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Programas motores para idosos institucionalizados: 

elaboração a partir do diagnóstico funcional

Programas motores para personas mayores institucionalizadas: elaboraración a partir del diagnóstico funcional

 

*Professora Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

Centro de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria

**Professora Adjunta do Centro de Educação Física da

Universidade Federal de Santa Maria (CEFD/UFSM) RS

(Brasil)

Inês Amanda Streit*

Andressa Ribeiro Contreira*

Carmen Lúcia da Silva Marques**

inesamanda@gmail.com

 

 

 

Resumo

          A capacidade funcional está relacionada à realização de atividades da vida diária e, com o processo de envelhecimento, ocorrem perdas contínuas que acabam afetando-a, acarretando em limitações ou até mesmo perda da independência. Devido ao aumento da população idosa, surge a necessidade de ações voltadas para o atendimento desse segmento populacional visando manutenção de sua independência, seja no âmbito da comunidade ou das instituições asilares. O presente estudo objetivou analisar a capacidade funcional de idosos institucionalizados na perspectiva de fundamentar programas de exercícios físicos para esse grupo. Fizeram parte do estudo 46 idosos, de ambos os sexos, com idade média de 76 ± 8,8 anos, residentes no Abrigo Espírita Oscar Pithan (Santa Maria/RS). A capacidade funcional foi avaliada através da Lista dos Dezoito Itens de AVD – AIVD (atividades básicas e instrumentais da vida diária) e classificada segundo a Tabela de Hierarquia da Função Física. Os resultados revelaram que 67,4% dos idosos foram classificados como fisicamente frágeis e 21,7% como fisicamente dependentes, sendo que o percentual restante ficou classificado entre independentes e incapazes. Os idosos fisicamente frágeis apresentam dificuldades para realizar as AIVDs e em relação as AVDs ocorreram dificuldades em cinco das onze investigadas. Com base nos resultados obtidos foram elaborados programas motores específicos para o grupo, sendo estes desenvolvidos na própria instituição e na piscina térmica da Universidade Federal de Santa Maria.

          Unitermos: Institucionalização. Avaliação funcional. Intervenção pedagógica

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    O envelhecimento é um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível, que se instala em cada indivíduo desde o nascimento e o acompanha por todo o tempo de sua vida (Jordão Neto 1997 apud Mazo et al., 2004).

    As alterações fisiológicas causadas pelo envelhecimento afetam algumas dimensões da vida do indivíduo, tais como os aspectos físicos, cognitivos, psicológico, social e espiritual (Spirduso, 2005). Segundo a autora a dimensão física não apenas nos proporciona dicas do efeito do envelhecimento como também se torna um fator de restrição sobre o que nós podemos fazer. Dentro dessa dimensão, destaca-se a funcionalidade como determinante para uma vida independente e, segundo Papaléo Netto & Ponte (1996 apud Mazo et al., 2004), a manutenção da qualidade de vida está vinculada à autonomia e independência, que são indicadores de saúde para a pessoa idosa.

    Define-se como capacidade funcional a capacidade que a pessoa possui de realizar atividades da vida diária (autocuidado, ocupacionais, recreativas e de deslocamento) de forma independente e autônoma (Wegner 1984 apud Mazo et al., 2004). Com o processo de envelhecimento ocorrem perdas contínuas das funções dos órgãos e sistemas biológicos, que acabam afetando a capacidade funcional, acarretando em incapacidades, limitações ou até mesmo perda da independência (Mazo et al., 2004).

    Devido ao aumento da população idosa, surge a necessidade de ações multidisciplinares voltadas para o atendimento desse segmento populacional, seja no contexto dos idosos que vivem na comunidade ou de idosos institucionalizados. Estudos têm se preocupado em investigar a funcionalidade de idosos asilados, como forma de diagnosticar suas capacidades e estimular sua independência, prevenindo a morbidade (Guedes & Silveira, 2004; Mazo et al., 2004; Spirduso, 2005; Aires et. al., 2006; Lameira et. al., 2007; Araújo & Ceolim, 2007; Canonici et al., 2008). Estes estudos realizados por profissionais da área da saúde objetivam, dentro de suas possibilidades de atuação, potencializar as capacidades dos idosos residentes em instituições de longa permanência.

