efdeportes.com

As vivências de formação pessoal e suas repercussões na formação

dos acadêmicos do curso de Educação Física da UNIVATES

Las vivencias de la formación personal y sus consecuencias en la formación de estudiantes de la carrera de Educación Física

 

*Professora de Educação Física – UNIVATES

**Doutor em Ciências do Movimento Humano – UNIVATES

(Brasil)

Patrícia Wagner*

Atos Prinz Falkenbach**

atos@univates.br

 

 

 

Resumo

          O estudo apresenta o processo investigativo acerca da prática da disciplina de Formação Pessoal do terceiro semestre da matriz curricular do Curso de Educação Física da UNIVATES. As motivações do estudo iniciam com a necessidade de compreensão das repercussões do processo vivenciado na referida disciplina em acadêmicos calouros e veteranos. A revisão bibliográfica do tema aborda autores que originaram e que estudam a prática da Formação Pessoal. Também desenvolve reflexões que discutem os processos de formação como as diferentes vivências que possibilitam aos participantes exercitarem o autoconhecimento, bem como a preparação para lidar, interagir e intervir com crianças por intermédio do jogo infantil. A pesquisa é descritiva, interpretativa. O período de investigação ocorreu no segundo semestre de 2008. Os participantes da pesquisa foram três acadêmicos veteranos e três acadêmicos calouros do Curso de Educação Física. O instrumento utilizado para coleta de informações foi a entrevista semi-estruturada. O estudo aprofundou conhecimentos do tema e interpretou a visão dos acadêmicos do curso de Educação Física sobre a formação que foram participantes nessa disciplina. Foi possível destacar o significado da disciplina para a formação profissional dos acadêmicos, bem como sentimentos de segurança nas intervenções com crianças nas aulas de educação física.

          Unitermos: Formação pessoal. Formação profissional. Educação Física

 

Abstract

          The study it presents the research process concerning the practical one of disciplines of Personal Formation of the third semester of the curricular matrix of the Course of Physical Education of the UNIVATES. The motivations of the study initiate with the necessity of understanding of the repercussions of the process lived deeply in the related one discipline in academic freshmen and veterans. The bibliographical revision of the subject approaches authors whom they had originated and that they study the practical one of the Personal Formation. Also it develops reflections that argue the formation processes as the different experiences that make possible the participants to exercise the self- knowledge, as well as the preparation to deal, to interact and to intervine with children for intermediary of the infantile game. The research is descriptive, interpretativa. The period of inquiry occurred in as the semester of 2008. The participants of the research had been three veteran academics and three academic freshmen of the Course of Physical Education. The instrument used for collection of information was the half-structuralized interview. The study it deepened knowledge of the subject and it interpreted the vision of the academics of the course of Physical Education on the formation who had been participant in this discipline. It was possible to detach the meaning of disciplines for the professional formation of the academics, as well as feelings of security in the interventions with children in the lessons of physical education.

          Keywords: Personal formation. Professional formation. Physical Education

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009

1 / 1

Introdução

    Antes de explicar o detalhamento da prática da Formação Pessoal é possível destacar nessa introdução que a Formação Pessoal gera ao praticante uma reflexão sobre sua própria conduta, permite ainda uma percepção sobre seus desejos, limites, expectativas e decepções nas relações com os outros e com o meio.

    A Formação Pessoal objetiva promover a disponibilidade corporal do futuro professor de Educação Física a partir de vivências corporais que possibilitem a conscientização das limitações, facilidades e potencialidades que cada um apresenta na relação consigo mesmo, com os objetos e com os demais, no grupo de formação. Negrine (1998) explica que esta formação se dá pela via corporal e tem como elemento pedagógico um rol de vivências onde cada participante se volta para si mesmo, fala de suas expectativas, de suas decepções, dos seus desejos, enfim, deixando eclodir sentimentos e emoções pessoais. O presente estudo nasce desse meio de sentimentos, uma vez que também é fruto das motivações de uma acadêmica que participou do processo formativo na disciplina e objetivou investigar o processo da formação e sua repercussão nos acadêmicos do Curso de Educação Física. O estudo organizou sua investigação a partir do seguinte problema: Como as vivências de Formação Pessoal repercutem na formação dos acadêmicos do Curso de Educação Física da UNIVATES?

    O estudo investiga: 

  1. analisar a compreensão dos acadêmicos na disciplina de Formação Pessoal em relação à futura docência na área da Educação Física; 

  2. analisar as repercussões do processo formativo da disciplina na vida pessoal e profissional dos acadêmicos; 

  3. interpretar as preferências dos acadêmicos participantes nas práticas que realizaram na referida disciplina.

    Escolhemos o tema em investigação porque durante a formação com esta disciplina foi possível perceber mudanças pessoais em nossa prática pedagógica. Oportunizou descobertas pessoais até avanços em segurança e confiança pessoal. Falkenbach (1999) explica que a Formação Pessoal favorece a tomada de consciência da personalidade, que a mesma é dolorosa e exige empenho e vontade. Entendemos que a frase do autor resume as motivações em realizar este estudo. Isto se dá pelo misto de sentimentos e sensações que as vivências despertam em seus participantes, pois há desafios constantes para aprender sobre relações e receptividade corporal.

    Também fomos atraídos por esta temática porque a Formação Pessoal é um exemplo de troca, relações e respeito. Durante as sessões o participante interage, há diferentes vivencias relacionais. Aprendemos sobre o respeito que é com o corpo do outro, com seu próprio corpo, com seus sentimentos, limites, anseios, excitações, dor, alegria, barreiras. É nesse contexto de motivações que apresentamos os pressupostos teóricos da Formação Pessoal como prática formativa em um Curso de Graduação em Educação Física

Formação pessoal

    A Formação Pessoal implica em uma formação que objetiva uma melhor disponibilidade corporal do futuro professor de Educação Física a partir de vivências corporais que possibilitem a conscientização das limitações, facilidades e potencialidades que cada um apresenta na relação consigo mesmo, com os objetos e com os demais, no grupo de formação. A Formação Pessoal pauta a participação no processo de evolução pessoal, pois ela traz a tona o conhecimento de conflitos e prazeres que acompanham o ser humano desde a infância. Estas sensações sejam elas de dificuldade, medo, tristeza, alegria, prazer, quando descobertas podem ocasionar as mais diversas reações que podem ser explicitadas tanto por via corporal quanto verbal. Saber lidar com estas situações e sensações gera aprendizagem e um entendimento de si.

    Bertherat (2000) explica que o modo de viver o corpo é a base do modo de viver o mundo. A autora com esta afirmação ressalta a idéia de que o corpo é um mediador, facilitador e até mesmo um mostruário de tudo que se sente, aprende e, de como se vive. Aucouturier e colaboradores (1986) explica que a Formação Pessoal visa essencialmente à mudança da pessoa. A mudança atribuída ao âmbito relacional, do exercício de relacionar-se consigo mesmo, com o outro, com os objetos. O exercício relacional torna a Formação Pessoal um desafio, pois propõe que a pessoa seja ou se torne apta a aceitar mudanças, reconhecer fragilidades e se tornar forte a ponto de encará-las, tornando-se assim um ser humano mais certo de si, mais “dono” de seu corpo e de tudo que este lhe proporciona.

    Negrine (1994) explica que é essa formação que vai permitir que o adulto passe a ter mais disponibilidade corporal, conheça melhor suas limitações e ao mesmo tempo possa refletir sobre elas. Este autoconhecimento permite o desbloqueio de certas resistências, permite uma dimensão mais real das limitações de cada indivíduo frente as diferentes situações e, conseqüentemente, prepara o profissional para ter uma postura de escuta em relação à criança, melhorando a compreensão e o relacionamento com ela.

    Bertherat (2000) compara o corpo a uma casa e coloca que este é a casa onde não moramos. A autora diz que nunca é tarde para assumir o próprio corpo e descobrir possibilidades até então inéditas. Ou seja, assumir o próprio corpo é se assumir como pessoa. A autora cita que somos o nosso corpo, pois nosso modo de parecer é o nosso modo de ser.

    Negrine (1998) destaca que a Formação Pessoal é dolorosa e exige empenho e vontade. É realmente doloroso enfrentar fantasmas do passado, saber de si, conviver com situações que trazem sentimento de angústia, apreensão, porém aprender a conviver com estas situações e disponibilizar o corpo a ponto de superar e aprender. A formação favorece práticas que habilitam o profissional mais capaz para conviver consigo mesmo, que enfrenta seus limites psicológicos e corporais. Para Falkenbach (1999, p.61):

    “Os professores que interagem com crianças em atividades lúdicas devem ser preparados. Deverão possuir, além de conhecimentos teóricos e didático-pedagógicos, formação pessoal que lhes dê suporte para interagir com segurança para desenvolver as crianças”.

    São estas intervenções, feitas com segurança, com domínio que fazem a criança desenvolver seu nível de aprendizagem. Um professor com formação adequada certamente fará diferença na vida escolar da criança, pois será capaz de intervir, questionar e interagir com a criança de modo que ela consiga solucionar ventura inquietação, dúvida ou até mesmo dificuldades que possam vir à tona tanto verbal quanto corporalmente. Normalmente estas são explicitadas por gestos ou comportamento corporal, o que mais uma vez revela a importância de um professor bem preparado, pois só saberá compreender o que se passa com a criança aquele que é seguro nas suas ações, em seus atos e intervenções.

Origem da formação pessoal com Lapierre e Aucouturier

    Lapierre e Aucouturier são psicomotricistas que por significativo tempo trabalharam e estudaram juntos na qualificação da Formação Pessoal. Segundo o pensamento destes autores os princípios teóricos da Formação Pessoal estão alicerçados em uma abordagem corporal e se fundamenta no fato de que o movimento espontâneo manifesta de modo mais claro o inconsciente. Podem ser gestos não percebidos por quem os realiza, mas não “escapam” dos olhos dos outros e representam mais do que o momento pois são ligados à infância e as relações primárias.

    Lapierre e Aucouturier (1984) ensinam que todas as relações humanas se articulam da ambivalência de dois desejos. O primeiro é chamado de “desejo fusional”, ou seja, é mais ou menos consciente e se manifesta através da sedução física, afetiva. O segundo é o “desejo de identidade” que se caracteriza pelos impulsos de independência, liberdade, acima de tudo ligada ao eu consciente, esse desejo se manifesta por comportamentos agressivos, de oposição.

