efdeportes.com

Ganhos cognitivos e hábeis-motrizes conseqüentes de um programa

de estimulação cerebral voltado ao equilíbrio da banda cortical alfa

em escolares com dificuldades em atenção

Beneficios cognitivos y motrices producto de un programa de estimulación cerebral orientado 

al equilibrio de la banda cortical alfa en estudiantes con dificultades de atención

Cognitive and driving gains due to a brain stimulation program aiming the

balance of the cortical alfa wave in students with attention disorders

 

*Licenciada em Educação Física

**Licenciado em Educação Física

Mestrando em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ

***Físico, Engenheiro Eletricista e de Telecomunicações

Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ.

****Professor de Educação Física. (Ph.D) Pós-doutoramento em Neurociência

Coordenador do Laboratório de Neuromotricidade da

Universidade Castelo Branco-RJ

Rosângela Rabello Carneiro*

Alessandro Jesus Carmo**

Carlos Magno Monteiro da Silva***

Vernon Furtado da Silva****

carlos.magno.silva@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O fracasso escolar está associado às dificuldades de atenção, problemas de aprendizagem e conseqüentes distúrbios de comportamento. Os benefícios da estimulação cerebral em cognição estimulou a investigação dos efeitos desta sob a indução de ondas alfa, em crianças com dificuldades de atenção, estimando-se a probabilidade de melhora do padrão cortical e conseqüentes ganhos na performance de atividades motoras e cognitivas. As análises estatísticas revelaram um favorecimento da comunicação e do equilíbrio entre os hemisférios cerebrais, gerando ganhos tanto na atividade motora quanto na cognitiva. Desse modo evidencia-se ampla probabilidade de alfabetização a partir da intervenção realizada.

          Unitermos: Estimulação cerebral. Dificuldade de atenção. Hemisfericidade

 

Resumen

          El fracaso escolar está asociado con dificultades en la atención, problemas de aprendizaje y los consiguientes disturbios en el comportamiento. Los beneficios de la estimulación cerebral en la cognición estimularon la investigación sobre los efectos de la inducción de ondas alfa en los niños con dificultades de atención y la probabilidad de mejorar el nivel cortical con los consiguientes aumentos en la performance de las actividades motoras y cognitivas. El análisis estadístico reveló una tendencia de la comunicación y del equilibrio entre los hemisferios cerebrales, generando beneficios tanto en la actividad motora cuanto cognitiva. Así se pone de manifiesto la oportunidad amplia de la alfabetización a partir de la intervención realizada.

          Palabras clave: Estimulación cerebral. Dificultad de atención. Hemisfericidade

 

Abstract

          The school failure is associated with difficulties in attention, learning problems and consequent disturbances in behavior. The benefits of brain stimulation research on the effects of the induction of alpha waves in children with attention difficulties, estimating the probability of improving the cortical patterns and the consequent performance gains of motor and cognitive activities. Statistical analysis revealed a bias of communication and the balance between the cerebral hemispheres, generating gains in congnitive and motor activities. Thus it becomes clear the wide possibility of literacy using the intervention performed in this research.

          Keywords: Brain stimulation. Attention disorder. Hemisphericity

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

1 / 1

Introdução

    Considerando o grande número de crianças, com dificuldades na aquisição da linguagem escrita e leitura, com etiologias diversas, observa-se que mais de um terço das crianças que ingressam no ensino fundamental fracassam e não estão aptas à série seguinte, apresentando dificuldade de atenção, problemas de aprendizagem e conseqüentes distúrbios de comportamento.

    Este trabalho justifica-se pelo propósito de facilitar o desenvolvimento das funções cognitivas, em especial a atenção, através da estimulação cerebral, conjugada com atividades lúdicas, favorecendo a comunicação inter-hemisférica.

