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Relação de habilidades discreta e cíclica 

em uma tarefa de velocidade e precisão

 

Departamento de Educação Física – UFPR

(Brasil)

Celso Augusto Silveira | Carla Cristina Tagliari

Sidney Gonçalves | Iverson Ladewig

csilveira@sms.curitiba.pr.gov.br

 

 

 

Resumo

          Entre os princípios da aprendizagem motora, existe uma forte relação entre a velocidade de excussão do movimento e a precisão de sua execução, este princípio é explicado pela Lei de Fitss. Este estudo busca verificar a influencia desta lei na comparação de uma ação cíclica e de uma ação discreta, realizada com a utilização de um mouse de computador.

          Unitermos: Aprendizagem motora. Lei de Fitts. Velocidade e precisão. Habilidade discreta. Habilidade cíclica

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

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Introdução

    Dentre os diversos princípios e leis da aprendizagem motora, a relação entre a troca de velocidade e precisão, talvez seja o princípio de maior importância para o movimento humano. Esta relação é descrita como Lei de Fitss, caracterizada por ser uma lei de controle de movimento para tarefas rápidas que envolvem a habilidade de acertar um alvo. Esta lei afirma que o tempo de movimento (TM) está linearmente relacionado ao índice de dificuldade (ID) do movimento, levando em consideração a amplitude do movimento e a largura do alvo a ser atingido (SCHMIDT; WRISBERG, 2001, p. 168). Desta forma, quando são exigidos movimentos rápidos e precisos ocorre à troca entre velocidade e precisão. Isto quer dizer que quanto maior a exigência de precisão, mais lento será o movimento, da mesma maneira que quanto mais rápido for o movimento, mais ocorre o detrimento da precisão, de acordo com as exigências da tarefa.

    Nesta perspectiva diferentes estudos foram realizados com tarefas distintas, tais como acertar um alvo físico com a mão, movimentos de contato realizados com a cabeça e atingir um alvo em um monitor de computador por meio da utilização do mouse (TEIXEIRA, 2000). Pesquisas como a de Okazaki et al (2006), estudaram esta relação entre velocidade e precisão na execução do arremesso Jump no basquetebol, com doze atletas do sexo masculino com idade média de 23 anos. Os resultados apontaram que a relação oposta entre a velocidade e precisão ocorreu na realização do arremesso jump no basquetebol, à medida que a distância do arremesso aumentava, a precisão na execução do movimento diminuía. Teixeira (2000) em seu estudo também verificou a questão do antagonismo entre velocidade de movimento e a demanda de precisão da resposta na execução da habilidade de chute com potência. Os resultados apontaram que habilidades motoras complexas, que realizam o contato com um determinado alvo, também estão submetidas à lei de Fitts, ou seja, ao princípio de troca entre velocidade e precisão.

    Estudos como os citados acima, buscaram verificar a aplicabilidade da lei de Fitts em diferentes tarefas, porém não verificaram esta aplicabilidade em uma mesma tarefa realizada com parâmetros diferentes, sendo uma mesma tarefa, porém realizada de forma cíclica e discreta. Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito do tipo da tarefa (cíclica x discreta) no paradigma velocidade-precisão.

Metodologia

Participantes

    Para este estudo foi constituída uma amostra com 26 sujeitos adolescentes, 11 meninas e 15 meninos, alunos do primeiro ano do ensino médio de Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, Curitiba-Paraná, com idade média de 16,92 (±1,65). Nenhum dos participantes informou sobre qualquer problema ou limitação para a participação na pesquisa. Antes dos testes os sujeitos foram informados sobre os procedimentos de avaliação necessários para o estudo e entregaram os termos de consentimento para a participação assinados.

Instrumentos

    Para este estudo foi utilizado o “software” Fitts Discrete Aming Task v. 2.0 (Okasaki, 2007).exe original, desenvolvido para controle de tarefas de velocidade e precisão com o mouse do computador para controlar as tarefas deste estudo. O programa possibilita a utilização de vários índices de dificuldade para a execução da tarefa alem de informações como número de toques, tempo médio dos toques, toques certos e errados. O teste constitui em uma tentativa com 8 toques para a tarefa cíclica e 8 tentativas com 1 toque para a habilidade discreta, o teste foi realizado com todos os índices de dificuldade. Para aplicação do "software" foi utilizado um computador da marca Asus, com processador AMD 64 Athlon X2 Dual, 2,00 GHz, 1,00GH de Memória RAM.

Procedimentos

    Os alunos foram retirados individualmente da sala de aula e encaminhados até o local onde estava o computador. Sentados a frente do computador em posição confortável e com o mouse na mão dominante cada indivíduo foi acompanhado por dois avaliadores previamente treinados um deles era responsável para anotar os tempos e o segundo tinha a função de orientar sobre a execução da tarefa, e observar os erros.

    A tarefa a ser executada consistia em mover a seta do computador e clicar com o mouse em duas barras “alvo” paralelas, dispostas verticalmente no monitor, com os índices de dificuldade controlados pelos avaliadores.

    Todos os sujeitos realizaram tarefas em condições cíclicas e discretas em 12 situações diferentes e em graus de dificuldades, que variavam de 1 até 6 em função da espessura e da distância dos alvos (tabela 1).

Tabela 1. Descrição da espessura, distância do alvo e índices de dificuldade

Espessura

do Alvo (cm)

Distância do

Alvo (polegadas)

Índice de

Dificuldade

2

2

1

2

4

2

1

2

2

1

4

3

2

8

3

1./2.

2

3

1./2.

4

4

1./4.

2

4

1

8

4

1./2.

8

5

1./4.

4

5

1./4.

8

6

    Na tarefa discreta o indivíduo deveria realizar apenas um toque de um alvo a outro, em uma bateria com oito repetições certas a cada índice de dificuldade e para os procedimentos estatísticos seria utilizado o tempo médio dos toques de cada bateria. Na tarefa cíclica o individuo deveria realizar um total de oito toques indo de um alvo a outro, com apenas uma tentativa a cada índice de dificuldade. A seqüência dos índices de dificuldades foi fornecida de forma aleatória.

    Foram anotados apenas os resultados das tentativas onde não houve erro, sendo que a cada tentativa errada os sujeitos iniciavam novamente a tarefa.

Análise estatística

    Para análise estatística, foi utilizada uma analise descritiva, das médias dos tempos em cada índice de dificuldade, seguidos do índice de regressão linear, para uma demonstração das tarefas cíclicas e discretas.

Resultados

    Para melhor compreensão e objetivando responder ao objetivo do presente estudo, os resultados foram divididos em três momentos, o primeiro para os resultados da tarefa em condições discreta, no segundo momento em condições cíclicas e no terceiro uma comparação entre ambas as tarefas.

    Os dados foram analisados com a utilização do programa Excel, apresentando média, desvio padrão e análise de regressão simples (TM x ID). Para a análise da tarefa discreta foi utilizada a média dos tempos do grupo para cada índice de dificuldade (tabela 2).

Tabela 2. Índices de dificuldade e tempo de execução do movimento para habilidade discreta.

Dificuldade

1

2

3

4

5

6

Discreto

0,28

0,37

0,49

0,60

0,70

0,81

    Os resultados demonstram que com o aumento dos índices de dificuldade os tempos dos movimentos para a produção da ação também aumentaram (gráfico 1).

Gráfico 1. Regressão linear para a habilidade discreta

    Os resultados para a análise da ação cíclica resultaram das médias do grupo para cada índice de dificuldade (tabela 3).

Tabela 3. Índices de dificuldade e tempo de execução do movimento para habilidade cíclica

Dificuldade

1

2

3

4

5

6

Cíclica

0,3675

0,442154

0,546603

0,646514

0,75299

0,963115

    Da mesma forma apresentam o aumento do tempo para a execução da tarefa junto com o aumento do grau de dificuldade (Gráfico 2):

Gráfico 2. Regressão linear para a habilidade cíclica

    Comparando os resultados de ambas as tarefas observamos que as ações contínuas necessitam de uma demanda maior de tempo para a execução da tarefa em comparação com as discretas, nos mesmos índices de dificuldade (Gráfico 3):

Gráfico 3. Comparação das médias de execução das habilidades discreta e contínua

Discussão

    Através deste estudo foi possível observar que tanto para habilidades cíclicas quanto para habilidades discretas semelhantes, neste caso uma tarefa de velocidade e precisão, é clara a relação com a Lei de Fitts (SCHMIDT; WRISBERG, 2001; MAGILL, 2002). Sendo que com um aumento da dificuldade da ação, ocorre também um acréscimo para a velocidade de execução do movimento, de acordo com (RESUMO 4) que apresenta haver um crescimento linear do TM com o aumento do ID. Quando maior atenção é dada a velocidade do movimento a precisão é reduzida, da mesma forma, quando se enfatiza a precisão a velocidade passa a ser comprometida (MAGILL, 2002). Complementando, Teixeira (2000), explana que aumentando o índice de dificuldade, por meio da diminuição do tamanho do alvo, aumenta-se a demanda de processamento de feedback devido a restrição espacial imposta pela tarefa, conseqüentemente o tempo de movimento se eleva em virtude do maior número de ajustes necessários para se chegar ao sucesso na realização da tarefa.

    Esta relação entre velocidade e precisão está relacionada com os processos de circuito aberto e fechado durante a execução de uma determinada ação (MAGILL, 2002). Observa-se uma necessidade maior de tempo para realização de uma tarefa cíclica em comparação com uma ação discreta nos mesmos índices de dificuldade, esta diferença de tempo pode ocorrer pela utilização do feedback nas ações cíclicas, já que requerem atualizações constantes dos movimentos para manter a precisão do movimento. Ou seja, por se tratar de uma atividade de circuito aberto o indivíduo faz a utilização constante de feedback para realizar possíveis correções durante a execução do movimento (MAGILL, 2002). Através do feedback, e levando em consideração o seu processamento, o individuo opta por mudanças a serem realizadas na próxima ação, objetivando a melhora do desempenho e aumentando o tempo de movimento (TANI, 2005). Outra explicação pode estar relacionada ao ruído neural, que é produzido pelo aumento do nível de ativação do sistema nervoso central, sendo responsável por instabilidades no sistema de controle humano (TEIXEIRA, 2000). Além de despender um tempo maior durante os contatos com os alvos (MAGILL, 2002).

    Já nas ações discretas podem-se observar menores valores de tempo de movimento em função de se tratar de uma ação de circuito fechado, na qual não se consegue utilizar o feedback para corrigir as ações durante o movimento e ainda por não sofrer a ação do contato com o alvo continuamente (MAGILL 2002; SCHMIDT; WRISBERG 2001). Em movimentos rápidos, o controle momento a momento faz parte de uma pré-organização do programa e independem dos estágios de processamento da informação, relativamente lentos, utilizado durante o controle de circuito fechado. Assume-se também que em atividades que utilizam o controle mediante o circuito fechado os executantes iniciam movimentos rápidos "de uma maneira tudo ou nada", o que gera menor tempo de movimento, podendo desta forma explicar valores menores em relação às ações cíclicas (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

Conclusão

    Levando em consideração o paradigma velocidade e precisão, ambas as tarefas, cíclica e discreta, sofreram os efeitos deste paradigma. Os resultados apontaram que ao se aumentar o índice de dificuldade da tarefa o tempo de execução do movimento aumenta linearmente. Desta forma, os valores obtidos neste estudo estão corroborando para a lei de Fitss.

Referências

  • MAGILL, R. A. Aprendizagem motora, conceitos e aplicações. São Paulo: Ed. Edgard Blucher Ltda, 2002.

  • OKAZAKI, V. H. A.; OKAZAKI, F. H. A.; LADEWIG, I.; LOPES, R. F. L.; KELLER, B. O efeito do aumento da distância na coordenação do arremesso de jump no basquetebol e a relação velocidade-precisão. EFDeportes.com, Revista Digital - Buenos Aires - Ano 11 - N° 97 - Junho de 2006. http://www.efdeportes.com/efd97/jump.htm

  • SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2ª edição, Porto Alegre: Artmed, 2001.

  • TANI, G.; MEIRA JR., C.M.; GOMES, F. R. F.; Freqüência, precisão e localização temporal de conhecimento de resultados e o processo adaptativo na aquisição de uma habilidade motora de controle da força manual. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol.5, nº1, p.59-68, 2005.

  • TEIXEIRA, L. A. Sobre a generalidade de estratégias de controle sensório-motor. Revista Paulista de Educação Física, supl.3, p.89-96, 2000.

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