    Ao se relacionar as pessoas começam a participar de um processo que no final resulta em crescimento pessoal e aprendizagem. Enquanto se relaciona se está sujeito a lidar com fantasmas que acompanham a pessoa desde a infância, rompe-se com aversões, desafia-se o medo, o anseio, ou seja, é levado a modificar comportamentos simbólicos, o que possibilita um novo reconhecimento da personalidade.

    Falkenbach (1999) explica que a pessoa só pode existir se tornar possível uma comunicação com os seres e com tudo que a cerca. Isso envolve a relação com ela mesma, com o outro e com o meio. Lapierre e Aucouturier (1984) reforçam que qualquer ventura perturbação de personalidade que a pessoa vir a apresentar, nada mais é que resultado das perturbações dessas relações, ou seja, relação com ela mesma, com o outro e com tudo que a rodeia.

    Falkenbach (1999) ensina que a Formação Pessoal sugerida por Lapierre e Aucouturier pretende devolver no adulto o conhecimento de si, da própria gestualidade, para também conseguir ser capaz de auxiliar as crianças em sessões de psicomotricidade relacional. Sabe-se que este tipo de formação traz a tona conflitos para o praticante, pois o pressuposto básico para a evolução pessoal é trazer ao conhecimento dificuldades, inseguranças e também domínios e facilidades pessoais. Assim, pode-se afirmar que o adulto que realiza a Formação Pessoal revive os fantasmas corporais, já que a memória afetiva e emocional é registrada no cérebro.

    A Formação Pessoal do psicomotricista exige um ambiente favorável, regularidade e coerência, pois só assim a dinâmica garante segurança. Aucouturier (1986) explica que se pode encarar duas modalidades de formação quanto a duração: sessões regulares de 3 (três) ou 4 (quatro) horas, duas vezes por semana ( com intervalo de dois dias entre as sessões); estágios regulares de 6 (seis) ou 7 (sete) dias, a cada dois meses.

    Ainda sobre a estrutura da sessão o autor ensina que o número de doze a dezoito pessoas é o ideal, pois assim o formador encontra facilidade em conduzir a sessão e todos têm um maior proveito da mesma. Destaca que toda Formação Pessoal deste tipo é bastante problemática, superficial e representa sempre uma aventura para o formador.

    As vivências de Formação Pessoal permitem ao praticante um resgate, ou um reapropiar-se de uma dimensão sensorimotora e emocional. Este tipo de formação pela via corporal exige que o formador coloque os participantes em situações não verbais, que lembram aquelas que teriam vivido quando crianças, no seu prazer do movimento e nas capacidades de comunicar e investir no espaço oferecido.

    Para Lapierre a Formação Pessoal é dividida em três momentos, inicial, desenvolvimento da vivência e final, o analista (formador, professor) se utiliza de música e inúmeras intervenções para as vivências serem dinâmicas.

    O autor ensina ainda que estas questões não são planejadas, ou seja, o participante não tem tempo para pensar nelas, elas surgem espontaneamente, de acordo com o andar das vivências. Então é papel do analista estar atento a isto para fazer um relato diante do grande grupo, ao término da sessão. Ressalta ainda que cada sessão possui um objetivo diferente, ou seja, a cada nova sessão surge um novo objeto, uma nova forma de intervenção, uma nova forma de utilizar o espaço.

    Lapierre (2002) argumenta que estas sessões favorecem uma mudança pessoal, mudança nas relações com o outro, sendo que os participantes se sentem mais livres, mais ousados, menos limitados, não sentem medo em tocar o corpo do outro, permitem a troca de toques, sentem prazer, ou não, com as vivências e sabem como lidar com o que as mesmas os despertam.

    Lapierre (2002) resume quando descreve que: “A simplicidade dos meios contrasta com a profundidade e a intensidade emocional das vivências” (p. 68). Ou seja, o corpo se torna um meio de comunicação durante as vivências e este deixa claro o quão são fortes as sensações e a riqueza do prazer ou desprazer em movimentar-se através das inúmeras vivências corporais.

Método do estudo

    O presente estudo se organizou na modalidade da pesquisa descritiva e qualitativa. Para Bogdan e Biklen (1994) a pesquisa qualitativa representa “a investigação que produz dados descritivos: as próprias palavras das pessoas, faladas ou escritas, e a conduta observada“ (p.20).

    Negrine (1999) observa que este tipo de investigação se centra na descrição, análise, e interpretação de informações recolhidas durante o processo investigatório, significando que na pesquisa qualitativa não há preocupação em generalizar os achados. Assim, o presente estudo busca analisar e compreender de que maneira a Formação Pessoal pode repercutir tanto na vida pessoal quanto na profissional de quem a pratica. Reflete a relevância e repercussões da prática para a formação do profissional, bem como as vivências podem contribuir para a pessoa e seu autoconhecimento.

