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Resposta da freqüência cardíaca e percepção 

subjetiva de esforço na aula de RPM®

Respuesta de la frecuencia cardiaca y percepción subjetiva de esfuerzo en la clase de RPM®

Heart rate response and rating of perceived exertion in RPM® workout

 

*Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Personalizado para Grupos Especiais.

**Professor Mestre da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC)

Laboratório de Pesquisa Morfo-Funcional (LAPEM), Florianópolis, SC

***Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação Física

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Laboratório de Avaliação do Esforço Físico (LAEF), Florianópolis, SC

Juliana Bacha Borges*

Lorival José Carminatti**

Talita Grossl***

jubbs2386@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O RPM® é uma aula pré-coreografada em que a freqüência cardíaca máxima (FCmáx) e a percepção subjetiva de esforço (PSE) são variáveis que podem ser utilizadas pelos profissionais da área com o objetivo de controlar a intensidade da modalidade. O objetivo do estudo foi classificar e comparar as intensidades de esforço baseadas na freqüência cardíaca (FC) e na PSE obtidas durante a aula. Participaram da pesquisa sete praticantes da modalidade: quatro mulheres e três homens. Os indivíduos realizaram duas aulas idênticas da modalidade nas quais foram mensurados valores de FC e PSE. Posteriormente, foi realizado um teste máximo para determinação da FCmáx. A PSE foi controlada pela tabela simplificada proposta pela modalidade, a partir dos percentuais de freqüência cardíaca máxima: PSE confortável (60% a 70%), cansativo (70% a 80%) e exaustivo (80% a 90%). Foi empregada a estatística descritiva (média±DP) e o teste “t de Student para amostras dependentes, com nível de significância de 5%. A FCmáx da aula foi de 185 ± 10bpm. Com exceção da primeira música, todas as outras apresentaram intensidades elevadas de FC (>80%FCmáx), sendo que a FCmédia correspondeu a 84,3 ± 8,5% da FCmáx, indicando esforço exaustivo. No entanto, a PSE predominante na aula apresentou-se no nível cansativo (37,8%) seguidos pelo exaustivo (33,7%) e confortável (28,5%). Considerando as respostas de FC, pode-se concluir que as aulas analisadas parecem estar adequadas para o aprimoramento da aptidão cardiorrespiratória. Mesmo com classificações aparentemente conflitantes, percebeu-se que as duas formas de controle de intensidade da aula se complementam.

          Unitermos: RPM®. Freqüência cardíaca. Percepção subjetiva de esforço

 

Abstract

          RPM® is an indoor pre-choreographed cycling workout where the maximum heart rate (HRmax) and the rating of perceived exertion (RPE) are variables that can be used by physical education professionals to control exercise intensity. The objective of this research was to classify and compare the exertion intensities based on the actual heart rate (HR) and RPE during RPM® workout. This work was made with seven practicants of the modality: four women and three men. The individuals worked two identical RPM® classes to obtain HR and RPE measurements. Then a maximum heart rate test was made to obtain HRmax. RPE was controlled using the simplified table proposed by the modality, based on the ratio of heart rate by HRmax: comfortable RPE (60% to 70%), uncomfortable (70% to 80%) and breathless (80% to 90%). Descriptive statistics (mean±SD) and Student's t-test were used for dependent samples, with significance level of 5%. The HRmax of the class was 185 ± 10bpm. All the music, but the first, presented high intensity of HR (>80%HRmax), and the mean FC was 84.3 ± 8.5%HRmax, indicating breathless exertion. However, predominant RPE was uncomfortable (37.8%), followed by breathless (33.7%) and comfortable (28.5%). Considering the heart rate responses, it can be concluded that the analyzed RPM® workouts seems to be adequate to train cardiorespiratory fitness. Even with apparently conflicting classifications, it can be concluded that the two ways to control the intensity of the classes are complementary.

          Keywords: RPM®. Heart Rate. Rating of perceived exertion

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    A busca por uma melhora na qualidade de vida ou simplesmente para seguir os padrões estéticos da sociedade, tem levado várias pessoas para as academias de ginástica. Estas, por sua vez, estão procurando novas atividades motivantes para que desperte em seus alunos um maior interesse na realização dos exercícios físicos de forma segura e eficiente.

    Nesse contexto, percebe-se um crescimento das aulas de ginástica em grupo, principalmente das aulas pré-coreografadas. Entretanto, nota-se uma carência de estudos científicos desenvolvidos com o intuito de proporcionar uma melhor compreensão dos efeitos fisiológicos agudos e crônicos destas aulas de ginástica sistematizadas.

    Esses estudos são de grande relevância para a qualidade do trabalho dos profissionais que trabalham com aulas de ginástica de academia e para a segurança do praticante1. Como as turmas caracterizam-se pela heterogeneidade no condicionamento físico, é fundamental que os profissionais conheçam a intensidade do exercício prescrito com o propósito de prescreverem um programa de exercícios compatível com os objetivos dos alunos.

    A prática do ciclismo indoor (CI) surgiu como uma alternativa de atividade aeróbia nos centros de fitness e vem crescendo vertiginosamente por meio de um programa de treinamento contínuo ou intervalado, visando à manutenção e melhoria do sistema cardiovascular2. O RPM® é uma aula de CI pré-coreografada a qual simula o ciclismo de rua em um ambiente fechado e coletivo. A aula é composta por nove músicas, sendo que cada uma possui um objetivo específico, totalizando uma duração de 45 a 50 minutos. A modalidade é classificada como um treinamento intervalado, a qual exige execução de movimentos da atividade proposta separados por períodos de recuperação ativa. De acordo com Beneke et al.3, este método diminui a taxa glicolítica e aumenta a remoção de lactato na fase de recuperação, consequentemente retardando a fadiga. Além disso, o exercício de intensidade intermitente parece aumentar consideravelmente o dispêndio energético pós-exercício4.

    Vários índices fisiológicos como o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), resposta do lactato sanguíneo, percepção subjetiva de esforço (PSE) e freqüência cardíaca (FC) têm sido utilizados para a prescrição da intensidade do treinamento1. No RPM®, a PSE e a FC têm auxiliado os professores no controle da intensidade da aula, conduzindo os alunos nos objetivos de cada música que compõe a modalidade.

    Recentemente a empresa criadora do RPM®, a Less Mills Body Training Systems® (BS®) simplificou a escala de Borg, determinando apenas três níveis de treinamento por meio da PSE a serem atingidos durante a aula, a partir dos percentuais de freqüência cardíaca máxima (%FCmáx): confortável (60 a 70%), cansativo (70 a 80%) e exaustivo (80 a 90%)5. Kang et al.4 avaliaram as respostas metabólicas e de PSE durante uma aula de CI (Spinning®) e verificaram que as respostas fisiológicas levemente demonstraram uma maior intensidade do que a PSE relatada pelos participantes da pesquisa. A partir deste pressuposto e conforme a nova proposta dos três níveis de PSE e FC, é necessário verificar se os valores de PSE apresentam uma relação com as respostas fisiológicas obtidas durante a aula de RPM®, a fim deste método ser relevante tanto para o professor como para o praticante.

    Devido à escassez de estudos na área e, principalmente no que se refere aos três níveis de PSE propostos pela modalidade, o presente estudo teve como objetivo classificar e comparar as intensidades de esforço baseado na FC e na PSE obtidos durante a aula com os valores preditos pela BS®.

Materiais e métodos

Sujeitos

    Participaram voluntariamente do estudo sete praticantes da modalidade, sendo quatro mulheres (29,8 ± 6,1 anos, 22,1 ± 0,7 kg/m2 e 21,2 ± 3,2% de gordura corporal) e três homens (24,7 ± 5,5 anos, 25,0 ± 3,0 kg/m2 e 14,8 ± 4,9% de gordura corporal), residentes na cidade de Florianópolis (SC). Os participantes foram selecionados de acordo com o número de aulas semanais da modalidade (≥ 2 aulas) e tempo de prática (≥ 3 meses). A seleção foi do tipo intencional não probabilística com o objetivo de realizar a pesquisa em um grupo homogêneo em relação à prática da modalidade.

    Todos os procedimentos adotados neste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UDESC, protocolo 150/2007) e a inclusão dos voluntários ocorreu mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

    A coleta de dados foi dividida em três etapas: as duas primeiras etapas foram constituídas de duas aulas idênticas de RPM® (intervalo de 48h) realizadas em ambiente específico da modalidade (academia). No mesmo ambiente das aulas de RPM®, a terceira etapa foi constituída de uma avaliação antropométrica e logo após aplicou-se o teste de esforço máximo (Tmáx) na bicicleta específica de CI.

Avaliação da composição corporal

    Inicialmente, o grupo foi submetido a uma avaliação antropométrica, na qual foram mensuradas as seguintes variáveis: massa corporal (WELMY®), estatura (WELMY®), e percentual de gordura corporal (%G). Para as medidas de dobras cutâneas, foi utilizado um adipômetro (SANNY®) com precisão de 0,1 mm. A densidade corporal (DC) foi estimada a partir das espessuras das dobras cutâneas dos seguintes pontos anatômicos: axilar, supra-ilíaca, coxa média e panturrilha para mulheres; e subescapular, triciptal, supra-ilíaca e panturrilha para homens, utilizando as equações propostas por Petroski6. Todas as medidas foram realizadas em triplicata, adotando como resultado a média. As medidas foram realizadas sempre do lado direito do sujeito, por um mesmo avaliador, utilizando os procedimentos citados por Petroski6. Para a conversão da DC em %G, foi utilizada a equação de Siri7.

Monitoramento da aula

    A aula utilizada para esta pesquisa foi o mix 37 do RPM® por ser o mais atual no período da coleta. A modalidade é composta por nove músicas, entretanto o monitoramento foi realizado nas sete músicas iniciais, visto que as duas últimas músicas (destinadas à volta-à-calma e ao alongamento, respectivamente) possuem um giro livre para recuperação, totalizando dessa forma, uma duração de 40 minutos. Todos os voluntários participaram de duas aulas idênticas realizadas em ambiente específico (academia), com o mesmo professor, nas quais foram mensuradas a FC e a PSE.

    A FC foi monitorada por meio do cardiofrequencímetro da marca Polar® (modelo S610i), registrando valores de FC em intervalos de 5s durante toda a aula. Para a determinação da PSE durante as aulas, foi utilizada a tabela simplificada de PSE proposta pela modalidade, a qual foi mostrada aos participantes ao final de cada música. Vale ressaltar que foi pedido ao aluno que reportasse a PSE referente à música inteira. É importante destacar que o CD não foi interrompido em nenhum momento da aula, sendo respeitado e utilizado o tempo de coreografias e recuperação estipuladas pelos coreógrafos do programa RPM®.

    A temperatura foi registrada em todas as avaliações, ficando entre 21 e 23ºC.

Três níveis de PSE na aula de RPM®

    A tabela simplificada de PSE criada pela BS® é constituída de três níveis de esforço a serem atingidos durante a aula a partir dos valores de %FCmáx: confortável, cansativo e exaustivo.

Tabela 1. Tabela simplificada de PSE criada pela BS®

PSE

%FCmáx

Confortável

60-70%

Cansativo

70-80%

Exaustivo

80-90%

Protocolo para determinação da FCmáx no Tmáx

    É consenso na literatura científica, que a melhor opção para determinar a FCmáx de um indivíduo, é realizar um teste incremental máximo, preferencialmente com o ergômetro específico para avaliar as variáveis do respectivo estudo. Em função da bicicleta utilizada nas aulas de RPM® não ser ergométrica (ausência de controle da carga), o que inviabilizaria a aplicação de um teste incremental convencional de literatura e com o objetivo de evitar a utilização das tradicionais equações de predição de FC, optou-se pela aplicação de uma metodologia de teste mais específica e desenvolvida especialmente para esse contexto. O teste foi realizado em uma sessão extra, posteriormente às aulas de RPM® do estudo (no prazo máximo de oito dias), com a orientação de que os sujeitos não realizassem nenhuma atividade física no dia do teste.

    O teste foi aplicado em bicicleta específica de RPM® e na própria sala de aula da academia do respectivo estudo. O protocolo foi constituído de aproximadamente sete minutos, em que o aluno pedalou com músicas do mix 37, submetendo-se aos três níveis de esforço estipulados pela modalidade (confortável, cansativo e exaustivo) com o monitoramento da FC durante todo o teste.

    Após ter feito o ajuste na bicicleta de acordo com o seu uso habitual, o avaliado iniciou o aquecimento pedalando durante três minutos no nível confortável (primeira música do mix). Após o aquecimento, foi utilizada a quinta música do mix, a qual consistiu em uma pedalada durante mais três minutos alternando a intensidade da carga entre os níveis de PSE cansativo e exaustivo, permanecendo 30s em cada nível. Durante o esforço considerado cansativo o aluno fazia sprints de 30s na posição sentada, enquanto que na PSE considerada exaustiva, era solicitado ao aluno o aumento da carga consideravelmente para pedalar 30s na posição de subida (em pé na bicicleta). Após esse período de seis minutos, era solicitado ao avaliado a realização da pedalada sentada até a exaustão, na forma de um sprint de no mínimo 30s e no máximo um minuto, mediante muito encorajamento verbal por parte dos pesquisadores. Ao final do teste, o maior valor de FC registrado, foi adotado como sendo a FCmáx.

Tratamento estatístico

    Verificada a distribuição normal das variáveis dependentes, os valores médios obtidos nas duas aulas de RPM® foram comparados por meio do teste t de Student para amostras dependentes. Para comparar as variáveis FCmín, FCmédia e FCmáx nas diferentes músicas foi aplicada análise de variância (ANOVA) com medidas repetidas, seguida de teste post hoc de Bonferroni, quando necessário. Os dados foram tratados por meio do programa estatístico SPSS® v. 15.0. O nível de significância em todas as análises foi pré-fixado em p<0,05. Os resultados são apresentados em média ± desvio-padrão (DP).

Resultados

    A FCmáx obtida no Tmáx (188 ± 7 bpm) foi ligeiramente inferior a FCmáx predita pela idade (193 ± 6 bpm), no entanto, sem diferença significante (p>0,05). A tabela 2 mostra os valores médios ± DP da FCmáx e FCmédia das duas aulas de RPM.

Tabela 2. Valores médios ± DP da FCmáx e FCmédia encontrados no Tmáx, RPM-1, RPM-2 e na média entre as duas aulas

(n=7)

Tmáx

RPM-1

RPM-2

RPM-1 e RPM-2

FCmáx (bpm)

188 ± 7

185 ± 10

188 ± 8

185 ± 10

FCmédia (bpm)

---

164 ± 10

157 ± 10

159 ± 11

    Ao comparar as respostas de FC, não foram encontradas diferenças significativas (p>0,05) entre as duas aulas monitoradas. Dessa forma, a tabela 3 mostra os valores médios entre as duas aulas de RPM® (RPM-1 e RPM-2) nas variáveis de FCmín, FCmáx, FCmédia absoluta e relativa da FCmáx (Tmáx) nas sete músicas monitoradas durante a aula.

Tabela 3. Valores médios ± DP da FCmín, FCmáx, FCmédia absoluta e relativa da FCmáx do Tmáx nas sete músicas monitoradas na aula de RPM

Músicas

FCmín

FCmáx

FCmédia

FCmédia (%Tmáx)

  

(bpm)

(bpm)

(bpm)

(%)

M1

102 ± 11*

145 ± 19 *

124 ± 17 *

65,9 ± 8,6

M2

131 ± 19 **

170 ± 12

157 ± 13

83,4 ± 6,6

M3

141 ± 15

179 ± 11

165 ± 10

87,7 ± 4,8

M4

151 ± 15

180 ± 11

166 ± 15

88,3 ± 7,5

M5

153 ± 15

183 ± 12

171 ± 13

90,8 ± 5,6

M6

144 ± 13

179 ± 12

159 ± 10

84,7 ± 5,7

M7

148 ± 13

184 ± 8

168 ± 9

89, 4 ± 4,3

* p < 0,05 em relação às músicas 2 a 7; ** p < 0,05 em relação às músicas 4, 5 e 7.

    Ao analisar a FCmédia na tabela 3 pode-se verificar que, com exceção da primeira música, as demais encontram-se acima de 80% da FCmáx (Tmáx). Foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) entre a primeira música comparada às demais na FCmín, FCmédia e FCmáx.

    A freqüência relativa (%) de ocorrência em cada nível de PSE durante a aula de RPM-1, RPM-2 e média entre as duas aulas, estão expostos na tabela 4. Nas duas aulas o nível de esforço “cansativo” foi aquele que registrou a maior freqüência, seguido pelo “exaustivo” e por último, pelo “confortável”.

Tabela 4. Valores de freqüência (%) em cada nível de PSE na aula de RPM-1, RPM-2 e a média entre as duas aulas

 

Confortável (%)

Cansativo (%)

Exaustivo (%)

RPM-1

33,3

35,7

31,0

RPM-2

24,5

40,8

34,7

RPM-1 e RPM-2

28,5

37,8

33,7

    Para uma melhor visualização da PSE encontrada durante a aula de RPM®, a tabela 5 mostra a PSE durante todas as músicas que compõem a aula. As músicas 3, 5 e 7 foram aquelas que apresentaram maior freqüência no nível “exaustivo”; músicas 4 e 6 o nível “cansativo” e nas músicas 1 e 2 o nível “confortável”.

Tabela 5. Valores de freqüência (%) em cada música e nível de PSE na média entre as duas aulas de RPM®

Músicas

Confortável (%)

Cansativo (%)

Exaustivo (%)

M1

92,3

7,7

---

M2

53,8

46,2

---

M3

7,7

38,5

53,8

M4

15,4

76,9

7,7

M5

---

23,1

76,9

M6

30,8

61,5

7,7

M7

---

15,4

84,6

Discussão

    O objetivo deste estudo foi classificar e comparar as intensidades de esforço baseado na FC e na PSE obtidos durante a aula de RPM® com os valores preditos pela modalidade. O principal achado desta pesquisa foi que a aula apresentou elevada intensidade, confirmada a partir dos valores de FC e PSE mensurados. Entretanto, nota-se que a PSE subestimou os valores %FCmáx esperados em algumas músicas que compõem a aula.

    Ao analisar a tabela 3, foi verificado que os valores de intensidade relativa de esforço variaram de 65,9% a 90,8% da FCmáx (Tmáx), demonstrando que a modalidade exige uma elevada solicitação do sistema cardiorrespiratório dos praticantes. Estes valores estão de acordo com aqueles estabelecidos pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte8, que recomenda exercícios com intensidade variando entre 64% e 94% da FCmáx quando o objetivo é a melhora da aptidão cardiorrespiratória. Ao verificar a resposta da FCmédia (tabela 2), observa-se que a média obtida entre as duas aulas ficou em 84,6% da FCmáx (Tmáx).

    Os exercícios mais intensos proporcionam aumentos significantes no VO2max, no dispêndio energético durante e pós exercício, na massa corporal magra, na atividade mitocondrial e na redução do perfil lipídico9,10. O estudo de Gibala et al.11 mostra vantagens do treinamento intermitente de alta intensidade em indivíduos fisicamente ativos, concluindo que exercícios com curta duração, porém intensos (sprints de 30s), ou exercícios contínuos de longa duração (corrida moderada de 90 a 120 min) induzem melhoras similares na capacidade oxidativa do músculo, na capacidade de tamponamento muscular e no conteúdo do glicogênio muscular.

    Caria et al.12 avaliaram variáveis cardiovasculares e metabólicas durante a aula de CI (Spinning®), em homens e mulheres professores da modalidade. Os valores encontrados de FCmédia e FCmáx por estes autores foram inferiores aos valores do atual estudo.

    Porto, Lafetá e Júnior13 avaliando cinco homens e cinco mulheres praticantes de CI (Spinning®) verificaram que, na maior parte das aulas (67%), os valores de intensidade relativa de esforço variaram de 70% a 89% da FCmáx e permaneceram cerca de 21% do tempo total das aulas acima desses valores. Ramos et al.14 avaliaram o mesmo programa acima e encontraram valores de intensidade relativa de esforço variando de 85% a 92% da FCmáx.

    Com o objetivo de analisar as respostas de FC e de lactato sanguíneo durante a aula de RPM®, Ferrari e Guglielmo15 encontraram valores de intensidade relativa de esforço muito próximos aos achados da pesquisa atual (84,7% da FCmáx), concluindo que a aula exige uma grande solicitação do sistema cardiorrespiratório de seus praticantes.

    Ao analisarem respostas cardiorrespiratórias e metabólicas durante toda a aula de RPM® em sete professores da modalidade, Grossl et al.16 encontraram valores de FCmáx durante a realização da aula de 182 ±12 bpm e FCmédia de 154 ±14 bpm, correspondendo a 97,1 ± 4,6% e 81,7 ± 6,4% da FCmáx obtida no teste incremental no cicloergômetro, respectivamente. O presente estudo mostrou valores de FCmáx e FCmédia superiores à pesquisa supracitada.

    Ferrari e Guglielmo1 analisaram as respostas do lactato sangüíneo e FC nas modalidades Body Pump® e Body Combat®. Os resultados apontaram valores de FCmédia correspondendo a 61,4% e 86% da FCmáx, respectivamente, nas músicas mais intensas, ou seja, valores inferiores aos encontrados na aula de RPM® do presente estudo.

    Em outro estudo17, o qual investigou as respostas cardiorrespiratórias em mulheres praticantes de Power Jump® em duas aulas da modalidade, foram obtidas respostas de FCmédia de 82,8% da FCmáx para a primeira aula e 80% da FCmáx para a segunda, valores estes inferiores aos achados no estudo atual.

    O estudo de Kang et al.4, teve como objetivo comparar as respostas metabólicas e perceptivas entre exercício realizado em intensidade constante e intermitente (utilizando o programa de CI Spinning®) em 15 sujeitos fisicamente ativos (sete homens e oito mulheres). Os autores encontraram um valor de FCmédia na intensidade intermitente inferior ao atual estudo (130±2 bpm, correspondendo a 68% da FCmáx) e verificaram que, durante as fases de menor intensidade, os participantes relataram uma PSE mais baixa do que as respostas fisiológicas indicavam, corroborando com os resultados da presente pesquisa.

    Em relação à nova proposta de PSE da modalidade de RPM®, foi verificado que os indivíduos passaram pelas três faixas de treinamento (tabela 5). A resposta da primeira música ficou dentro da expectativa do programa RPM®, ou seja, FC e PSE indicando um esforço “confortável”. A música seguinte (música 2) foi aquela que demonstrou a maior diferença entre FC e PSE, ou seja, enquanto a FC apontou um esforço “exaustivo” (83,4 ± 6,6% da FCmáx), a maioria dos avaliados relataram uma PSE como esforço “confortável”.

    As músicas 3, 5 e 7 são os picos de esforço da aula de acordo com os criadores do RPM®5. Os valores de FC e PSE obtidos no atual estudo confirmaram este pressuposto. Em adição, Grossl et al.16 em sua pesquisa, também confirmaram esta colocação ao analisarem os valores de VO2médio durante todas as músicas que compõem a aula. Já em relação às músicas 2, 4 e 6, as quais são dedicadas ao treinamento de técnica de pedalada, giros rápidos e a recuperação ativa, o presente estudo demonstrou valores de PSE adequados aos estipulados pelos criadores da aula, ou seja, esforço “cansativo”. Entretanto, as respostas fisiológicas apontaram para o esforço “exaustivo”. Estas diferenças podem ser explicadas pelo moderado nível de aptidão cardiorrespiratória dos avaliados na presente pesquisa, uma vez que indivíduos com melhor capacidade aeróbia tendem a recuperar mais rapidamente os valores de FC.

    A tabela 4 demonstrou que a PSE média relatada pelos sujeitos da aula foi predominantemente de nível “cansativo”, enquanto que a FCmédia foi classificada como “exaustiva”. Porém, deve-se considerar que as respostas de FC das músicas de recuperação normalmente sofrem influência das músicas intensas precedentes. É importante salientar que o monitoramento da FC durante as aulas nem sempre é possível, sendo a utilização da PSE uma alternativa válida para auxiliar no controle da intensidade das aulas de RPM®.

    Em adição, é importante ressaltar que a intensidade da aula de RPM® deve ser controlada individualmente pelo praticante, contudo, cabe aos professores orientarem continuamente as mudanças de intensidade. Desta forma, o ajuste na intensidade segue o modelo preconizado pelos idealizadores do RPM®, ou seja, indivíduos com maior capacidade aeróbia realizam a aula em intensidades absolutas mais elevadas que indivíduos não treinados, porém, em termos relativos, as intensidades tendem a ser similares.

    Baseado nos resultados do presente estudo pode-se concluir que as aulas de RPM® promovem uma grande solicitação do sistema cardiorrespiratório, gerando valores médios de FC de acordo com as recomendações do ACSM8. Mesmo com classificações aparentemente conflitantes entre FC e PSE, percebe-se que as duas formas de controle se complementam. Assim, sugere-se que as academias disponibilizem a tabela de PSE em suas salas de aula de RPM® e que os professores possam utilizá-la como instrumento de orientação e controle das zonas alvo prevista para cada música.

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