efdeportes.com

A influência da Educação Física sobre 

a postura dinâmica sentada de escolares

La influencia de la Educación Física en la postura dinámica sentada de los escolares

The Influence of Physical Education on Dynamic Posture Sitting of Students

 

Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Canoas – RS

(Brasil)

Klauber Dalcero Pompeo

Cíntia de la Rocha Freitas

kdpompeo@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O ambiente escolar, mais especificamente a sala de aula, é provavelmente o primeiro espaço de contato da criança com atividades de aquisição e manutenção de posturas por longo tempo. A manutenção de posturas dinâmicas inadequadas, principalmente a postura sentada, pode ocasionar transformações posturais permanentes. O presente estudo buscou investigar a postura dinâmica sentada em escolares que possuem professor específico ministrando aulas de Educação Física e aqueles que não possuem. A amostra foi composta por 60 escolares de 3ª e 4ª séries de duas escolas distintas. Para a avaliação da postura dinâmica dos escolares foi utilizado o protocolo de Rocha (1999). Os resultados apontam que o professor de Educação Física gera uma influência positiva sobre a postura dinâmica sentada dos escolares, entretanto este pode não ter sido o único fator gerador deste resultado, pois a amostra que obteve o melhor resultado possui também um programa de escola postural. A partir dos dados obtidos, pode-se concluir que a Educação Física parece estar exercendo influência positiva sobre a postura dinâmica sentada dos escolares.

          Unitermos: Educação Física. Escolares. Postura dinâmica sentada.

 

Abstract

          School environment, more especifically the classroom, is probably the first place where children adquire and maintain posture for a long time. The maintenance of incorrect dinamic posture, mainly sitting posture, can lead to permanent postural changes. This study investigated the dinamic sitting posture of students who have Physical Education teacher and those who don´t. The sample was composed of sixty 3rd and 4th grades from two different schools. The protocol of Rocha (1999) was used to access the dinamic sitting posture. Results indicate that Physical education teacher has a positive influence on students´ sitting posture, although this might not be the only cause of these findings, because the sample that showed the best results has already a school postural program. From the data obtained it is possible to conclude that Physical Education seems to perform positive influence on students dinamic sitting posture.

          Keywords: Physical Education. Students. Dinamic sitting posture

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009

1 / 1

Introdução

    As patologias da coluna vertebral constituem um importante fator responsável pelo afastamento do trabalho. Os dados mais recentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) demonstram que no ano de 2003 foram registrados 387.905 acidentes de trabalho, dentre os quais mais de 20.341 foram relacionados com a região da coluna vertebral, sendo que aproximadamente 50% desses acidentes foram cadastrados no INSS como dor neste segmento corporal (Barbosa e Gonçalves, 2007). Um dos principais geradores destas alterações é o fator comportamental, as posturas dinâmicas inadequadas adotadas pelo indivíduo no seu cotidiano, seja no ambiente de trabalho, casa ou escola (Detsch et al., 2007).

    A maioria dos estudos sobre postura referem-se aos sujeitos na posição ereta, no entanto na sociedade contemporânea, é provável que os indivíduos passem mais tempo sentados do que em pé (Rasch e Burke, 1987). O simples fato de estar sentado traz conseqüências, pois coloca a coluna vertebral numa posição anormal. O modelo biomecânico da coluna vertebral do homem não foi construído para permanecer por longos períodos na posição sentada, mantendo posturas estáticas fixadas e realizando movimentos repetitivos (Braccialli e Vilarta, 2000).

    A preocupação com os problemas posturais inicia-se cada vez mais cedo, desde a infância. No ambiente escolar a educação postural já deveria estar presente, principalmente em relação ao comportamento adotado em sala de aula, especificamente nos momentos em que a criança permanece na posição sentada, sendo esta situação vivenciada pelo aluno durante quase todo o período de aula.