    Os participantes da pesquisa são acadêmicos do Curso de Educação Física da UNIVATES, matriculados e aprovados na disciplina de Formação Pessoal no semestre 2008/A. Foram selecionados seis participantes do grupo de acadêmicos matriculados na referida disciplina. Os critérios de seleção dos participantes foram: aceitar participar da pesquisa; 3 (três) participantes devem ser do sexo masculino e três do feminino; 3 (três) acadêmicos veteranos do curso, isto é estarem cursando o Curso a pelo menos 5 (cinco) semestres e 3 (três) acadêmicos calouros, ou seja, estarem cursando até o terceiro semestre do Curso; acadêmicos que tenham demonstrado assiduidade e participação nas práticas da disciplina.

    Os instrumentos de coleta de informações são as entrevistas semi–estruturadas que foram aplicadas aos participantes do estudo. Segundo Negrine (1999) a palavra entrevista encerra o significado de encontro combinado marcado entre pessoas para ocorrer em lugar previamente determinado. Explica ainda que foi pensado para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realizem explorações não-previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes. O autor orienta que a entrevista semi-estruturada é apropriada à pesquisa qualitativa por ser um instrumento flexível, e permite ao entrevistador fazer as adaptações necessárias.

    Realizamos seis entrevistas semi-estruturadas com acadêmicos do Curso de Educação Física da UNIVATES. Destes acadêmicos, três são veteranos e três são calouros. Também três são do sexo feminino e três do sexo masculino.

Nome Fictício

Sexo

Entrevista nº

Data da Entrevista

Tempo de Duração

Veterano /Iniciante

JB

Feminino

1

15/09/2008

30 minutos

Veterano

AS

Feminino

2

02/10/2008

25 minutos

Iniciante

VM

Feminino

3

15/09/2008

22 minutos

Iniciante

TL

Masculino

4

02/10/2008

10 minutos

Iniciante

MC

Masculino

5

01/10/2008

13 minutos

Veterano

DR

Masculino

6

30/10/2008

20 minutos

Veterano

    O estudo foi conduzido mediante a apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIVATES conforme a Resolução do CNS (Conselho Nacional de Saúde) 196/96. O processo de coleta de informações oportunizou a organização das seguintes categorias do estudo: sensações de prazer; sensações de desconforto; benefícios na carreira profissional; mudança pessoal.

Sensações de prazer na prática da Formação Pessoal

    Falkenbach (1999) destaca que é necessário procurar uma comunicação verdadeira para elevar ao máximo a qualidade da relação, a qualidade de vida. Isto sugere que é necessário além de comunicar-se com o outro, aprender a comunicar-se com o próprio corpo, aprender a descobrir sensações corporais até então não vivenciadas e, portanto desconhecidas. Um simples gesto ou simples toque podem provocar percepções corporais de vários sentidos.

    “(...) a massagem na mão eu adorei. Eu amei aquela massagem na mão. Eu nunca pensei que uma coisa tão simples que é a mão, poderia proporcionar tanto prazer, tanta sensação boa. Eu nem lembro com qual colega fiz, mas ele fez com cuidado e carinho. Outra atividade que eu adorei, amei, fiquei em êxtase, foi aquela da bola suiça a gente sentava na bola e os colegas pulavam, jogavam-nos para cima assim. Eu fui umas duas ou três vezes sabe, as gurias que não queriam ir eu ia no lugar. Aquilo foi tão bom de pular que eu tinha que repetir a sensação (VM, entrevista nº 3 em 15/09/2008).

    O relato comprova que o desconhecido, o até então não vivenciado pode ser portador de vários conhecimentos sobre seu próprio corpo, sobre sensações de prazer extremo, sobre a coragem de permitir que seu corpo seja uma possibilidade de aprendizagem e de sentir coisas boas ou não durante as vivências de Formação Pessoal.

    Outra entrevista aborda as atividades individuais como sensação de bem-estar:

    “As atividades que eu participei sozinho e individuais foram boas porque eu consegui ver que eu conseguia fazer o que era solicitado, me conhecendo. Houveram práticas individuais que eu amei, marcaram minha vida porque foram fortes emoções vividas naquela situação, naquela brincadeira(AS, entrevista nº 2 em 02/10/2008).

    A mesma acadêmica explica que a Formação Pessoal, permite uma sensação de prazer, uma sensação de bem-estar após algumas vivências. O aprendizado para desfrutar de atividades passa pela disponibilidade de participar. Assim o fundamental das vivências são as participações desafetas de finalidades ou resultados, mas apenas a vivencia pela vivencia. Negrine (1998) ensina que a formação vai permitir que o adulto passe a ter mais disponibilidade corporal, conheça melhor suas limitações e ao mesmo tempo possa refletir sobre elas. Explica que este autoconhecimento permite um desbloqueio de certas resistências e uma dimensão mais real das limitações de cada um frente as diferentes situações.

    “Houveram vivências que no relaxamento eu lembrei de dificuldades da minha vida e nesses momentos eu até chorava. Só que depois que tirava a venda era outro momento, outro espaço e tudo mudava, mas naquele momento que a gente ficava relaxado, com vendas, escutando música me lembrava, me trazia algumas emoções ruins, lembranças não boas da minha vida. Não sei se me fez assim crescer e lidar com minhas emoções, mas foi bom naquele momento, eu precisava, eu vi que eu precisava fazer isso e foi aquela situação que eu.foi encontrada (AS, entrevista nº2 em 02/10/2008).

