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A pesquisa dentro das novas diretrizes curriculares em

Educação Física: um olhar sobre os cursos baianos

La investigación en las nuevas directrices curriculares en Educación Física: una mirada sobre los cursos en Bahía

 

Licenciado em Educação Física na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

Pós graduando em Educação Especial (UEFS)

Membro do Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado da UEFS

Osni Oliveira Noberto da Silva

osni_edfisica@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho procura traçar um perfil de como a dimensão de produção do conhecimento científico e tecnológico está se dando dentro dos diferentes cursos de educação física do estado da Bahia. Através na analise documental das matrizes curriculares de um representante de cada grupo de cursos, percebeu – se que as disciplinas referentes a esta dimensão representam uma importante parte dos currículos dos cursos pesquisados e que isso independe do curso ser de Licenciatura ou Bacharelado.

          Unitermos: Pesquisa. Diretrizes curriculares. Formação profissional.

 

Abstract

          This paper attempts to draw an outline of how the scale of production of scientific and technological knowledge is taking place within the different physical education programs of the state of Bahia. Through the analysis of documentary master curricula of one representative from each group of courses, he realized - that the disciplines related to this area are an important part of the curricula of schools surveyed and that the course is independent of Bachelors or Degree.

          Keywords: Research. Curriculum guidelines. Professional formation

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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1.     Introdução

   Este trabalho teve como objetivo analisar e discutir a importancia da Pesquisa dentro dos curriculos dos cursos de Educação Física do estado da Bahia. Levando-se em conta que a pesquisa está atrelada às novas demandas sociais do mundo contemporâneo para os profissionais de Educação Física, refletidos nos determinantes legais elaborados ao longo das últimas décadas, conhecidos como as Diretrizes Curriculares Nacionais, que apontaram para a estruturação de diferentes propostas de Projetos Pedagógicos nos Cursos de Educação Física, optamos por analisar um curso de cada grupo de cursos que se configuraram na área a partir destas demandas e documentos, que representassem esta diversidade, conforme esclarecemos na Metodologia.

2.     Breve percurso histórico da pesquisa nos curriculos em Educação Física no Brasil

    Apesar do primeiro curso de Educação Física ter surgido no Brasil nos anos de 1910 (FIGUEIREDO, 2005), a pesquisa no campo da Educação Física brasileira surge apenas nos anos de 1970, o que segundo Canfield (1988) desenvolvida por uma iniciativa do governo federal, onde começaram a ser implantados os primeiros cursos de pós – graduação a partir de programas de pesquisa, além de qualificar os docentes do país no exterior. A firmação desta iniciativa vem a ocorrer nos anos seguintes como explica Betti (1991) apud Verenguer (1997):

    A consolidação deste processo deu-se na década de 80 com a chegada dos pós-graduandos brasileiros que se encontravam no exterior, com a sistematização de eventos científicos, com o lançamento de periódicos da área e, sobretudo, com a criação de um ambiente favorável à discussão de novas idéias e ao desenvolvimento da pesquisa (p. 164).

    É nesta época que surge a Resolução CFE nº 03 de 1987 substituindo a Resolução CFE nº 69/69, balizadora dos cursos de Educação Física até então. Por este documento é instituída a titulação de Bacharelado e incluido pela primeira vez na formação em Educação Física a produção científica, materializada como monografia de fim de curso, porém ainda sendo obrigatório apenas para os cursos de Bacharelado como pode ser observado no trecho da resolução transcrito a seguir:

    Art. 5º O Estágio Curricular, com a duração mínima de um semestre letivo, será obrigatório tanto nas licenciaturas como nos Bacharelados, devendo para estes, ser complementado com a apresentação de uma monografia (“Trabalho de Conclusão”). (p.3)

   A resolução CFE nº 03/87 ficou por quase 20 anos como sendo o principal documento que regulamentava a formação em Educação Física, porém em 2004 acabou sendo substituído pela Resolução CNE/CES nº 07/2004 (TAFFAREL e LACKS, 2005).

    Neste novo documento percebe-se que a importância da pesquisa é reforçada nos cursos de Educação Física, colocando-a como componente básico nos currículos de formação profissional:

    Art. 7º Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso de graduação em Educação Física, articular as unidades de conhecimento de formação específica e ampliada, definindo as respectivas denominações, ementas e cargas horárias em coerência com o marco conceitual e as competências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar.

  • 1º A Formação Ampliada deve abranger as seguintes dimensões do conhecimento:

    1. Relação ser humano-sociedade

    2. Biologia do corpo humano

    3. Produção do conhecimento científico e tecnológico

  • 2º A Formação Específica, que abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física, deve contemplar as seguintes dimensões:

    1. Culturais do movimento humano

    2. Técnico-instrumental

    3. Didático-pedagógico (p.2)

    A Resolução CNE/CES nº 07/2004 estabelece que na formação dos cursos, seus currículos devem obrigatoriamente agregar os conhecimentos próprios da área de Educação Física, sendo que estes são divididos em “Formação ampliada” e “Formação Específica” que por sua vez, subdivididos nas “Dimensões do conhecimento”. Essas dimensões do conhecimento agregam disciplinas em diferentes setores que unidas formam a matriz curricular dos cursos de Educação Física.

3.     Considerações acerca da dimensão “Produção do conhecimento científico e tecnológico”

    Neste trabalho focamos o estudo unicamente para a Dimensão do conhecimento da Produção do conhecimento científico e tecnológico. Esta pode ser entendida como as “habilidades ligadas à tecnologia de estudos e pesquisas, representado pelos conhecimentos de técnicas de produção de textos, trabalhos científicos, projetos de pesquisa, trabalho de conclusão de curso, entre outros” (SILVA, 2009). Segundo algumas referencias como os estudos da Unesp (2005), Ufrj (2006), Udesc (2007) e Vieira (2009) podemos entender que esta dimensão do conhecimento pode ser representada pelas seguintes disciplinas ou componentes curriculares: Metodologia do trabalho cientifico, Seminário de Projeto de Pesquisa, Monografia, Trabalho de Conclusão. Lembrando que as novas nomenclaturas de disciplinas variam um pouco de um curso ao outro.

4.     Metodologia

    No estudo utilizamos da pesquisa documental baseada em Gil (2007). O autor explica que as principais vantagens deste método seria o baixo custo da pesquisa, pois disponibilizaria do pesquisador basicamente o tempo necessário para a análise dos documentos, além de não exigir o contato com os sujeitos da pesquisa, pois muitas vezes o contato chega a ser impossível ou a informação pode ser “prejudicada pelas circunstâncias que envolvem o contato”. Ele ainda argumenta que:

    É importante que o pesquisador considere as mais diversas implicações relativas aos documentos antes de formular uma conclusão definitiva. (...) algumas pesquisas elaboradas com base em documentos são importantes não porque respondem definitivamente a um problema, mas porque proporcionam melhor visão desse problema ou, então, hipóteses que conduzam a sua verificação por outros meios. (GIL, 2007, p. 47)

    Do universo dos cursos existentes na Bahia, utilizamos os estudos de Silva (2009) para organizá-los em três categorias, sendo estas: 1: Curso de Licenciatura com formação voltada para a atuação em todos os campos de trabalho; 2: Curso de Licenciatura voltada somente para a atuação escolar e 3: Curso de Bacharelado em Educação Física com uma formação voltada para atuação em todas as áreas de intervenção.

    Em todos os cursos foram analisados seus currículos e suas respectivas disciplinas ou componentes curriculares, onde a partir daí apresentamos a porcentagem da dimensão de Produção do conhecimento científico e tecnológico dentro do curso. Além disso, buscou-se discutir a importância deste componente nos cursos de Licenciatura e Bacharelado das Instituições de Ensino Superior baianas.

5.     Discussão

    Percebeu-se nos cursos estudados que na dimensão da Produção do Conhecimento Científico e Tecnológico foi incorporado um componente de Projeto de Pesquisa, que veio a se somar a uma disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, no inicio do curso, e uma de Monografia no final, o que tende a amenizar as limitações da formação de iniciação científica dos antigos cursos de Educação Física como explica Silva (2009).

    Uma grande transformação diz respeito à inserção da pesquisa nos currículos, com a inclusão de disciplinas durante toda a formação que levem o aluno a entrar em contato com as técnicas de pesquisa, o que sempre foi um problema na formação, pois na maioria das vezes, os cursos tinham uma disciplina no inicio do currículo sobre metodologia da pesquisa e a monografia no último semestre, não havendo qualquer articulação entre as duas. (p. 39-40)

    Porém ainda necessitaria de componentes curriculares que tratem das habilidades relativas às novas tecnologias, o que no mundo atual, julga-se essencial à produção do conhecimento na sociedade contemporânea. O gráfico abaixo demonstra a porcentagem de disciplinas ligadas a técnicas de pesquisa dentro do currículo dos cursos estudados.

    Neste gráfico percebe-se que o curso de Licenciatura com a formação voltada para a escola apresentou uma quantidade de disciplinas ligadas à pesquisa chegando a 17% do currículo total do curso, o que representou quase o dobro do encontrado nos cursos de Bacharelado. Isso vem somente a desmistificar o entendimento de que a pesquisa é importante apenas para os cursos de Bacharelado, excluindo ou lhe atribuindo um papel secundário nos cursos de Licenciatura. Diante disto, Verenguer (1996, apud ANDERÁOS, 1998, p.37) há muito tempo já argumentava que:

    É um engano atrelar a atividade acadêmica e de pesquisa unicamente ao bacharel, pois ao licenciado deve ser dada essa opção, já que até o momento da aprovação do parecer 03/87, quando ainda não existia a figura do bacharel, quem fazia pesquisas na área era o licenciado.

    Freire (2002) nos dá uma importante contribuição à discussão ao argumentar que:

    Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino... No meu entender, o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. Esses que - fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (p. 14)

6.     Considerações finais

    O estudo demonstrou uma grande transformação no que diz respeito à inserção da pesquisa nos currículos. Esta alteração curricular vem de encontro à perspectiva contemporânea de se entender a importância da pesquisa como eixo central na formação dos novos profissionais, pois segundo Demo (1997) a pesquisa seria o instrumental teórico – metodológico para produzir conhecimento. Ele ainda afirma que:

    Como princípio educativo, pesquisa perfaz um dos esteios essenciais da educação emancipatória, que é o questionamento sistemático crítico e criativo. Neste sentido, educar e construir conhecimento podem aproximar-se, e, em alguns momentos, mesmo coincidir, desde que não se mistifique a construção de conhecimento, que é apenas meio. (pág. 33)

    Nesse sentido, as resoluções entendem a pesquisa como um elemento de grande importância dentro da formação profissional, e possivelmente por isso as concepções de todos os cursos dos grupos pesquisados apontam para uma formação que caracteriza a pesquisa como essencial em suas formações. O estudo demonstrou também que neste caso a habilitação não é justificativa para a predominância, pois a diferença é basicamente a mesma tanto se compararmos Licenciatura com Bacharelado quanto se compararmos Bacharelado com Bacharelado.

    Porém, este estudo limitou-se a averiguar as disciplinas que compõem a matriz curricular dos cursos, não levando em consideração as outras variantes, tal como a iniciação científica oferecida pelas instituições de ensino. Esta verificação ficará a cargo de outras pesquisas.

Referências

  • ANDERÁOS, Margareth. Estudo das propostas de formação profissional desenvolvida pela faculdade de Educação Física de Santo André, Dissertação (Mestrado em Educação Motora). Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, 1998, 141 folhas.

  • ______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 7, de 18 de Março de 2004

  • ______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de Fevereiro de 2002

  • ______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de Fevereiro de 2002

  • ______, CFE - Resolução 03/87, de 16 de junho de 1987, Brasília: Documenta 315/setembro, 1987.

  • CANFIELD, J.T. Pesquisa e pós-graduação em educação física. In: PASSOS, S.C.E., org. Educação física e esportes na Universidade. Brasília, UnB, 1988. p.405-18.

  • DEMO, Pedro. Pesquisa e produção do conhecimento: Metodologia cientifica no caminho Habermas. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Tempo brasileiro, 1997

  • FIGUEIREDO, Zenólia Cristina Campos (Organizadora), Formação Profissional em Educação Física e o mundo do trabalho. Vitória, ES: Gráfica da Faculdade Salesiana, 2005

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. 23. ed, São Paulo, SP: Paz e Terra, 2002. 165p

  • GIL, Antonio Carlos, Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. 9 reimpressão. São Paulo: Atlas, 2007

  • SILVA, Osni Oliveira Noberto da. Implicações da fragmentação da formação profissional de Educação Física em Licenciatura e Bacharelado para as IES baianas. 2009, 88 pág. Monografia (Licenciatura em Educação Física): Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana - Ba.

  • TAFFAREL, C. N. Z; LACKS, S. Diretrizes curriculares: proposições superadoras para a formação humana. In: FIGUEIREDO, Z. C. C. (org). Formação profissional em educação física e mundo do trabalho. Vitória, ES: Gráfica da Faculdade Salesiana, 2005, p. 89-109.

  • UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Projeto Pedagógico: Bacharelado em Educação Física, Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Florianópolis, SC, 2007. http://www.cefid.udesc.br/edf/bacharelado/ppp.pdf. Acessado em 5 de Julho de 2009

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Reestruturação curricular, curso de Licenciatura em Educação Física, Integral e noturno, Conselho do curso de Educação Física, Bauru, SP, 2005. http://www.fc.unesp.br/upload/deptoeducacaofisica/projeto_pedagogico_ed_fis_atual.pdf. Acessado em 2 de Julho de 2009.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física, Comissão de Reformulação curricular, Rio de janeiro, RJ, 2006. http://www.eefd.ufrj.br/sinaes/projeto-pedagogico-do-curso-de-licenciatura-em-educacao-fisica. Acessado em 4 de Julho de 2009

  • VERENGUER, Rita de Cássia Garcia. Dimensões profissionais e acadêmicas da Educação Física no Brasil: Uma síntese das discussões, Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 11(2):164-75, jul./dez. 1997

  • VIEIRA, Ana Paula; ZIMBRES, Sidney Forghieri, ARAÚJO, Silvana Martins. Formação profissional em Educação Física: Apresentando o novo projeto pedagógico da UFMA, EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Fevereiro de 2009. http://www.efdeportes.com/efd129/formacao-profissional-em-educacao-fisica-o-novo-projeto-pedagogico-da-ufma.htm

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