    O ambiente escolar, mais especificamente a sala de aula é provavelmente o primeiro espaço de contato da criança com atividades de aquisição e manutenção de posturas por um longo período de tempo. O mobiliário escolar, juntamente outros fatores físicos, é notadamente um elemento da sala de aula que influi circunstancialmente no desempenho, segurança, conforto, e diversos comportamentos do aluno (Moro, 2005). Este mesmo autor aponta a influência que o mobiliário escolar impõe sobre a adoção de comportamentos pelos alunos, através dos esforços, dispêndios e constrangimentos impostos aos mesmos. Geralmente comportamentos que venham a gerar a aquisição de hábitos posturais inadequados. As posturas incorretas adotadas na posição sentada geram uma pressão que se for mantida por diversas horas sobre os ossos em formação das crianças irão ocasionar transformações posturais permanentes, que poderão lhes incomodar pelo resto de suas vidas.

    Considerando as alterações posturais na infância como um dos fatores que predispõe condições degenerativas da coluna do adulto, manifestadas geralmente por um quadro álgico, torna-se necessário estabelecer mecanismos de intervenção precoce como meio profilático (Somazz, Teodori e Cortellazzi, 2006).

    Back e Lima (2006), ao analisarem a prevalência de alterações posturais em alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental do município de Tubarão, SC, procuraram apontar as alterações posturais mais encontradas com relação ao gênero e faixa etária e identificar a diferença entre os gêneros com relação à situação postural. Da amostra de 44 sujeitos, aproximadamente 100% apresentaram algum tipo de alteração postural. A hiperlordose lombar (34,8%) foi o desvio mais freqüente nas meninas, e nos meninos a protusão abdominal (40%) foi a de maior prevalência. Em ambos os gêneros, observou-se uma maior incidência de inclinação do tronco para a direita. Os resultados demonstraram não haver diferenças significativas entre meninos e meninas em relação ao percentual de sujeitos por gênero que apresentam alterações posturais.

    Jassi e Pastre (2004), em seu estudo envolvendo 169 alunos de 1ª a 6ª séries do ensino fundamental da cidade de Adamantina - SP, buscou quantificar as alterações posturais na coluna vertebral destes escolares. Os resultados encontrados pelos autores apontam como principal alteração na região cervical a retificação em 11,1% dos alunos, sendo a 4ª série a de maior incidência de casos. Já na região torácica, a hipercifose destacou-se, estando presente em 25,4% dos estudantes, alteração de maior prevalência na 2ª série. No segmento lombar, a principal alteração foi a hiperlordose com 15,4%, tendo a 4ª série o maior grau de incidência. A escoliose esteve presente em 24,3% dos estudantes, sendo novamente a 4ª série a de maior prevalência.

    Detsch et al. (2007), na sua pesquisa com adolescentes do sexo feminino do ensino médio de todas as escolas da cidade de São Leopoldo, RS, buscou verificar se fatores socioeconômicos, demográficos, antropométricos e comportamentais estariam associados às alterações posturais laterais e ântero-posteriores encontrados nas escolares, além de estimar a prevalência destas alterações. Os resultados mostraram uma prevalência de 60% de alterações laterais e de 70% de alterações ântero-posteriores. As estudantes da escola pública apresentaram maior índice de alterações ântero-posteriores, quando comparadas às das escolas privadas. As alunas com índice de massa corporal (IMC) normal apresentaram maior prevalência de alterações laterais, se comparadas com as estudantes com sobrepeso ou obesidade, em relação às alterações ântero-posteriores observou-se o inverso, ou seja, as alunas com IMC normal apresentaram menor prevalência deste tipo de alteração em comparação com as estudantes com sobrepeso. Quanto maior o número de horas assistindo televisão, maior a prevalência de alterações. Outro fator importante, observado a partir dos resultados foi a influência da escolaridade dos responsáveis (país, parentes) sobre a postura das alunas. As estudantes cujos responsáveis estudaram até o ensino fundamental apresentaram maior prevalência de alterações. Este dado sugere que a escolaridade dos responsáveis pelos adolescentes é de grande importância para a postura dos mesmos.