    O cérebro trabalha por disparos neuroeletroquímicos formando ondas: beta, alfa, teta e delta. Cada uma destas ondas trabalha em uma faixa de freqüência diferente sendo responsável por um determinado estado de consciência. A estimulação auditiva permite a indução da atividade cortical para melhorar um determinado desempenho, sendo possível se perceber alterações do traçado cortical por meio de EEG, podendo ser indicativas de mudanças neurais. É possível selecionar uma determinada faixa de freqüência para estimulação cerebral e potencializar o cérebro favorecendo a entrada de novas informações, aprendizagem, memória, assim como facilitar e acelerar o processamento mental (SIEVER, 1999; MARQUES, 2004). Essas técnicas estão voltadas para a neuroplasticidade, que é uma capacidade do cérebro humano em apresentar mudanças estruturais de caráter duradouro desde que estimulado para isso, recebendo o nome de aprendizagem. Alguns autores têm evidenciado que relatam que na maioria das pessoas, na região do lobo frontal direito, ocorrem os comandos para lidar com as situações novas de aprendizagem, entre outras; o hemisfério esquerdo trabalha com as situações cotidianas, e um ciclo contínuo de informações que partem do hemisfério direito para o hemisfério esquerdo (SILVA, 2006; OLIVEIRA, 2006).

    Um dos trabalhos pioneiros nesta linha de pesquisa foi elaborado por Murray (RIBEIRO, 2006), no qual o autor comprovou que indivíduos hemisféricos direito aprendem de forma mais eficaz com estratégias pedagógicas holísticas e não verbais, enquanto os indivíduos hemisféricos esquerdos executam tarefas com maior facilidade com estratégias de ensino analítica e verbal. Já os bi-hemisféricos aprendem com os dois tipos de estratégias de ensino. Desse modo, a caracterização principal do problema foi verificar se o programa de estimulação cerebral (auditiva binaural) favorece o processo mental de atenção, através da facilitação da comunicação inter-hemisférica, refletindo-se na aprendizagem hábil-motriz e cognitiva do grupo experimental.

Metodologia

    Considerando-se o objetivo proposto neste estudo e vinculado à otimização do processamento mental de escolares com dificuldade de atenção, esta pesquisa baseia-se em evidências teórico-aplicadas que identificam a estimulação cerebral como uma ferramenta potencial para tanto. Optou-se por um protocolo experimentado por Marques (2004), visando-se o favorecimento da comunicação e o equilíbrio entre os hemisférios cerebrais, devido ao fato de que este equilíbrio se justifica como referência associada a boa performance mental. A característica principal deste protocolo é a indução rápida do cérebro para aprendizagem cognitiva e motriz. O mesmo se estrutura em uma composição de sons espaçados e uniformes que se inicia em 16Hz e faz uma rampa rápida até 8 Hz onde estabelece um platô (momento alfa), daí permanecendo por um período aproximado de 25 minutos. Após este período, ocorre uma subida até 24 Hz e se encerra neste padrão. Esta aplicação foi feita para os escolares do grupo experimental conjugadamente às atividades lúdicas cognitivas, com modalidade não verbal, equivalente às atividades escolares. Assim, a metodologia construída organizou-se como segue:

a.     Amostra

    Composta por 20 alunos entre 07 e 08 anos, de ambos os gêneros, do ciclo intermediário do Ensino Fundamental, de uma Escola Pública da zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Deste total, 10 alunos foram diagnosticados com dificuldade de atenção, constituindo o grupo experimental (GE) desta pesquisa. O grupo controle foi composto por um número igual de crianças em ambos os gêneros. Todos os participantes do estudo tiveram consentimento formal dos seus responsáveis, bem como da Unidade Escolar a que pertenciam. O estudo foi submetido e aprovado pela Comissão de ética da Universidade Castelo Branco, de acordo com o que determina a resolução 196/1996 para pesquisas incluindo seres humanos.

