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Efeitos da suplementação com ômega-3 e do treinamento

aeróbico sobre o perfil lipídico de ratas ovariectomizadas

Efectos de la suplementación con omega-3 y del entrenamiento aeróbico en el perfil lipídico en ovariectomizadas

 

*Bacharel em Ed. Física formada pela Faculdade Estácio de Sá de Vitória

*Graduando do curso de Ed. Física da Faculdade Estácio de Sá de Vitória

***Fisioterapeuta formada pela Faculdade Estácio de Sá de Vitória

****Doutor em Ciências Fisiológicas e Professor da Faculdade Estácio de Sá de Vitória

(Brasil)

Tagana Rosa da Cunha*

Wender Nascimento Rouver**

Renata Carvalho de Assis***

Roger Lyrio dos Santos****

rogerlyrio@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Durante o climatério ocorrem várias alterações no organismo da mulher, dentre elas mudanças nos níveis plasmáticos de triglicerídeos e lipoproteínas. O ω-3 e o exercício físico isoladamente promovem alterações benéficas no perfil lipídico, diminuindo taxas séricas de LDL e triglicerídeos. Entretanto, o efeito da associação desses dois fatores sobre o perfil lipídico ainda não foi totalmente elucidado.

          Unitermos: suplementação. Ômega-3. Treinamento aeróbico

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    Devido ao aumento da expectativa de vida no século XX, uma porção crescente de mulheres vive um período cada vez mais longo de suas vidas na pós-menopausa (WISE et al., 1999). A menopausa é um evento que ocorre dentro do climatério, que de acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS (1996) é uma fase da evolução biológica da mulher, em que ocorre o processo de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo. À medida que os ovários envelhecem, diminuem os ciclos, as ovulações são menos freqüentes e cai a produção dos hormônios estrógeno e progesterona, causando irregularidade menstrual (RUIZ, 2002).

    O estrógeno exerce papel modulatório em fatores que contribuem para a origem da placa de ateroma. Um dos mecanismos mais aceitos se dá por meio de modificações do perfil lipídico, elevando a síntese da lipoproteína de alta densidade (HDL) e o catabolismo da lipoproteína de baixa densidade (LDL) (DANTAS et al, 2005). Além disso, o estrógeno tem mostrado propriedade antioxidante e é capaz de reduzir a concentração de radicais livres, pois atua como um potente seqüestrador dessas substâncias. Essa capacidade é dada por sua estrutura fenólica. Os radicais livres promovem a oxidação do LDL, que, uma vez oxidado é mais aterogênico (DANTAS et al, 2005)

    Diversos estudos mostram que o consumo ω-3 melhora o perfil lipídico (III DIRETRIZ BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIA, 2006; ÁGUILA 2002; YOUDIM et al, 2000; HU et al, 2002). A ingestão de ω-3 diminui os níveis de triglicerídeos, em indivíduos com hipertrigliceridemia diagnosticada (POWNALL et al, 1994). No metabolismo dos seres humanos, o ω-3 inibe a síntese de VLDL (molécula que transporta triglicerídeos), reduz a síntese de apolipoproteina B, reduz a síntese de LDL, dessa forma diminuindo a lipidemia pós-prandial (CONNOR, 1994).

    Assim com o ω-3, comprovado que o exercício físico melhora o perfil lipídico, atuando de forma significativa no aumento dos índices de HDL-c e redução do LDL-c e dos triglicerídeos séricos (SAKAKI, SANTOS; 2006). O treinamento físico aeróbio tem sido utilizado como coadjuvante ao tratamento farmacológico de diversas doenças cardiovasculares. Além disso, o exercício físico regular está associado à redução significante da morbidade e da mortalidade (VANZELLI, et al; 2005).

    Por tanto o trabalho tem como objetivo Analisar se os benefícios do exercício físico sobre o perfil lipídico e aspectos morfológicos são potencializados mediante a suplementação de ω-3 na pós-menopausa.

Metodologia

    Foram utilizadas ratas Wistar, adultas, com peso entre 200 e 300 g, mantidas em temperatura controlada (20-24º C) e iluminação artificial com ciclo claro e escuro (12h/12h. As gaiolas permitiam o livre acesso dos animais à ingestão de água e ração e manuseio o foi de acordo com as normas de tratamento estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Fisiologia em 2001.

    Os animais foram divididos em 5 grupos (N=5): Controle; Ovariectomizado sedentário (OVX); Ovariectomizado tratado com ω-3 (N-3); Ovariectomizado treinado (TRE); Ovariectomizado treinado e tratado com ω-3 (TRE N-3).