    Viver as emoções na vivência são processos de destaque dos acadêmicos. Aprender sobre as diferentes sensações das vivências e respeitar a forma como cada participante interpreta e sente é um processo de aprendizagem do indivíduo e do grupo. Quanto mais o grupo se torna unido e seguro, mais é possível que o participante possa encorajar-se para falar e comunicar aspectos subjetivos e íntimos que a vivência lhe proporcionou.

    Lapierre (2002) explica que o olhar invade a identidade pessoal, ao permanecer com o olhar fixo passa haver fusão entre um olhar e outro.

    “Uma coisa que a gente não faz é ficar olhando, olhos nos olhos das pessoas, sem desviar o olhar. Não que eu não converse com as pessoas olhando nos olhos, mas é que daí há uma conversa. Mas olhar nos olhos do outro sem conversar foi difícil e emocionante porque não sei o que a outra pessoa pensa, sei lá... é diferente (TL, entrevista nº 4 em 02/10/2008).

    A fala do acadêmico traz a idéia de que a entrega corporal, por mais difícil que seja no primeiro momento, é prazerosa. Ensina de forma clara a respeitar o outro, a respeitar a si mesmo, “quebra” preconceitos e auxilia a entender sensações e sentimentos pessoais.

    “De bom a disciplina ensinou a gente o contato com o outro. Avalio que muitas pessoas tem aquele medo de tocar homem com homem. Foi uma aula para formação e principalmente de pensar mais nas minhas atitudes(MC, entrevista nº 5 em 01/10/2008).

    O exercício da disponibilidade corporal para atuar com o outro é uma prática realizada no processo de formação pessoal. Na prática educativa e da saúde não é possível fazer escolhas com que paciente ou aluno se quer trabalhar. Nesse aspecto a disponibilidade do adulto, a capacidade de receber o outro e de escuta das manifestações é algo a ser refletido pelos praticantes.

Sensações de desconforto com a prática da Formação Pessoal

    A Formação Pessoal não é uma prática voltada para a recreação dos participantes, menos ainda em ensinar técnicas para aplicar com grupos de alunos. As práticas realizadas se voltam para um processo de autoconhecimento pela via corporal, o que significa entender que há oferta de diferentes vivencias na prática formativa, justamente para favorecer ao praticante diferentes sensações e percepções, inclusive de desconforto e de fragilização. Para Falkenbach (1999) a Formação Pessoal favorece a tomada de consciência da personalidade. O fato da Formação Pessoal trabalhar com o desconhecido ou com vivências novas pode gerar sofrimento e desconforto aos praticantes.

    “(...) tivemos uma vivência com bastões e aquilo me deixou com uma sensação um pouco desagradável sabe, foi meio ruim aquela vivência porque eu não gostei do uso dos materiais e o desenvolvimento das práticas (AS, entrevista nº 2 em 02/10/2008).

    A mesma acadêmica diz o seguinte:

    “Eu não conseguia deixar de estar curiosa. Com olhos vendados eu ficava muito curiosa. Quem é que é a pessoa que me guia? Eu acho que isso fez com que eu não me sentisse segura e concentrar-me na atividade. Assim foram em diferentes práticas como nas massagens e outras com os olhos vendados( AS, entrevista nº2 em 02/10/2008).

    Para um acadêmico calouro desconforto foi o seguinte:

    “Em relação à entrega, isso foi uma coisa difícil, mas nada que eu não pudesse confiar no outro. Eu me preocupo com a segurança dos outros e parece que os outros não se preocupam tanto quando fazem o mesmo, isso me gera um desconforto (TL, entrevista n º4 em 02/10/2008).

    Outro relato descreve novo desconforto:

    “Houve uma experiência que eu relatei para turma também. Foi no dia da vivência de guiar os colegas. Foi no ginásio, fomos para fora, nos canteiros, perto da piscina. Ficamos subindo e descendo. Lembro que até já tinha feito uma comunicação com os pés com a minha colega. A gente batia o pé direitinho e se comunicava através disso. Até que em um momento de distração minha colega caiu, desabou em cima de um canteiro e a partir daquilo eu me senti muito mal. Isso eu só fui relatar que aquilo realmente tinha me deixado muito mal no último dia de aula, quando eu expliquei para a turma que a lembrança da situação me deixava novamente desconfortada e triste. Não falei antes por falta de oportunidade porque eu sou uma pessoa comunicativa, acho que falei bastante durante as aulas, sempre coloquei meus sentimentos, mas sobre aquilo confesso que não conseguia expressar com tranquilidade. Eu nunca demonstrei durante a formação, fiz de conta que havia superado, mas não havia superado nada. Aquilo estava me incomodando. Mas eu acabei superando porque eu consegui expor e até porque a colega veio e disse que eu não precisava me sentir assim, ai eu pedi desculpa de novo e ficou tudo certo (VM, entrevista nº 3 em 15/09/2008).

    Os relatos demonstram sensações de desconforto das mais variadas formas, pelos mais variados motivos, porém sempre se destaca a individualidade de cada um. Seja no momento de entrega corporal em uma atividade individual, seja pelo desconforto de estar praticando a vivência com um material que passe sensação de desconforto, ou seja pelo simples fato de não gostar, não querer. Acredita-se que estas sensações, por mais indesejadas que possam ser, são tão importantes quanto qualquer outro tipo de sentimento/sensação para a formação da personalidade, para o conhecimento de si mesmo, para a aprendizagem, para as relações.