b.     Procedimentos

    O estudo foi desenvolvido através de formato experimental. Na primeira etapa da pesquisa, observou-se a atividade cortical e o comportamento motriz e cognitivo em dois grupos distintos, denominados controle (A) e experimental (B). Na segunda etapa, somente o grupo B (experimental) recebeu um programa de estimulação cerebral (auditiva binaural) conjugada com atividades lúdicas. Na terceira etapa, os dois grupos foram reavaliados após a efetivação dos programas conjugados (estimulação cerebral e atividades hábeis-motrizes lúdicas) para o grupo experimental. Os resultados dos testes hábeis-motrizes (motricidade) e de iniciação para a leitura (cognitivo) foram comparados em características intra e intergrupos em versão pré e pós programas.

c.     Instrumentos utilizados

    (1) Entrevistas não formais com os alunos, equipe pedagógica, professora e responsáveis; (2) entrevista formal com responsáveis, através de questionário psicopedagógico; (3) Avaliação motora através da observação de atividade recreativa de iniciação esportiva para o basquetebol; (4) Avaliação cognitiva através do Teste de Prontidão para Leitura (CEPA); (5) EEG para coleta e registro da atividade cortical dos hemisférios cerebrais com neurofeedback, através de aparelho eletrônico computadorizado denominado ProComp+, fabricado pela Thought Tecnology Ltda, com programa denominado BioGraph na versão 2.1. Sensores não invasivos posicionados nos pontos C3 (hemisfério esquerdo) e C4 (hemisfério direito). A colocação dos eletrodos foi realizada no SISTEMA 10-20, padronizado internacionalmente.

d.     Instrumentos de intervenção

    (1) A estimulação cerebral foi realizada através do Optimum Relaxation Instrument (Brain machine) da Orion, utilizando-se apenas estímulos auditivos (somente para o grupo experimental); (2) programa de atividades motoras com ênfase lúdica com forte carga de demandas atentivas (para o grupo controle e experimental), objetivando facilitar o funcionamento dos processos neurais, habilidades e estratégias de pensamento, em particular a atenção, com atividades de conteúdo não formal, fomentadas através de jogos (Jogo de absurdo, Jogo de erros, Onde está o dominó etc). Estas providências foram tomadas na intenção de que as atividades lúdicas, utilizadas como estratégia pedagógica, servissem como estímulo na construção de processos atencionais e auxiliassem o desenvolvimento das funções cognitivas superiores.

e.     Local

    Sala de aula (testes cognitivos); local fechado reservado sem ruído e ventilado (estimulação cerebral); áreas de atividades de esportes e lazer.

f.     Período de utilização do programa

    20 sessões de 30 minutos, durante um bimestre. Foi utilizado um protocolo de som, com indução de ondas alfa (7 a 14 Hz), específica para a aprendizagem.

g.     Estatísticas

    Os dados foram analisados através de instrumentos estatísticos de naturezas descritiva e inferencial. Na modalidade descritiva os itens de importância para comparações foram a média, desvios- padrão e erro padrão dos grupos nos diversos testes aplicados e verificados. Devido a heterogeneidade dos grupos e da sukcness da amostra, o instrumento estatístico selecionado foi a referência “z” do teste não paramêtrico de sinais (SIEGEL, 1977), com respectiva referência para aceitação ou rejeição da hipótese nula em alfa≤0.05. A análise dos dados eletroencefalográficos foi realizada em referência ao ponto “cz”, tendo-se como unidade de distribuição dos eletródos o modelo 10-20 internacional, sendo a banda alfa (7 a 14hz), específica para aprendizagem, em referência às mudanças corticais hipotetizadas.

