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O percurso da vida escolar básica e a relação com a escolha

profissional dos acadêmicos da Licenciatura em Educação 

Física da Universidade Federal de Santa Maria

El recorrido de la vida escolar elemental y la relación con la elección profesional de los 

estudiantes de la Licenciatura en Educación Física de la Universidad Federal de Santa María

 

Doutor em Educação

Doutor em Ciência do Movimento Humano

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física

Hugo Norberto Krug

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Esta investigação objetivou analisar a relação entre o percurso da vida escolar básica e a escolha profissional dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário com perguntas abertas. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram vinte e quatro (24) acadêmicos do 3º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Didática em Educação Física, no 2º semestre letivo de 2008. Concluímos que ficou nítida a grande influência das vivências do cotidiano das aulas de Educação Física na educação básica dos acadêmicos na escolha profissional pelo curso de Licenciatura em Educação Física.

          Unitermos: Educação Física. Formação de professores. Formação inicial. Percurso da vida escolar básica. Escolha profissional

 

Artigo elaborado a partir do Projeto de Pesquisa denominado “A formação inicial 

de professores de Educação Física: um estudo de caso na Licenciatura do CEFD/UFSM”

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introduzindo a investigação

    De acordo com Hurtado (1983) todo comportamento humano é motivado, ou seja, é impulsionado por motivos. Portanto, todo o tipo de comportamento decorre de uma causa que o provoca. Desta forma, os motivos podem encontrar-se: a) na esfera consciente – nesse caso, o indivíduo sabe por que está agindo de determinada maneira; e, b) na esfera inconsciente – nesse caso, o indivíduo não sabe porque se comporta de determinada maneira.

    Este autor esclarece que o motivo abrange qualquer elemento da consciência que concorre para a determinação do ato volativo. Assim, motivo já foi definido como sendo “qualquer consideração pela qual um ato é realizado. Motivo é o que leva uma pessoa a praticar uma ação” (p.210). É a razão pela qual o ato é realizado e inclui tudo que, de alguma forma, influencia a vontade. Indica todos os fatores e condições que iniciam e sustêm a atividade ou comportamento.

    Desta forma, Krug e Krug (2008a) destacam que o momento da escolha da profissão pelos indivíduos está relacionado com uma motivação gerada por um motivo e que este pode ser consciente ou inconsciente.

    Neste direcionamento, Santini e Molina Neto (2005) salientam que caso a escolha profissional não tenha sido consciente e coerente com os interesses pessoais, a profissão poderá ser exercida com pouca motivação e, ao longo do percurso profissional, poderão surgir situações de desconforto e frustrações que poderão paralisar e deprimir o professor, trazendo-lhe inúmeras implicações pessoais e sociais.

    Já Bordieu (1998) afirma que a escolha da profissão é determinada pelas chances de sucesso que a pessoa deslumbra. Se ela sabe que não será aprovada em um determinado curso, mas que poderá ser aprovada em outro, ela direciona seu interesse para este outro que lhe garanta mais possibilidade de sucesso. As pessoas tendem a tirar do horizonte aquilo que lhes parece inacessível, sendo uma forma de se livrar de possíveis frustrações.

    Almeida e Fensterseifer (2007) reforçam que a escolha profissional não é uma tarefa fácil, é uma opção que se faz retomando os vários dias vividos durante a nossa constituição, enquanto sujeitos históricos e culturais, a partir dos encontros e desencontros com nossos interesses e intenções e, também, com os interesses e intenções de outros, o que medeia uma tomada de decisão. Isso fortalece uma tese já esboçada de que a escolha profissional não é fruto apenas de uma opção individual, mas um conjunto de fatores externos que, aliados às condições subjetivas do sujeito, constituem as circunstâncias de vida, nas quais se desenrolam os momentos de escolha.

    Frente a esta situação foi que surgiu a questão problemática norteadora desta investigação: Qual é a relação entre o percurso da vida escolar básica e a escolha profissional dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)?

    Desta forma, o objetivo geral da investigação foi analisar a relação entre o percurso da vida escolar básica e a escolha profiscional dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.

    Do objetivo geral decorreram os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar o percurso da vida escolar básica dos acadêmicos; e, 2) Analisar os motivos da escolha profissional pela Educação Física dos acadêmicos.

    Justificou-se a realização desta investigação pelo fato de que seus resultados podem contribuir para um maior esclarecimento sobre as influências que ocorrem por ocasião da escolha pelas pessoas da Licenciatura em Educação Física enquanto profissão.

A metodologia da investigação

    A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitatita.

    Conforme Triviños (1987, p.125), “a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a relatividade social como uma construção humana”. O autor explica que na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.

    Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p,58) “a descrição não se fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e sim num trabalho que se realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.

