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Atividades de canoagem e alunos com deficiência mental

Actividades de canotaje y personas con deficiencia mental

 

*Professor de Educação Física. Especialista em Educação Especial

Especialista em Psicopedagogia. Mestre em Educação Especial

Doutorando em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, SP

**Professor de Educação Física

Especialização em Educação Especial – UNIGUAÇU/FAESI

Douglas Roberto Borella*

Everaldo Palinski**

douglasedufisica@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Sabe-se que nos últimos tempos as pessoas com deficiências estão conseguindo cada vez mais seu espaço na sociedade. Um desses espaços foi através do meio esportivo, como por exemplo, os jogos Paraolímpicos e os jogos Parapan-americanos. Desta maneira é que mostram suas capacidades e possibilidades esportivas, e a canoagem não deixa de estar nesse meio. Conhecer as diferenças entre as pessoas e ofertar oportunidades a todos é um ato de igualdade, assim como educador, família e todos os cidadãos devem oportunizar o desenvolvimento, como ser humano, e seus potências há serem descobertos, assim aprimorando, possibilitando ações dignas de vida em sociedade. Este estudo teve como objetivo avaliar um programa de ensino-aprendizagem da prática da canoagem com alunos com deficiência mental. Para atingir o objetivo do estudo utilizou-se de pré-teste e pós-teste para que pudesse averiguar a intervenção de atividades envolvendo a canoagem. Verificou-se que os participantes tiveram os resultados do pós teste este alterados ao comparar-se com o pré teste. Assim, podemos afirmar que os participantes aprenderam a realizar a prática da canoagem, é claro, dentro de suas possibilidades e particularidades.

          Unitermos: Canoagem. Pessoas com deficiências. Potencialidades

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    Observa-se que entre a população ainda existem desigualdades ao tratarmos das pessoas com deficiências. Porém, muitos já estão reconhecendo a importância da inclusão de todas as pessoas, como também as pessoas com deficiências estão conseguindo impor suas necessidades e seus direitos. Uma forma prática disto se fazer evidenciado é a busca de atividades físicas visando integração e inclusão como também melhoria na saúde e qualidade de vida de todas as pessoas.

    Conforme Nieman (1999), aponta que as pessoas que realizam atividades físicas têm mais disposição no seu dia a dia. Desta forma, as atividades possibilitam que “pessoas fisicamente treinadas apresentam outros fatores sob um bom controle. Além disso, o coração é mais forte, com um aumento do suprimento de sangue e de oxigênio e com as artérias que podem expandir-se melhor e soa mais larga e menos rígidas no envelhecimento”.

    Quando não se faz atividade física poderá ocorrer na pessoa uma redução das suas capacidades de rendimento. Devido esta circunstância a prática de atividade física ajuda no aumento da força muscular e também no aumento da capacidade de resistência nas atividades diárias, melhorando na disposição e no condicionamento físico.

    Dentre a seleção de atividades físicas, tem-se como exemplo a prática esportiva. O esporte traz diversão, interação social e benefícios para a saúde. Também as pessoas com deficiência estão conseguindo feitos muitos importantes nessa área, pois já existem eventos esportivos internacionalmente direcionados para eles, como por exemplos os Jogos Paraolímpicos e os Jogos Parapan-americanos.

    Como a canoagem vem demonstrando ótimas participações no cenário nacional e internacional e por ser um esporte olímpico, tem atraído várias pessoas a participar desta modalidade esportiva. Porém, sabe-se que há pouca participação de pessoas com deficiências nesta modalidade. Sendo assim, este estudo teve como objetivo avaliar um programa de ensino envolvendo atividades de canoagem com alunos com deficiência mental institucionalizados, como também, empregar a Canoagem como nova opção de atividade física para pessoas com deficiência mental.

Referencial teórico

    Cada vez em que a sociedade vai se modernizando, a inclusão vai ficando mais fácil de acontecer, pois as adaptações vão acontecendo conforme a necessidade do cidadão, pois isso requer que as condições sejam cada vez mais favoráveis a todos.

    Segundo Amaral e Delgado (2004, p. 22) “para que a sociedade seja mais justa, a educação, no futuro, tem que ser útil e muito eficaz em todas as áreas. Deve cultivar processos mentais que desenvolvam a capacidade para transferir o conhecimento a situações novas e que preparem o aluno para acompanhar mudanças, e até para promover uma conscientização em torno da sociedade”.

    Segundo Soler (2005, p. 13) “a inclusão é algo novo e desconhecido por isso não podemos afirmar nada, mas tentar de forma a colocá-la em prática, pois não existe outro caminho se não o da inclusão de todas as diferenças”.

    O que se pode notar é que a inclusão esta tomando caminhos cabíveis a pouco tempo, de forma geral, sendo trabalhadas e aplicadas em todos os lugares possíveis, na escola, no meio trabalhista, e na sociedade, e também na prática de atividades físicas, proporcionando habilidade a todos sem distinção.

    As pessoas que têm algum tipo de deficiência, de alguma forma, sempre têm mais dificuldade de se integrar na sociedade, devido ao preconceito que são impostas nelas, pois a sociedade não se encontra preparada para enfrentar igualmente todos os cidadãos.

    Nesse ponto de vista é importante que todos devem ser tratados de maneira igual, independente da condição que se encontra, para que na sociedade não haja discriminação, e nem rótulos, pois devemos tratar as pessoas como gostaríamos de sermos tratados.

    Para Soler (2005, p. 21) “não devemos criar impedimentos para as pessoas com deficiências, pelo contrário, devemos criar facilidades para que elas possam conviver com a diferença”. Todos têm que estar aptos a lidar com as diferenças, proporcionando com que todos tenham essas vivências, assim cada vez mais para que sejam valorizadas e respeitadas.

    O mesmo autor ainda complementa dizendo que as diferenças podem ser manifestadas positivamente através da prática de várias modalidades esportivas, enfatizar o processo e não o produto como forma de rendimento ou recordes, levando o esporte como uma função sócio cultural de todos em geral.

    O esporte faz com que as pessoas tenham a sua auto-imagem reforçada e, conseqüentemente, tenha também um aumento de sua auto-estima.

Canoagem como atividade física

    A história da canoagem está ligada a necessidade dos povos para locomover-se nos rios, lagoas e mares retirando desse modo o seu sustento para seu povoado. Devido a necessidade do homem em locomover-se no meio aquático nasceu algumas atividades físicas, como por exemplo, a natação e a canoagem.

    Segundo Costa (2005, p. 319) “a canoagem é uma atividade praticada em canoas, caiaques, podendo praticá-la em águas calmas ou agitadas. O esforço físico é concentrado nos braços e o ritmo impulsiona a embarcação sobre a água”.

    O caiaque e a canoa não são embarcações da era moderna. Desde as épocas mais antigas o homem utilizava distintas formas de barcos para navegar pelos rios, lagos e mares que, pouco a pouco, forma evoluindo (CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem, 1998, não paginado).

    Observa-se que desde os povos antigos e até nos dias atuais o uso do barco a remo é comum ao ser usado como meio de locomoção nos rios, lagoas e mares; assim as pessoas ao remar realizam uma atividade física.

    A canoagem como atividade física pode trazer vários benefícios para seus praticantes, como por exemplo, estar em pleno contato com a natureza, pois é praticada em ambientes abertos, ao ar livre, às aulas podem proporcionar uma maior conscientização da prevenção da natureza em geral.

    Segundo a Confederação Brasileira de Canoagem - CBCa (1998), a canoagem trás benefícios ligados a postura corporal, pois a postura das pessoas se altera constantemente, adequando-se e modelando-se a forma de viver e portanto aos caprichos dos hábitos do homem.

    Nas aulas de canoagem, através de um trabalho sistematizado e estruturado, pode-se ter um aluno com melhoras no desenvolvimento motor, controle do corpo, da respiração e da melhora do controle das emoções.

Metodologia

Participantes

    Os participantes do projeto foram alunos diagnosticados como deficientes mentais os quais freqüentam uma escola especializada em Educação Especial (APAE – Associação dos pais e amigos dos excepcionais) pertencentes a um município da região Oeste do Paraná/Brasil. Foram quatro participantes do sexo masculino, com idade entre 20 a 32 anos.

    Para o programa de ensino da canoagem as atividades foram realizadas no Balneário da Costa Oeste do Paraná.

Instrumentos para coleta de dados

    Foram utilizados como instrumento de coleta de dados fichário de pré-teste e pós-teste, relatórios e planos de aula. Os materiais utilizados para as aulas praticas foram: coletes, remo e caiaque. Para a coleta também utilizou-se de filmadora e máquina fotográfica digital.

Discussão dos dados

    Os aspectos avaliados, tanto no pré teste como no pós teste, tratou-se da realização das seguintes práticas da canoagem: 

  1. Entrada no caiaque; 

  2. Posicionamento; 

  3. Pegada no remo; 

  4. Remada uma vez com o braço direito e outra com o braço esquerdo para frente; 

  5. Remada uma vez com o braço direito e outra com o braço esquerdo para trás; 

  6. Remada com o braço direito; 

  7. Remada com o braço esquerdo; 

  8. Processo de parar o caiaque; 

  9. Determinar um ponto final; 

  10. Saída do caiaque.

    Cabe esclarecer que para o pré-teste e pós-teste os alunos foram classificados conforme realização de cada item. Os níveis de classificação do movimento foram os seguintes:

0 - Realização Imperfeita; 1 – Bom; 2 – Ótimo; e 3 – Excelente.

    O programa de atividades de canoagem foi realizado em 16 encontros, duas vezes por semana.

    Após avaliação do pós-teste, os item de entrada no caiaque, posicionamento e na pegada do remo, foram os que tiveram mais destaque, atingindo quase todos no nível de excelente, sendo que somente um dos alunos teve dificuldade. Nos demais itens todos ficaram respectivamente nos mesmos níveis, exceto um dos alunos que teve mais dificuldade em todos os itens.

    Na média geral, pôde-se observar que todos tiveram uma melhora significativa e que houve um destaque mais nos aspectos de entrada no caiaque, posicionamento e pegada no remo, que ficaram com um classificação excelente. Nos demais itens, todos ficaram na classificação ótima.

Considerações finais

    Na Região do Oeste do Paraná há condições geográficas privilegiadas em relação à disponibilidade das atividades náuticas, entre elas a canoagem, que desta maneira foi implantada a escola de canoagem com o objetivo de proporcionar atividade física para as pessoas.

    O objetivo das aulas de canoagem é a formação integral do cidadão, a socialização, o gosto pela prática de atividade física, além do mais, como didática no ensino aprendizagem, o direcionamento para o condicionamento físico, a postura, a respiração, as diversas formas de remar, força, resistência, e prazer de estar junto da natureza de uma forma saudável.

    Verificou-se que os participantes desta pesquisa obtiveram um bom resultado, sendo que os alunos conseguiram realizar os fundamentos da canoagem diferenciando os resultados ao compararmos o pré-teste do pós-teste.

    A aceitação da canoagem com uma nova atividade física foi muito bem aceita pelos participantes.

Referências bibliográficas

  • AMARAL, Lima Rodrigues do. Currículo na Escola Inclusiva; Produção contextualizada Maria Inês Amaral Delgado, Curitiba, IBPEX, 2004.

  • CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem. Curso global de canoagem. Entre Rios do Oeste, PR. 1998.

  • CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem. Curso global de canoagem. Londrina, PR. 2002.

  • COSTA, L. Atlas do esporte no Brasil: Atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro, RJ; Shape, 2005.

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  • GUEDES, D. P. Exercício físico na promoção da saúde. Londrima, PR. Midiograf, 1995.

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  • MATOS, G., NEIRA, M. G. Educação Física na adolescência: construindo o conhecimento na escola. São Paulo, SP. Phorte, 2000.

  • MOSQUEIRA, J. S. Psicologia do desporto. Porto Alegre, RS. Ec. Univ. UFRGS, 1984.

  • NAHAS, M. V. Atividade física, saúde, e qualidade de vida: conceitos e sugestões. Londrina: Midiograf, 2003.

  • ROSS, Paulo. Fundamentos Legais e Filosóficos da inclusão na Educação Especial. Curitiba; IBPEX. 2004.

  • SOLER, Reinaldo. Educação física inclusiva: em busca de uma escola plural, Rio de Janeiro; RJ. Sprint, 2005.

  • WILLIAMS, M. H. Nutrição para saúde, condicionamento físico e desempenho esportivo. São Paulo, SP. Manole, 2002.

  • ZILIOTTO, Gisele Sotta. Fundamentos Psicológicos e Biológicas das deficiências. Curitiba; IBPEX, 2004

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