    Falkenbach (1999) comenta que a forma humana de sentir, de pensar, de emocionar ou compreender o mundo que o circunda, é codificada através da expressividade motriz, demonstrada a todo instante no gesto humano. O corpo “divulga” as mais variadas sensações e este tipo de vivências promovidas pela disciplina de Formação Pessoal, permitem que sejamos conhecedores do que somos capazes de sentir através do movimento, da gestualidade, do comportamento diante das mais variadas situações propostas pela disciplina. Confrontar com as realidades vividas e reconhecê-las também é um ato de coragem no processo de mudança e crescimento pessoal.

Benefícios da Formação Pessoal na formação profissional

    Negrine (1994) ensina que os professores que interagem com as crianças em atividades lúdicas devem ser preparados. Deverão possuir, além de conhecimentos teóricos e didático-pedagógicos, formação pessoal que lhes dê suporte para interagir com segurança para desenvolver as crianças. Esta afirmação ganha corpo na seguinte fala:

    “As atividades que foram feitas na disciplina acho que tiveram uma importância grande para depois eu trabalhar com crianças. Me deu maior segurança no relacionamento, no ser professor e eu usei muito das atividades que eu aprendi lá, assim a maior parte das atividades eu usei com meus alunos, só que alunos adultos.” (JB, entrevista nº 1 em 15/09/2008).

    Outro acadêmico veterano do curso comenta:

    “Tenho certeza que a disciplina de Formação Pessoal permitiu com que eu me encontrasse como professor. Me tornasse mais seguro com minha prática, na maneira como lidar com as crianças. É fundamental, eu faria a disciplina de novo porque sei que assim seria um professor cada vez mais qualificado (DR, entrevista nº6 em 30/10/2008).

    A mesma idéia é ressaltada para a iniciante no curso:

    “A questão de novas vivencias, da importância do teu aluno vivenciar novas atividades, que não vivencie só correr e jogar futebol, que ele vivencie também a sensação de relaxamento de uma massagem, que ele vivencie também vivencias relacionais de massagear o pé, de descobrir novas sensações com o corpo. Oportunizar práticas com que teu aluno se relacione com todas as pessoas da turma, do colégio sem ter nenhum tipo de discriminação. Isso foi uma coisa boa que a gente pode tirar da disciplina (VM, entrevista nº. 3 em 15/09/2008).

    As visões dos acadêmicos deixam claro o quanto a disciplina é favorável na formação docente. Independente de oportunizar novas atividades, ou por tornar um profissional mais seguro, ou ainda por fazer o futuro professor acreditar em uma prática docente de aprendizagens baseadas nas relações e no contato corporal. Independente de qual prática o acadêmico considera mais relevante e que desperta nele sensações novas acerca das pessoas de suas relações, independente das diferenças que acabam por tornar os praticantes iguais quando relatam a consciência de serem mais capacitados para lidar com o outro, criança ou adulto, as práticas de Formação Pessoal desafetas de qualquer objetivo, constituem vivências de avanço no processo humanizador do professor.

Mudanças em nível pessoal

    Lapierre (2002) argumenta que as sessões de Formação Pessoal favorecem uma mudança pessoal, mudança nas relações com o outro, sendo que os participantes se sentem mais livres, mais ousados, menos limitados, não sentem mais o mesmo medo em tocar o corpo do outro, permitem relações e consciência destas relações, sentem prazer ou não com as vivências e sabem como lidar com o que as mesmas os despertam.

    Os entrevistados argumentam o que segue:

    “Eu uso a disciplina até no meu dia-a-dia porque eu tenho que aprender a me policiar né, tenho que saber o que eu tenho que fazer, se eu posso agir dessa forma ou não. Aprendi a ser mais cauteloso nas relações (MC, entrevista nº 5 em 01/10/2008)

    Para a acadêmica iniciante no curso a idéia é esta:

    “Pude identificar que houve mudança, porque pude me dar conta de coisas que as vezes eu não pensava. Por exemplo, as novas sensações que tive, eu nunca havia pensando na possibilidade de vivencia-las. Na sensação que foi receber massagem na mão, na sensação que foi eu pisar em cima das cordas, sentir os pés, na sensação de ser grudada no chão, de ser carregada. Foram sensações que eu nunca havia parado para pensar e percebido que elas são importantes. Eu acho que a gente tem muito aquela coisa de que Educação Física é isso, isso e isso e só, mas não, a Educação Física parece ser muito mais. É também trabalhar com essas sensações diferentes, com sentimentos diferentes. Então eu o processo vivido me fez realmente identificar com a Educação Física. Também pude afirmar para mim mesma que eu tenho que dar mais atenção aos sentimentos, e sensações”.(VM, entrevista nº 3em 15/09/2008 )

    O relato da acadêmica fala por si e destaca a relação que a educação física possui com os sentimentos e sensações dos alunos, não apenas as práticas repetitivas na educação física, mas possibilidades de pensar sobre o corpo vivenciando-o e pensando de outras formas. Lapierre e Aucouturier (1984) ensinam que esta remodelagem da personalidade não pode ser feita senão a partir de situações realmente vivenciadas ao nível do corpo. Os relatos descrevem:

    “De vez em quando tem que se policiar um pouco, sou muito brincalhão, eu gosto de brincar. Então muitas vezes eu tenho que me controlar e eu aprendi a fazer isso durante as vivências” (TL, entrevista nº4 em01/10/200).