    Os profissionais da Educação Física, através do movimento humano, contribuem com essa população oferecendo o desenvolvimento de programas motores nos asilos e na comunidade em várias cidades do Brasil. Em Santa Maria/RS são oferecidas diversas atividades para esse público através de Núcleo de Estudos e Apoio à Terceira Idade da Universidade Federal de Santa Maria (NIEATI/UFSM), nos quais os acadêmicos do curso de educação física têm a oportunidade de desenvolver atividades junto aos idosos. Nesse contexto de atuação, faz-se necessário conhecer as características dos idosos institucionalizados para então elaborar os programas de atividades.

    Diante do exposto, o presente estudo objetivou analisar a capacidade funcional de idosos institucionalizados na perspectiva de fundamentar um programa de exercícios físicos que integre fundamentos científicos e ações pedagógicas seguras e efetivas que atendam às necessidades individuais e do grupo.

Métodos

Sujeitos

    O grupo avaliado foi composto por 46 idosos, de ambos os sexos, sendo 23 do sexo feminino e 23 do sexo masculino. A faixa etária fixada foi entre os 60 e 95 anos, sendo a idade média do grupo 76 ± 8,8 anos.

Sexo

N

Média

DP

Masculino

23

74,8

7

Feminino

23

77,1

9

Tabela 1. Caracterização do grupo de estudo

Instrumentos

    Para avaliação da capacidade funcional primeiramente foi utilizada uma tabela com atividades da vida diária e instrumentais da vida diária - Lista dos Dezoito Itens de AVD – AIVD em ordem ascendente de dificuldade proposta por Spirduso (2005) e a seguir a classificação segundo a Tabela de Hierarquia da função física a qual classifica os idosos em cinco níveis: I – Fisicamente incapaz/fisicamente dependente; II – Fisicamente frágeis; III – Fisicamente independentes; IV – Fisicamente apto/ativo; V – Atleta (Spirduso, 2005).

Procedimentos de coleta de dados

    Esta pesquisa foi realizada de acordo com a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e aprovada em seus aspectos éticos e metodológicos pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM). Antes da realização dos testes os idosos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre os trâmites da pesquisa.

    A coleta de dados foi realizada nas dependências do Abrigo Espírita José Oscar Pithan (Santa Maria/RS), onde todos os residentes foram avaliados funcionalmente no mesmo ambiente e sob as mesmas condições.

    Após a obtenção dos dados realizou-se uma estatística descritiva em percentis.

Resultados e discussão

    A idade dos idosos participantes do presente estudo encontra-se entre os 60 e 95 anos e de acordo com a classificação de Spirduso (2005), 11 indivíduos são classificados como adultos de meia-idade (45-64 anos), 12 como idosos jovens (65-74 anos), 19 como idosos (75-84 anos) e 4 como idosos- idosos (85-99 anos). Diante desses dados pode-se observar um número significativo de idosos com idades entre 75 e 84 anos, o que vai ao encontro das colocações de Camarano (2006) nas quais destaca que a população “muito idosa”, ou seja, de 80 anos ou mais, é a que tem apresentado as maiores taxas de crescimento, levando a uma maior heterogeneidade do grupo idoso.

    Em relação à capacidade funcional, o Gráfico 1 apresenta a classificação dos idosos, segundo a hierarquia funcional.