Discussão dos resultados

    Após análise de observação comportamental dos grupos sob estudos, durante um período de 06 meses, verificou-se que o grupo controle (sem dificuldade de atenção) apresentou uma evolução motriz e cognitiva normativa. O mesmo não ocorrera com o grupo experimental (com dificuldade de atenção), ou seja, os resultados dos testes foram avaliados e comparados seguindo as fases pré-teste (antes do programa de estimulação cerebral, auditiva binaural, conjugada às atividades lúdicas) e pós-testes (depois da aplicação do programa), com o objetivo de se analisar os possíveis ganhos com o programa de intervenção proposto. No que se refere à estatística inferencial, devido à característica de sukcness da amostra, definiu-se o Teste dos Sinais, um instrumento estatístico não paramétrico. Verificou-se que, quando considerados juntos, os escores de ganhos justificaram que o Programa de estimulação cerebral de indução de ondas alfa, conjugada às atividades lúdicas funcionou positivamente em termos de performance nas tarefas utilizadas como avaliação motora deste experimento. O teste estatístico evidenciou uma ampla significância, com z = 2,23, em área de rejeição de 1,96, p < 0,05. Todavia, quando verificado separadamente, ou seja, por grupo, em comparações pré e pós intervenção, com z = 1,27 e 1,89 para os grupos experimental e controle, respectivamente, não atingiram um nível suficiente para ser considerado estatisticamente significante. Apesar disto, tecnicamente, tais resultados podem ser considerados como plenamente satisfatórios, tanto para o grupo controle, quanto para o experimental.

    Nos gráficos a seguir observa-se a representação dos resultados dos escores obtidos no pré e pós intervenção.

Gráfico 1. Atividade motora em pré e pós período de intervenção – Grupo A

Gráfico 2. Atividade motora em pré e pós programa de intervenção – Grupo B

    Em relação ao fator cognitivo, o efeito do Programa foi realmente de grande monta, revelando-se efetivo para o grupo com dificuldade de atenção (experimental). Porém um fato que deve ser enfatizado foi a grande diferença observada entre os escores dos testes aplicados em versão pré, comparativamente ao momento pós Programa. Ou seja, a avaliação comparativa indicou z = 2,53, para uma área de rejeição de 1,96 e -1,96, p < 0,05. Os alunos foram agrupados segundo o número de pontos alcançados no total do teste, considerando-se alunos com probabilidade média de alfabetizar-se (37 a 45 pontos); alunos com probabilidade superior à média (46 a 49 pontos) e alunos com probabilidade superior (> 50 pontos), como indicado no gráfico a seguir.

Gráfico 3. Representação da probabilidade de alfabetizar-se do grupo experimental – fase pré intervenção

Gráfico 4. Representação da probabilidade de alfabetizar-se do grupo experimental - fase pré intervenção

    Visando-se uma possível relação do fator hemisfericidade com os resultados apresentados nos testes protocolares procedeu-se um pré diagnóstico da natureza hemisférica dos indivíduos pertencentes à amostra. Os mesmos foram avaliados em relação a esta preferência através do teste de movimento conjugado dos olhos, ou seja, o protocolo de CLEM. O movimento de olhar lateral conjugado é a divergência de ambos os olhos de um foco central em resposta a uma questão reflexiva (BAKAN, 1969). Através deste teste verificou-se que o grupo compôs-se por 06 indivíduos com hemisfericidade esquerda e 04, direita. Convêm-se destacar que a bi-hemisfericidade foi um fator de exclusão considerado na composição da amostra.

Tabela 1. Preferência hemisférica dos alunos com dificuldade de atenção (grupo experimental)

Indivíduos

5

7

14

16

17

18

23

24

27

28

Movimento ocular (no de vezes)

HE

10

9

2

7

9

8

7

3

4

3

HD

0

1

8

3

1

2

3

7

6

7

No de itens avaliados: 10. HE = Hemisfério Esquerdo HD = Hemisfério Direito

Fonte: Rosângela Rabello Carneiro

    A amostragem dos dados, através das médias das ondas cerebrais (Alfa), coletadas nos dois hemisférios com olhos abertos, antes e após a estimulação cerebral, sendo C3 representante do hemisfério esquerdo e C4, representante do hemisfério direito, encontra-se nas duas figuras abaixo. Verificou-se que após a intervenção com o programa de estimulação cerebral, todos os alunos apresentaram alterações na atividade cortical, demonstrando um maior equilíbrio entre os hemisférios.

