efdeportes.com

Profissionalização e regulamentação no campo da 

Educação Física: o contexto das lutas/artes marciais

Profesionalización y reglamentación en el campo de la Educación Física: el contexto de las luchas/artes marciales

Professionalisation and regulation in the field of physical education: the context of fighting/martial arts

 

*Mestrando em Ciências da Motricidade

UNESP - Rio Claro

**Professor Faculdade Anhanguera de Bauru-SP

Professor FunBBE – FAEFI/Barra Bonita-SP

(Brasil)

Prof. Marcelo Eugênio Vieira

marceloevieira@hotmail.com

Prof. Ms. Evandro Antônio Corrêa

evandrocorrealazer@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo apresenta uma análise preliminar sobre a profissionalização das lutas e artes marciais, no campo da Educação Física. Visa analisar a atuação profissional no mercado, questionando a necessidade de profissionalização dos “professores” de lutas e artes marciais na Educação Física. Realizou-se uma investigação de natureza qualitativa do tipo exploratório, tendo na pesquisa bibliográfica e na técnica de entrevista aplicada em quatro participantes a principal fonte de coleta, análise e discussão dos dados. Os resultados indicaram para uma formação centrada na “escola de ofícios” e uma formação vinculada ao âmbito acadêmico. No processo da socialização ocupacional prevaleceu a socialização primária proveniente da “escola de ofício” vinculada à federação.

          Unitermos: Profissionalização. “Campo”. Educação Física

 

Resumen

          Este estudio presenta un análisis preliminar sobre la profesionalización de las luchas y artes marciales en el ámbito de la Educación Física. Tiene por objeto examinar el mercado profesional, cuestionando la necesidad de profesionalización de los "maestros" de las luchas y artes marciales en la Educación Física. Hubo una investigación de carácter cualitativo del tipo de exploración, teniendo en la literatura y en la técnica de entrevistas, aplicado en cuatro participantes, las principales fuentes del acopio, análisis y discusión de los datos. Los resultados indicaron una formación centrada en la “escuela del oficio” y la formación relacionados con el mundo académico. En el proceso de socialización profesional prevalecido socialización primaria de la “escuela del oficio” asociado a la federación.

          Palabras clave: Profesionalización. "Campo". Educación Física

Abstract

          This study shows a preliminary analysis about professionalization of fighting and martial arts in the field of Physical Education. Aims to examine the professional market, questioning the need to professionalization of the "teachers" of fighting and martial arts in Physical Education. There was an investigation of a qualitative nature of the exploratory type, taking the literature and applied the technique of interviewing participants in the four main source of collection, analysis and discussion of the data. The results indicated a training focused on "school of letters" and training linked to the academic. In the process of occupational socialization prevailed primary socialization from the "school of letter" linked to the federation.

          Keywords: Professional qualification. “Field”. Physical Education

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

1 / 1

Introdução

    A Educação Física, nas últimas décadas, vem passando por transformações na tentativa de uma estruturação sob a égide de uma nova ordem social. Busca definir um espaço próprio, uma identificação que possa garantir sua credibilidade junto à sociedade, com intuito de demarcar seu território de atuação profissional.

    Nesse sentido, compreendemos que a partir das transformações sociais ocorridas no início do século XX emerge a preocupação com a caracterização de uma profissão, e esta surge para atender alguma necessidade específica da sociedade. Segundo Barros (1996, p. 51) profissão “é uma atividade de prestação de serviços relevantes e especializados que surge para atender a uma necessidade da sociedade. Sendo especializada exige preparação específica, normalmente obtida num curso de graduação”.

    A Profissão pode ser entendida como um caso particular que exige conhecimentos especiais e, em geral, uma preparação extensa e intensiva. Não podemos esquecer-nos das ocupações, e Macedo (Fipe-USP, 2002) relata que uma Ocupação é aquilo que a pessoa de fato faz, atividade econômica exercida pelo cidadão, como empregado ou de outra forma, e para CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) ocupação é definida como “a agregação de empregos ou situação de trabalhos similares quanto às atividades realizadas”.

    Assim, sob a luz das transformações sociais, ocupação/profissão, legitimidade e profissionalização, emergem o interesse de explanar algumas considerações acerca dos “professores”, tendo como objetivo central apresentar uma análise preliminar e exploratória sobre a profissionalização das lutas e artes marciais no campo da Educação Física.

    Contudo, precisamos compreender que embora haja um “novo” mapeamento no espaço de intervenção profissional de Educação Física após a Lei nº 9696/98, também se pode observar que esta lei não tem suas linhas limítrofes bem definida, deixando possíveis lacunas no que se refere ao campo de atuação.