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Gráfico 1. Hierarquia da função física

    Através da observação do Gráfico 1 percebe-se que a maioria dos idosos (67,40%) classifica-se como fisicamente frágil. Esse número expressivo de idosos fragilizados pode estar relacionado ao tempo de institucionalização, já que os idosos classificados como fisicamente independentes residem a pouco tempo na instituição. Os resultados apontaram que os idosos classificados como frágeis apresentaram dificuldades para realizar as atividades instrumentais da vida diária e em relação à realização das atividades básicas ocorreram dificuldades em 05 das 11 atividades investigadas. Segundo Spirduso (2005), pessoas idosas na categoria fisicamente frágil caminham por uma linha tênue entre vida independente e dependente e em muitos casos seu nível de função física é o ultimo determinante de seu estilo de vida.

    Cabe destacar que dentre as atividades da vida diária e atividades instrumentais da vida diária mais citadas, em relação à dificuldade ou impossibilidade de realização, encontram-se as instrumentais, tais como limpeza da casa, preparo de jantar, café da manhã e almoço, fazer compras e subir e descer escadas. A maioria dos idosos consegue, apesar de precisarem de ajuda, fazer sua higiene pessoal (autocuidado) e movimentarem-se pelas dependências da instituição.

    Um estudo que corrobora os resultados do presente trabalho foi o realizado por Aires et. al., (2006), no qual foi verificado dentre outros aspectos o grau de dependência de pessoas idosas institucionalizadas. Fizeram parte do estudo 10 idosos, de ambos os sexos, na faixa etária a partir dos 60 anos. Em relação ao grau de dependência para as atividades básicas da vida diária (AVDs), prevaleceu a condição de independentes. Já para as atividades instrumentais da vida diária (AIVDs) os autores colocam que a dependência foi considerada parcial ou total, o que vai ao encontro dos nossos resultados. Os autores, a partir desses resultados, acreditam que se deva dar mais atenção a programas que enfatizem a independência e funcionalidade da pessoa idosa através de intervenções que tenham como propósito otimizar a qualidade de vida das pessoas institucionalizadas.

    Lameira et. al., (2007) investigaram a qualidade de vida de idosos asilados, avaliando a capacidade funcional, entre outros aspectos. Participaram da pesquisa 22 idosos, sendo 10 homens e 12 mulheres, a média de idade do grupo foi de 70 anos. Os resultados revelaram prevalência de independência do gênero feminino (58,33%) em relação ao masculino (50%), porém, atentando-se para a análise do grupo obteve-se que 12 idosos foram classificados como independentes, 6 como dependentes e 4 idosos necessitam de auxílio para realização das atividades de vida diária. Apesar de não termos realizado uma análise referente ao sexo dos idosos e nem utilizado o mesmo protocolo, nossos resultados podem ser comparados aos do estudo de Lameira et al. (2007), em relação ao percentual de idosos dependentes (27%) já que obtivemos neste estudo 21,70% , resultados estes inferiores, e, portanto, positivos em relação à presença de dependência dos idosos.

    Guedes & Silveira (2004) em seu estudo investigaram a capacidade funcional da população geriátrica de Passo Fundo. Os autores avaliaram 109 idosos, de ambos os sexos, na faixa etária entre 50 e 103 anos, residentes em 3 instituições e os resultados de seu estudo revelaram alto índice de incapacidade funcional. Esses dados vão de encontro aos achados do presente trabalho, já que encontramos apenas 6,5% de idosos fisicamente incapazes.

    Araújo & Ceolim (2007) em seu estudo avaliaram 187 idosos, de ambos os sexos, com 60 anos ou mais residentes em diferentes instituições de longa permanência. Os autores encontraram que 37% dos idosos apresentaram independência total para o desempenho das AVDs e quando avaliados após cinco meses 19% destes sujeitos haviam apresentado declínio funcional, cognitivo e físico, ou falecido. Os autores colocam que esse declínio pode ter sido atribuído à permanência nessas instituições ausentes de estímulos para realização independente das atividades básicas, tais como as de autocuidado. Estas constatações são importantes para evidenciarmos a importância da elaboração de intervenções motoras em parceria com o estímulo oferecido pelos cuidadores nas instituições, já que a prática de atividades físicas quando bem orientada tende a reduzir as taxas de morbidade e mortalidade.

    Essa premissa é justificada pelo estudo de Canonici et al., (2008), no qual foram avaliados 14 idosos institucionalizados com diagnóstico de esquisofrenia, de ambos os sexos, com média de idade de 74,36 ±7,02 anos. Os autores dividiram os idosos em dois grupos, sendo um grupo submetido a um programa contendo atividades cognitivas e motoras (experimental – G1) e o outro grupo não participava de atividades sistemáticas (G2). Foi avaliada a função cognitiva através do mini exame do estado mental e para avaliação da capacidade funcional a escala de Katz. Os resultados do estudo revelaram-se positivos em relação à capacidade funcional do grupo GI que participou das intervenções motoras e cognitivas, evidenciando que esta intervenção pode atenuar os declínios funcionais advindos do envelhecimento.

    Através dos resultados obtidos no presente estudo e com base nas informações dos estudos prévios, percebe-se a importância de ações voltadas à manutenção da saúde da pessoa que envelhece institucionalizada, já que muitas dos declínios podem ocorrer justamente pela ausência de funções específicas tanto em casa quanto na sociedade. Essas ações devem abranger equipes multidisciplinares, a fim de firmar parcerias em prol de um bem comum que é a manutenção da saúde funcional do idoso. Nesta perspectiva acredita-se que os professores de educação física, através do exercício físico, fundamentado pedagógica e cientificamente, poderão contribuir para que a autonomia dos idosos seja mantida, melhorando também a qualidade de vida dos mesmos na tentativa de combater ou prevenir a morbidade.

    O presente trabalho atingiu os objetivos propostos, quando utilizados os resultados obtidos para tornar as atividades já realizadas mais eficazes no combate à dependência e à morbidade dos idosos residentes na instituição. Diante dos resultados obtidos percebe-se a necessidade de programas de atividade física que contribuam para manutenção da funcionalidade dos idosos independentes e fragilizados, que sejam voltados para o fortalecimento muscular e cardiorrespiratório. Com base nestes dados, passamos a oferecer atividades físicas para atender as limitações desse grupo, sendo estas realizadas na própria instituição e nas piscinas térmicas do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria (CEFD/UFSM).

Conclusão

    O presente estudo objetivou analisar a capacidade funcional de idosos institucionalizados, na perspectiva de fundamentar programas de exercícios físicos específicos para essa população.

    Os resultados revelaram a presença de 67,4% dos idosos sendo classificados como fisicamente frágeis, classificação esta que indica que possuem condições de realizar sozinhos ou com algum auxílio atividades de autocuidado.

    Através dessa avaliação foi possível conhecer melhor o grupo de idosos com suas características e limitações, a fim de respaldar e fundamentar a elaboração de programas motores que atendam às necessidades desse grupo e que contribuam para a manutenção de sua capacidade funcional, tornando-os mais autônomos nas atividades diárias. Deve-se salientar que, para os idosos fragilizados, é importante o desenvolvimento de atividades físicas voltadas para a capacidade de realizar tarefas funcionais e físicas, as quais são necessárias no dia-a-dia para uma vida independente.

    Uma limitação encontrada neste estudo foi quanto à dificuldade em realizar as entrevistas com todos os residentes, por serem, muitos destes idosos, introspectivos, característica esta determinada pela institucionalização.

    Sugere-se a manutenção do projeto iniciado a partir deste estudo, o qual se refere ao atendimento dos idosos residentes no Abrigo Espírita Oscar Pithan na piscina com atividades de adaptação e hidroginástica, bem como a continuidade das atividades físicas na própria instituição. Esta indicação estende-se as outras instituições asilares da cidade de Santa Maria, já que existe a demanda tanto por parte dos idosos quanto dos acadêmicos.

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