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Um estudo etnográfico com acadêmicos do curso de Educação 

Física da UNOESC, Xanxerê: a educação corporal e seus significados

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc, campus Xanxerê, SC

**Orientadora. Mestre em Educação, Docente do curso
de Educação Física da UNOESC campus Xanxerê, SC

(Brasil)

Fabiana Linhares*

André Tiepo*

Guilherme Swetrs*

Cesare Zin Neto*

Patrícia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciasiqueira@wavetec.com.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo nos faz uma reflexão sobre as questões que envolvem a educação e expressão corporal, através das falas expressas pelos acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc de Xanxerê, na disciplina do Ritmo e Expressão Corporal. Com base nas essências destacadas nas falas dos alunos, pode-se perceber o quanto é importante estarmos conectados inteiramente com nosso corpo, além da importância da expressão corporal dentro das escolas, tanto para uma melhor formação de indivíduos cidadãos, quanto para o entendimento entre alunos e professores. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, a qual possibilitou aos integrantes uma melhor percepção de corpo e indivíduo na sociedade. Tendo por referencia as essências dos acadêmicos, os integrantes da pesquisa poderão perceber de uma forma mais clara que a expressão corporal num contexto completo pode influenciar em um melhor nível de vida, libertando-se da influencia que a mídia nos impõe em relação aos padrões de beleza e auto-estima, tabus sobre sexualidade, paradigmas corporais e Educação Física.

          Unitermos: Educação Física. Corpo. Educação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    A pesquisa teve como finalidade identificar as implicações e compreender os significados da linguagem corporal junto a um grupo de acadêmicos do ensino superior. O objetivo foi ampliar a reflexão que permeia a Educação Física e a linguagem corporal como elementos fundamentais no processo educativo enfatizado na proposta pedagógica, que privilegiou uma nova cultura de movimento, juntamente com a possibilidade da (re) descoberta da corporeidade nos educandos, a partir das percepções, dos sentidos, da afetividade e dos desejos provocados pelas vivencias do corpo em movimento da cultura permeada por ela nas aulas da disciplina. Dessa forma cada entrevistado pôde relatar experiências vividas visando sua educação e comportamento corporal, desde a infância até os dias atuais.

A amostra do estudo

    O presente estudo teve por objetivo se realizar uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico a partir das falas expressas durante o grupo na disciplina de ritmo e expressão corporal, do curso de Educação Física da UNOESC, campus XANXERÊ - SC.

    A amostra foi composta por seis acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos, com idades entre 18 e 33 anos.

    O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96. Para manter o anonimato, cada participante do grupo que foi entrevistado escolheu um codinome, utilizando-se as cores:

  • Rosa: acadêmica de Educação Física, 19 anos;

  • Branco: acadêmica de Educação Física, 20 anos;

  • Preto: acadêmico de Educação Física, 22 anos;

  • Marrom: acadêmico de Educação Física, 19 anos;

  • Amarelo: acadêmico de Educação Física, 18 anos;

  • Cinza: acadêmica de Educação Física, 33 anos.

Caracterizando o estudo

    O presente artigo caracterizou-se por ser uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico definidas seguindo-se as premissas de André (2004). As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):

O Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992)

    Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem às essências do estudo:

A sexualidade e a educação corporal

    A questão da sexualidade ficou evidenciada nas falas dos participantes do estudo, constituindo-se assim numa das essências de nosso estudo.

    A partir do século XVI, portanto paralelamente ao processo de puritanização, começam a surgir às faixas etárias: no século XVIII o mundo da criança já está bem definido. No século XIX se estrutura a faixa dos jovens-adolescentes, com os internatos para eles e elas, separadamente. É fácil compreender que o sexo, já um pesadelo para os adultos educadores, seja ignorado ou até hostilizado nos estabelecimentos educacionais. (FOUCAULT, 1998).

    A religião foi também instrumentalizada na repressão de qualquer manifestação sexual. O pecado por excelência, se não o único, passa a ser o pecado de sexo. No dizer dos pregadores, o inferno estava povoado quase exclusivamente por aqueles que tinham cometido pecado contra a castidade, ainda que apenas em pensamento. (FOUCAULT, 1998)

    O grande controle deste comportamento foi exercido através da confissão. O Concílio de Trento decretou que todos os pecados mortais deviam ser confessados, mesmo os mais secretos e vergonhosos. Com o passar do tempo, este clima vai gerar danos e traumas (...). (Snoek 1981, p. 35 apud FOUCAULT, 1998).

    A sexualidade há muito tempo é um assunto reprimido e tratado como se fosse algo feio, errado e sujo. Em muitas famílias não era permitido sequer tocar no assunto. Uma acadêmica do curso de Educação Física assim se manifesta a respeito do tema:

    “Minha educação corporal foi bem limitada, não conversava sobre sexo, sensualidade, sempre fui bem travada. Minhas expressões limitadas.” (Rosa).

    De acordo com Foucault, (1998) os pedagogos, médicos e padres, pastores e confessores do mundo moderno propõem uma cruzada contra o sexo. A masturbação é agora reprimida como “doença”, “anomalia”, causadora de males mentais e calamidades. O mundo moderno cria meios de controle do sexo e da masturbação: calças fechadas na frente, anéis antimasturbatórios ao redor do pênis para que este não pudesse ser estimulado, amarrar as mãos dos jovens ou dormir com as mãos sobre o cobertor, cauterização do clitóris nas meninas, etc.

    O sexo é reduzido ao privado e com fim procriativo. A concepção de racionalidade e eficiência burguesa soma-se a produtividade. O sexo subjetivo, humano, prazeroso desaparece. O corpo é negado no trabalho e na repressão sexual. O "eu" corporal não existe; existem, sim, a civilidade e a máscara social. Sobre o sexo nasce a cultura da vergonha e do pecado em níveis tão profundos que nem mesmo a Idade Média tinha conseguido. (FOUCAULT, 1998).

    “Falar de minha educação corporal é um tanto quanto frustrada para mim... tive uma educação corporal meio.. sei lá, sem noção, eu tinha liberdade para dizer o que eu quisesse, eu era e sempre fui bem liberal, mas quanto a minha educação sexual eu sempre fui bem fechada e não pedia opinião para minha mãe e o que aprendi foi sozinha com a vida.(Cinza)

    O preconceito e a repressão em torno da sexualidade atravessaram as barreiras da religião, das famílias e lares, e se instalaram ate mesmo em nossas escolas e instituições de ensino, especificamente falando das aulas de Educação Física.

    Segundo Soares (2007) para o conhecimento do corpo não, basta dividi-lo em partes as funções. O corpo não é coisa e nem idéia, o corpo é gesto, sensibilidade e expressão criadora, do qual configura figuras de linguagem na fala que se fazem gestos, na sexualidade, na percepção erótica, no desejo, nas dimensões configuram a estería do corpo em sua comunicação sensível.

Auto-estima e auto-imagem

    Segundo Gebara (1993), o domínio afetivo da pessoa se caracteriza por sentimentos e emoções. Seu desenvolvimento acarreta comportamentos relativos a interesses, preferências (aceitar ou rejeitar) valores e atitudes. Estes dois últimos conotam que a afetividade envolve qualidades de caráter A auto-estima é um aspecto afetivo relevante na vida da pessoa.

    Gostar de si gera autoconfiança para ser e estar no mundo com autonomia. Os alunos que participam ativamente das aulas de Educação Física aprendem novas habilidades e se sentem melhor com seu corpo, o que resulta na elevação da auto-estima. Esse desempenho também tem uma função social porque provoca a ocupação de uma posição no grupo da sala que possibilita melhor comunicação. (MENESTRINA, 2005).

    “Hoje em dia me sinto satisfeito com minha forma de se expressar corporalmente, me aceito, tenho uma boa auto-estima” (Amarelo).    

    Vale enfatizar a alegria. A alegria é um estado que flui nas práticas corporais e é um sentimento que motiva a participação dos alunos nas aulas. A expectativa e ansiedade vivenciadas num jogo, o prazer de dançar, ou desafio de realizar malabarismos, são outros sentimentos e emoções que os alunos gostam de viver e que os impulsiona a praticar as atividades físicas. (Menestrina, 2005).

    “Sou uma pessoa feliz, gosto de quem esta ao meu lado, sou bem brincalhão... Tenho feito de tudo para realizar meus sonhos, porem tomo o cuidado, tenho que ter calma para não pular etapas.” (Preto).

    Conforme Moshe (1977, p.36) é importante entender que se o homem deseja melhorar sua auto-imagem, ele deve primeiro apreender a valorizar-se como indivíduo mesmo se seus defeitos como membros da sociedade lhe parece exceder suas qualidades.

    “Nunca me preocupei com o que os outros acham ou pensam da minha aparência... sempre fui tranqüilo nesse sentido, estou satisfeito com o meu corpo”. (Marrom).

    É preciso compreender que ao mesmo tempo em que se sofisticam as técnicas e os tratamentos corporais (melhorando-se as condições para alcançarmos o padrão daqueles corpos “bonitos e saudáveis”), as pessoas estão, ao contrário, ficando cada vez mais feios e doentios. (MEDINA 1990, p.22)

    Segundo Gebara (1993, p 54) a imagem de corpo não surge das experiências existenciais da vida pessoal, ao contrário, a primeira imagem consciente de corpo que cada um constrói, obedece aos modelos impostos pelos valores culturais vigentes.

    Estarmos conectados com nosso corpo é diferente de vivermos reproduzindo uma imagem ideal do nosso corpo. Quando estamos conectados com nosso corpo nos conectamos de forma cada vez mais profunda com nossos desejos, nossas limitações e nossas ações. Nós nos humanizamos e ganhamos identidade. Quando nos subordinamos a uma imagem ideal de corpo, sacrificamos nossa realidade interna, nos afastamos de nossos desejos, de nossas limitações e nossas ações perdem o caráter humano, pois são por si só, vazias de significado.

    “Sou bastante triste, sofro de dores de cabeça, que me joga no fim do poço... Não me considero 100% feliz. Existe pouco diálogo em minha família e bastante desconfiança.” (Rosa).

    As pessoas muito narcisistas têm pouco contato interno. Amam uma imagem ideal de forma que o contato com seu corpo real é deficiente. Dadas as suas dificuldades internas rejeitam a possibilidade de reconhecer sua realidade corporal. Tendem a desvalorizar e negar as limitações dos outros. Estabelecem relações pobres de afetos. Negam os sentimentos. Suas necessidades corporais são secundárias à necessidade de manter uma imagem de si que consideram ideal. Sua arrogância e distanciamento das sensações corporais encobrem uma terrível angústia existencial de falta de contato, mas as protegem de suas limitações internas para lidar com a "angústia de castração" e assumir um corpo limitado e a finitude da vida. (NUNES, 1997).

    “Eu me aceito como eu sou, não tenho preconceito diante de mim mesma, mas sei que posso mudar algumas coisas, como a teimosia, às vezes sou meio brava diante de algumas situações, preciso melhorar isso.” (Branco).

    É preciso descobrir que por trás da busca de “um corpo bonito e saudável” estão presentes os interesses de um sistema adoecido neurótico, e neurotizante cuja meta é sempre o lucro a qualquer custo, e o que é pior, o lucro para alguns é pouco ao preço da alienação de todos. (MEDINA 1990, p. 22).

Paradigmas corporais e suas implicações

    Todos os povos convivem com manifestações artísticas e culturais. O Brasil, devido ao seu tamanho e diversidade étnica, é repleto de festas, canções, crenças, danças etc... O povo brasileiro, em seu cotidiano, apresenta diferentes formas de expressão artística, entre elas a dança, que é uma das mais presentes na história e evolução da sociedade e que, em cada situação, assume conceitos variados. (MOREIRA, 2004).

    Moreira (2004) cita que muitos estudantes apresentam dificuldades em compreender o significado do movimento no ser humano, repetindo, à moda da academias de ginástica, movimentos imitados, sem sentido, carregado de uma visão de consciência corporal resumida ao conhecimento apenas dos nomes de todos os ossos e músculos do corpo humano.

    Alguns como atletas carregam uma vasta bagagem no uso do próprio movimento, mas não conseguem perceber que este sofre influência, sócio-emocionais e culturais. Acabam desvinculando a relação do movimento com as experiências sentidas e vividas desde o ventre materno, que são expressas na postura, na maneira de andar, senta falar, rir, chorar, no modo de ser e estar no mundo, observáveis nas ações corporais diárias, comuns a todas as pessoas. Não percebem o quanto esse trabalho é importante na sua formação como pessoa. (MOREIRA, 2004).

    “Eu me sinto mal, pois hoje vejo que minhas expressões corporais são extremamente limitadas, me aceito, mas, me sinto bastante culpada pelo que acontece, mesmo sem ter culpa neste processo.” (Rosa).

    Na sociedade contemporânea, é importante levar os alunos a reflexão sobre o que é corpo, sobre o sedentarismo que vivemos, sobre os movimentos mecânicos próprios da segunda metade do século X até os tempos atuais, para que percebam o quanto é fundamental desenvolver o movimento conscientemente. Ao invés de um corpo não pensante e insensível, um corpo pensante, consciente e criativo. (MOREIRA, 2004).

    A grande maioria dos alunos tem muita dificuldade em vivenciar um movimento que não seja copiado. Pedir-Ihes para que criem ou expressem o que sentiram diante de uma situação expositiva propositalmente durante a aula ou que façam à releitura coreográfica de um filme, acaba sendo motivo de chacota, o que acaba apontando falta de sensibilidade e capacidade de reflexão. Assim, não percebem que o verdadeiro objetivo dessas atividades, nada mais é que começa a pensar e expressar-se em termos de movimento. (MOREIRA, 2004).

    “No meu dia-a-dia as pessoas que convivem comigo parecem ter paradigmas corporais como eu, e eu sofro com isso... Tenho paixão por expressão corporal, movimentos e dança... Mas tenho vergonha de me expor.” (Branco).

    É atribuição do processo educativo, possibilitar um conjunto de circunstâncias capazes de promover o desenvolvimento qualitativo do ser humano, proporcionando melhores condições de sobrevivência pela tomada de consciência de si mesmo, do seu meio social e das forças do universo. (MOREIRA, 2004).

    A finalidade da educação é preparar adequadamente o homem para conviver com a sociedade. Por conseqüência ela torna-se um processo analítico e crítico que assume as mais variadas perspectivas com a intenção de atender às necessidades sociais do homem, promover o aperfeiçoamento da sua natureza e dar significado a sua existência. (MOREIRA, 2004).

    Para que o homem adquira qualidades e aptidões indispensáveis a fim de interagir com a sociedade, vencer suas próprias limitações e ser portador de uma sensibilidade real necessita apresentar um apropriado estado de saúde geral, proporcionado através de um adequado programa de educação para a saúde. Sendo objetivo fundamental de a educação favorecer à aquisição de melhores níveis na qualidade de vida das pessoas, com vistas ao perfeito desempenho do ser humano nos seus mais diferentes campos de atuação, as disposições edu­cacionais, sejam informais ou sistematizadas, devem compreender a atenção com o instrumento de todas as realizações humanas que é o seu corpo (MOREIRA , 2004).

    “Os meus preconceitos chegaram na adolescência, as brigas, as faltas de dialogo,preconceitos com meu corpo e com o mundo...”(Rosa)

    Tendo em vista a importância do corpo como base concreta das ações existenciais da humanidade, as disciplinas escolares e as práticas sociais relacionadas com a motricidade humana apresentam-se como aspectos fundamentais, assumindo um significado ímpar no contexto socioeducativo. Nesse sentido, surge à Educação Física, que com seu conteúdo multivalente e sua estreita ligação com as raízes culturais do homem, ao longo de sua história, assume uma condição privilegiada no âmbito do ensino sistematizado e na dinâmica das práticas sociais.

    A educação corporal, hoje, caracteriza-se como uma prática socioeducativa intimamente ligada ao contexto do homem moderno, que inclui no seu grande domínio todos os movimentos sociais, como práticas físico-desportivas, formas de expressão, técnicas profissionais e todas as formas de aprendizagem gestual. (MOREIRA, 2004).

A Educação Física como contribuição para a educação corporal

    Tendo em vista a importância do corpo como base concreta das ações existenciais da humanidade, as disciplinas escolares e as práticas sociais relacionadas com a motricidade humana apresentam-se como aspectos fundamentais, assumindo um significado ímpar no contexto socioeducativo. Nesse sentido, surge à educação física, que com seu conteúdo multivalente e sua estreita ligação com as raízes culturais do homem, ao longo de sua história, assume uma condição privilegiada no âmbito do ensino sistematizado e na dinâmica das práticas sociais. (MENESTRINA, 2005).

    “Espero que o curso de Educação Física me torne uma pessoa mais feliz.” (Rosa).

    A atividade física constitui modo de vida saudável, contribuindo para uma melhor qualidade de vida. A escola é o local ideal e fundamental para que a criança cresça com educação para o movimento, ou seja, com consciência da real importância da Educação Física para toda sua vida, como modo de vida saudável e prevenção de doenças, a fim de se chegar à velhice com ótimas condições de se movimentar. . (MENESTRINA, 2005).

    Neste sentido, o professor deve ficar atento às formas das relações interpessoais dos alunos, que são as atitudes nas quais estão implícitos valores morais. (COSTA, 1996). Jogar, exercitar, lutar e outras atividades devem se realizar mediante atitudes positivas (respeito, honestidade, cooperação, senso coletivo) nas relações intergrupais e pessoais.

    Neste sentido marrom expressa:

    “Sou muito calado, a Educação Física vai me ajudar a ser mais extrovertido...” (Marrom).

    Nas aulas de Educação Física o aspecto afetivo envolve fatores afins, como a socialização do convívio em grupo, a melhoria significativa da auto-estima, a alegria, a motivação, o interesse, bem como proporciona a extroversão e capacidade de comunicação (COSTA, 1996).

    Percebemos isso na fala de uma entrevistada:

    “Acredito que devo pensar no meu bem estar, mas a sociedade acaba te excluindo de alguma forma. O importante para mim é que minha família me aceita do jeito que eu sou. A Educação Física esta me ajudando a me socializar mais” (Rosa).

    Segundo Medina (1990, p.25) a Educação Física, por exemplo, enquanto área do conhecimento e aspecto da educação envolvida com o movimento humano, não pode se alienar em suas especificidades motoras perdendo de vista a sua ação pedagógica (e política) de apoio é colaboração ás transformações sociais. Todos os profissionais comprometidos com uma Educação Física autêntica precisam descobrir e revelar os enormes potenciais educativos, que se esconde em suas práticas.

Considerações finais

    Neste estudo etnográfico podem-se observar quatro essências diferentes: A primeira trata da educação corporal baseada na sexualidade, e mostra que apesar da modernidade em que vivemos este tema ainda é restrito e reprimido, e percebe-se claramente isso nas essências quando as acadêmicas citam a repressão ou descaso em torno do tema.

    A segunda essência diz respeito à auto - estima e imagem corporal. A temática citou situações em que os indivíduos descrevem a sua aceitação corporal, ou não, evidenciando através das falas que alguns indivíduos ainda buscam melhorar a sua auto-imagem, para sentir-se bem diante dos outros membros da sociedade. A terceira essência evidencia os paradigmas corporais que as pessoas têm com o próprio corpo, ou com a sua maneira de se expressar corporalmente. A quarta essência por sua vez, cita a educação física como curso acadêmico, e através das falas fica evidenciado o que os alunos almejam ao estarem cursando especificamente este curso, e por que o escolheram.

    Ao realizar este estudo pudemos perceber o quanto o professor de Educação Física é importante na vida dos seus alunos. A atividade física antes de ser uma disciplina escolar, é de fundamental importância para a vida de qualquer indivíduo, independente de ser adulto ou criança. No caso específico da Educação Física, nossos conhecimentos como professores devem estar voltados para a prática vivencial dos alunos, tornando a aprendizagem significativa, possibilitando a intervenção a partir do diálogo, da argumentação, favorecendo desta forma a aprendizagem.

    Nestas intervenções surgirão conflitos e, também nesse caso, o conhecimento do professor dos fatores geradores e a abertura de diálogos, serão de suma importância para intervenções que facilitarão a compreensão de princípios humanos necessários à formação dos nossos alunos.

    Deve-se estar atento às expectativas e influências existentes nesta relação entre professor e aluno, onde os resultados advindos desta, não fiquem restritos, nem ao professor nem ao aluno, mas à troca ensino/aprendizagem, resultante do encontro entre os dois. O professor, portanto, deve ser alguém que tenha bem desenvolvida sua capacidade conceitual, técnica, comunicativa e acima de tudo sensibilidade. A escola tem se interessado pela transmissão de conhecimentos e habilidades cognitivas e dado menor atenção à educação dos sentimentos e desenvolvimento de atitudes desejáveis. É nesse ponto que a Educação Física pode dar uma contribuição imprescindível para a formação integral do ser humano.

Referências

  • ANDRE, M. E. D. de. Etnografia da prática escolar. 11 ed. Campinas: Papirus, 2004

  • COMIOTTO, M. Adultos médios: sentimentos e trajetória de vida. Tese (Doutorado em Educação) - UFRGS, Porto Alegre, 1992.

  • FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.

  • GEBARA, Ademir. Educação Física e esporte: perspectiva para o século XXI. In: Moreira, Wagner Wey (0rg), Campinas, SP: Papirus, (Coleção corpo e motricidade), 1993.

  •  GIORGI, A. Phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duqueme University, Press, 1985.

  •  MEDINA, João Paulo Subirá. Educação e política do corpo. 2 ed. Campinas, SP : Papirus, 1990.

  •  MOREIRA, Evandro Carlos. Educação Física escolar: desafios e propostas. 1. ed. Jundiaí, SP: Fontoura, 2004.

  •  MOSHE, Feldenkrais. Consciência pelo movimento. V.5, São Paulo: Summus, 1977.

  •  NUNES, César Aparecido. Desvendando a sexualidade. 2. ed. São Paulo: Papirus, 1997.

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