    Winnicott (1996) destaca o lar como ponto de partida para a personalidade. Sabemos que a Formação Pessoal possui seus limites ainda mais quando fechada em um semestre letivo, mas foi possível perceber mudanças significativas nos particpantes. Outro acadêmico destaca as seguintes mudanças:

    “O que aconteceu foi que eu me descobri como pessoa. Passei, a saber mais de mim, diria até que sai um cara diferente da disciplina e isso em vários aspectos (DR, entrevista nº6 em 30/10/2008).

    Outro relato de uma acadêmica:

    “A questão de parar para pensar um pouco em si mesmo, pensar na própria vida. Em muitos momentos de relaxar que me oportunizou pensar na minha vida pessoal. Por tudo que eu vivenciei ali eu percebi que estou na profissão certa. Isso para minha vida pessoal foi muito bom porque eu me afirmei como professora. (JB, entrevista nº1 em 15/09/2008).

    “Em relação aos medos pessoais percebi que contribuiu bastante. Como exemplo o medo de encostar no colega, medo de realizar tal coisa e pensar como o outro vai me ver fazendo isso, como o outro avalia o que faço. Percebi que é possível fazer tudo, pois ao fim das atividades eu constatei porque que eu não realizo tais atividades e o medo de como o outro vai reagir e avaliar. Isso me fez pensar bastante. Além disso a disciplina contribuiu principalmente na motivação, eu saia mais motivada de lá para minha vida tanto acadêmica como em casa. Tanto que eu saia das aulas com muita vontade de executar elas logo em seguida. O outro dia eu tentava fazer com a minha mãe, meu namorado, mostrava as práticas que eu aprendi de relaxamento. Então foi assim, eu falava em casa, comentava as atividades que eu nunca havia realizado ao longo da minha vida escolar e que lá foram e que eu senti uma coisa que qualquer criança sente, quando realiza uma atividade que é boa, que gosta, que se entrega”. (AS, entrevista nº2 em 02/10/2008).

    Essas observações demonstram o amadurecimento pessoal que cada um participa durante a disciplina de Formação Pessoal. Mais uma vez cada um dentro de suas individualidades e cada um respeitando seu tempo, espaço e limitações. Aprende-se a viver o corpo, aprende-se a ser corpo e a se encontrar como corpo diante de si, do outro e do meio em que se vive. Essas mudanças pessoais, estas novas aprendizagens, a nova realidade como pessoa é fato reconhecido por autores e comprovado por quem é praticante da Formação Pessoal.

Considerações finais

    Para concluir o estudo precisamos resgatar seu principal questionamento que é buscar analisar como as vivências de Formação Pessoal repercutem na formação dos acadêmicos do Curso de Educação Física da UNIVATES. Negrine ensina que: “(...) esta formação, quando bem conduzida, vai permitir que o adulto passe a ter mais disponibilidade corporal, conheça melhor suas limitações e ao mesmo tempo possa refletir sobre elas” (1998, p.56).

    Considerando esta afirmação constatamos que durante as vivências de Formação Pessoal foi havendo um avanço gradativo, quando se trata de disponibilidade corporal, entre os alunos. Estes foram testados a cada aula e com isso passaram a aprender a ser corpo, se sentir corpo e a disponibilizar-se enquanto corpo nas relações de troca e de aprendizagem. Percebemos pelos relatos dos acadêmicos entrevistados que a entrega corporal para as dinâmicas propostas na Formação Pessoal foram acontecendo aos poucos, de forma gradativa e de incremento de complexidade. Confiar no até então desconhecido, muitas vezes de olhos fechados, foram situações difíceis em um primeiro momento, mas com o passar das atividades constamos ser natural o aluno tornar-se conhecedor de si, de seus medos e passar a desafiá-los, passar a respeitar o outro e permitir que as relações interpessoais façam parte do processo formativo do acadêmico, tanto na via profissional quanto pessoal.

    O primeiro objetivo do estudo que analisou a compreensão dos acadêmicos participantes na disciplina de Formação Pessoal em relação à futura prática pedagógica como professores de Educação Física destacou que:

  1. Em relação à proximidade da Educação Física com a disciplina de Formação Pessoal, os acadêmicos entrevistados destacaram uma total ligação entre a disciplina e a área da Educação Física. A Formação Pessoal, devido a sua riqueza, permite que o acadêmico perceba outras possibilidades, outras formas de aprender, de ensinar através do corpo. Segundo Negrine (1998) a busca permanente de formação auxilia o profissional a enfrentar os períodos de retrocesso e estagnação que são comuns no processo de desenvolvimento humano. De acordo com o relato, a Formação Pessoal permite que o acadêmico constate que a Educação Física vai além de vivencias técnicas e com diretrizes precisas de execução, pois ela também desperta sentimentos, sensações. Ela educa para vida, ela permite a formação do caráter, da personalidade, de valores e a Formação Pessoal é protagonista neste processo todo.

