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O conteúdo lutas nos currículos dos cursos 

de formação em Educação Física da Bahia

El contenido luchas en los currículos de los cursos de formación en Educación Física de Bahía

 

*Graduado em Educação Física (UEFS),

**Mestre em Educação Física (UNICAMP)

Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana

e da Faculdade Social da Bahia

(Brasil)

Osni Oliveira Noberto da Silva*

osni_edfisica@yahoo.com.br

Cláudio Lucena de Souza**

clsouzapb@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          Este trabalho procurou descobrir se existe na matriz curricular obrigatória dos cursos de Educação Física do estado da Bahia alguma disciplina que discuta o conteúdo lutas. Para tanto utilizamos a pesquisa documental onde analisamos a matriz curricular desses cursos de Educação Física. Percebeu-se que a maioria dos cursos não agrega os conhecimentos deste componente curricular a sua formação, o que pode causar no caso das licenciaturas um despreparo deste professor para atuar com este componente importante da cultura corporal.

          Unitermos: Lutas. Formação de professores. Educação Física. Currículo

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    Desde a história da humanidade, o homem movimentou-se em busca de alimentos e de sua própria sobrevivência (RAMOS, 1992) sendo que o uso do corpo como arma através da luta vem sendo praticada desde a pré-história. Na Grécia foi utilizado principalmente com conquista e no Império Romano como entretenimento. Ou seja, em cada época a luta teve seu propósito, objetivo, causa e estilo, pois segundo Scarpato (2007, p. 131), “quando falamos em lutar, visualizamos uma maneira que transcende apenas o trabalho corporal e que tem um significado de busca para a formação global, física, cognitiva e social”.

    Imamura (1996) dizia que o homem é um ser que tem a necessidade de expressar seus sentimentos através dos movimentos e possivelmente os gestos de ataque e defesa sejam expressivos nesse processo, pois a linguagem corporal é empregada como simbolismo para o combate.

    Para Lima (2000) não se pode reduzir o conceito de luta a apenas um combate contra um adversário, mas sim um instrumento que utiliza a motricidade para colaborar na educação e formação das pessoas, proporcionando o seu desenvolvimento de forma plena. Nesse sentido Freire (1995, p. 41) explica que “a expressão humana é sempre, em última instância, corporal. Ou seja, é pela motricidade que o homem se realiza”.

O conteúdo Lutas e sua relação com a Educação Física

    Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) as lutas são reconhecidas como conteúdos da Educação Física. Não seria tão importante o professor ser praticante de alguma luta em específico, pois segundo Freire (2007) existem movimentos de lutas que o professor de Educação Física possa desenvolver no ambiente escolar, tais como chutes, socos, quedas, rolamentos, esquiva, agarrões entre outros.

    Esses movimentos de lutas, aliados a confecção de materiais adaptados para a aula, podem proporcionar segundo Carreiro (2005) possibilidades aos conteúdos de Educação Física nas dimensões conceitual, atitudinal e procedimental. Porém segundo Scarpato (2007, p. 134) “talvez o grande desafio dos profissionais de Educação Física seja como aplicar o conteúdo de modo que venha a contemplar a proposta”. Ou seja, é necessário que este conhecimento proposto esteja integrado no currículo dos cursos de formação em Educação Física.

    Por isto, este trabalho procurou descobrir se existe na matriz curricular obrigatória dos cursos de Educação Física do estado da Bahia alguma disciplina que discuta o conteúdo lutas, além de descobrirmos qual a quantidade de cursos que possuem ou não este conteúdo.

Procedimentos metodológicos

    Para analisarmos se os cursos de formação em Educação Física possuem disciplinas na sua matriz curricular que discutam os conhecimentos ligados as lutas, utilizamos uma pesquisa documental, baseado em Gil (2007) onde analisamos o fluxograma curricular dos cursos de Educação Física do estado da Bahia. Estes documentos foram em sua maioria encontrados na internet, no endereço eletrônico das suas respectivas instituições.

    Inicialmente devemos conceituar o termo currículo. Para isto nos baseamos em Sacristán (2000) onde ele explica que o currículo seria a forma de se obter o acesso ao conhecimento, o que o transforma em uma forma bem particular de entrar em contato com a cultura, não podendo esgotar o seu significado como algo estático. O autor ainda continua dizendo que a realidade dos fenômenos curriculares nunca poderá ser explicada por uma visão tecnicista ou simplista, pois irá ignorar que “o valor real do mesmo depende dos contextos nos quais se desenvolve e ganha significado”.

    Apesar disso, este trabalho terá como foco apenas a análise do curriculo oficial obrigatório, ou seja, o conjunto de disciplinas oferecidas, tambem chamada de grade curricular, matriz curricular ou fluxograma não levando em consideração o curriculo oculto ou outra variavel.

    Na análise levamos em consideração as disciplinas que tinham enunciados que tinham conotação direta com o conteúdo, por exemplo: Metodologia do ensino das lutas, fundamentos das lutas, karatê, judô, kung fu entre outras. Entretando não levamos em consideração as disciplinas ligadas aos conhecimentos da capoeira.

Apresentação e discussão dos dados

    Segundo o Ministério da Educação (2009) existem na Bahia 26 cursos de Educação Física oferecidos por 17 instituições de ensino superior. Destes 16 são cursos de Licenciatura, 5 de Bacharelados e 5 que oferecem ambas as habilitações.