    Já segundo Lüdke & André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza a “interpretação em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que:

    O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.

    De acordo com Goode & Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações.

    O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com perguntas abertas, que foi respondido por vinte e quatro (24) acadêmicos do 3º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Didática em Educação Física, no 2º semestre letivo de 2008. A escolha dos participantes da investigação se deu de forma espontânea onde a disponibilidade para responder o questionário foi o fator determinante. Os participantes foram identificados por “números” para preservar a identidade dos mesmos.

    A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário (...), de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo & Bervian (1996) relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.

    Perguntas abertas “destinam-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.138).

    As questões norteadoras que compuseram o questionário estão relacionadas com os objetivos específicos desta investigação e foram as seguintes: 1) Ao relembrar o percurso de sua vida escolas básica, descreva as experiências vividas nas aulas de Educação Física que lhe trazem lembranças significativas, boas ou ruins; e, 2) Descreva o(s) motivo(s) de sua escolha profissional pela Educação Física.

    A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como um:

    Conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

    Godoy (1995, p.23) que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.

    Para Bardin (1977), a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente apreendido.

Os resultados da investigação

    Identificamos e analisamos quatro “percursos da vida escolar básica e a sua relação com a escolha profissional” dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. Eles foram os seguintes:

1.     O percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esportes e a escolha profissional motivada pelo gosto pelo esporte

    Mais da metade dos acadêmicos (14) manifestaram que o seu percurso da vida escolar básica foi marcado pela prática de esportes e que sua escolha profissional pela Educação Física foi motivada pelo gosto pelo esporte (Acadêmicos 2; 3; 4; 5; 6; 9; 10; 11; 12; 15; 17; 18; 19 e 24).

    O percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esportes pode ser fundamentado com Gallardo (2000) que destaca que os ideais liberais da sociedade sustentam que o esporte levará a criança a aprender que entre ela e o mundo existem os outros, e que para a convivência social, a obediência a certas regras incontestáveis e imutáveis é necessário. Assim, as determinações legais indicam que, a partir da 5ª série do ensino fundamental a programação da disciplina de Educação Física deve incluir iniciação esportiva entre outras atividades do conteúdo. Outro fato importante é que em pesquisa realizada por Conceição e Krug (2008) estes constataram que 83,5% dos acadêmicos de Educação Física do CEFD/UFSM pesquisados preferiam praticar esportes em seu tempo de educação básica.

    Conseqüentemente, podemos inferir que um percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esporte, pode, e, certamente, deverá despertar o gosto pelo esporte. Este gosto pelo esporte pode influenciar motivacionalmente o aluno da educação básica a escolher a Educação Física como profissão. Para confirmar esta inferência citamos Becker; Ferreira e Krug (1999) que afirmam que o gosto pelo esporte é o principal motivo pelo qual as pessoas escolhem a Educação Física como profissão. Também Maschio et al. (2009) constataram em pesquisa que o gosto pelo esporte foi o principal motivo da escolha do curso de Educação Física pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM.

2.     O percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esportes e incentivo do professor de Educação Física para esta prática e a escolha profissional motivada pelo gosto pelo esporte e pela influência do professor

    Uma razoável parcela de acadêmicos (5) declararam que o seu percurso da vida escolar básica foi marcado pela prática de esportes e também pelo incentivo do professor de Educação Física para esta prática e que sua escolha profissional pela Educação Física foi motivada pelo gosto pelo esporte e pela influência do professor (Acadêmicos 1; 8; 13; 14 e 21).

    O percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esportes e pelo incentivo do professor de Educação Física para esta prática pode ser fundamentado com Villas Boas et al. (1988) que diz que o esporte como conteúdo da Educação Física Escolar faz com que a maioria das pessoas sinta prazer pela sua prática e isto também acontece com o professor porque ele também é ou foi um praticante.

    Conseqüentemente, podemos inferir que um percurso da vida escolar básica marcado pela prática de esportes e pelo incentivo do professor de Educação Física para esta prática, pode, e, certamente, deverá despertar o gosto pelo esporte. E, este gosto pelo esporte somado à influência do professor de Educação Física que reforça a prática do esporte pode influenciar motivacionalmente o aluno da educação básica a escolher a Educação Física como profissão. Para confirmar esta inferência citamos Krug e Krug (2008a) que constataram que o gosto pelo esporte e a influência do professor de Educação Física são os dois principais motivos da escolha dos ingressantes na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. Também podemos confirmar esta inferência com Castello (apud HURTADO, 1983) que destaca que o professor de Educação Física influencia o aluno, quer como pessoa, quer como profissional, tanto pelo que ensina como pelo que faz, pelo bom exemplo que lhes dá. Portanto, essa influência é, antes de mais nada, de pessoa para pessoa, num interrelacionamento amigo, de compreensão, aceitação e respeito mútuos, levando sempre em conta a liberdade interior e a personalidade do outro.