Gráfico 5. Representação gráfica da amplitude das ondas alfa nos hemisférios cerebrais (HE e HD) amplitude das ondas alfa HE e HD, 

do grupo Experimental pré programa do grupo Experimental pré programa de estimulação cerebral

 

Gráfico 6. Representação gráfica da amplitude das ondas alfa nos hemisférios cerebrais (HE e HD) amplitude das ondas alfa HE e HD, 

do grupo Experimental pré programa do grupo Experimental pós programa de estimulação cerebral

    Sobre a avaliação final escolar, terceiro fator verificado, deixou-se de se proceder a um trabalho de estatística inferencial, principalmente devido à essência dos escores que representam tal avaliação e por já ter, neles embutidos, os ganhos associados aos fatores (variáveis) através da avaliação motora e o Teste de Prontidão para Leitura. Observa-se nos gráficos a seguir, os conceitos convertidos em notas, referentes aos quatro bimestres do ano em que os alunos estavam cursando o ciclo intermediário e os conceitos do primeiro bimestre, após o programa de estimulação cerebral, e o conceito dos quatro bimestres do ano seguinte, correspondente ao ciclo final.

Gráfico 7. Desempenho escolar do grupo experimental (ciclo intermediário)

 

Gráfico 8. Desempenho escolar do grupo experimental (ciclo final)

    Através das reavaliações motora, cognitiva, escolar e EEG, observou-se uma mudança no padrão cortical dos escolares pertencentes ao grupo experimental desta pesquisa. Esta mudança favoreceu a função atencional, otimizando o processamento mental, revelando equilíbrio entre os hemisférios cerebrais, proporcionando diminuição da ansiedade e um estado mental relaxado e concentrado. Apresentou-se ganhos tanto na atividade motora quanto cognitiva. O teste estatístico evidencia z = 2,23 com área de rejeição de 1,96 e p<0,05 verificado em comparações pré e pós intervenção. Atividade motora apresentou z = 1,27, sendo estatisticamente não significante, entretanto os ganhos, tecnicamente, podem ser considerados como satisfatórios. A atividade cognitiva indicou z = 2,53. O Programa revelou ser efetivo para o grupo, apresentando grande diferença entre escores.

    O jogo de basquetebol, apresentado como uma atividade lúdica adaptada, foi utilizado também como facilitador do processo ensino-aprendizagem, pois possibilitou adequar as atividades do jogo à vivência motora dos alunos, respeitando a faixa etária, proporcionando uma maior motivação para a prática e facilitando a “resignificação” do aprender em outro contexto, além do espaço sala de aula. No pré-teste observou-se que os alunos que apresentaram dificuldade de atenção, ao executarem os movimentos, queriam desistir, precisando ser estimulados a continuarem. No pós-teste, observaram-se nestes mesmos alunos, que melhoraram na atenção aos movimentos e mudança de comportamento frente ao insucesso. Mesmo apresentando dificuldades, os alunos continuavam tentando, eles queriam inclusive, continuar praticando a atividade até acertarem.

    O Teste de Prontidão para Leitura (TPL) verificou o desenvolvimento da criança nas habilidades que são requeridas no período inicial da leitura. Pode variar de criança para criança, em função da intensidade do exercício, direção dos interesses, capacidade de atenção e a energia volitiva (KUNZ, 2001). Todos os alunos (grupo controle e experimental) apresentaram escore no pré-teste acima da média para prontidão para leitura. O grupo experimental após o programa de intervenção, no pós-teste, apresentou mudança de desempenho, onde todos alcançaram probabilidade superior em alfabetizar-se.