    Além dos Parâmetros Curriculares Nacionais que integram as lutas aos conteúdos básicos da Educação Física, nos baseamos na resolução CNE/CES nº 07/2004 que versa sobre os conteúdos dos cursos de graduação em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado). Esta resolução estabelece que a formação dos cursos tenham que obrigatoriamente agregar conhecimentos próprios da área.

    Estes são chamados de Dimensões do conhecimento e são divididos em Formação ampliada, representada pelas Dimensões: Relação ser humano – sociedade, Dimensão biológica do corpo humano, Dimensão da produção do conhecimento científico e tecnológico e Formação específica representada pelas dimensões culturais do movimento humano, Dimensão técnico – instrumental e Dimensão didático – pedagógico. O documento ainda explica em seu art. 7 que:

    Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso de graduação em Educação Física, articular as unidades de conhecimento de formação específica e ampliada, definindo as respectivas denominações, ementas e cargas horárias em coerência com o marco conceitual e as competências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar. (p.3)

    Baseado nos estudos de alguns autores (UNESP, 2005), (UFRJ, 2006), (URI, 2006), (UDESC, 2007) e (VIEIRA, 2009) podemos entender que o conteúdo lutas está situado nas dimensões culturais do movimento humano, junto com os conhecimentos ligados ao esporte, dança, ginástica e jogo.

    Diante disso, ao analisarmos o fluxograma das instituições baianas percebemos que de um universo de 26 cursos, apenas 6 cursos (30% do total) possuíam pelo menos uma disciplina que discutiam os conteúdos das lutas. Destes 3 são licenciaturas, 2 apresentam as duas habilitações e 1 bacharelado.

Considerações finais

    Com isso, percebemos que a formação dos cursos de Educação Física, pelo menos na realidade da Bahia ainda não agregou os conhecimentos deste componente curricular a sua formação, o que causa, no caso das licenciaturas um despreparo deste professor para atuar com este componente importante da cultura corporal, o que possivelmente justificaria o pensamento de Scarpato (2007) “fazemos sempre o mais “fácil”: dar a “bola”, vamos jogar” o que ainda segundo o autor isso causa “desmotivação, desrespeito, desvalorização da Educação Física, pelos próprios alunos e pela sociedade”. Então, já que o professor de educação física pode trabalhar nas suas aulas com diferentes acervos motores, por que não empregar seus diferentes conteúdos para colocar mais qualidade em suas aulas?

    Por fim, é imperativa a produção de outras pesquisas para que se possa avançar nos estudos e discussões das demais variantes do tema da inserção das lutas na formação profissional em Educação Física, para que se procure cada vez mais uma formação harmonizada com as necessidades educacionais da sociedade e com a identidade da própria Educação Física.

Referências

  • BRASIL, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 7, de 18 de Março de 2004

  • ______, Ministério da Educação. Secretária de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasilia, 1998

  • CARREIRO, E. A. Lutas In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005

  • FREIRE, J. B. Antes de falar de educação motora. In: DE MARCO, A. Pensando a educação motora. Campinas: Papirus, 1995

  • GIL, Antonio Carlos, Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. 9 reimpressão. São Paulo: Atlas, 2007

  • IMAMURA, L. Ving Tsun Biu Je. São Paulo: Biopress, 1996

  • LIMA, L. M. S. O tao da educação: A filosofia oriental na escola ocidental. São Paulo: Agora, 2000

  • MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Disponível em: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp . Acessado em: 07 de maio de 2009.

  • RAMOS, J. J. Os exercícios físicos na história e na arte. São Paulo: Ibrasa, 1992

  • SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática, 3ª ed., Porto Alegre – RS: Ed. Artmed, 2000

  • SCARPATO, Marta (Organizadora). Educação Física: Como planejar aulas na Educação Básica, São Paulo – SP: Ed. Avercamp, 2007

  • UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Projeto Pedagógico: Bacharelado em Educação Física, Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Florianópolis, SC, 2007. http://www.cefid.udesc.br/edf/bacharelado/ppp.pdf. Acessado em 5 de Julho de 2009

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Reestruturação curricular, curso de Licenciatura em Educação Física, Integral e noturno, Conselho do curso de Educação Física, Bauru, SP, 2005. http://www.fc.unesp.br/upload/deptoeducacaofisica/projeto_pedagogico_ed_fis_atual.pdf. Acessado em 2 de Julho de 2009.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física, Comissão de Reformulação curricular, Rio de janeiro, RJ, 2006. http://www.eefd.ufrj.br/sinaes/projeto-pedagogico-do-curso-de-licenciatura-em-educacao-fisica. Acessado em 4 de Julho de 2009

  • UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES. Projeto Pedagógico do curso Educação Física – Licencatura, RS, 2006. http://www.reitoria.uri.br/arquivos/projpedagogico/Projeto_Pedagogico_Educacao_Fisica_Licenciatura_r1.pdf. Acessado em 3 de Julho de 2009

  • VIEIRA, Ana Paula, Zimbres, Sidney Forghieri, Araújo, Silvana Martins. Formação profissional em Educação Física: Apresentando o novo projeto pedagógico da UFMA. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Fevereiro de 2009. http://www.efdeportes.com/efd129/formacao-profissional-em-educacao-fisica-o-novo-projeto-pedagogico-da-ufma.htm

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