    As ratas foram anestesiadas com Hidrato de Cloral (40 mg/Kg), após o efeito da anestesia foi realizada a ovariectomia de acordo com o protocolo de SUN, et al 2003.

    Dez dias após a ovariectomia o tratamento foi iniciado nos grupos OVX ω-3 e OVX treinado ω-3. O tratamento foi realizado por via oral, ω-3 foi administrado por gavagem, na dose de 60 mg/kg, uma vez por dia, durante 5 semanas.

    O treinamento começou dez dias após a castração. O programa de exercício físico foi realizado numa esteira ergométrica, que possui 6 baias com tampa superior vazada que haja suprimento adequado de ar para as ratas.

    O programa de exercício físico teve duração de 5 semanas, sendo a primeira semana de adaptação ao exercício. A sessão de treinamento teve duração de 20 - 60 minutos, as sessões dos treinos foram executadas 5 dias por semana, tendo uma pausa de 2 dias para descanso como o recomendado pelo ACSM (2003).

Resultados e discussão

    Houve uma tendência à redução na concentração de colesterol total na circulação quando o exercício e ω-3 foram associados, porém essa redução não foi significativa, similar ao que foi encontrado no estudo de Clemente (2006). Porém, Águila (2002) demonstrou um aumento no colesterol total nos grupos suplementados com ω-3 por 18 meses, sendo que o aumento do colesterol total ocorreu devido ao aumento nos níveis de HDL.

Figura 1. Níveis de colesterol total nos grupos controle, OVX, N-3, TRE e TRE N-3

    Após a ovariectomia os níveis de triglicerídeos aumentaram significativamente. Porém o ω-3 foi capaz de reduzir de forma significante os níveis abaixo do controle, comprovando sua ação hipotrigliceridêmica, também apresentada em estudos atuais (YOUDIM et al, 2000), (HU et al, 2002). Segundo Phillipson et al (1985), as principais ações do ω-3 relacionas ao benefício cardiovascular, são: a redução dos triglicérides e a redução nos níveis de VLDL.

    Ocorreu uma diferença significante entre o grupo TRE e o grupo TRE N-3, mostrando que o exercício isoladamente teve maior ação redutiva sobre os triglicerídeos séricos.

Figura 2. Níveis de triglicerídeos séricos, dos grupos: controle, OVX, N-3, TRE e TRE N-3.

 * p < 0,05 quando comparado ao controle; # p < 0,05 quando comparado ao OVX

    Os valores de HDL do grupo N-3 foram significativamente maiores em relação ao grupo OVX (15 ± 1 para 22 ± 1 mg/dl), mostrando que além de impedir a queda dos níveis de HDL induzidos pela castração, o ω-3 foi capaz de promover um aumento nesses níveis quando comparado ao grupo OVX. A diferença encontrada dos níveis de HDL entre os grupos N-3 e controle não foi significante. No estudo realizado por Almeida (2003), no qual ratos foram suplementados com ω-3 por 45 dias, também não foram observadas diferenças estatísticas nos níveis de HDL quando comparados ao controle.

    A suplementação com ω-3 foi mais eficaz em elevar os níveis de HDL que o exercício físico. Porém, essa ação não foi potencializada com associação do exercício físico e a suplementação com ω-3.

Figura 3. Níveis séricos de HDL-c nos grupos controle, OVX, N-3, TRE e TRE N-3. * p < 0,05 quando comparado controle;

 # p < 0,05 quando comparado ao OVX; + p < 0,05 quando comparado ao N-3.

    Não houve diferença estatística nos níveis de LDL entre os grupos estudados, o que poderia estar associado ao tempo de realização do experimento (35 dias). Similar ao que observado no estudo de Almeida (2003), no qual o nível de LDL plasmático não sofreu redução em um tratamento de 45 dias com o ω-3 quando comparados ao controle.

    Corroborando nossos resultados, Song e Miyazawa (2001) mostraram que a suplementação com ω-3 não ocasionou redução nos teores de colesterol total, HDL e LDL plasmáticos de ratos quando comparados ao controle, ao contrário do que foi observado em relação aos valores de triglicerídeos, que sofreram uma redução significante, mostrando um quadro de perfil lipídico semelhante ao observado em nosso trabalho.

Figura 4. O gráfico mostra os níveis de LDL-c nos grupos: controle, OVX, N-3, TRE e TRE N-3.