    Para compreender melhor o que ocorreu com a atividade cortical dos escolares que participaram deste estudo, esta refletindo-se diretamente no resultado final escolar e em especial no referente ao primeiro bimestre (ciclo final) quando foi efetivado o programa, convém lembrar que o hemisfério esquerdo processa informações analíticas e seqüenciais e que o hemisfério direito processa informações espaciais e conceituais. Quando submetidos a uma situação estressante (como por exemplo, alguns indivíduos em processo de aprendizagem), processa-se em resposta de luta e fuga e, normalmente, durante esta resposta, o hemisfério direito “fecha-se ou se desmobiliza-se”, apresentando uma imagem do traçado cortical bem desbalanceada (SIEVER,1999). O aprendizado torna-se assim ainda mais difícil, pois afeta a capacidade de aprender. Observou-se que no grupo de alunos que não conseguiram alfabetizar-se plenamente, predomina a preferência de funcionamento do hemisfério direito. Provavelmente, a cada nova etapa do processo de alfabetização, em que os alunos não conseguiam acompanhar, desenvolvia-se um processo de ansiedade, sendo reativado a cada nova tarefa relacionada com a linguagem escrita e prejudicando seu interesse e atenção.

    O hemisfério direito, Marques (2004), é o responsável por processar todas as informações novas para depois enviar para o hemisfério de competência; e o hemisfério esquerdo, associado a uma tarefa de rotina. Entretanto, após o programa, observa-se mudança na atividade cortical, auxiliando a minimizar o processo de ansiedade gerada pelas atividades escolares. Este fato, provavelmente, poderá ter sido o principal fator relacionado a estes resultados, isto é, a questão do hemisfério direito, ser o responsável pelo processamento de atividades novas (atividades pedagógicas relacionadas à alfabetização: nova letra, nova palavra, nova frase), onde depois de identificada, enviada para o hemisfério de sua competência, o esquerdo, que também está relacionado ao processamento de atividades rotineiras, e a linguagem escrita. Verificou-se que o grupo de alunos predominante de processamento hemisférico direito, por ter esta característica própria, necessita de um tempo maior para estabelecer um novo padrão de homeostase cerebral e reiniciar ou dar continuidade ao processo de alfabetização. Entretanto observou-se que houve grandes melhoras nas capacidades de atenção e entendimento das tarefas escolares, para os alunos de processamento predominante do hemisfério esquerdo.

Conclusão

    Após a intervenção de estimulação cerebral (auditiva binaural), conjugada com atividades lúdicas foi possível minimizar as dificuldades do processo ensino-aprendizagem e favorecer a aprendizagem hábil-motriz e cognitiva de indivíduos de 07 e 08 anos, de ambos os sexos, do ciclo intermediário, que apresentavam baixas de atenção volitiva, interferindo nos processos de aprendizagem motora e cognitiva, em especial a aquisição da linguagem escrita. Através dos resultados estatísticos conclui-se que o programa de intervenção de estimulação cerebral resultou em ganhos consideráveis para todos os indivíduos, o que era esperado, com base na literatura pertinente e em pesquisas anteriores, Isto é, a estimulação cerebral através da indução de ondas alfa otimiza o processamento mental, favorece a comunicação e o equilíbrio entre os hemisférios; a função analítica/seqüencial do hemisfério esquerdo com a função seqüencial/espacial do hemisfério direito, auxilia os processos atencionais com diminuição da ansiedade. Foi observado que a “falta de atenção”, queixa principal dos professores, provavelmente está relacionada à falta de capacidade de manter a atenção, orientada de modo permanente em determinado sentido, ocorrendo a diminuição da atenção voluntária.

    Pode-se dizer que a dificuldade de atenção, em termos gerais, seria uma dificuldade temporária, conseqüente da falta de correspondência entre a abordagem pedagógica, no processo de ensino no período de alfabetização, utilizada pelo professor, processo (seqüencial ou simultâneo), e o modo pelo qual a criança recebe e trata as informações (estilo cognitivo), gerando dificuldades no processo de alfabetização. Em termos específicos, em uma perspectiva neuropsicológica, a dificuldade de atenção pode ser tratada como desordem de natureza orgânica, neurológica, funcional e temporária, que interfere na recepção do estímulo caracterizando-se por uma discrepância entre o potencial funcional do aluno (preferência hemisférica) e a estratégia pedagógica do professor (seqüencial ou simultâneo) para a alfabetização.