    Diante desta observação podemos verificar que de um lado encontram-se o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e Conselho Regional de Educação Física (CREF) que buscam estabelecer uma única frente de identidade profissional para a Educação Física, incorporando sob sua responsabilidade a maioria das manifestações vinculadas às lutas/artes marciais, esportes, dança, lazer e recreação, ginástica, entre outros, enquanto que de outro lado há as federações e confederações, que buscam manter, além da identidade de associação desportiva, também a de formação de faixas-pretas, até o momento em que sejam considerados por estas entidades como professores ou profissionais.

Procedimento metodológico

    No âmbito do processo arrolado esta pesquisa procurou responder às questões levantadas e aos objetivos propostos. Porém, Lüdke e André (1986, p. 01) alertam que “para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”.

    Sendo assim, a metodologia escolhida foi a de investigação de natureza qualitativa do tipo estudo exploratório tendo na pesquisa bibliográfica e na técnica de entrevista aplicada em quatro participantes a principal fonte de coleta, seguindo-se análise e discussão dos dados levantados. Nesta pesquisa os critérios de seleção dos sujeitos têm o viez de compreensão, de pertinência e não de representatividade estatística. Sendo assim a “amostra” (04 “professores”) não tem como finalidade a generalização dos resultados, mas apontar indícios para um possível aprofundamento no debate acerca desta temática. A coleta de dados foi feita por amostragem no campo através de entrevista com questões semi-estuturadas com “professores” lutas e artes marciais.

    Contudo, não se pretende “provar” nada, e “sim a intenção de lançar um olhar sobre as possíveis relações existentes em um determinado cenário, necessariamente para sua compreensão, e não para sua predição” (SORIANO, 2003, p. 127). Neste itinerário a intenção se estendeu para a intervenção profissional em Educação Física no contexto das lutas. Segundo a autora (p. 128) “mais importante do que perguntar “QUANTOS”, devemos antes refletir sobre como formular questões que sejam consistentes, significativas e estruturadas”.

    Nesse sentido, utilizou-se como técnica a entrevista, de forma semi-estruturada ou semi-dirigida. De acordo com Amado e Ferreira (2002), a entrevista semi-estruturada constitui-se como uma fonte oral de análise, a qual se legitima como uma fonte histórica, dado seu valor informativo e por incorporar perspectivas ausentes na literatura.

    Tourtier-Bonazzi (2002, p.233) afirma que a

    [...] exploração do testemunho oral (...) pressupõe que ele tenha sido colhido sistematicamente, (...) cada entrevista supõe a abertura de um dossiê de documentação. A partir dos elementos colhidos elabora-se um roteiro de perguntas do qual o informante deve estar ciente durante toda entrevista (p. 236).

    Com base no pressuposto sobre a profissionalização em Educação Física procurou-se levantar dados para compreender os “professores” das lutas em questão. Para este levantamento foram utilizadas seis questões, a fim de verificar o que levou o “professor” a esta modalidade esportiva; quais foram as experiências com esta prática, o que é necessário  saber para atuar neste campo, as competências, habilidades e técnicas; as dificuldades/problemas encontrados no exercício da prática, no início e na trajetória como “professor” e os caminhos percorridos para resolvê-los; e, no dia a dia, como é organizado o “trabalho” referente a planejamento, objetivos, conteúdos, métodos e avaliação.

    Sob esta ótica, busca-se explorar alguns pontos sobre a profissionalização das lutas no contexto da Educação Física e atuação no mercado, não apenas com o intuito de reconhecer seus atributos políticos, econômicos, sociais, culturais, técnicos e simbólicos, mas também suscitar algumas questões, talvez, esquecidas no processo de legitimação e regulamentação da Educação Física na perspectiva das Lutas e Artes Marciais.

Análise e discussão

Regulamentação e legitimidade da Educação Física em questão

    De acordo com o Art. 3º da Resolução n° 7, de 31 de março de 2004, define que a Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico-profissional, tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, (...) “da luta/arte marcial” (BRASIL, 2004). Portanto, as lutas e as artes marciais fazem parte do contexto da Educação Física, como campo de intervenção profissional.

    Neste processo de regulamentação da profissão de Educação Física Sautchuk (2002, p.180) aborda esta questão “entendendo-a como um fenômeno particular, resultado direto do jogo político entre agentes situados no campo da Educação Física brasileira”. Dessa forma, se o poder de produzir os sistemas simbólicos torna-se um aspecto central em uma disputa política, busca-se analisar como os sistemas simbólicos são construídos, na reconfiguração de questões já existentes e abordando-as numa nova estrutura. O autor tenta “apontar o que é arbitrário e se faz passar por natural, pois esta é a essência do poder simbólico” (p. 180). Desta forma, gera-se o “poder de construir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer” (BOURDIEU, 2000, p. 14).

    Esta possível “luta de poder” que se estabelece no contexto da Educação Física enquanto intervenção profissional, segundo a Resolução CONFEF nº 046/02, o profissional de Educação Física “é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações – ginástica, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, (...)” é por nós questionada. (grifo nosso)

    Segundo Drigo, Soeiro e Cesana (2006, p. 254) “este mapeamento tentou legitimar o campo de ocupação profissional, mas foi questionado e combatido, primeiramente pelo grupo das artes marciais”. Um manifesto foi lançado questionando a legitimidade da atuação na área, apontando que as Faculdades de Educação Física não contemplam todas as modalidades de lutas e artes marciais, e naquelas que oferecem algumas das modalidades, a carga horária e conteúdo são irrisórios, se comparados aos requisitos mínimos para o credenciamento técnico junto às respectivas Confederações (p. 254-255).

    Entre esse e outros apontamentos feito pelos autores, pode-se dizer que “a formação técnica, de que as Faculdades de Educação Física não possuem modalidades de lutas e artes marciais, e a carga horária insuficiente, questionam a legitimidade do profissional em Educação Física estar apto a atuar nestes esportes” (p. 225).

    Mediante ao processo de legitimidade da Educação Física, devemos compreender que a regulamentação é

    [...] uma profunda modificação nas correlações de forças do campo e nas suas delimitações. ‘Não é tampouco a instauração da legitimidade antes ausente (...), mas sim o esforço de incorporar todo o campo a um tipo específico de legitimidade – racional-legal – fundando uma administração burocrática (WEBER, 1999)’. A consecução plena deste intento dependerá das lutas que, veremos, estão travando-se. (SAUTCHUK, 2002, p.181).

    Contudo, a Educação Física e a sua regulamentação profissional precisam superar possíveis obstáculos e para isso “é necessário tempo para que o ‘campo’ se organize e obtenha não só o reconhecimento legal, mas também o reconhecimento da sociedade para que realmente alcance o status de profissão” (DRIGO; SOEIRO; CESANA, 2006, p. 255).

    Neste contexto, a busca pela legitimidade e pelo reconhecimento da profissão em suas diversas nuances apresentadas tanto pela Resolução CONFEF nº 046/02 como pela Resolução n° 7/2004, pode não garantir a sua especificidade em determinadas atividades e modalidades esportivas, como ocorrido nas lutas e artes marciais.

    Gonçalves Junior e Drigo (2001) pontuam que a regulamentação pode interferir e gerar conflitos em uma área que histórica e culturalmente esteve consideravelmente à arte da Educação Física e de seus profissionais. Assim, pode-se dizer que a Educação Física como uma possível área de estudo e profissão teve certo distanciamento com determinadas lutas e artes marciais.

    Sobre a regulamentação da profissão da Educação Física, Drigo (2002) baseado na Lei 9696/98, particularmente sobre o Judô, pontua que embora seja uma modalidade com um número elevado de adeptos, de sucesso competitivo e um relativo nível organizacional, existe certo isolamento das instituições acadêmicas de Educação Física em relação a esta modalidade. Portanto, com as determinações referentes à regulamentação da profissão em Educação Física, iniciou-se um conflito com os chamados “mestres” - em muitos casos não graduados em Educação Física -, necessitando de encontros, discussões e reflexões para um possível entendimento e a construção sobre a nova realidade do Judô, assim como da Educação Física neste contexto.

    Neste sentido, Lage e Gonçalves Junior (2007, p. 34), entendem que o mesmo pode-se dizer do Karate contribuindo com seu estudo para melhorar a interação entre os profissionais de Educação Física e “mestres” de Karate e, ainda, poder aperfeiçoar “os conhecimentos dos processos educativos envolvidos nesta arte marcial de origem oriental e, em certa medida, estranhos a nossa cultura”.

    Todavia, com a regulamentação oficial (Lei n° 9696/98) da Educação Física enquanto profissão entende-se que o seu reconhecimento por parte da sociedade e pelas autoridades, o seu futuro “depende da competência técnico-científico e a qualidade ética dos seus profissionais” (BARROS, 2000, p. 108). Espera-se que com o reconhecimento e organização profissional, surjam padrões éticos, uma reorganização no mercado de trabalho, estimulando o desenvolvimento profissional e a melhora da qualidade dos serviços prestados. Portanto, não podemos mais nos basear somente no saber fazer, tentativa/erro, no qual alguns “professores” de lutas e artes marciais estão inseridos, colocando muitas vezes em risco a integridade física, moral e intelectual de seus “discípulos”.

O processo da profissionalização

    Com base nos argumentos apresentados anteriormente, surge a necessidade de compreender a Educação Física enquanto profissão e que “pode ser estudada a partir das dinâmicas de profissionalização, das mudanças nos sistemas de autoridade ou ainda através dos conflitos e tensões sociais existentes” (Nascimento, 2002, p. 22). Para atender as necessidades da sociedade o espaço de intervenção do profissional de Educação Física é ampliado, e passa a ser caracterizado como um profissional liberal, que é influenciado e influencia o mercado de trabalho. Por outro lado, a profissionalização engloba “o estudo aprofundado dos processos pelos quais uma ocupação obtém o status profissional” (p. 22).

    Nas abordagens prescritiva e descritiva de uma profissão Nascimento (2002) descreve que não há uma definição consensual sobre profissão, muitos pensam somente no que é realmente uma profissão, e não como ela surgiu, não levando em conta seu valor histórico, e para outros é ao contrário, importa como ela surgiu e não o que realmente ela é.

    Nascimento (2002, p. 22), baseado nos estudos de Toffler (1991), aponta que na abordagem prescritiva da profissão, a primeira categorização de uma ocupação é o prestígio exercendo a autoridade e o poder. A especialização do saber de uma profissão gera o reconhecimento do valor social do saber e a atribuição ao status. Destacamos ainda a importância do trabalho intelectual, visualizado a partir da dependência cada vez maior da manipulação de símbolos, os quais implicam no processamento de informações, autonomia e responsabilidade.

    Já na abordagem descritiva é através da identificação de características que uma ocupação pode ser chamada de profissão ou não. Dentre os requisitos para uma profissão destaca-se a necessidade de um conjunto estruturado de conhecimentos, saber específico o qual gera a exclusão dos leigos; amplo conhecimento (fruto da longa experiência do profissional); formação institucionalizada; fundamentação científica; há também a formação extra-escolar “escola de ofícios”; a criação de associação profissional própria e o código de ética; e a especialidade no campo de atuação.

    O processo de profissionalização da Educação Física é uma conquista, e envolve algumas etapas distintas como qualificação, a busca pelo status e não somente a tendência para a qualificação; também pode ser um movimento para terciarização de baixa produtividade. Neste processo “a conotação descritiva da profissionalização desenvolvida por Millerson” e outros autores, “apresenta a existência de um continuum ocupação/profissão” (NASCIMENTO, 2002, p. 22), como verificamos no quadro:

Continuum Ocupação / Profissão

Ocupação

Quase-

Ocupação

Semi-

Ocupação

Profissão

Emergente

Profissão

Fonte: Faria Junior (1992, p.229).

    “Este continuum está baseado na teoria das características diferenciadoras, que considera como critérios para a definição de uma profissão”: habilidades especializadas, função social, corpo de conhecimento exclusivo, treinamento extenso, organização ou categoria profissional. Sob esta perspectiva, no estado atual da Educação Física, existem algumas preocupações quanto às necessidades, buscas ou metas a serem cumpridas, entre elas: 1) a busca de uma harmonização curricular; 2) a necessidade de uma teoria geral da Educação Física; 3) a necessidade do reconhecimento de outras funções além da atividade docente, e 4) o estabelecimento de um código profissional (NASCIMENTO, 2002).

    Nos quatros pontos levantados destaca-se que a caracterização profissional se dá na aquisição do conhecimento de origem acadêmica. Nascimento (2002) pontua, ainda, que a diferenciação na atuação entre um profissional e um leigo é o domínio de princípios teóricos básicos e aplicados, e não a simples posse de habilidades motoras e de técnicas obtidas por meio de tentativa e erro que caracterizam um leigo.

    Neste itinerário Nascimento (2002) em seus apontamentos descreve a necessidade de formação superior para certificar os conhecimentos adquiridos e a preparação na área de Educação Física. A teorização é mediadora entre a teoria e a prática, é o corpo de conhecimento que dá suporte à profissão. Assim, o surgimento de uma teoria e metodologia da Educação Física ou uma teoria geral daria sustentação à identificação dos problemas existentes na área. Na necessidade do reconhecimento de outras funções além da atividade docente o profissional de Educação Física tem certa liberdade para desempenhar seu trabalho, e o termo professor já não está sendo mais adequado em razão do seu campo de ação. Por último, a necessidade do desenvolvimento de um código profissional, o dever de atualização constante, a responsabilidade e controle de qualidade com a prestação de serviço e a formação continuada. Além disso, é preciso haver a incitação do profissional em relação à emergência de uma atitude inovadora e de mudança.

    Desta maneira, como se sabe a sociedade é dinâmica e novas oportunidades aparecem a cada dia, o mercado de trabalho torna-se exigente, resultado talvez das mudanças em diversos setores da sociedade. Ao mesmo tempo em que essas oportunidades são geradas as áreas de intervenção acadêmico-profissional são responsáveis e deveriam preparar seus profissionais para atuar neste mercado competitivo nas diversas veredas sociais.

    Com isso a Educação Física deixa de ser somente da escola e, começa de forma ascendente a atuar fora dela. Oliveira (2000, p. 47) apresenta cinco grandes áreas de atuação do profissional de Educação Física: escola; saúde; lazer; esporte; e empresa.

    O campo de atuação se ampliou e muito nas últimas décadas, conseqüentemente a “profissão e o profissional de Educação Física estão em plena fase de transformação de atuação e formação” (p. 47), e o surgimento do profissional liberal em Educação Física torna-se praticamente irreversível. Este deveria “atuar de forma livre e competente, com o mercado exercendo um alto controle sobre os serviços prestados. Com isso queremos enfatizar a formação do profissional de Educação Física” (p. 47).

    Barros (2000, p. 108) coloca que é

    (...) responsabilidade das escolas e faculdades preparar profissionais competentes que tenham uma sólida formação superior, com perfis que atendam as exigências do mercado de trabalho (...). Licenciatura e bacharelado devem ser analisados e propostos com base nas necessidades e expectativas dos alunos e das características dos serviços a serem prestados à sociedade.

    No entanto, essa formação oferecida pelas Instituições de Ensino Superior, talvez, não atenda de forma suficiente as necessidades da sociedade e do mercado de trabalho. Este pode ser um dos motivos pelos quais os chamados “leigos” ocupem o “lugar” dos profissionais de Educação Física. Segundo Sautchuk (2002, p. 181) “falar de regulamentação é falar de instituição”, e a naturalização primeira desta instituição, ou entidade, produz pode produzir um corpo social, baseado na diferenciação: os de dentro (os profissionais de Educação Física) e os de fora.

    Assim, a Educação Física no seu processo de regulamentação criou esta distinção no seu corpo social – os de dentro e os de fora – e a solução mais viável para a resolução de parte dos problemas seria a busca pelo conhecimento científico e a formação profissional.

    Nesse sentido, a Educação Física vem organizando um conjunto de conhecimentos para o exercício da profissão, e de acordo com Souza Neto (2004) “apenas a prática efetiva de determinadas atividades, habilidades ou performances, não foram suficientes para a constituição do ‘campo’ 1(Bourdieu, 1983) apesar de serem necessárias e importantes”.

    Os profissionais de Educação Física também tiveram a “necessidade de demarcar seu território, descobrir as regras do jogo político-social, divulgar o seu conhecimento, propagar os efeitos e benefícios desses saberes, e iniciar uma produção literária especializada demonstrando a sua autonomia” (CATANI, 1994).

    A Educação Física percorreu um longo caminho e não pode mais ficar na perspectiva tentativa e erro. Já o profissional de Educação Física deve estar comprometido com um carreira, atento às mudanças sociais e preocupado com a própria capacitação (LAWSON, 1984). Seguindo os indicadores, Souza Neto (2004) coloca que a profissão deve “estar comprometida com a prestação de um serviço; ter desenvolvido um corpo de conhecimento por meio da pesquisa; e esse conhecimento deve ser utilizado para melhorar a qualidade da prática” (p.123).

    Betti e Betti (1996, p. 13) descrevem que os profissionais de Educação Física sabem muito, “e é um tipo de saber-fazer que, em seu conjunto, ainda não foi dominado por qualquer outra área. A verbalização e a teorização desse saber-fazer é muito importante para os professores universitários, mas nem sempre o é para os profissionais”.

    Esta verbalização e teorização talvez este seja um dos maiores empecilhos colocados pelo “professores” de lutas e artes marciais, em não reconhecer o conhecimento científico como fator importante para a sua atuação, privilegiando somente o saber-fazer, sem qualquer tipo de estudo e pesquisa científica sobre a sua área de atuação. Cabe lembrar que o contrário também não deve ocorrer, ou seja, a busca por uma “cientificidade” das artes, e também não se deve ignorar os conhecimentos históricos das lutas e artes marciais e suas tradições.

Construção dos resultados

    Com a regulamentação da Educação Física de acordo com a Lei 9696/98, o papel do profissional de Educação Física vem se ampliando e, conseqüentemente, ocupando maior espaço no contexto da sociedade.

    Nesse sentido, a realização desse estudo, a partir da abordagem qualitativa, se deu para que se pudesse empreender uma compreensão de representações e significados acerca das categorias atitudinal, procedimental e conceitual. Sendo assim, de acordo com o questionamento realizado com os “professores”, foram elencadas algumas categorias de análise das entrevistas.

    Neste segmento de lutas e artes marciais observamos a existência de um número elevado de “professores” não formados, ocupando, talvez, de acordo com a Lei 9696/98 um espaço equivocado dentro deste território que pertenceria à Educação Física.

    O entrevistado 03, baseado em sua experiência e contato com outros “professores” menciona que se percebe um tímido crescimento do número de profissionais formados atuando neste “campo”. O interesse por uma especialização do saber dentro de uma profissão é decorrente da escola de ofício, ou seja, o saber fazer. Constata-se que “o aluno no decorrer de sua vivência como atleta e/ou praticante de uma atividade, percebe a necessidade de uma especialização para continuar atuando neste campo com legitimidade, conseguida com o conhecimento científico” (entrevistado 03).

    Cumpre agora analisar o que seria necessário saber para atuar neste campo, em relação às competências, habilidades e técnicas. Segundo os entrevistados a categoria predominante foi à conceitual, existindo uma forte ligação com as regras, táticas, históricos das modalidades, além de questões éticas, desempenho, satisfação e eficiência por parte dos praticantes/atletas.

    Outro ponto a destacar é em relação aos problemas e dificuldades encontradas na prática como “professor”, e o que fez para resolvê-los, apresentadas na terceira questão. Encontraram-se três categorias: procedimental, atitudinal e conceitual, com destaque para as categorias procedimental e conceitual, no que tange a falta de conhecimento profissional e o comprometimento por parte dos órgãos públicos a essa modalidade. A falta de apoio e patrocínio foram os pontos mais relevantes, sendo que os entrevistados procuram resolver suas dificuldades das formas mais variadas, com o apoio de amigos, procuram divulgar a modalidade esportiva para que não caia em esquecimento, e também lutam para manter o status da modalidade.

    O ultimo ponto trata da organização do trabalho no seu dia a dia, referindo-se ao planejamento, objetivos, conteúdos, métodos e avaliação. Dentre as respostas ficou evidente a presença da categoria procedimental. A relação dos aspectos didáticos pedagógicos da modalidade, a extensão das atividades dentro do universo das habilidades motoras e dos fundamentos do esporte torna-se possível por meio da organização de um plano de aula, baseado num planejamento anual, respeitando as individualidades dos praticantes, dentro das técnicas de execução dos exercícios e movimentos específicos.

    Neste contexto, parte-se em defesa da regulamentação, e como já mencionado, o primeiro passo da Educação Física foi fazer esta distinção no corpo social, o profissional versus o “leigo”. Esta “categorização certamente alavanca sua eficácia simbólica no reconhecimento conferida a nossa sociedade a preparação racional, ao diplomado acadêmico como símbolo de um saber válido”.

    Outros sistemas simbólicos são acionados, como o mérito, no qual os profissionais devem ocupar seu lugar. Outros são os seguintes: zelar pelo “prestigio e bom nome”; as vantagens de se ter o número de registro do CREF nos cartões; ser considerado “cientista”; o status de ser considerado da saúde; a cédula de identidade profissional; a vestimenta e os signos corporais os quais são indicadores imediatos do posicionamento social, “o terno e a gravata acaba infundindo credibilidade e / ou autoridade, mostra uma hierarquização na estrutura do campo” (SAUTCHUK, 2002, p.187).

    Já os símbolos, valores e crenças mais fortes do Estado-Nação são abraçados pelo CONFEF, fortalecendo sua legitimidade; a instauração da dominação burocrática, que se divide em dois momentos: o primeiro é posicionar a máxima quantidade de “atividades físicas” sob seu controle, e segundo a burocracia passa a deter o poder de produção dos sistemas simbólicos, através de um corpo de especialistas; o CONFEF passa ter o “instrumento para exercer o poder de nomeação”; entre outros (p. 187–188).

    Sautchuk, (2002, p. 188) ainda lembra que “no campo da Educação Física surgem diferentes estratégias de posicionamento em conseqüência da regulamentação”, e mapeou em quatro tipos “as reações que se fazem sentir”: o primeiro é favoráveis ao processo da regulamentação e busca a filiação; o segundo é favorável à idéia, mas não está de acordo com os dirigentes; o terceiro contrapõe-se contra o CONFEF, e seu maior representante é o Movimento Nacional Contra a Regulamentação; e o quarto são os representantes das “áreas limítrofes” do campo como dança, artes marciais e capoeira, os quais buscam juridicamente meios para escapar do Conselho, desejando limitar-se a sua área de extensão.

    Nas entrevistas encontram-se relatos a respeito do profissional de Educação Física dar aulas de artes marciais. Deve ficar claro que estes “professores” têm certa resistência em relação aos profissionais de Educação Física para ministrar aulas, mas ao mesmo tempo relatam a necessidade de participar de cursos de formação.

    Diante desta perspectiva, apesar de todo jogo de poderes e política envolvida, é imprescindível a discussão sobre a temática, não apenas por parte dos teóricos, mas estabelecer um diálogo com os “professores” de lutas e artes marciais – que estão no campo – acerca da profissionalização.

Considerações finais

    À guisa de conclusões, tomar a regulamentação, a legitimidade, a profissionalização e a intervenção profissional em Educação Física, como eixo deste trabalho parecia ser um tema desgastado. No entanto o debate acerca do campo e a intervenção do profissional de Educação Física, e o embate entre o “leigo” e o profissional, encontra-se com lacunas a serem preenchidas. Por outro lado, no que diz respeito a legislação, está aparentemente sedimentado com a Lei 9696/98.

    Ao estudar profissionalização, deve-se reconhecer que os profissionais de Educação Física vêm assumindo uma crescente diversidade de atribuições e funções, tendo estes o mérito de exercer uma profissão nas suas diversas intervenções. Os profissionais são muitas vezes impulsionados por fatores econômicos, sociais, institucionais e, até mesmo, de produção de conhecimento.

    Cabe, ainda, mencionar o crescimento da complexidade de papéis desempenhados por estes profissionais, as tensões jurisdicionais com outras áreas, a batalha pela obtenção de um novo espaço de intervenção, as responsabilidades sociais, entre outros.

    Ao identificar, compreender e assumir o objetivo desse estudo junto aos profissionais de Educação Física, com a tomada de consciência independente do que ocorre no campo, o profissional deve entender a pesquisa e o conhecimento como um importante instrumento para o aprimoramento da prática, bem como promover uma aproximação maior dos pesquisadores com a prática, e vice versa. Este trabalho em um contínuo da longa discussão teoria e prática, profissional e o não profissional, na busca da sua própria compreensão, e a almejada unidade de ambos.

    No desenrolar desta explanação observamos que há uma formação destes “professores” com resquícios encontrados na “escola de ofícios” e uma formação vinculada ao âmbito acadêmico. Portanto, no processo da socialização ocupacional prevaleceu a socialização primária proveniente da “escola de ofício” vinculada à federação.

    Urge a necessidade de se avançar na discussão sobre questões envolvendo a profissionalização da Educação Física, sua regulamentação, legitimação, formação e mercado, bem como a relação poder que se estabelece nos campos de atuação. Contudo, a profissionalização traz respaldo para os seus profissionais, oferecendo-lhes a legitimidade perante a sociedade e a cientificidade necessária como um campo de saber, gerando a afirmação da Educação Física na Universidade, e de lhe dar um corpo de conhecimento teórico, e não mais na tentativa/erro, mestre/artesão. Entendemos a importância do saber-fazer e não é nossa intenção refutar a sua relevância; se assim o fizéssemos estaríamos negando boa parte da história da prática.

    A Educação Física ao longo dos anos luta para se legitimar como área de conhecimento e passou por um processo de organização e regulamentação por meio de decretos-lei, pareceres, entre outros, em busca de direitos a fim da demarcação de território em torno da divisão do campo de atuação. Pode-se destacar que a caracterização profissional se dá na aquisição do conhecimento de origem acadêmica. A diferenciação da atuação de um profissional e um “leigo” é o domínio de princípios teóricos básicos e aplicados no campo.

    Por fim, a principal intenção deste estudo foi a de levantar prospectivas acerca da realidade que envolve os profissionais não só no ambiente das lutas e artes marciais, mas também nos aspectos que possam vir a envolver o profissional de Educação Física. Nesse sentido, o debate, as críticas, os desafios, a oposição e os questionamentos acerca da profissionalização da Educação Física se fazem necessários, juntando esforços dos pesquisadores e profissionais, numa perspectiva de construção, para corresponder à expectativa da sociedade por melhores serviços.

Nota

  1. A noção de “campo” é utilizada pelo autor “com o sentido empregado por Pierre Bourdieu e Denice Bárbara Catani, como um espaço social de relações objetivas. De modo geral, considera-se ‘campos’ como espaços, nos quais as posições ocupadas pelos agentes definem-se em função dos objetivos que estão em disputa e dos interesses envolvidos. Portanto, geram modalidades especificas”.

Bibliografia

  • AMADO, J.; FERREIRA, M. M. Usos e abusos da história oral. 5a ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

  • BARROS, J. M. C.. Educação física na sociedade brasileira atual e a regulamentação da profissão. Motriz, v.6, n. 2, pp 107-109, jul.-dez., 2000.

  • ______ . Educação Física: perspectivas e tendências na profissão. Motriz, v. 2, n. 1, p. 49-52, jun., 1996.

  • BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, 23 de dezembro de 1996.

  • ______. Lei nº 9696, de 1 setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física.

  • ______. Resolução n.º 3, de 16 de junho de 1987. Diário Oficial n.172, Brasília, 1987.

  • BETTI, I. C. R.; BETTI, M.. Novas perspectivas na formação profissional em educação física. Motriz, v. 2, n. 1, pp 10-15, junho, 1996.

  • BOURDIEU, P.. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2000.

  • CATANI, D. B.. Ensaios sobre a produção e circulação dos saberes pedagógicos. Tese (livre-docência). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 1994.

  • Confederação Brasileira de Judô. História do Judô. Disponível em: http://www.cbj.com.br/novo/institucional.asp . Acesso em: 27 de setembro de 2008.

  • CHALOT, Bernard. A pesquisa entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, v.11, n.31, jan./abr. 2006, p. 07-18.

  • CONFEF. Resolução nº046 de 18 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional, 2002.

  • CUNHA, M. S. V.. Educação Física, ou ciências da motricidade humana? Campinas: Papirus, 1989.

  • DRIGO, A. J. O judô: perspectiva com a regulamentação da profissão em educação física. 2002. 94 f. Dissertação (Mestrado em Pedagogia da Motricidade Humana) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

  • DRIGO, A. J.; SOEIRO, M. I. P.; CESANA. J.. Intervenção profissional: limites e possibilidades. In: SOUZA NETO, S.; HUNGER, D. (org). Formação profissional em educação física: estudos e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006. pp. 251-256

  • FARIA JUNIOR, A. G.. Perspectivas na formação profissional em Educação Física. In: KARATEDOBRASIL. História – Apresentação. Disponível em: http://www.karatedobrasil.org.br/historia.asp . Acesso em: 27 de setembro de 2008.

  • LAGE, V.. GONÇALVEZ JUNIOR, L.. Karatê-Do como própria vida. Motriz, Rio Claro, v.13 n.1 p.33-42, jan./mar. 2007.

  • LAWSON, H. Invitation to physical education. Champaing: Human Kinetics Book, 1984.

  • MOREIRA, W. W. (Org.). Educação Física & esportes: perspectivas para o século XXI Campinas: Papirus, 1992. p. 227-238.

  • GONÇALVES JUNIOR, L.; DRIGO, A. J. A já regulamentada profissão de educação física e as artes marciais. Motriz, Rio Claro, v.7, n. 2, p. 131-132, 2001.

  • NASCIMENTO, J. V.. Formação profissional em educação física: contextos de desenvolvimento curricular. Montes Claros: Ed. Unimontes, 2002.

  • OLIVEIRA, A. A. B.. Mercado de trabalho em educação física e a formação profissional: breves reflexões. Revista Brasileira de Ciências e Movimento. Brasília. v.8 n.4, p.45-50, setembro 2000.

  • SOUZA NETO, S.; ALEGRE, A. D.; HUNGER, D.; PEREIRA, J. M. A formação do profissional de educação física no Brasil: uma história sob a perspectiva da legislação federal no século XX. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v.25, n.2, p113-128, janeiro 2004.

  • SOUZA NETO, S.; CESANA, J.; SILVA, J. J. Profissão, profissionalização e profissionalidade docente: as mediações entre a teoria e prática na demarcação ocupacional. In: SOUZA NETO, S.; HUNGER, D. (org). Formação profissional em educação física: estudos e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006. pp.215-244.

  • SAUTCHUK, C. E.. Jogando com símbolos: notas para uma antropologia da regulamentação da profissão da educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v.23, n.2, p179-193, janeiro 2002.

  • TOURTIER-BONAZZI, C. Arquivos: propostas metodológicas. cap. 19. in: AMADO, J.; FERREIRA, M. M. Usos e abusos da história oral. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 140 | Buenos Aires, Enero de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados