se dispostos a adaptar suas aulas, se necessário, caso recebam um (ou mais) aluno(s) com deficiência em suas carreiras:” Tentaria adaptar a atividade a ela, de forma que todos, com ou sem deficiência fizessem a atividade para a melhor socialização do deficiente com os outros ditos ‘normais’ ”(R.4).

Conclusões

    Percebemos que os estudantes, em geral, enxergam o trabalho com as pessoas com deficiência como algo muito complicado, que demanda uma enorme preparação. Apesar da maioria dos estudantes ter afirmado que estão abertos a receber este grupo, mostrando-se dispostos a buscar maiores informações para tal conhecimento, percebemos também que eles ainda não se deram conta de que cada vez mais as pessoas com deficiências estão/estarão nas escolas, nos clubes, nas academias, enfim, nos locais de atuação desses futuros professores, e que em determinado tempo esse encontro será inevitável. Ainda nos parece ser uma escolha, trabalhar ou não, com essas pessoas.

    Sabemos que é preciso ter conhecimentos específicos sobre as deficiências, porem não é nada que não possa ser resolvido com estudo, pesquisa e dedicação. Na verdade é preciso estar ‘preparado’ para ser professor, e isso independe da área de atuação, pois vivemos numa sociedade plural, onde todas as pessoas têm necessidades especiais que passam por tantas outras questões como gênero, etnia, classe social e também pela questão da deficiência, mas não só.

Referências bibliográficas

  • ALVES-MAZZOTTI, Alda J. & GEWANDSZNAJDER, Fernando. O Método nas Ciências Naturais e Sociais. São Paulo: Pioneira, 2004.

  • DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: julho de 2009

  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comunicação Social - 16 de setembro de 2005. Disponível em: www.ibge.gov.br, acesso em julho de 2009.

  • MINAYO, Maria Cecília de Souza & SANCHES, Odésio. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993.

  • SANTOS. Mônica Pereira dos. O papel do ensino superior na proposta de uma educação inclusiva. Revista da Faculdade de Educação da UFF - n. 7.p.78-91. Maio, 2003

  • SAWAIA, Bader B. As artimanhas da Exclusão – análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis:Vozes, 2008.p.7-13.

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