    Evidenciou-se que, de alguma forma, a potencialização cerebral, através de estimulação cerebral auditiva, conjugada com atividades lúdicas, contribuiu, pelo menos em parte, para minimizar o problema de escolares com dificuldade de atenção, favorecendo a comunicação e o equilíbrio funcional entre os hemisférios cerebrais, com diminuição da ansiedade e melhora no relacionamento. Na avaliação final escolar, 5 alunos hemisféricos esquerdos, atingiram conceitos satisfatórios. Constatou-se, a partir deste dado, que preferências hemisféricas interferem nos processos atencionais e de aprendizagem, sugerindo necessidades diferenciadas no processo de alfabetização. Propõe-se uma reflexão sobre as intervenções e estratégias pedagógicas em função da utilização diferenciada de “estilo cognitivo” de escolares.

    Sabe-se que não há uma causa única para o fracasso escolar e que a dificuldade de atenção interfere no processo de aprendizagem e em especial para a linguagem escrita. Estudos sobre hemisfericidade comprovaram que indivíduos com processamento preferencialmente em hemisfério direito aprendem mais depressa, com estratégias pedagógicas conceituais e não-verbais, enquanto os indivíduos com processamento em hemisfério esquerdo executam a tarefa mais facilmente, com estratégias de ensino, analítica e verbal. A hemisfericidade é como se fosse um filtro da realidade, que usa-se para dizer a si próprio o que é interessante ou não, e de que forma terá mais facilidade para entender e executar a maioria das tarefas do cotidiano. Os indivíduos de processamento predominando o HD apresentam dificuldade de sistematizar uma ação e os indivíduos de processamento predominando o HE, apresentam dificuldades na visualização do todo. Isto poderá gerar insegurança e ansiedades levando-os ao fracasso escolar. Provavelmente uma estratégia pedagógica, seria estimular aonde existe uma deficiência e valorizar as facilidades levando em consideração como eles desempenham uma atividade e executá-las.

    Propõe-se que outros estudos sejam realizados no campo da educação, pois se considera esta proposta de intervenção precursora e indicada em casos de uma dificuldade de aprendizagem já instalada. Necessita-se, portanto, de mais estudos correlacionando às preferências hemisféricas e os processos atencionais interferindo na aprendizagem.

Referências bibliográficas

  • BAKAN, P. Hypnotizability, laterality of eye movement and functional brain asymmetry. In: Perceptual and motor Skills, 28, 1969.

  • KUNZ, E. R. Teste de prontidão para leitura. rev. Rio de Janeiro: Centro Editor de Psicologia Aplicada - CEPA, 2001.

  • LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Editora Atheneu, 2001.

  • MARQUES, L. J. Padrão de atividades cortical ótima para a aprendizagem hábil-motriz e cognitiva. Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade Humana). Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2004.

  • ORTIZ, M. Dominância Cerebral. Disponível em: <www.trainingmartix.com.br Acesso em: 23 abr. 2004.

  • PAES, R. R. Aprendizagem e competição precoce: O caso do Basquetebol. Revista Portuguesa em Ciências do Desporto. n. 1, v. 6, 1997.

  • RIBEIRO, L. H. B. A eficácia da potencialização cerebral e controle da mente na performance de atletas de equipes de nado sincronizado e futebol. Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade Humana). Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2006.

  • SIEGEL, S. Estatística não-paramétrica (para as ciências do comportamento). São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.

  • SIEVER, D. The rediscovery of audio-visual entrainment techonology. Canadá: Comptronic Devices Limited, 1999.

  • SILVA, V.F. OLIVEIRA, L.H. Assimetrias Cerebrais Funcionais em Indivíduos Hemisféricos Direitos e Hemisféricos Esquerdos. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2006.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires, Febrero de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados