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Perfil motor de escolares obesos

 

*Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina

Doutor em Medicina da Educação Física e do Esporte

**Fisioterapeuta e Mestranda

(Brasil)

Karla Oliveira de Brum*

karlabrum@terra.com.br

Francisco Rosa Neto**

franciscorosaneto@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo procurou avaliar o desenvolvimento motor das crianças com obesidade das séries iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Dehon de Tubarão-SC. Esta pesquisa foi considerada do tipo descritiva diagnóstica. A população compreendeu os alunos matriculados no ensino fundamental do Colégio Dehon – Tubarão, de ambos os sexos, nos turnos matutino e vespertino, com idades entre 4 e 10 anos. Para a amostra foram selecionadas 25 crianças a partir do Índice de Massa Corporal (IMC), que os caracterizava como obesos (percentil entre 90 – 95%). Para a avaliação do desenvolvimento motor, foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor “EDM” (ROSA NETO, 2002). No tratamento dos dados utilizou-se o Software Epi-Info 6.0 através da estatística descritiva. Os resultados demonstraram que um grupo maior de crianças obesas apresentou perfil motor classificado como “normal baixo” (40%), enquanto que (12%) dos escolares apresentaram classificação “muito inferior”. O desenvolvimento motor do grupo geral foi classificado em “normal baixo”, sendo que as áreas que apresentaram maior deficiência foram o equilíbrio, a organização temporal e o esquema corporal. Esses achados supõem uma estreita relação entre as dificuldades motoras e as alterações do aspecto corporal atribuídos à obesidade.

          Palavras chave: Obesidade infantil. Desenvolvimento motor. Crianças

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

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Introdução

    As tendências de transição nutricional ocorridas neste século direcionam para uma dieta mais ocidentalizada, a qual, aliada à diminuição progressiva da atividade física, converge para o aumento no número de casos de obesidade em todo o mundo e nas diversas faixas etárias.

    Um contexto cercado por escassez de movimentação infantil; menor envolvimento dos pais com os seus filhos; consumo de alimentação rica em gorduras; diminuição do tempo de brinquedo fora de casa em conseqüência do aumento da violência nas grandes cidades; e a crescente rotina de assistir à televisão e ficar ao computador, pode transformar as crianças em pequenos obesos, contribuindo para caracterizar a obesidade infantil como uma verdadeira epidemia mundial (BERLEZE et al, 2007).

    Dessa forma a idade escolar, compreendida entre 4 e 10 anos, é um período de intensas alterações estruturais na criança. Logo, a preocupação com a obesidade infantil vem aumentando significativamente nos últimos anos devido a um elevado acréscimo de crianças obesas que, em conseqüência da patologia da nutrição, poderão desenvolver aumento do risco de doenças coronarianas, aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e, além de seqüelas fisiológicas, também podem desenvolver alterações no desenvolvimento motor em comparação com as crianças de peso ideal. Esse atraso no desenvolvimento motor pode ocorrer em conseqüência da reduzida atividade motora e falta de interesse pelo exercício físico, uma das características mais freqüentemente encontradas nas crianças com obesidade infantil. É em conseqüência dessa alteração motora que este estudo tem o objetivo de avaliar o desenvolvimento motor das crianças com obesidade na faixa etária de 4 a 10 anos pertencentes às séries iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Dehon de Tubarão/SC.

Método

    Esta pesquisa foi considerada do tipo descritiva diagnóstica. A população compreendeu os alunos matriculados no ensino fundamental do Colégio Dehon – Tubarão, de ambos os sexos, nos turnos matutino e vespertino, com idades entre 4 e 10 anos. A amostra foi selecionada de acordo com os critérios de inclusão da Desesade Control and Prevention, (CDC, 2000), onde era necessária a criança apresentar valores correspondentes entre os percentis 90-97, sendo a amostra composta por 25 crianças (18 do sexo masculino e 7 do sexo feminino. Para a avaliação do desenvolvimento motor, foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor “EDM” (ROSA NETO, 2002). As variáveis analisadas foram: Idade Cronológica (IC); Idade Motora Geral (IMG); Motricidade Fina (IM1); Motricidade Global (IM2); Equilíbrio (IM3); Esquema Corporal (IM4); Organização Espacial (IM5); Organização Temporal (IM6); Quociente motor Geral (QMG); Motricidade Fina (QM1); Motricidade Global (QM2) Equilíbrio (QM3); Esquema Corporal (QM4); Organização Espacial (QM5); Organização Temporal (QM6). No tratamento dos dados utilizou-se o Software Epi-Info 6.0 através da estatística descritiva.

Resultados

    Foi verificada uma discrepância entre a média da idade cronológica e a média da idade motora geral (IMG) do grupo em 21,7 meses, que conforme a Escala de Desenvolvimento Motor “EDM” não é relevante. O índice do quociente motor geral (QMG) obtido foi 80,1 indicando um parâmetro motor “normal baixo”. As maiores dificuldades foram observadas no equilíbrio, na organização temporal e no esquema corporal.

    Classificação na Escala: normal médio (12%); normal baixo (40%); inferior (36%); muito inferior (12%).

Gráfico 1. Índice de Idade Cronológica e Idade Motora Geral de diferentes estudos

    No gráfico 1, “A” representa a população estudada; “B” representa um estudo realizado por Rosa Neto (1996) com 71 crianças de 3 a 11 anos com transtorno da aprendizagem; “C” é um estudo de Rosa Neto (1996) com 141 escolares de 3 a 10 anos matriculados no Ensino Fundamental; e “D” é um estudo desenvolvido por Lineburguer (2002) com um grupo de 27 crianças asmáticas na faixa etária de 3 a 11 anos.

Discussão

    A habilidade motora específica que evidenciou um maior atraso, comparada a idade cronológica, foi o equilíbrio. Viunisk (1999), enfatiza que, crianças com excesso de peso corporal costumam apresentar pés planos e alterações nas curvaturas dos joelhos, pernas e tornozelos, levando a um deslocamento do centro da gravidade e a deficiência no equilíbrio. Os desvios de coluna, como escoliose, cifose e lordose são mais freqüentes em obesos do que em eutróficos.

    A organização temporal também apresentou atraso e, conforme Fiates (2001), esta habilidade é muito importante no desenvolvimento da criança, pois uma criança bem ajustada temporariamente é uma criança dotada de gestos harmônicos e ritmados, capaz de orientar-se no tempo e no espaço. Por outro lado, a criança com distúrbio na percepção temporal apresenta dificuldades para organizar-se em função do tempo e na ordenação e seqüencialização dos fatos.

    Outra habilidade em que as crianças com obesidade apresentaram dificuldade foi o esquema corporal. Segundo Viunisk (1999), a obesidade desloca o centro da gravidade, provoca alterações ortopédicas levando a deficiência no equilíbrio e, conseqüentemente, a alterações no esquema corporal. Portanto, o resultado da presente pesquisa com relação às áreas com mais dificuldades apresentadas por essas crianças confirma a literatura.

    Quanto ao perfil motor das crianças obesas por sexo, o sexo masculino classificou-se como “normal baixo”. Diferentemente do sexo masculino, o sexo feminino apresentou um padrão “inferior”, evidenciando que mais especificamente as meninas, realizam brincadeiras com menos gasto calórico que os meninos, além de possuírem um percentual de gordura superior ao sexo masculino, reduzindo assim, o aprimoramento das habilidades motoras específicas.

    De acordo com o gráfico 1, os escolares do presente estudo apresentaram idade cronológica superior a idade motora geral. Entretanto, os escolares do ensino fundamental (ROSA NETO, 1996) e os escolares asmáticos (LINEBURGUER, 2002) apresentaram idade cronológica semelhante a idade motora geral. Os escolares com transtornos de aprendizagem (ROSA NETO, 1996) mostraram atraso no desenvolvimento motor. Referente ao quociente motor dos mesmos estudos referenciados, os índices do quociente motor geral da amostra do presente estudo e da amostra de escolares com transtornos de aprendizagem (ROSA NETO, 1996), foram respectivamente 80,1 e 84,7 caracterizando um parâmetro motor “normal baixo”. Os escolares do ensino fundamental (ROSA NETO, 1996) e os escolares com asma apresentaram índice do quociente motor geral de 103,5 e 93,8 respectivamente, caracterizando padrão motor “normal médio”.

Considerações finais

    Os resultados do desenvolvimento motor dos escolares do presente estudo supõem uma estreita relação entre as dificuldades motoras e as alterações do aspecto corporal atribuídos à obesidade.

Referências bibliográficas

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  • WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Prevention and management of global epidemic of obesity. Geneva: WHO, 1998. Report of the WHO Consulting on Obesity.

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