Conclusões

    Com base em nossos resultados, podemos concluir que:

  • Tanto a suplementação com ω-3 quanto o exercício físico aeróbico foram capazes de reduzir os níveis de triglicerídeos, o peso corporal e a quantidade de gordura peri-uterina, retroperitonial, intraperitonial e intravisceral em modelo de ratas ovariectomizadas;

  • O exercício físico e a suplementação com ω-3 não foram capazes de promoverem alterações significativas no perfil lipídico, uma vez que os níveis de LDL e HDL não foram alterados.

  • O ω-3 apresentou ação estrogênica sobre o útero e anti-estrogênica sobre o ventrículo esquerdo;

  • As adaptações cardiovasculares induzidas pelo exercício (i.e. hipertrofia cardíaca) realmente foram observadas nos grupos TRE e TRE N-3.

Referências

  • III Diretrizes Brasileira sobre Dislipidemia. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. v.77 n.3 São Paulo, Nov,. 2001.

  • ÁGUILA, M.B.Metabolismo Lipídico de Ratos Alimentados com Diferentes Tipos de Lipídios. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 78, n. 1, p. 25-31, 2002

  • ALMEIDA, F.Q. Ação antioxidante da vitamina E sobre a oxidação lipidica serica e hepatica de ratos wistar suplementados com acidos graxos poliinsaturados omega-3. 2003, 158 f. Tese( Doutorado em Ciências da Nutrição) - Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas Campinas, 2003.

  • AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). Diretrizes do ACSM para os Testes de Esforço e sua Prescrição. Ed. Guanabara Koogan, 2003

  • CLEMENTE, M. Efeito da suplementação com óleo de peixe sobre o sistema imunitário e perfil lipídico de indíviduos praticantes de atividade física intensa. 2006, 69 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Setor de Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, 2006

  • CONNOR W.E.. The impact of dietary omega-3 fatty acids on the synthesis and clearance of apo b lipoproteins and chylomicrons. Proceedings of the Scientific Conference on Omega-3 Fatty Acids in Nutrition. Vascular Biology, and Medicine, v.17, n. 19, p. 19-32, April 1994:

  • DANTAS, A.P.V.; et al.. Hormônios sexuais femininos Hipertensão, v. 3 n.2, p. 70-75, 2005.

  • HU, F.B., et al. Fish and omega-3 fatty acid intake and risk of coronary heart disease in women. JAMA, p.287, n.1815-1821, 2002

  • PHILLIPSON, B.E., et al. Reduction of plasma lipids, lipoproteins, and apoproteins by dietary fish oils in patients with hypertriglyceridemia. New England journal of medicine, n. 312, p. 1210 – 1218, 1985.

  • POWNALL, H.J.; et al. . Effect of 12 weeks of dietary fish oil, polyunsaturated fat, monounsaturated fat in the human plasma lipoprotein structure and composition. Proceedings of the Scientific Conference on Omega-3 Fatty Acids in Nutrition. Vascular Biology, and Medicine, v.17, n. 19, p. 64 -78, April 1994.

  • RUIZ, M. Mulheres vivenciando o climatério. Acta Scientiarum Health Sciences Maringá, v. 26, n. 1, p. 121-128, 2002.

  • SAKAKI, J. E.; SANTOS, M. G.. - O papel do exercício aeróbico sobre a função endotelial e sobre os fatores de risco cardiovasculares. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 87 n. 5 p. 227-233, Nov., 2006.

  • SONG, J. H.; MIYAZAWA, T..Enhances level on n-3 fatty acid in membrane phospholipidds induces lipid peroxidation in rats fed dietary docosahexaenoic acid oil. Atherosclerosis, v.155, n. 1, p. 9-18, 2001.

  • SUN, D.; et al. Dietary n-3 Fatty Acids Decrease Osteoclastogenesis and Loss of BoneMass in Ovariectomized Mice. Journal of Bone and Mineral Research, v. 18, n. 7, 1207- 1216, 2003.

  • VANZELLI, A.S.; et al. Prescrição de exercício físico para portadores de doenças cardiovasculares que fazem uso de betabloqueadores. Revista da Sociedade de Cardiologia Estado de São Paulo, v. 15, n. 2, Mar/Abr, 2005.

  • WISE, P.M.; et al. ROSEWELL, K.L. Neuroendocrine influences and repercussions of the menopause. Endocrine Review., v. 20 nº 3, p. 243-248.1999.

  • YOUDIM, K. A., et al. Essential fatty acids and the brain: possible health implications. International journal of developmental neuroscience: the official journal of the International Society for Developmental Neuroscience, n. 18 p. 383-399, jul/aug 2000.

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