    Atenção especial deve-se dar ao ambiente escolar onde encontramos crianças e adolescentes desenvolvendo hábitos posturais incorretos e praticando atividades físicas não compatíveis com seu desenvolvimento (Verderi, 2002). Viel e Esnault (2000) salientam que o mobiliário escolar é apenas um dos fatores que contribuem para os problemas da coluna. Os exercícios físicos intensos também são apontados como possíveis desencadeadores destes problemas, como por exemplo, a ginástica olímpica, que exige uma curvatura lombar acentuada como critério estético e a patinação artística, por causa dos choques de repetição.

    Desde 20 de dezembro de 1996 a Educação Física, através da Lei N° 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornou-se componente curricular obrigatório da Educação Básica, salvo nos cursos noturnos, em que é facultativa. Dessa forma, a Educação Física deve ser exercida de primeira a oitava série, não somente de quinta a oitava séries, como anteriormente visto nas escolas de ensino fundamental. A nova proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) (1997) adotam a distinção entre organismo – um sistema estritamente fisiológico – e o corpo – que se relacionam dentro de um contexto sociocultural. Os PCN’s nos apontam, sugerem conteúdos a serem desenvolvidos ao longo de todo o ensino fundamental, dividindo-os em três blocos. No bloco de conhecimentos sobre o corpo são abordados conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos. Devendo ser tratados de forma simplificada, transmitindo-se apenas os conhecimentos básicos inerentes ao assunto. Também fazem parte deste bloco conhecimentos sobre os hábitos posturais e atitudes corporais, como, por exemplo, as posturas corporais mais adequadas para realizar-se determinadas tarefas.

    A partir dos pressupostos expostos anteriormente e da falta de informações referentes à relação existente entre a Educação Física escolar e a postura dinâmica sentada dos escolares, este estudo teve com objetivo avaliar a influência da Educação Física sobre a postura dinâmica sentada de escolares, além de comparar esta postura dos alunos que possuem professor específico ministrando as aulas de Educação Física com aqueles que não o possuem.

Metodologia

Amostra

    Fizeram parte da amostra 60 escolares de ambos os sexos, sendo 15 alunos de 3ª série e 15 de 4ª série de uma escola que não possui professor de Educação Física (realidade do ensino público do estado do Rio Grande do Sul), e 15 escolares de 3ª série e 15 de 4ª série de uma escola que possui professor de Educação Física (realidade da rede privada de ensino do estado do Rio Grande do Sul). Todos os indivíduos avaliados estudam em escolas do município de Porto Alegre-RS.

    As características da amostra das 3ª séries das escolas analisadas são apresentadas na Tabela 1.

Características dos Sujeitos

Escola Privada

Escola Pública

IDADE (MÉDIA ± DP)

8,14 ± 0,37

8,71 ± 0,83

GÊNERO MASCULINO

8

11

GÊNERO FEMININO

7

4

As características da amostra das 4ª séries das escolas analisadas são apresentadas na Tabela 2.

Características dos Sujeitos

Escola Privada

Escola Pública

IDADE (MÉDIA ± DP)

9,33 ± 0,61

10,15 ± 0,68

GÊNERO MASCULINO

8

7

GÊNERO FEMININO

7

8

Instrumentos e materiais

    Para a avaliação da postura corporal dinâmica sentada foi utilizado o instrumento de Rocha (1999). Este instrumento apresenta quatro critérios para avaliar a postura dinâmica sentada em uma cadeira, sendo estes: 

  1. a manutenção das curvaturas fisiológicas da coluna (principalmente a região dorsal), 

  2. sentar-se próximo a mesa, 

  3. manter o posicionamento neutro da pelve (apoio dos ísquios) e 

  4. sentar-se com os membros inferiores afastados (igual ou além da linha do quadril). Se o sujeito, durante a avaliação mantivesse os critérios analisados, o mesmo ganhava um ponto para cada. Cada sujeito avaliado poderia obter uma pontuação máxima de quatro pontos, caso obedecesse aos parâmetros estabelecidos, e uma pontuação mínima de zero ponto, se não os obedecesse.

Plano de coleta de dados

    Inicialmente foi feito o contato com duas escolas, uma escola da rede privada e uma da rede pública do município de Porto Alegre-RS, solicitando autorização para a realização da pesquisa. A escola particular possuía um professor específico desenvolvendo as aulas de Educação Física, já na escola pública, as aulas de Educação Física eram ministradas pelo professor da classe (unidocência). Após a autorização das escolas para o desenvolvimento da pesquisa, foram escolhidos aleatoriamente os alunos que compuseram a amostra, sendo encaminhados os termos de consentimento livre e esclarecidos para os seus responsáveis.

    Foram definidos os dias em que seriam realizadas as observações para a coleta dos dados. Foram necessários cinco dias para a coleta de todos os dados. As observações ocorreram durante as aulas dos alunos, no momento em que estes estivessem sentados executando atividades cotidianas de sala de aula (leitura e escrita). Os alunos foram observados por aproximadamente 15 minutos individualmente para análise qualitativa e quantitativa de sua postura dinâmica, segundo os critérios estabelecidos no protocolo de Rocha (1999).

Análise dos dados

    Para o tratamento estatístico dos dados foi utilizada a estatística descritiva, através de médias, desvio-padrão e percentuais dos resultados. Foi usado o programa Excel para esta análise.

Considerações Éticas

    Este projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos e Animais da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA- Canoas, RS), tendo sido protocolado sob o número 2008-243H.

Resultados

    O presente estudo buscou investigar a postura dinâmica sentada em escolares que possuem professor específico ministrando aulas de Educação Física e aqueles que não possuem, e também procurou averiguar a influência do professor sobre a postura dinâmica dos mesmos. Ressalta-se que a escola que possui o profissional de Educação Física desenvolvendo as aulas é a escola da rede privada e a que não possui professor de Educação Física é a escola da rede pública.

    Os resultados do teste de postura dinâmica sentada da 3ª série da escola privada, que possui professor de Educação Física, podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3. Teste de postura dinâmica sentada da 3ª série da escola privada

Sujeitos

Critério 1

Critério 2

Critério 3

Critério 4

Total

Sujeito 1

0

0

0

1

1

Sujeito 2

1

1

1

1

4

Sujeito 3

1

0

1

1

3

Sujeito 4

1

1

0

1

3

Sujeito 5

1

0

0

1

2

Sujeito 6

1

1

0

0

2

Sujeito 7

1

0

0

1

2

Sujeito 8

1

1

0

1

3

Sujeito 9

1

1

0

0

2

Sujeito 10

0

0

1

1

2

Sujeito 11

1

1

0

1

3

Sujeito 12

0

1

0

1

2

Sujeito 13

1

1

0

1

3

Sujeito 14

0

0

0

0

0

Sujeito 15

1

1

0

1

3

Média (± DP)

0,73 (± 0,45)

0,6 (± 0,50)

0,2 (± 0,41)

0,8 (± 0,41)

2,33 (± 0,97)

    Os resultados do teste de postura dinâmica da 4ª série da escola privada, que possui professor de Educação Física, são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Teste de postura dinâmica sentada da 4ª série da escola privada.

Sujeitos

Critério 1

Critério 2

Critério 3

Critério 4

Total

Sujeito 1

1

1

1

1

4

Sujeito 2

0

0

1

1

2

Sujeito 3

1

1

0

1

3

Sujeito 4

1

1

1

0

3

Sujeito 5

0

1

1

1

3

Sujeito 6

0

0

0

1

1

Sujeito 7

1

1

0

0

2

Sujeito 8

1

1

0

1

3

Sujeito 9

1

1

1

1

4

Sujeito 10

1

1

1

1

4

Sujeito 11

0

1

1

1

3

Sujeito 12

0

1

1

1

3

Sujeito 13

1

1

1

1

4

Sujeito 14

0

1

1

0

2

Sujeito 15

1

1

0

1

3

Média (± DP)

0,6 (± 0,50)

0,86 (± 0,35)

0,66 (± 0,48)

0,8 (± 0,41)

2,93 (± 0,88)

    Os resultados do teste de postura dinâmica sentada da 3ª série da escola pública, que não possuem professor específico ministrando as aulas de Educação Física, podem ser observados na Tabela 5.

Tabela 5. Teste de postura dinâmica sentada da 3ª série da escola pública.

Sujeitos

Critério 1

Critério 2

Critério 3

Critério 4

Total

Sujeito 1

1

1

1

0

3

Sujeito 2

0

1

0

1

2

Sujeito 3

0

0

0

1

1

Sujeito 4

0

0

0

1

1

Sujeito 5

0

1

0

0

1

Sujeito 6

0

1

0

0

1

Sujeito 7

0

1

1

1

3

Sujeito 8

1

1

1

0

3

Sujeito 9

1

0

0

0

1

Sujeito 10

1

1

1

1

4

Sujeito 11

1

1

0

0

2

Sujeito 12

1

0

0

1

2

Sujeito 13

1

1

0

1

3

Sujeito 14

1

1

1

1

4

Sujeito 15

0

1

0

1

2

Média (± DP)

0,53 (± 0,51)

0,73 (± 0,45)

0,33 (± 0,48)

0,6 (± 0,50)

2,2 (± 1,08)

    Os resultados do teste de postura dinâmica sentada da 4ª série da escola pública, que também não possuem professor específico ministrando as aulas de Educação Física, serão apresentados na TABELA 6.

Tabela 6. Teste de postura dinâmica sentada da 4ª série da escola pública.

Sujeitos

Critério 1

Critério 2

Critério 3

Critério 4

Total

Sujeito 1

0

0

0

0

0

Sujeito 2

0

1

1

1

3

Sujeito 3

1

1

1

0

3

Sujeito 4

1

0

0

0

1

Sujeito 5

1

1

1

1

4

Sujeito 6

1

1

1

1

4

Sujeito 7

0

1

1

1

3

Sujeito 8

1

1

0

1

3

Sujeito 9

0

1

1

0

2

Sujeito 10

1

1

0

1

3

Sujeito 11

1

1

1

1

4

Sujeito 12

0

0

0

0

0

Sujeito 13

1

1

0

0

2

Sujeito 14

0

1

1

0

2

Sujeito 15

0

1

0

0

1

Média (± DP)

0,53 (± 0,51)

0,8 (± 0,41)

0,53 (± 0,51)

0,46 (± 0,46)

2,33 (± 1,34)

    Os resultados das amostras de ambas as escolas que obtiveram nota máxima nos critérios referentes ao teste de postura dinâmica sentada são apresentadas na Tabela 7.

Tabela 7. Resultados das amostras que obtiveram nota máxima nos critérios estabelecidos no teste de postura dinâmica sentada.

Critérios

3a série Escola Pública n (%)

4a série Escola Pública n (%)

3a série Escola Privada n (%)

4a série Escola Privada n (%)

Critério 1

8 (53,33 %)

8 (53,33 %)

11 (73,33 %)

9 (60 %)

Critério 2

11 (73,33 %)

12 (80 %)

9 (60 %)

13 (86,66 %)

Critério 3

5 (33,33 %)

8 (53,33 %)

3 (20 %)

10 (66,66 %)

Critério 4

9 (60%)

7 (46,66 %)

12 (80 %)

12 (80 %)

Resultados

    A partir dos resultados expostos na Tabela 7, podem-se observar valores superiores em quase todos os critérios para os sujeitos que possuem professor de Educação Física, consequentemente pode-se supor que os mesmos possuem uma postura dinâmica sentada de melhor qualidade. Destaca-se a 4ª série da escola privada por apresentar os melhores resultados, em quase todos os critérios, no teste de postura dinâmica sentada. Acredita-se que isto possa ter acontecido, pois na escola privada os alunos possuem um professor de Educação Física. Entretanto não podemos exclusivamente supor que o profissional de Educação Física presente na escola e a influência que o mesmo possa exercer sobre a postura dinâmica sentada dos sujeitos, seja o único fator responsável pelos resultados superiores, pois neste grupo (turma) está sendo implantado um projeto piloto de escola postural.

    Quando a coleta de dados foi realizada o projeto piloto de escola postural havia sido implementado há três meses. Este projeto visa orientar os alunos quanto ao peso adequado das mochilas, a maneira correta de como carregá-las, além de orientações sobre a maneira correta de sentar-se e quais os malefícios que uma postura dinâmica sentada incorreta pode acarretar. O projeto que teve como precursores os profissionais de Educação Física, tornou-se atualmente multidisciplinar, envolvendo todos os profissionais que têm contato com os alunos. Muito possível que este projeto tenha exercido influência sobre os resultados apresentados pela 4ª série da escola privada.

    Durante a coleta de dados, pôde-se observar a diferença entre o mobiliário escolar utilizado nas escolas. Na escola privada, nas amostras analisadas, utiliza-se mobiliário considerado ergonômico. Segundo Moro (2005), o mobiliário escolar, juntamente com outros fatores físicos, é notadamente em elemento da sala de aula que influi circunstancialmente no desempenho, segurança, conforto e diversos comportamentos dos alunos. Apesar de existirem dados que comprovem a necessidade da utilização de mobiliário adequado – cadeira e mesas – quando na postura sentada, com o objetivo de minimizar e prevenir futuros problemas na coluna constata-se a não-observação destes dados nas atividades de vida diária, principalmente no ambiente escolar (Braccialli e Vilarta, 2000). Destaca-se que durante a coleta de dados observou-se uma constante troca de posturas dinâmicas sentadas mantidas (na maioria das vezes posturas inadequadas), nas amostras da escola da rede pública, fato este que, acredita-se ter como um dos fatores geradores o mobiliário inadequado utilizado pela maioria dos alunos.

    Os comportamentos inadequados adotados durante as atividades de vida diária ou de cotidiano escolar, independente dos fatores geradores, se não forem alterados, corrigidos podem ser desencadeadores de futuras alterações posturais. Considerando as alterações posturais na infância como um dos fatores que predispõem condições degenerativas da coluna do adulto, manifestadas geralmente por quadro álgico, torna-se necessário estabelecer mecanismos de intervenção precoce como meio profilático (Somazz, Teodori e Cortellazzi, 2006). A partir do exposto anteriormente podemos identificar a importância das orientações quanto às atitudes posturais adotadas, vindas não só do profissional da área da saúde inserido no ambiente escolar, mais especificamente o professor de educação Física, mas sim de todos os profissionais envolvidos na aprendizagem, tornando-se assim, uma atividade multidisciplinar.

    Durante o desenvolvimento das observações para a coleta de dados, pôde se observar uma diferença em relação à atenção dos profissionais, professores de currículo quanto às posturas dinâmicas sentadas adotadas pelos educandos. Enquanto que na escola privada, fato mais frequente na 4ª série, constantemente os professores solicitavam que os alunos alterassem suas posturas dinâmicas inadequadas para as adequadas, na escola pública raramente esta ação do educador ocorria, fazendo com que os alunos permanecessem durante longos períodos na mesma postura dinâmica inadequada.

    Em breve diálogo com os professores das turmas da escola pública, ambos relataram que constantemente os alunos queixam-se de algias, principalmente na região lombar. As posturas incorretas adotadas na posição sentada geram uma grande pressão, que se for mantida por diversas horas sobre os ossos em formação das crianças irão ocasionar transformações permanentes, que poderão lhes incomodar pelo resto de suas vidas (Moro, 2005).

    Abordando-se diretamente a Educação Física, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) apontam como conteúdos a serem desenvolvidos, dentro de um de seus blocos de conhecimentos noções básicas de anatomia, fisiologia, biomecânica e bioquímica. Também fazendo parte deste bloco de conhecimentos estão os hábitos posturais e atitudes corporais. Entendendo-se os PCN’s como referência norteadora para os profissionais da área, cabe aos mesmos desenvolver e orientar seus discentes quanto às posturas dinâmicas adotadas durante suas atividades, assim como o modo adequado de executar suas tarefas, independente do ambiente onde estão sendo desenvolvidas. Neste contexto, a escola apresenta-se como local ideal para prevenir e orientar os escolares com relação aos desequilíbrios posturais, informando e conscientizando a comunidade escolar sobre a importância da prevenção (Back e Lima, 2006).

Conclusão

    Com base nos dados obtidos no presente estudo, sugere-se que o professor de Educação Física exerce influência positiva na postura dinâmica sentada dos escolares, pois as amostras que possuem professor específico ministrando as aulas obtiveram resultados superiores se comparados às que não possuem. Entretanto, não se pode afirmar que o professor de Educação Física foi exclusivamente o único fator gerador destes resultados, pois a amostra que obteve os melhores resultados possui, também, um programa de escola postural que pode ter contribuído para os mesmos.

    Sugere-se que mais estudos sejam desenvolvidos com o intuito de identificar e esclarecer qual a real influência do professor de Educação Física sobre a postura dinâmica sentada de escolares, assim como, torna-se relevante ressaltar a importância da implementação de escolas posturais no ambiente escolar, pois os dados obtidos sugerem que o este tipo de projeto pode ter influenciado resultados finais deste estudo.

Referências

  • BARBOSA, Fernando Sérgio Silva e GONÇALVES, Mauro. A proposta biomecânica para a avaliação de sobrecarga na coluna lombar: efeito de diferentes variáveis demográficas na fadiga muscular. Acta Ortop Bras. 2007; 15(3):132-137.

  • RASCH E BURKE. Cinesiologia e Anatomia aplicada. 5°ed. – Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1987

  • DETSCH C, Luz AMH, CANDOTTI CT, SCOTTO, de Oliveira D, LAZARON, F, GUIMARÃES, LK, et al. Prevalência de alterações posturais em escolares do ensino médio em uma cidade no Sul do Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2007;21(4):231–8.

  • BACK, Cristina Mari Zanella e LIMA, Inês Alessandra Xavier. Fisioterapia na Escola: Avaliação Postural. 2006. Disponível em: http://www.fisio-tb.unisul.br/Tccs/06b/cristinaback/artigocristina.pdf . Acessado em: 16/10/2007.

  • BRACCIALLI, Ligia Maria Presumido e VILARTA, Roberto. Aspectos a Serem Considerados na Elaboração de Programas de Prevenção e Orientação de Problemas Posturais. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(2):159-71, jul./dez. 2000.

  • JASSI, Fabrício José e PASTRE, Carlos Marcelo. Alterações Posturais na Coluna Vertebral em Escolares do Ensino Fundamental da Cidade de Adamantina SP. 2004. Disponível em: www.fai.com.br/fisio/resumos2/13.doc. Acessado em: 13/10/2007.

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  • MORO, Antonio Renato Pereira. Ergonomia da Sala de Aula: Constrangimentos Impostos Pelo Mobiliário Escolar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 85, 2005. http://www.efdeportes.com/efd85/ergon.htm

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revista digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires, Septiembre de 2009  
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