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Possibilidades para o desenvolvimento da dança e do

ballet clássico nas aulas de Educação Física escolar

 

*Prefeitura Municipal de Cordeirópolis – SP

**Faculdades Integradas Claretianas – Rio Claro/SP

(Brasil)

Mariana Simões*

mariana_sims@yahoo.com.br

Fernanda Moreto Impolcetto**

fe_moreto@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          A dança é um conteúdo pouco desenvolvido nas aulas de Educação Física escolar, o que freqüentemente se justifica pela da falta de preparo e conhecimento dos professores de Educação Física, pelo preconceito e dificuldade da participação masculina em atividades rítmicas e dança. Este trabalho relata a experiência do desenvolvimento de um projeto da dança, com embasamento no Ballet Clássico, nas aulas de Educação Física que compõem a grade curricular do período integral de uma escola municipal do município de Cordeirópolis - SP, que está em realização desde o ano de 2007. O trabalho vem propor e mostrar que é possível trabalhar com a dança na escola incluindo meninos e meninas, utilizando um conteúdo da cultura corporal que contribui para o desenvolvimento integral dos alunos e para a formação de cidadãos críticos e conscientes.

          Unitermos: Dança. Ballet Clássico. Educação Física escolar

 

Abstract

          Dancing is a bit developed subject in school physical education classes, which often is justified by the lack of preparation and knowledge from the teachers and by the preconception and difficulty of male participation in rhythmics activities and dance. This paper describes the experience of developing a dancing project, in Classical Ballet basis, in physical education classes that are part of the full time period curricular content of  the municipal school at Cordeirópolis – SP, which is in implementation since 2007. The objective is to propose and show the possibility to work with dancing on school including boys and girls, using a corporal culture content that contributes to the students overall development and the training of critical and aware citizens.

          Keywords: Dance. Classical Ballet. Physical Education school

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    A dança nasceu com a própria humanidade, sendo considerada uma das formas mais antigas de manifestação da expressão corporal, que de acordo com Guimarães & Simas (2001) se desenvolveu a medida que o homem sentiu necessidade de se comunicar e expressar.

    Por meio do desenvolvimento e da transformação da dança primitiva, que se baseava no instinto, chegamos às danças mais complexas, como o Ballet Clássico, formada de passos diferentes, ligações, gestos e figuras previamente elaboradas para um ou mais participantes (DI DONATO, 1994). Originou-se da palavra italiana ballettos, que era uma dança com delicados movimentos, conhecida como uma arte das elites e aperfeiçoada na corte francesa.

    De acordo com Gariba (2005) a dança é uma arte e na escola não deve ser apenas contemplada e admirada, mas aprendida, compreendida, experimentada e explorada, numa tentativa de levar o aluno a vivenciar o corpo em todas as suas dimensões, através da relação consigo mesmo, com os outros e o mundo, a criar novos sentidos e movimentos livres (PEREIRA et al, 2001), possibilitar a emancipação e autonomia do indivíduo (GIFFONI,1973).

    Shimizu et al. (2004) reforçam a importância de perceber a dança como uma arte e suas possibilidades educacionais. Para Marques (1998) a dança é uma forma de conhecimento, que pode mobilizar e educar de uma forma mais companheira e menos opressora do que diversas pedagogias.

    Silva (2008) indica que um projeto de dança para as escolas assume um importante papel, possibilitando aos alunos conhecerem o seu corpo, compreender as relações que são estabelecidas entre o fazer, o conhecer, o interpretar e o apreciar a dança. Nesse sentido, a dança também é vista como criação ou aprendizado de um determinado vocabulário de movimentos e não só como expressões do movimento e do indivíduo de acordo com Marques (2003), levando-os a conhecerem a si próprios e/com os outros, a explorarem o mundo da emoção e da imaginação, a criarem, a explorarem novos sentidos e movimentos livres.

    Vargas (2003) acrescenta que a atividade da dança na escola vai desde a sensibilização e conscientização dos alunos tanto para suas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas até as necessidades de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interagir na sociedade.

    A dança permitirá de acordo com Barros (2003) a otimização das possibilidades e potencialidades de movimento e a consciência corporal para atingir objetivos relacionados à educação, saúde, prática esportiva, expressão corporal e artística.

    O objetivo deste trabalho é apresentar um relato de experiência da aplicação da dança, com embasamento no Ballet Clássico, nas aulas de Educação Física que compõem a grade curricular do período integral de uma escola municipal localizada num município do interior do estado de São Paulo.

    A meta do desenvolvimento deste projeto de dança é oportunizar aos alunos a vivência deste conteúdo da cultura corporal, explorar algumas manifestações rítmicas e expressivas de nosso país, bem como oferecer conhecimentos sobre suas origens e significados, além de trabalhar com ritmos presentes em atividades simples, como andar e pular corda.

    A metodologia empregada no presente trabalho é de natureza qualitativa e apresenta uma breve revisão bibliográfica sobre a história da dança e do Ballet Clássico, assim como a visão de alguns autores sobre a importância de aulas de dança na escola, em seguida o relato sobre o desenvolvimento do projeto de dança nas aulas de Educação Física para turmas do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, indicando seu desenvolvimento, bem como os pontos positivos e as dificuldades encontradas em sua implementação.

A dança e o ballet clássico

    Segundo Bambirra (1993), os mais antigos registros produzidos pelos homens, encontrados nas cavernas, tanto nas pinturas quanto nos desenhos talhados na própria pedra, mostram gestos e movimentos, provavelmente utilizados como passos de dança, para agradar ou acalmar os deuses, pedir chuvas, curar doenças, agradecer vitórias, celebrar alguma festa.

    O Ballet Clássico surge em conseqüência do desenvolvimento e transformação da dança primitiva, que se baseava no instinto, para uma dança formada de passos diferentes, de ligações, de gestos e figuras previamente elaboradas para um ou mais participantes (DI DONATO, 1994).

    Bambirra (1993) indica que teve origem no período histórico do Renascimento, no século XVI, na Corte de Médicis, em Paris e procedência da palavra italiana ballettos, atividade conhecida como uma arte das elites nas cortes italianas. Tamanha admiração pela dança levou a princesa italiana Catarina de Médici a introduzir esse tipo de espetáculo na corte francesa, quando se casou com o rei da França Henrique II, com grande sucesso, inicialmente refletindo gestos, movimentos e padrões típicos da época.

    Mais tarde, o Ballet Clássico atinge o auge de sua popularidade por meio do rei Luiz XIV, que como amante da dança tornou-se um grande bailarino e aos 12 anos dançou, pela primeira vez, no ballet da corte. Seu título “rei sol", vem do triunfante espetáculo que durou mais de 12 horas (BURNS, 1993). Este rei fundou em 1661, a Academia Real de Ballet e a Academia Real de Música e oito anos mais tarde, a escola Nacional de Ballet (SOARES, 1996).

    Malanga (1985) destaca que a partir de então, a evolução da técnica clássica norteou-se pela busca de leveza e agilidade na qual o bailarino procura o domínio do corpo, de seus músculos e movimentos, de modo a poder utilizá-lo de forma expressiva, sem estar preso a limitações naturais. A autora enfatiza que a técnica clássica possui certos princípios de postura e colocação do corpo, que devem ser mantidos em todos os movimentos, levando ao máximo as potencialidades de equilíbrio, agilidade e movimento harmônico, sendo este seu valor e permanência no tempo.

    No Brasil a história do ballet tem início praticamente em 1927, com a vinda da bailarina russa Maria Olenewa para o Rio de Janeiro. Neste mesmo ano ela fundou a Escola de Danças Clássicas do Teatro Municipal, que se tornou o principal centro de formação de bailarinos no país (FARO, 1989).

A dança na escola

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) indicam que os conteúdos da Educação Física no Ensino Fundamental, são divididos em três blocos: esportes, jogos, lutas e ginásticas; conhecimentos sobre o corpo; e atividades rítmicas e expressivas. É neste último bloco que a dança está inserida como um conteúdo a ser trabalhado na escola.

    Segundo Shimizu et al (2004), o primeiro passo para pensar na dança como um valoroso conteúdo educacional é tratá-la como um saber humano. Um saber produzido historicamente, que de acordo com Saviani (2003) deve ser assimilado pelos alunos como processo de sua própria produção e não somente enquanto resultado.

    Shimizu et al (2004) indicam que outra questão importante seria pensar na educação como saber sistematizado, onde a dança ocupa um lugar privilegiado em relação às outras artes, pois pode ser considerada como a primeira manifestação das emoções humanas.

    Segundo Achacar (1998) a necessidade de extravasar um sentimento fez o homem dançar, antes mesmo de utilizar a linguagem e a música, dançou com passos simples e místicos seus sentimentos, dançou para anunciar guerra e descobriu que poderia dançar também por prazer.

    De acordo com Gariba (2005) a dança possibilita a compreensão do corpo e a possibilidade de estabelecer múltiplas relações com outras áreas do conhecimento analisando, discutindo, refletindo e contextualizando seu papel na contemporaneidade. Passa a ser condição para quem trabalha com seres humanos, principalmente para quem trabalha com educação, em que a multiplicidade de corpos está presente nas salas de aula.

    Marques (2003) indica que em 1992 a dança passou a fazer parte do Regimento da Secretaria de Educação de São Paulo como linguagem artística diferenciada, em 1997 foi incluída nos Parâmetros Curriculares Nacionais e também cursos de nível superior têm se preocupado em incluir a dança em currículos de graduação e pós-graduação. Porém ainda há muito a ser feito.

    É importante ressaltar que apesar dos benefícios descritos, a prática da dança nas aulas de Educação Física ainda se realizam de forma restrita. Isto se dá de acordo com Vargas (2003) devido ao despreparo na formação dos profissionais.

    Uma pesquisa realizada por Pacheco (1999) objetivou investigar o ensino e a situação/papel da dança na Educação Física brasileira. Os resultados apresentados apontaram dentre os principais problemas enfrentados pelo ensino de dança por meio da Educação Física escolar, a falta de preparo e conhecimento dos professores de Educação Física ao desenvolverem o conteúdo dança na escola, a questão do preconceito e a dificuldade da participação masculina em atividades rítmicas e/ou dançantes.

    Se um dos problemas é a falta de “preparo” dos professores de Educação Física ao trabalharem com dança, é preciso ir à origem do problema, ou seja, a formação profissional. Foi concluído, na referida pesquisa, que a reduzida carga horária destinada ao estudo da dança não fornece conhecimentos e segurança necessários para o seu eficiente ensino.

    Em relação ao segundo problema, a autora afirma que ainda é grande o preconceito dos homens em relação à prática da dança.

    Marques (1997) também nos chama atenção para o forte preconceito em relação á dança, sendo um motivo, inclusive, para muitos professores darem outros nomes á suas atividades com a dança (expressão corporal, arte e criação, etc.) que em última instancia, mascaram suas intenções, e ao mesmo tempo permitem que um número maior de alunos tenha acesso a ela. E complementa que não são poucos os pais de alunos, e os próprios alunos, que ainda consideram a dança como coisa de mulher.

    Shimizu et al (2004) acrescentam que no Brasil, existe uma grande discriminação em relação ao gênero, pois a dança relaciona-se com o corpo, sentir, emocionar-se, intuir, ter prazer, características humanas muitas vezes inaceitáveis em uma sociedade machista como a nossa. E no processo criativo ainda é muito ligada a questão da efeminação, como por exemplo, no Ballet Clássico, consequentemente associado á graça, a leveza, e delicadeza.

Metodologia

    O presente trabalho é de natureza qualitativa e apresenta um relato de experiência. Um método qualitativo é uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social. Um estudo como este pode descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar processos dinâmicos vividos pelos grupos sociais envolvidos.

    Segundo Rampazzo (1998), a pesquisa qualitativa almeja uma compreensão particular daquilo que se estuda, sendo que a sua atenção é focalizada no específico, no peculiar, no individual, buscando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados. De acordo com o autor, a pesquisa qualitativa é considerada, basicamente descritiva, privilegiando algumas técnicas como a observação do participante, história ou relatos de vida, entrevista não diretiva, etc. Este tipo de pesquisa valoriza o ser humano, que não pode ser reduzido a “quantidade”, “número” ou “esquema generalizado”.

Contextualização da escola e da comunidade escolar

    A escola na qual o projeto de dança é desenvolvido localiza-se no Bairro do Cascalho, de característica rural, no município de Cordeirópolis-SP. O corpo discente no ano de 2008 correspondia a 127 alunos, sendo 39 da Educação Infantil e 88 do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, participantes do período integral.

    Os alunos do período integral (PI) participam à tarde de atividades como: aulas de dança, handebol, tênis de mesa, futebol, xadrez, recreação, pintura em tecido, reforço escolar, aulas complementares dos conteúdos desenvolvidos em sala de aula, aulas de italiano e projeto horta.

    A maioria das famílias que possuem crianças matriculadas nesta escola, apresenta uma renda média familiar compreendida de 1 a 3 salários mínimos.

    O nível médio de escolaridade dos pais é de quatro anos, sendo que 15% nunca freqüentaram a escola, 88% têm Ensino Fundamental incompleto, 10% completaram o Ensino Médio e apenas 2% tem Ensino Superior.

    Em decorrência deste contexto em que muitas famílias não têm condições de manter as crianças em atividades diversas no período em que não estão na escola, a oportunidade de aprender na própria escola, sem custo algum para os pais, favorece a aderência aos projetos oferecidos no período contrário das aulas, estimulando os alunos a permanecerem no período integral.

O desenvolvimento do projeto

    No ano de 2006, a escola Jorge Fernandes passou a funcionar em período integral. Em uma parte do dia os alunos têm aulas regulares e no período oposto desenvolvem atividades diversificadas.

    No decorrer deste ano letivo observou-se na escola o interesse das meninas pela dança, por meio da participação e dedicação das mesmas nas coreografias preparadas para comemorações festivas, como a festa junina, o desfile cívico e outras datas comemorativas.

    Com isso, a partir de 2007, passaram a ser oferecidas aulas de dança com princípios do Ballet Clássico. As aulas foram oferecidas para as meninas do 1º ano a 4ª série do Ensino Fundamental e para os meninos do 3º ano a 4ª série do PI. Contou-se com a participação de todas as meninas num total de 50 e de 9 meninos.

Tabela 1. Participação dos alunos nas aulas de dança em 2007

    Em 2008 participaram do projeto todos os meninos do 1º e 2º anos (12 no total); 7 meninos do 3º ano; 1 menino da 3ª série e 2 meninos da 4ª série. A participação de todas as meninas foi mantida, totalizando 46 e a participação dos meninos aumentou, totalizando 22.

Tabela 2. Participação dos alunos nas aulas de dança em 2008

    Os participantes foram divididos em quatro turmas, de acordo com a idade e número de alunos e cada uma tinha duas aulas por semana. Assim, havia uma turma do 1º ano, uma turma do 2º, uma turma com o 3º ano e 3ª série e a turma da 4ª série.

    Para todas as turmas as aulas eram iniciadas com um bate-papo sobre o conteúdo que seria desenvolvido e a seguir eram realizados exercícios de alongamento, flexibilidade e equilíbrio estático, que eram adaptados de acordo com a idade e capacidade dos alunos nos diferentes grupos.

    Nas aulas para as séries iniciais como 1º e 2º anos, as atividades eram recreativas e não visavam a técnica de passos mais elaborados do Ballet Clássico, apenas atividades/brincadeiras modificadas e adaptadas que trabalhassem com o andar na ponta dos pés, com os pés em en dehors (ponta dos pés voltadas para fora), postura, elevè, pliè, giros com e sem saltos, posição e movimentos dos braços, como ficar em quinta posição, primeira posição, ondinha, mãos na cintura.

    A partir do 3º ano os alunos seguiam uma apostila de Ballet Clássico, adaptada da academia “Dança e Companhia” da cidade de Cordeirópolis, baseada no Dicionário de Ballet, de Rosay e no livro Ballet Essencial, de Sampaio. Nestes dois anos os alunos aprenderam noções básicas e não chegaram a usar sapatilha de ponta.

    Em datas comemorativas, como carnaval, o trabalho foi voltado para as marchinhas e sambas enredo; na festa junina, para a quadrilha; no folclore, foi feita a dança do pau de fitas e no decorrer do ano foram desenvolvidas atividades com diferentes ritmos sugeridos pelos próprios alunos, como o forró, o hip-hop e o funk. No final do ano organizamos um festival de dança.

    Os alunos também foram incentivados a elaborar seqüências coreográficas, de acordo com suas capacidades.

    Nas aulas, de modo geral procurou-se sempre incluir cirandas, danças circulares, atividades rítmicas como pular corda, sons com o corpo e a utilização de materiais diversificados, além de atividades expressivas.

    No final da aula sempre havia um relaxamento, com massagem em dupla e individual, cantigas de ninar ou histórias.

Avanços e dificuldades

    Nas inscrições realizadas no início de 2007 para as aulas de dança, a previsão era da formação de duas turmas para as aulas de dança, mas surpreendentemente, como todas as meninas do 1º ano a 4ª série e alguns meninos se inscreveram, foi necessária a abertura de mais duas turmas.

    Algumas alunas que não iriam ficar no PI, acabaram tendo suas matriculas efetuadas pelas mães, quando estas souberam sobre as aulas de dança.

    No inicio não havia sala de dança para as aulas, que eram realizadas num galpão, mas alguns meses depois, uma sala de ginástica foi construída e a aulas passaram a acontecer nesta sala.

    As vestimentas adequadas para as aulas (sapatilhas e colant, fornecidos pela prefeitura municipal à escola) chegaram somente em setembro de 2007, mas as turmas não ficaram desanimadas. Antes da aquisição das vestimentas os alunos faziam as aulas descalços e com camiseta e bermuda do uniforme. Os meninos continuaram a utilizar o uniforme e passaram a usar apenas sapatilha.

    No ano de 2007, os meninos da 3ª e 4ª séries que participavam das aulas de dança, começaram a sofrer com o preconceito dos colegas de sala, que os chamavam de “mulherzinha” e “gay”. No entanto, eles não demonstravam estar muito incomodados com a atitude dos colegas. Os professores passaram a ficar mais atentos, chamando a atenção dos alunos para que tais atitudes não ocorressem. Até que na primeira reunião bimestral de pais, um pai pediu a atenção de todos na sala e comentou que o filho estava reclamando em casa sobre as piadas que ouvia dos amigos por participar das aulas de dança.

    Diante desta situação, a providencia tomada no dia seguinte, foi uma longa conversa com as duas classes e a sugestão de que os próprios alunos envolvidos tomassem a atitude de pedir desculpas. Foi quando todos os meninos decidiram participar das aulas de dança para mostrar que estavam arrependidos. Alguns ficaram apenas uma semana para se desculparem, outros gostaram e resolveram continuar.

    Em 2008 os meninos do 1º ano começaram a pedir para fazer as aulas. Pensou-se que fosse apenas por curiosidade, mas após as primeiras aulas eles demonstraram gosto e quiseram continuar. A pedido da direção da escola, com receio da atitude dos pais ao se certificarem que seus filhos estavam fazendo dança, foi feita uma reunião para esclarecer como eram as aulas e quais eram seus benefícios. O pai de um dos alunos inclusive relatou que estava observando melhora na postura corporal de seu filho.

    Assim, a dança passou a ser oferecida para todos os alunos de 1º ano a 4ª série e hoje já não existem mais manifestações de preconceito contra os meninos que participam destas aulas.

Considerações finais

    A dança é um conteúdo pouco desenvolvido nas escolas e consequentemente nas aulas de Educação Física, principalmente por causa da falta de preparo e conhecimento dos professores, pelo preconceito e dificuldade da participação masculina em atividades rítmicas.

    A falta de preparo para lidar com este conteúdo está relacionada à formação inicial dos professores de Educação Física, que não dá conta de preparar adequadamente o futuro docente para desenvolver aulas de dança na escola, consequentemente, o que se vê é que só se arriscam a trabalhar com este conteúdo os professores que tiveram experiências anteriores com a dança.

    Já a questão do preconceito reflete uma visão de sociedade, na qual, atividades relacionadas ao corpo, ao sentir, emocionar-se, com movimentos associados à graça, leveza e delicadeza são exclusivamente coisa de mulher.

    Entendemos que a escola, por meio da dança, possibilita outras formas de vivências corporais, buscando resgatar a sua historicidade e sua importância e é só por meio da vivência e compreensão do seu papel que estas questões de preconceito podem ser desmistificadas.

Verificou-se que o desenvolvimento de aulas de dança desde as séries iniciais, indica que com a vivência, os meninos adquirem um olhar diferente em relação a dança, o que contribuirá para que eles não cresçam com o preconceito de que dança é coisa exclusivamente de mulher.

    Hoje, com a vivencia que estão tendo com dança e o Ballet Clássico, as alunas e alunos que participam do projeto de dança relatado neste trabalho, apresentam mais autonomia quando têm que fazer apresentações, elaborar seqüências rítmicas e coreografias. Entre muitos benefícios, também foi possível observar a melhora no alongamento e na postura corporal das crianças que participam das aulas de dança, que já mudaram o habito de sentar de qualquer jeito na carteira, no chão e no modo de andar. Crianças muito tímidas, hoje já se expressam mais.

    O projeto foi aprovado pelos alunos e pela comunidade escolar, principalmente pelo fato de que muitas famílias não têm condições de manter as crianças em escolas de dança particulares e agora elas têm a oportunidade de aprender ballet na escola, sem custo algum.

    Este trabalho vem propor e mostrar que é possível trabalhar com a dança na escola incluindo meninos e meninas. A utilização deste conteúdo da cultura corporal pode contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos e para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade.

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