  2. Relacionando a disciplina de Formação Pessoal com o futuro profissional na área da Educação Física, seja nas práticas docentes ou em qualquer outro campo que a área abrange. Neste sentido Negrine (1998) ensina que este tipo de formação permite que os indivíduos tornem-se seres criativos, inovadores e que não passem sua vida apenas reproduzindo aquilo que os outros já fizeram. De acordo com a fala do autor pode-se concluir que a Formação Pessoal pode ajudar em tornar o acadêmico mais seguro em sua prática profissional, ou seja, ao sentir-se seguro e criativo nas suas intervenções tanto com as crianças, adolescentes ou adultos a aula de educação física pode estabelecer relações mais claras com a aprendizagem dos alunos. Isso porque durante a disciplina há estímulos para o autoconhecimento, o respeito das limitações e a respeitar o outro, saber chegar até o outro e entender e aprender a comunicar-se com o outro por via corporal.

    Em relação ao segundo objetivo que foi analisar as repercussões do processo formativo da disciplina na vida pessoal e profissional dos acadêmicos, posso destacar:

  1. Como ensina Lapierre (2002) a Formação Pessoal favorece uma mudança pessoal. É fato que esta mudança ocorre durante o desenvolvimento da disciplina, pois os acadêmicos destacaram nas entrevistas realizadas que ao fim da disciplina de Formação Pessoal estavam se conhecendo diferentes da maneira que eram no início da disciplina. Estas mudanças pessoais ocorrem porque no decorrer das vivências se passa a conhecer sentimentos, sensações, fragilidades, posturas que até então eram desconhecidas pelos participantes. Fica mais claro saber do que se tem medo, o que faz sentir bem, o que gera desconforto, fica mais claro saber quem somos de fato. Negrine (1998) cita Winnicott para dizer que não devemos formar pessoas apenas para ganhar a vida, mas também para justificar a sua existência, avaliamos que Formação Pessoal permite esta formação, pois o acadêmico está o tempo todo repensando suas atitudes, seus valores e se descobrindo como pessoa. Além disso, há uma mudança favorável nestas reflexões pessoais, pois envolvem questões de relacionamento com o outro, como por exemplo, respeito e limites.

  2. A disciplina de Formação Pessoal contribui para o processo formativo do acadêmico, pois ela faz com que o mesmo se descubra e se situe na sua escolha profissional. As entrevistas realizadas deixaram claro que a disciplina de Formação Pessoal também é um momento de reflexão, de “saber o que se quer”, “o que se pode”, “até onde se quer chegar”, ou seja, a disciplina permite que os acadêmicos reflitam sobre seu eu e sobre seu futuro como profissional.

    Em relação ao terceiro objetivo do estudo que foi interpretar as preferências dos acadêmicos participantes nas práticas que realizaram na referida disciplina, posso destacar que:

  1. Com base nas entrevistas realizadas podemos destacar que foi de grande prazer por parte dos acadêmicos participar de vivências onde necessitavam ser receptivos ao receber uma massagem, ou então interagir com o colega em uma atividade com música, atividades de carregar os colegas, atividades com as bolas e com tantos outros materiais que foram utilizados nas vivências.

  2. Houveram sensações de desconforto e de dificuldades no processo formativo. Compreendemos que há situações, independente da vontade de cada um, que enquanto para alguns gera prazer e alegria; para outros podem gerar tristeza, desprazer, desconforto. A necessidade formativa está relacionada ao respeito a individualidade de cada um e aprender com estas sensações.

    Acreditamos que a Formação Pessoal pode desempenhar significativa contribuição no processo formativo do acadêmico, na construção pessoal e profissional. Apesar do estudo estar vinculado ao espaço, tempo e participantes da pesquisa, consideramos que a Formação Pessoal, além de ser uma disciplina cativante ela proporciona outras formas de perceber a atividade corporal e a educação física. Não se deseja mudar a educação física, mas possibilitar a idéia do desenvolvimento de um vocabulário de movimentos possíveis e não apenas técnicos.

Referencias

  • AUCOUTURIER, B. DARRAULT I. EMPINET J. L. A prática psicomotora: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

  • BERTHERAT, T. O corpo tem suas razões: antiginástica e consciência de si. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

  • FALKENBACH, A P. A relação professor/criança em atividades lúdicas: a formação pessoal dos professores. Porto Alegre: EST, 1999.

  • LAPIERRE, A. Da psicomotricidade relacional à análise corporal da relação. Curitiba: UFPR, 2002.

  • LAPIERRE, A. AUCOUTURIER, B. Fantasmas corporais e prática psicomotora. São Paulo: Manole, 1984.

  • NEGRINE, A. Terapias corporais: a formação pessoal do adulto. Porto Alegre: Edita, 1998.

  • NEGRINE, A. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. P. (61-93). In: MOLINA NETO, V. TRIVINOS, A. N. S. A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Sulina, 1999.

  • NEGRINE, A. O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.

  • NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: perspectivas pedagógicas. Porto Alegre: Prodil, 1994.

  • BOGDAN, R. BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto, 1994.

  • WINNICOTT, D. W. El hogar, nuestro punto de partida: ensayos de um psicoanalista. Buenos Aires: Paidós, 1996.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires, Septiembre de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados