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Associação do nível de atividade física 

e a pressão arterial em universitários

 

Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte

Universidade Federal do Paraná

Curitiba – Paraná

(Brasil)

Guilherme da Silva Gasparotto

Michael Pereira da Silva

Antonio Stabelini Neto

Rodrigo Bozza

Wagner de Campos

gui_gasparotto@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Esse estudo objetivou estabelecer as prevalências dos níveis de atividade física e pressão arterial, bem como correlacionar o nível de atividade física (NAF) com os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) em 158 universitários com idade média de 21,8±6,7 anos, de ambos os sexos, ingressantes em 8 diferentes cursos da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), campus Jacarezinho. O nível de atividade física foi obtido através da aplicação do questionário internacional de atividade física (IPAQ, versão curta) e foram classificados em ativos, moderadamente ativos e sedentários, de acordo com o volume de atividade física praticada na semana. Para analise estatística foi utilizada distribuição de freqüência para os níveis de atividade física e pressão arterial, o teste de qui-quadrado para verificar as prevalências dos níveis de atividade física separadas por sexo e a correlação de Spearman para associação entre essas variáveis, com nível de significância estipulado em p<0,05. Quanto à atividade física 24% dos alunos foram classificados como ativos, 48,5% como moderadamente ativos e 17% como sedentários, 12,5% foram hipertensos. Entre os sexos, os homens mostraram-se mais ativos (82,7%) que as mulheres (64,2%) com p=0,017. O presente estudo permite concluir que para essa amostra existe uma correlação negativa, apesar de baixa, entre o nível de atividade física e os níveis de pressão sistólica e diastólica.

          Unitermos: Nível de atividade física. Pressão arterial. Universitários

 

Abstract

          This study aimed to establish prevalence levels of physical activity and blood pressure, and correlate the physical activity level (PAL) to the levels of systolic blood pressure (SBP) and diastolic (DBP) in 158 students with mean age of 21,8±6,7 years, both sexes, entering in 8 different courses of UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), Jacarezinho campus. The level of physical activity was obtained by applying the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ, short version), and were classified as active, moderately active and sedentary, according to the volume of physical activity practiced in the week. The frequency distribution for the levels of physical activity and blood pressure, the chi-square test to ascertain the prevalence levels of physical activity separated by gender and the Spearman correlation for association between these variables was used as statistical procedures, with significance level set at p <0.05. For physical activity 24% of students were classified as active, 48.5% as moderately active and 17% as sedentary, 12.5% were hypertensive. Between the sexes, men were more active (82.7%) than women (64.2%) with p = 0.017. This study indicates that for this sample there is a negative correlation, although low, between the level of physical activity and levels of systolic and diastolic pressure.

          Keywords: Level of physical activity. Blood pressure. Universitary

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    A Hipertensão arterial (HA) se mostra importante fator relativo ao desenvolvimento e agravamento de doenças cardiovasculares (DVC). Estima-se que aproximadamente 20% da população brasileira sofram de HA. (SBC, 2006). A OMS (2007) expõe que no mundo, aproximadamente 7 milhões de mortes prematuras foram causadas em conseqüência de hipertensão.

    Segundo a V diretriz de Hipertensão arterial Brasileira (2006), dentre os fatores que estão relacionados com a HA estão sexo, idade, álcool, sal e sedentarismo.

    Estudos sugerem a atividade física como forma de prevenção ou tratamento da HA (LEE et al., 2003; CALHOUN et al., 2008) e mostram que a atividade física pode melhorar a função endotelial, com ganhos de vasodilatação e assim melhoras na pressão arterial (LEE et al., 2003).

    As recomendações do American College of Sport Medicine (1995) são de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada ou vigorosa por dia, preferencialmente todos os dias ou 150 minutos totais por semana, com o intuito de promoção ou manutenção da saúde.

    O início da idade adulta, mais especificamente a idade universitária parece ser um período onde podem ser estabelecidos hábitos de estilo de vida (MARINHO, 2003, KHUNTI et al., 2007, MARTINS), entre eles a atividade física, que poderá influenciar na saúde durante seu envelhecimento.