3.     O percurso da vida escolar básica marcada pelo bom professor de Educação Física e a escolha profissional marcada pela identificação com a profissão professor de Educação Física

    Uma pequena parcela de acadêmicos (3) disse que o seu percurso da vida escolar básica foi marcado pelo bom professor de Educação Física e que sua escolha profissional pela Educação Física foi motivada pela identificação com a profissão de professor de Educação Física (Acadêmicos 7; 16 e 20).

    O percurso da vida escolar básica marcado pelo bom professor de Educação Física pode ser fundamentado com Pereira e Garcia (1996) que destacam que o conceito de ‘bom’ possui diversos viézes, ligados da Psicologia à Sociologia, mas para o senso comum, cotidiano, no qual se apóiam os valores dos alunos, o ‘bom’ corresponde ao correto, ao eficiente, à satisfação, ao apropriado. Assim, a qualidade de ‘ser bom’, implica numa série de fatores que estão ligados à competência, à proeficiência, à habilidade, etc. Aquele que é considerado ‘bom’, relaciona-se à sua capacidade docente, com natureza e função educativa. Ser bom, relaciona-se à questão de negar o mau, o deficiente, o incompetente, etc. Já Pimenta (1997) afirma que o ‘bom professor’ é um conceito polissêmico, que adquire significados conforme os contextos, os momentos histórico-sociais e pessoais, os valores e as finalidades que a sociedade, o professor e os alunos atribuem à educação.

    Conseqüentemente, podemos inferir que um percurso da vida escolar básica marcado pelo bom professor de Educação Física, pode, e, certamente, deverá despertar uma admiração do aluno pelo professor ou pela profissão de ser professor. Esta admiração pode influenciar motivacionalmente este aluno da educação básica a escolher a Educação Física como profissão. Para confirmar esta inferência citamos Krug e Krug (2008b) que destacam que gostar do que se faz é uma das características pessoais principais do bom professor de Educação Física. Desta forma, a percepção deste fato pode levar o aluno a se identificar com a profissão de professor de Educação Física. Segundo Krug e Krug (2008a) um dos motivos da escolha da profissão pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM foi a identificação com esta profissão. Também Silveira et al. (2008) destaca que um dos motivos que leva um sujeito a escolher uma determinada profissão está interligado ao se identificar e ao querer trabalhar em determinada área.

4.     O percurso da vida escolar básica marcado pelo professor de Educação Física ruim e a escolha profissional motivada pelo desejo de modificar a Educação Física Escolar

    Poucos acadêmicos (2) afirmaram que o seu percurso da vida escolar básica foi marcado pelo professor de Educação Física ruim e que a sua escolha profissional foi motivada pelo desejo de modificar a Educação Física Escolar (Acadêmicos 22 e 23).

    O percurso da vida escolar básica marcado pelo professor de Educação Física ruim pode ser fundamentado com Krug; Ivo e Krug (2009) que destacam que o professor de Educação Física ruim foi uma das más lembranças do tempo da Educação Física Escolar na educação básica pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM. Este professor ruim tinha as seguintes características: a) Largava a bola e abandonava o local da aula; b) Não orientava nenhuma atividade; c) Deixava os alunos escolherem a atividade a ser praticada, que geralmente era futebol para os meninos e voleibol para as meninas; d) Não havia seqüência de conteúdos; e) Repetição constante das mesmas atividades; f) Havia exclusão dos alunos, pois só jogavam os melhores; e, g) Etc.

    Conseqüentemente, podemos inferir que um percurso da vida escolar básica marcado pelo professor de Educação Física ruim, apesar de ter pouca probabilidade, pode despertar um desejo neste aluno por uma Educação Física de qualidade e isto influenciar motivacionalmente o mesmo a escolher a Educação Física como profissão para modificar a Educação Física Escolar, ou seja, toma para si a responsabilidade de escolher uma profissão com a ambição de proporcionar aos outros, seus futuros alunos, uma Educação Física Escolar melhor. Segundo Grutka e Santos (2003) existe a necessidade de (re)organizar a visão sobre a Educação Física Escolar, para tornar a sua prática pedagógica mais significativa, deixando de lado as receitas pré-estabelecidas e começando a construir a sua própria, conforme a sua realidade.

Conclusão: uma possível síntese sobre a investigação

    Pela análise das informações obtidas podemos concluir que ficou nítida a grande influência das vivências do cotidiano das aulas de Educação Física na educação básica dos acadêmicos na escolha profissional pelo curso de Licenciatura em Educação Física.

    Desta forma, o que mais nos chamou à atenção nos resultados desta investigação foi que o percurso dos alunos na educação básica marcado pela prática de esportes nas aulas de Educação Física despertou nos mesmos o gosto pelos esportes e que isto influenciou consideravelmente a escolha da Licenciatura em Educação Física como profissão. Dezenove (19) dos vinte e quatro (24) acadêmicos estudados (1; 2; 3; 4; 5; 6; 8; 9; 10; 11; 12; 13; 14; 15; 17; 18; 19; 21 e 24) apresentaram esta relação. Figueiredo (2008) destaca que a experiência ligada ao esporte ou mesmo o gosto pelo mesmo é muito considerada no momento da escolha da profissão. Diante desta constatação nos sentimos na obrigação de citar Santini e Molina Neto (2005) que destacam que a grande maioria dos ingressantes na Licenciatura em Educação Física não aspira ser professor de Educação Física. São ex-atletas ou pessoas que já tiveram contato com a área esportiva e que, quando confrontados com a decisão de escolher uma profissão, optaram por uma que já lhes era familiar, a Educação Física, reduzindo, assim, as incertezas. Neste contexto é importante ressaltar que o acadêmico da Licenciatura em Educação Física não pode se identificar como um técnico esportivo, pois Oliveira (1992) já destacava que o papel a ser desempenhado pelo profissional de Educação Física na escola, não é o de treinador à caça de talentos, e nem tão pouco, o de simples marionete a serviço da elite. O papel do profissional de Educação Física na escola é o de educador.

    Entretanto, ainda Figueiredo (2008) diz que não se deve cair no reducionismo de considerar que as experiências esportivas influenciam de forma direta, exclusiva e mecânica a escolha pela profissão de professor de Educação Física.

    E, nesta direção, outro fato nos chama à atenção nos resultados desta investigação. Foi o fato de que o professor de Educação Física bom ou ruim também influencia motivacionalmente a escolha profissional dos alunos da educação básica pela Licenciatura em Educação Física. Como podemos verificar nos resultados desta investigação cinco (5) dos vinte e quatro (24) acadêmicos estudados apresentaram esta relação, sendo maior a influência do bom professor (Acadêmicos 7; 16 e 20) sobre o professor ruim (Acadêmicos 22 e 23). Torres et al. (2007) salienta que a postura do professor perante uma turma serve de ‘espelho’ para a formação do caráter dos alunos, pois estes tentam se espelhar nas pessoas que estão a sua volta, e principalmente nas pessoas com quem eles se sintam bem. E, por isso o exemplo tem de ser ‘bom’. Entretanto, mesmo que o exemplo do professor for ruim, isto é, tenha uma prática pedagógica deficiente ou tenha atitudes desadequadas, segundo Almeida e Fensterseifer (2007), o desejo do aluno (ou futuro acadêmico) de significar novas ações para a Educação Física na escola reflete a possibilidade de construir para constituir um novo referencial para a disciplina a partir de uma prática diferente.

    Assim, pelos resultados desta investigação podemos inferir que a forma de escolher a profissão, professor de Educação Física, na maioria das vezes, segundo Krug e Krug (2008a), é feita de forma inconsciente pelos ingressantes, pois os mesmos sofrem diversas influências, e entre elas, nos parece ser muito forte, a do percurso da vida escolar básica, pois de acordo com Almeida e Fensterseifer (2007) um dos motivos que leva uma pessoa a escolher a Educação Física como profissão, podem ser as relações com a disciplina na escola. E, neste sentido, Santini e Molina Neto (2005) destacam que, caso a escolha profissional não tenha sido consciente e coerente com os interesses pessoais, a profissão poderá ser exercida com pouca motivação e, ao longo do percurso profissional, poderão surgir situações de desconforto e frustrações que poderão paralisar e deprimir o professor, trazendo-lhe inúmeras implicações pessoais e sociais. Afirmam ainda que a grande maioria dos professores de Educação Física não teve uma orientação profissional adequada durante o período escolar o que prejudicou a tomada de decisão sobre a profissão a ser escolhida.

    Entretanto, para atenuar esta preocupante situação de escolha profissional inconsciente, isto é, o indivíduo não sabe por que escolheu a profissão, ainda Santini e Molina Neto (2005) salientam que mesmo não havendo convicção na hora da escolha profissional, é possível, após o ingresso da pessoa no curso de Educação Física, desenvolver competências específicas para o desempenho que o trabalho exige, caracterizando, assim, com o passar do tempo, o desenvolvimento do processo de identidade com o curso escolhido.

    E, para finalizar esta investigação, citamos Figueiredo (2008) que ressalta que é impossível deixar de lado as evidências de que há uma estreita relação entre as experiências anteriores das pessoas e suas escolhas, entre elas as profissionais. E, isto foi o que realmente constatamos nesta investigação.

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