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Um estudo sobre a educação do corpo com 

acadêmicos de Educação Física da UNOESC, Xanxerê

Un estudio sobre la educación del cuerpo con estudiantes de Educación Físca de la UNOESC, Xanxeré

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc – Xanxerê.

**Orientadora. Mestre em Educação

Docente do curso de Educação Física da UNOESC, Xanxerê

(Brasil)

Carline Mezomo*

Dayane Dos Santos Ricardo*

Gerson Sfredo*

Larissa Baggio*

Patricia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciacarlessosiqueira@gmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente estudo nos faz uma reflexão sobre as questões que envolvem a educação corporal e suas significações. Surgiu através das falas expressas pelos acadêmicos da disciplina de ritmo e expressão do movimento humano, do curso de Educação Física da UNOESC Xanxerê. Com base nas essências encontradas percebeu-se que a essência da educação corporal neste estudo evidenciou-se constantemente nas várias falas dos entrevistados sobre a educação corporal e de como ela interferiu no processo educacional, social e profissional de cada individuo. Assim percebemos que nós educadores devemos orientar as crianças desde a infância, transmitir os conhecimentos sobre determinados assuntos como a sexualidade, sobre a aparência, a importância da atividade física e sempre deixar bem claro que o nosso corpo não esta separado do espírito e da mente, e sempre lembrar que nossas emoções estão ligadas a nossa expressão corporal.

          Unitermos: Educação Física. Corpo. Significado

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    A pesquisa teve como finalidade identificar as implicações e compreender os significados da linguagem corporal junto a um grupo de acadêmicos do ensino superior. O objetivo foi ampliar a reflexão que permeia a educação estética e a linguagem corporal como elementos fundamentais no processo educativo enfatizado na proposta pedagógica, que privilegiou uma nova cultura de movimento, juntamente com a possibilidade da (re) descoberta da corporeidade nos educandos, a partir das percepções, dos sentidos, da afetividade e dos desejos provocados pelas vivencias do corpo em movimento da cultura permeada por ela. Assim cada individuo pode relatar a sua educação corporal através dos acontecimentos do passado, então assim visando seus comportamentos corporais na família, na sua escola e na sociedade desde a infância ate nos dias atuais.

Caracterização do estudo: metodologia e amostra

    O presente estudo caracterizou-se por ser do tipo exploratório de caráter etnográfico, o que de acordo com André (2004), a pesquisa qualitativa de natureza etnográfica, consiste na descrição da cultura (praticas, hábitos,valores,crenças, linguagens, significados) de um grupo social, a preocupação central dos estudiosos da educação é com o processo educativo.

    Os dados e essências foram coletados a partir das falas expressas durante a disciplina de ritmo e expressão do movimento humano, do curso de Educação Física da UNOESC XANXERÊ- SC.

    A amostra foi composta por 6 acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos entre 19 e 33 anos. O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96.

    Para manter o anonimato, cada participante do grupo escolheu um codinome, por cores, sendo caracterizado abaixo:

  • Rosa – acadêmica de Educação Física, 20 anos;

  • Vermelho - acadêmica de Educação Física, 33 anos;

  • Azul – acadêmico de Educação Física ,22 anos ;

  • Lilás – acadêmica de Educação Física , 19 anos;

  • Marrom – acadêmico de Educação Física ,19 anos;

  • Amarelo – acadêmica de Educação Física , 20 anos.

    As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi(1985):

10 Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

20 As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

30 Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

40 Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificado os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

50 Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992):

    Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem às essências do estudo:

A educação corporal como um todo

    A questão da educação corporal neste estudo evidenciou-se constantemente nas várias falas dos entrevistados sobre a educação corporal e de como ela interferiu no processo educacional, social e profissional:

“A educação corporal que tive foi bem rígida, nunca foi algo discutido abertamente”. (marrom)

    De acordo com Carmo Junior (2005, p. 119), na mesma medida em que se comprimem corpos e mentes pela lógica das interpretações, esses mesmos corpos se transformam em seres que se revelam numa linguagem silenciosa, na amostragem mais pura da existência, viver antes de sobreviver, metáfora para a nova experiência: a linguagem. Em todas as filosofias, artes, ciências e religiões, a presença corporal aparece viva, preocupante, insuspeitável, critica, venerável, pois corporeidade e motricidade agora serão sempre tema do homem e da vida.

“Conversas sobre puberdade, adolescência... raramente aconteciam, e aconteciam eram com pai e filho ou mãe e filha”. (Lilás)

    Para Goellner (2005, p.58), a história nos mostra que a mulher durante muito tempo era preparada somente para exercer a maternidade, sem evidenciar a questão da sexualidade: Identificada como uma função social, a maternidade é, simultaneamente, um destino porque observada como um acontecimento natural e um desafio porque prescinde de preparação física e refinamento emocional. Tanto quanto ter um corpo fortalecido, é necessário, para a mãe em potencial, ter um caráter virtuoso, moldado pela valorização de qualidades como: benevolência, a generosidade, o recato e abnegação. Virtudes advindas de um moral burguesa que, ao serem idealizadas como verdadeiras, trazem a lembrança de cada mulher pensamentos. Modos de ser e de se movimentar que gravam no seu corpo gestualidades adequadas ao que se espera configurar uma vida em sociedade.

    “Eu tinha liberdade para fazer o que quisesse eu era e sempre fui bem liberal. Sempre tive liberdade quanto a minha educação sexual”. (Vermelho)

    Segundo Soares (2007, p. 88-89) para o conhecimento do corpo não, basta dividi-lo em partes as funções. O corpo não é coisa e nem idéia, o corpo é gesto, sensibilidade e expressão criadora, do qual configura figuras de linguagem na fala que se faz gestos, na sexualidade, na percepção erótica, no desejo, nas dimensões configuram a estería do corpo em sua comunicação sensível.

“carinhos eram constantes, e quanto a adolescência chegou e quebrou, o clima família feliz”. (Lilás)

    Conforme Soares (2007, p.89) a educação corporal percorre caminhos e elabora praticas contraditórias ambíguas e tensas. Preescreve, dita, aplica formulas e formas de contenção tanto de necessidade fisiológica, construindo assim, a “natureza” quantos de velhos desejos. São distintos atos do conhecimento e não apenas as palavras que constituem essa educação corporal, se quiserem Educação corporal.

Em busca do corpo ideal

    Segundo Santin (1999, p. 68). A corporeidade deve alcançar, portanto, a plenitude de seu desenvolvimento no estado estético, livre do mas alto grau de qualquer coerção, apenas na fruição da perfeição estética.

“Eu me aceito como sou, não tenho preconceito diante de mim mesma”. (amarelo)

    Para Santin (1999, p. 64) A corporeidade disciplinada é a conseqüência imediata da compreensão do corpo como parte secundaria do ser humano, ou seja, a parte que deve ser sacrificada em função dos ideais verdadeiramente humano da humanidade, seja em relação aos indivíduos, seja em relação a coletividade. Para que esses ideais superiores pudessem ser realizados foi estabelecido que os corpos deviam ser submissos e disciplinados.

“Nunca me preocupei com que as outras pessoas acham ou pensam da minha aparência”. (marrom)

    Segundo Morais (1999, p. 81). Somos um corpo como forma de esperança no mundo, e isso diz tudo. Interioridade e exterioridade, são apenas categorias do pensamento de força didática, pois o que há é um corpo que pensa e agita a consciência e, simultaneamente, numa consciência que pensa e transfigura o corpo sem que reduzamos o verbo pensar a raciocínios lineares. Afinal, em inúmeros casos, úlceras gástricas são feridas abertas pelas dores morais.

    “Sinto certo receio, vergonha do meu corpo, faço tratamento estético para tentar mudar, não aceito ter engordado e isso me atrapalha todo dia. Não me aceito diante do espelho”. (rosa)

    De acordo com Goellner (2007, p. 29) diferentes mulheres exibem seus corpos, posam para fotografias, simulam posturas que são perpetuantes em imagens afirmativas, que transmitem, mensagens estéticas ideológicas. No espaço onde se mostram, as mulheres são sujeito do discurso das imagens e de uma estética que busca generalizar traços e perfeições a partir de um olhar que expõe o seu corpo, tornando-o, objeto de desejo ao mesmo tempo em que reprime esse desejo que colaborou para despertar.

A Educação Física como uma contribuição para vida

    “Com certeza a Educação Física, pode me ajudar a melhorar de várias formas o ritmo é uma delas, as atividades, o dialogo, o relacionamento com as pessoas, a aproximação, a construção, os movimentos, entre muitos outros”. (Amarelo)

    De acordo com Santin (1999, p. 63) a Educação Física e os esportes detém a outra fatia do poder de agir sobre os corpos. A Educação Física não classifica os corpos com critérios de doença ou saúde, mas dentro da ótica da aptidão e da capacidade para a prática de determinados exercícios. Assim, a Educação Física age sobre o corpo em nome do principio da utilidade. Ela pensa no uso do corpo.

“A Educação Física me proporciona uma certa soltura, auto confiança que pode me ajudar quebrar muitos paradigmas”. (Rosa)

    Para Medina (1990, p. 106) nós, profissionais envolvidos com a educação e a Educação Física, não podemos estar preocupados em formar seres iguais a nós mesmos. Todo o processo pedagógico crítico deve permitir que as pessoas envolvidas nele passem ser elas mesmas.

    “Algum defeito que eu tenho com certeza é de ser meio calado e acho que a Educação Física pode me ajudar a ser mais extrovertida”. (Marrom)

    Segundo Medina (1990, p. 25) a Educação Física, por exemplo, enquanto área do conhecimento e aspecto da educação envolvida com o movimento humano, não pode se alienar em suas especificidades motoras perdendo de vista a sua ação pedagógica (e política) de apoio é colaboração ás transformações sociais. Todos os profissionais comprometidos com uma Educação Física autêntica precisam descobrir e revelar os enormes potenciais educativos, que se esconde em suas práticas.

    “Mudar algo, acredito que com a Educação Física mudou e continua mudando, pois deixei de ser uma pessoa sedentária, pratico atividades físicas toda semana e com isso me sinto muito melhor com uma perspectiva de vida muito melhor e mais longa”. (Vermelha)

    Para Gebara (1993, p. 54) agora sim, a Educação Física e até o esporte são lembrados não propriamente para cultivar o corpo, mas para assegurar um desempenho corporal que favoreça o aprendizado de conteúdos intelectuais dentro do espírito do velho ditado: “Mens sana in corpore sano”.

A questão da auto-estima

    Conforme Moshe (1977, p. 36) é importante entender que se o homem deseja melhorar sua auto imagem, ele deve primeiro apreender a valorizar-se como individuo mesmo se seus defeitos como membros da sociedade lhe parece exceder suas qualidades.

    “Eu não ligo muito, na verdade não ligo para que os outros falam de um modo direto, e analiso o que foi dito e tomo consciência ou não dos meus atos”. (Azul)

    Medina (1990, p. 22) é preciso compreender porque ao mesmo tempo que sofisticam-se as técnicas e os tratamentos corporais (melhorando-se as condições para alcançarmos o padrão daqueles corpos “bonitos e saudáveis”), as pessoas estão, ao contrário, ficando cada vez mais feios e doentios.

    Segundo Gebara (1993, p. 54) a imagem de corpo não surge das experiências existências da vida pessoal, ao contrário a primeira imagem consciente de corpo que cada um constrói, obedece aos modelos impostos pelos valores culturais vigentes.

    É preciso descobrir que por trás da busca de “um corpo bonito e saudável” estão presentes os interesses de um sistema adoecido neurótico, e neurotizante cuja meta é sempre o lucro a qualquer custo, e o que é pior, o lucro para alguns é pouco ao preço da alienação de todos. Medina (1990, p. 22)

Considerações finais

    Neste estudo etnográfico pode observar quatro essências distintas: na primeira a educação corporal que vem sendo um assunto ainda restrito, como pode se perceber nas essências que algumas pessoas não tinham liberdade para falar sobre sexualidade, já outras tinham liberdade para falar sobre sua educação sexual com seus familiares.

    Na segunda essência a temática falou-se sobre a busca do corpo ideal, na qual através das falas dos entrevistados podemos perceber que a grande maioria da sociedade é influenciada pela mídia, sendo que ela empoe o modelo do corpo perfeito, assim as pessoas acabam buscando de todas as maneiras chegar à perfeição, sendo que não pensam nas conseqüências adquiridas com o processo, e acabam muitas vezes se prejudicando.

    Na terceira essência evidenciaram-se a importância da Educação Física na vida dos discentes do curso que participaram do estudo, onde se percebeu que a Educação Física pode favorecer de várias formas na vida das pessoas, não somente com a prática de atividades físicas, mas para aproximar as pessoas, minimizar o stress cotidiano, (re) conhecer-se corporalmente, e assim ajudá-los a enfrentar estigmas, preconceitos e quebrar paradigmas.

    A quarta essência referiu-se a questão da auto-estima que também evidenciou a percepção dos entrevistados no cotidiano, evidenciando através das falas que o indivíduo ainda busca e deseja melhorar a sua auto-imagem, para se sentir bem diante dos outros membros da sociedade. Mas as pessoas esquecem que antes de tudo elas precisam aprender e a se valorizar e gostar de si mesmo.

    Com a realização desse estudo percebemos que nós educadores devemos orientaras pessoas desde a infância, transmitir os conhecimentos sobre determinados assuntos como a sexualidade, sobre a aparência, a importância da atividade física, para que possam compreender e entender o que é melhor para si e qual são as conseqüências enfrentadas na sociedade por determinada ação. Assim nós podemos perceber com as essências qual são as atitudes que devemos ter em relação a cada individuo, qual são suas necessidades, como devemos agir, de que modo devemos conduzir e isso faz com que passamos a crescer mais dentro de nossa profissão e a entender como lidar com as pessoas de uma forma profissional, ética e humanizada.

Referencias

  • ANDRE, M.E.D. de. Etnografia da prática escolar. 11. ed. Campinas: Papirus, 2004

  • CARMO, Wilson. Dimensões filosóficas da Educação Física. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • COMIOTTO, M. Adultos médios: sentimentos e trajetória de vida. Tese (Doutorado em Educação) – UFRGS, Porto Alegre, 1992.

  • GEBARA, Ademir. Educação Física e esporte: perspectiva para o século XXI. Ademir Gebara...[et al]; Wagner Wey Moreira – organizador.Campinas, SP: Papirus, 1993. (Coleção corpo e motricidade).

  • GIORGI, A. Phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duqueme University, Press, 1985.

  • GOELLNER, Silvana Vilodre. Imagens da mulher na Revista Educação Physica. Bela, maternal e feminina, Ijuí: Unijuí, 2003.

  • MEDINA, João Paulo Subirá. Educação e política do corpo. 2ª ed. Campinas, SP : Papirus, 1990.

  • MORAIS, Regis de, J F - Consciência corporal e dimensionamento do futuro, in: Morelra, W.W. (Org.) - Educação fisica e esportes: perspectivas para o século XXI, Campinas: Papiros, 1999.

  • MOSHE, Feldenkrais. Consciência pelo movimento. v. 5. São Paulo: Summus,1977.

  • SANT’ANNA, Denise Bernuzzi. Uma historia do corpo. In: Soares Carmen (org.) Pesquisas sobre o corpo. São Paulo: Fapesp,2007.

  • SANTIN, Silvino. Perspectivas na visão da corporeidade, in: Moreira, W. W. (Org) - Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI, 4ª ed. Campinas: Papirus, 1999.

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