    Estudos relatando níveis de atividade física (NAF) e suas influências em populações específicas como estudantes crianças e adolescentes, mulheres, idosos, entre outros, se mostra bem reportada no Brasil e em outros países (COSTA et al., 2003; BENEDETTI et al. 2004;KHUNTI et al., 2007). Porém para o jovem adulto, mais especificamente idade universitária, no Brasil os estudos são escassos (OLIVEIRA et al. 2008). Assim o objetivo desse estudo foi verificar a prevalência dos níveis de atividade física e sua relação com a hipertensão em uma amostra de universitários.

Materiais e métodos

População e amostra

    A amostra foi composta por 158 alunos, com idade média de 21 ± 6,7 anos, 52 do sexo masculino e 106 do sexo feminino, ingressantes no ano de 2008 na UENP – campus Jacarezinho-PR.

Instrumentos e procedimentos

    Os alunos foram submetidos à avaliação da pressão arterial e responderam um questionário recordatório para obtenção dos níveis de atividade física.

    A pressão arterial (PA) foi mensurada de acordo com as recomendações da SBC (2006), através do método auscultatório no braço direito de cada avaliado mediante utilização de um estetoscópio e um esfigmomanômetro analógico, estes estavam por pelo menos 5 minutos em repouso, sentados com as pernas descruzadas, pés apoiados no chão e dorso recostado na cadeira. O braço foi posicionado na altura do coração com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. O manguito do esfigmomanômetro foi posicionado a cerca de 2 a 3 centímetros da fossa cubital, e a campânula do estetoscópio sobre a artéria braquial sem compressão excessiva. Duas aferições foram realizadas com intervalo mínimo de 2 minutos entre as aferições e os valores médios foram utilizados para a análise.

    Para a realização da aferição, os avaliados, obrigatoriamente, não podiam ter praticado exercícios físicos de 60 a 90 minutos antes da avaliação, ter ingerido bebidas alcoólicas, café, alimentos e ter fumado nos 30 minutos anteriores à realização da mesma

    A pressão arterial sistólica (PAS) foi determinada no aparecimento do primeiro som (fase I de Korotkoff), e a pressão arterial diastólica (PAD) com o desaparecimento do som (fase V de Korotkoff) e os avaliados foram classificadas como hipertensos se a PAS fosse maior ou igual a 140 mmHg e a PAD maior ou igual a 90 mmHg, ou na identificação de uso de medicamento anti-hipertensivo.

    Para obtenção do nível de atividade física foi utilizado o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) versão curta, validado internacionalmente e traduzido para a língua Portuguesa, que possibilita a categorização dos indivíduos em Muito Ativo, Ativo, Irregularmente ativo A, Irregularmente ativo B e Sedentário. Para a análise dos dados dos universitários os classificados como Muito Ativos e Ativos foram categorizados como ativos (≥ 150 min./ semana ou ≥ 5 vezes por semana), os classificados como Irregularmente ativos A e B foram categorizados como moderadamente ativos (praticantes de atividade física, porém sem cumprir um ou os dois requisitos para classificação de ativo) e os Sedentários (<10 minutos de atividade física por dia) mantiveram sua categorização.

Análise estatística

    Para análise estatística foi utilizado o programa SPSS for Windows versão 13.0. Distribuição de freqüência para analise das prevalências para os níveis de atividade física e pressão arterial. Para identificar as prevalências dos níveis de atividade física separadas por sexo foi utilizado o teste de Qui-quadrado e para verificar a relação entre o nível de atividade física e pressão arterial foi utilizada a correlação Sperman. O nível de significância estipulado para as análises foi de p<0,05.

Resultados e discussão

    Os resultados totais de prevalências de níveis de atividade física e hipertensão podem ser observados na tabela 1 abaixo.

Tabela 1. Prevalências dos níveis de atividade física e hipertensão

ATIVO 70,3%

MODERADAMENTE ATIVO 22,2%

SEDENTÁRIO 7,6%

HIPERTENSOS 12,5%

    Os resultados separados por sexo das prevalências de níveis de atividade física podem ser observados na tabela 2 abaixo.

Tabela 2. Prevalências dos níveis de atividade física separadas por sexo

Homens

Mulheres

X2

p

ATIVO

82,7%

64,2%

5,73

0,017

MODERADO

15,4%

25,5%

2,05

0,151

SEDENTÁRIO

1,9%

10,4%

3,55

0,059

X2 = qui – quadrado

    Entre os indivíduos classificados com ativos, os homens mostraram proporção significativamente maior (82,7%) do que as mulheres (64,2%) (p=0,017). Para as classificações de moderado e sedentário não houve diferenças significantes entre homens e mulheres. Gomes (2001) também verificou em seu trabalho que homens realizaram mais atividades físicas que mulheres em diferentes idades.

    Para o NAF, 70,3% da amostra total foram considerados ativos, 22,2% moderadamente ativos e 7,6% considerados sedentários. Em estudo realizado utilizando o mesmo questionário, Santos et al. (2005) encontrou 35% de indivíduos ativos 65% de indivíduos insuficientemente ativos. Já Santos et al. (2002) observou 36,5% de ativos, 23,7% moderadamente ativos e 18,5% de indivíduos sedentários em amostra de universitários. Silva (2007) encontrou resultados de 16% muito ativos, 56,9% de ativos e 26,7% de insuficientemente ativos, com a utilização do IPAQ versão longa também em uma amostra de universitários.

    Nota-se uma diferença entre as porcentagens de indivíduos nas classificações citadas entre os estudos, possivelmente o critério adotado para inclusão dos indivíduos em cada classificação acarretou nessas diferenças, o que demonstra a necessidade de metodologias iguais de classificação de nível de atividade física, para melhor comparação entre populações.

    Em relação aos níveis de pressão arterial, 12,5% da amostra foram classificados como hipertensos em nosso estudo, resultado este similar ao apresentado por Rabelo et al. (1999) que relataram prevalência de 15,8% em estudo com universitários. Em contraste no estudo realizado com universitários Vieira et al. (2002) encontrou 65% de casos de hipertensão em estudantes de uma universidade pública em Minas Gerais.

    Em relação ao NAF, as correlações encontradas com a pressão arterial foram negativas tanto para a PAS (r=-0,23) quanto para a PAD (r=-0,39), que apesar de significativas (p<0,01), estes coeficientes de correlação foram baixos.

    Outros estudos também evidenciaram essa relação inversa entre nível de atividade física e a pressão arterial (GIROTTO, 1996; ALVES et al. 2005; MARCONDELI et al., 2008;). Em estudo realizado com calouros universitários Rabelo et al. (1999) reportam a associação entre o sedentarismo e o aumento dos níveis pressóricos, entre outros fatores de risco cardiovascular. Vieira et al. (2002) publicaram um trabalho realizado com 185 universitários, no qual encontraram a mesma relação negativa entre o sedentarismo e a hipertensão arterial.

    Santos et al. (2005) demonstraram associação negativa significativa entre o nível de atividade física medido através do mesmo questionário (IPAQ – versão curta) e hipertensão, bem como outros fatores de risco para DCV.

    A correlação entre nível de atividade física e pressão arterial no presente estudo mostrou-se baixa, possivelmente por se tratar de uma amostra jovem e ingressante na universidade, por esse fato ainda não ter sofrido as influências de mudanças nos níveis de atividade física ou pressão arterial. Visto que a idade se apresenta como fator de risco para aumento da pressão arterial (SBC,2006).

Conclusão

    Foi possível observar resultados do presente estudo com prevalências dos níveis de atividade física para indivíduos universitários ativos, moderadamente ativos e sedentários, com uma boa proporção de indivíduos ativos na amostra, diferente de outros estudos nacionais que mostraram menor proporção de indivíduos ativos. Também foi possível verificar baixa correlação negativa entre o nível de atividade física e a pressão arterial nesses indivíduos.

    Diante das propostas de órgãos mundiais e nacionais para prevenção e tratamento da hipertensão com auxílio da prática de atividade física regular, propõe-se estudos com universitários com maior tempo de vivência acadêmica para verificação da influência nos níveis de atividade física e pressão arterial.

Referências

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