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Efeitos de um programa de ginástica laboral sobre 

os níveis de fadiga em trabalhadores de confecção

Efectos de um programa de gimnasia laboral sobre los niveles de fatiga en trabajadores de la industria textil

 

*Mestranda em Ciências da Saúde, UNB

**Prof. do Curso de Educação Física da UNIEURO, Brasília

Prof. do Curso de Fisioterapia da UNIP, Brasília

Prof. Colaborador do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde - UnB.

Diretor General do Instituto Latino-Americano de Atividade Física Terapêutica (ILAFiT)

***Mestre pela FMUSP. Departamento Fisiopatologia Experimental

Msda. Cynara Cristina Domingues Alves Pereira*

Dr. Ramón Fabian Alonso López**

Ms. Valquíria Aparecida de Lima***

aft200153@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este estudo propôs-se a avaliar os efeitos de um programa de ginástica laboral sobre a fadiga, uma das principais sintomatologias das LER/DORT. Os objetivos foram verificar quantitativamente a percepção de fadiga pré e pós a intervenção e comparar as fases pré e pós intervenção dos grupos experimental e controle em relação aos itens de fadiga. O instrumento utilizado foi o Questionário Bipolar de Fadiga (Couto, 1995). Os planos de aula tiveram duração de 15 minutos, compostos por exercícios de alongamento (40%), resistência muscular localizada (40%), relaxamento, técnicas de massagem e auto-massagem (10%) e dinâmicas de grupo (10%). Foram realizadas 120 aulas, 5 vezes por semana sendo aplicados 2 vezes por turno, durante 3 meses. A população alvo deste estudo foi composta por trabalhadores da indústria de confecção, com produção de artigo de roupa esporte, pertencentes a uma empresa de capital privado, localizada na cidade de Patos de Minas, no estado de Minas Gerais. A amostra total foi de 61 sujeitos sendo 44 pertencentes ao grupo experimental 28,7±8,8 anos (18-61 anos) e 17 pertencentes ao grupo controle 27,8 ±7,4 anos (20-43 anos), escolhidos aleatoriamente, que preenchiam os critérios de inclusão. Os resultados encontrados demonstraram que pós- intervenção de PGL o grupo experimental apresentou redução nos níveis de fadiga sendo estatisticamente significativa para os itens: cansado, dor na cervical, dor nas costas, dor nos braços e dor na perna e um aumento estatisticamente significativo no item nervosismo. No grupo controle não houve redução em nenhum dos níveis que foram avaliados e sim um aumento estatisticamente significativo no item dor cervical. Portanto conclui-se que neste estudo o PGL exerceu influência positiva na redução de fadiga dos trabalhadores.

          Unitermos: Ginástica laboral. Níveis de fadiga. Trabalhadores de confecção

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

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Introdução

    As LER/DORT (Lesões por Esforços Repetidos / Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho) são doenças do trabalho "adquirida ou desencadeada em função das condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente" (Brasil, 2001). Estas doenças trouxeram á sociedade, a necessidade de conhecê-las por sua importância no cenário nacional e mundial por causar prejuízos sociais e econômicos. Devida a sua representatividade entre as doenças do trabalho atualmente são alvo de muitos estudiosos.

    A categoria têxtil-confecção principalmente no setor de costura, foco deste estudo tem em sua essência uma organização de trabalho que oferece riscos a saúde dos trabalhadores. A operação de máquinas de costura requer o uso repetitivo e coordenado do tronco, extremidades superiores e inferiores das operárias que trabalham em postura sentada prolongada (Nag et al, 1992). O reflexo deste quadro é um alto índice de doenças nesta população, resultando em desencadeamento de doenças do trabalho, o que caracteriza um ônus previdenciário para a sociedade (Barreto, 2000).

    Comumente um dos riscos encontrados no setor de costura é posição de trabalho geralmente sentada em cadeiras não ergonômicas e com a postura incorreta durante toda a jornada o que gera dor e fadiga muscular (Ambriose & Queiroz, 2004).

    Estudos evidenciam que os esforços e posturas contraídas estáticas têm sido associados as algias, fadiga e distúrbios musculares. Mesmo em situações de baixas cargas, como aquelas sobre os ombros, na atividade em frente a um terminal de vídeo, a postura estática pode levar à dor e lesão (Ranney, 2000). Assim a dor e a fadiga são importantes manifestações da inadequação das estruturas corporais as exigências do trabalho e relevantes sintomas de caracterização dos DORT (Natarém & Elío, 2004).

    Pelo dano causado a qualidade de vida e por sua prevalência em muitas populações, a fadiga tem sido incluída como variável em vários estudos (Mota, 2005).

    Tratando especificamente da população trabalhadora a fadiga é um assunto pertinente, pois é característica de alguns tipos de trabalho como os que ocorrem problemas interpessoais, monotonia, falta de motivação para trabalhar, a sobrecarga de tarefas, o aumento de informatização, novos processos industriais e que ainda muitas vezes levam às pessoas a permanecerem por longos períodos em posições quase estáticas frente aos postos de trabalho, desempenhando tarefas mecânicas e repetitivas. Estes tipos de trabalho no decorrer do tempo podem ocasionar desconforto e malefícios à saúde, causando a fadiga (Grandjean, 1998; Itiro Iida, 2005; Couto, 1998).

    Segundo Itiro Iida (2005), a fadiga pode ser considerada como o resultado dos excessos de ações realizadas no trabalho, reduzindo a capacidade de produzir a energia suficiente para permanecer na atividade laborativa. O conjunto complexo de fatores fisiológicos e psicológicos pode ainda estar relacionado ao ambiente de trabalho como, a iluminação, ruídos e temperaturas, cujos efeitos são cumulativos prejudicando a saúde.

    Para Natarém & Elío (2004), estudos na área dos desencadeadores de fadiga demonstram que existe uma clara associação epidemiológica e estadística entre as exigências ergonômicas e os transtornos musculoesqueléticos e a fatiga.

    Corroborando com os autores citados acima, Barreto (2000) coloca que “a fadiga é um estado de desequilíbrio gerado pelo ambiente de trabalho, ocasionando sintomas subjetivos – sensação de cansaço – e objetivos – alterações fisiológicas”. Para Faria Junior (1990) “os sintomas subjetivos da fadiga vão desde uma ligeira sensação de cansaço até a total exaustão” e a subjetividade deste sintoma requer uma atenção e um cuidado ao diagnosticá-lo.

    Mota (2005) complementa relatando que a fadiga tem uma origem multicausal cuja expressão envolve aspectos físicos, cognitivos e emocionais e depende de auto-relato para ser identificada.

    Quanto à identificação da fadiga os seus instrumentos se apresentam com dificuldade de interpretação e aferição o que se torna complexo, porque são utilizados para nomear um estado global de resultantes do desequilíbrio interno devido ao sistema de relações do organismo (Marziali & Pilatti, 2005). Apesar desta dificuldade de identificação é importante aferí-la, pois para Ranney (2000), “a percepção da fadiga é um mecanismo muito útil para a proteção dos músculos contra a sobrecarga.”

    Observa-se que ainda existem dois níveis de fadiga simultânea: físico, mental e psíquica, pois em todo trabalho tem-se a todo instante exigências orgânicas, de inteligência e de aspecto afetivo do trabalhador (Cañete, 1996).

    A palavra fadiga, de maneira geral, refere-se à diminuição da capacidade para o trabalho e à perda de motivação para qualquer atividade (Grandjean, 1998; Astrand et al., 2004; Kroemer e Grandjean, 2007).

    Para amenização deste problema as pausas no trabalho são necessárias (Martins, 2008). Itiro Iida (1990) relata que a pausa pode ser aplicada no local de trabalho com a finalidade de recuperação da fadiga.

    As pausas para a recuperação orgânica são classificadas em pausa passiva e pausa ativa (Maciel, 2007 Apud Couto, 1996; Faria Junior, 1990).

    No ambiente de trabalho a pausa passiva é caracterizada quando o trabalhador interrompe suas atividades laborais e simplesmente descansa, sem acelerar a metabolização e/ou a excreção dos resíduos metabólicos; a pausa ativa representa um “repouso ativo” que ocorre com a utilização de exercícios físicos ativando a circulação sanguínea, diminuindo a concentração do ácido lático, promovendo reequilíbrio metabólico, na melhoria da oxigenação dos tecidos, na eliminação de substratos, na ativação de outras estruturas osteomusculoligamentares (alongamento e relaxamento das fibras musculares, melhora da viscosidade e lubrificação dos tendões) dentre outros aspectos importantes para a compensação psicofisiológica, como o relaxamento psicológico, diminuição da tensão/estresse, melhora do inter-relacionamento pessoal (Couto, 1998).

    Uma forma de promover a pausa ativa no trabalho é por meio da ginástica laboral (GL). “Sabe-se que a GL no início do trabalho pode prevenir a fadiga por tensão cognitiva, tornando o indivíduo mais desperto e atento às necessidades de sua função” (Couto, 1995).

    Metzer & Fischer (2001) apresentam em seu trabalho cujo objetivo foi analisar as variáveis que interferem na percepção de fadiga e na capacidade para o trabalho em trabalhadores de indústria têxtil que executam suas atividades em turnos fixos diurnos e noturnos, os resultados de que os fatores que influenciaram a percepção de fadiga associam-se a estilos de vida destes e que a prática de exercício físico é entendida como um fator protetor.

    Segundo Lima (2007) a GL contribui para redução da sensação de cansaço e de fadiga. Na fadiga visual os trabalhadores em atividades que demandam fixação do globo ocular por longos períodos, como trabalhadores de linha de produção e controle de qualidade, são beneficiados pela pausa ativa proporcionada pela GL, na fadiga corporal, a pausa para a realização dos exercícios interrompe a rotina de movimentos repetitivos ou com sobrecarga física e postural e na fadiga mental a GL promove mudança na monotonia do ambiente de trabalho, fazendo o trabalhador “desligar-se” momentaneamente das preocupações, pressões e problemas do dia-a-dia.

    Assim este estudo propôs-se a avaliar os efeitos de um programa de ginástica laboral (PGL) sobre a fadiga, uma das principais sintomatologias das LER/DORT.

Material e métodos

    O estudo prospectivo constituiu-se de um grupo de trabalhadores de confecção que recebeu a intervenção de um programa de ginástica laboral e por outro grupo de trabalhadores da mesma confecção que não recebeu a intervenção. Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Brasília.

    A amostra foi composta por trabalhadores pertencentes a uma empresa do setor fabril de confecção, de capital privado, localizada na cidade de Patos de Minas, do estado de Minas Gerais. O critério de escolha da empresa foi que seus trabalhadores nunca tivessem participado de um programa de ginástica laboral.

    Para a pesquisa foram convidados a participar os trabalhadores do setor de produção (costura) e acabamento (arremate), um total de 90 trabalhadores. Destes, 88 aceitaram o convite. Totalizando 44 sujeitos pertencentes ao grupo que receberam a intervenção e 44 sujeitos pertencentes ao grupo controle.

    No decorrer da pesquisa 27 sujeitos pertencentes ao grupo controle foram excluídos da pesquisa por estarem participando das atividades aplicadas no PGL. Assim a amostra total desta pesquisa foi de 61 trabalhadores, sendo 44 do grupo intervenção e 17 do grupo controle que participaram de todas as fases do estudo. Todos os trabalhadores foram submetidos aos critérios de inclusão e exclusão e concordaram em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

    O prazo total da pesquisa para a realização da intervenção e coleta de dados pré e após a intervenção do PGL desta pesquisa, foi de 3 meses e 5 dias, contados a partir da data da palestra até a reavaliação pós- programa de ginástica laboral. Do dia 15/09/2008 a 24/12/2008.

    O estudo foi divido em 4 etapas:

  • Etapa 1 – 1 dia (4 hs)

    • Palestra sobre promoção da saúde, sessão de ginástica laboral, convite para participação da pesquisa e assinatura do consentimento livre e esclarecido.

  • Etapa 2 – 2 dias (16 hs)

    • Coleta de dados pré- intervenção da amostra intervenção e controle.

  • Etapa 3 – 3 meses

    • Intervenção do programa de ginástica laboral para os integrantes da amostra intervenção.

  • Etapa 4 – 2 dias (16 hs)

    • Coleta de dados pós- intervenção da amostra intervenção e controle.

    A intervenção foi realizada por meio de aulas práticas contidas no programa de ginástica laboral. Cada aula teve duração aproximada de 10 minutos, foram aplicadas no próprio local de trabalho, 2 vezes por turno, as 9h e as 15h, 5 vezes por semana. Totalizando 120 aulas ministradas em dias úteis.

    Os planos de aula foram elaborados e apresentados de forma lúdica, compostos por exercícios de alongamento (40%), resistência muscular localizada (40%), relaxamento, técnicas de massagem, auto-massagem (10%) e dinâmicas de grupo (10%), direcionados aos grupos musculares mais requisitados pelo tipo de tarefa executada no setor de confecção e por distribuição de dicas sobre saúde, através de conversas informais durante a aula de ginástica laboral.

    Foram coletados os níveis de fadiga bem como as alterações destes níveis, pré e pós-intervenção do PGL por meio do Questionário Bipolar de Fadiga (Couto, 1995).

    As variáveis quantitativas foram apresentadas nas formas de média aritmética e desvio-padrão. Para observar se existem diferenças significativas foi utilizado o teste Wilcoxon para intra-grupo e o teste U Mann-Whitney para intergrupos, já que as variáveis foram consideradas não paramétricas.

    Os dados foram tabulados com a utilização do programa Excel da Microsoft Office, versão 2000 e o programa Statistics Package Social Sciences – SPSS versão 10.0, foi utilizado para os cálculos.

Resultados

    Na Tabela 1 encontram-se descritos e comparados os valores de média e desvio padrão do teste bipolar de fadiga e indicadores (pré X pós) de indivíduos do grupo controle. Ao comparar os indicadores de fadiga observa-se redução nos itens concentração (- 18,2%), cansaço (-12,0%) e dor nos braços (-7,7%), aumento na dor cervical (72,7%) e não variação na dor na cabeça (0%) e dor nas pernas (0%). Apesar das diferenças encontradas, notamos que para o grupo controle, não houve redução estatisticamente significativa para nenhum dos indicadores de fadiga e sim um aumento estatisticamente significativo na média da dor na cervical.

Tabela 1. Resultados quantitativos comparativos (pré x pós) do grupo controle segundo os indicadores de fadiga

Variáveis de Fadiga

Grupo Controle

 

 

 

Pré

Pós

 

 

 

X±SD

X±SD

Wilcoxon

*p

Δ%

Produtividade

0,5±1,0

0,9±0,8

-1,231

0,218

80,0

Cansaço Visual

1,0±1,2

1,6±1,5

-1,705

0,088

60,0

Nervosismo

0,3±0,4

0,6±1,1

-0,863

0,388

100,0

Concentração

1,1±1,5

0,9±1,0

-0,052

0,959

-18,2

Cansaço

2,5±1,4

2,2±1,6

-0,480

0,631

-12,0

Dor na cabeça

0,6±1,6

0,6±1,0

-0,282

0,778

0

Dor na cervical

1,1±1,5

1,9±1,6

-2,059

0,040*

72,7

Dor lombar

0,9±1,4

1,6±1,5

-1,312

0,190

77,8

Dor nas costas

1,2±1,8

1,6±1,6

-1,163

0,245

33,3

Dor nos braços

1,3±1,8

1,2±1,1

-0,155

0,877

-7,7

Dor nas coxas

0,4±0,6

0,9±1,1

-0,282

0,188

125,0

Dor nas pernas

1,4±1,5

1,4±1,3

-0,0366

0,971

0

Dor nos pés

0,7±1,1

1,2±1,5

-1,112

0,266

71,4

*valor de significância para o teste não-paramétrico de Wilcoxon

    Na Tabela 2 encontram-se descritos e comparados os valores de média e desvio padrão do teste bipolar de fadiga e indicadores (pré X pós) de indivíduos do grupo experimental. Notamos que houve diminuição da maioria dos indicadores para os valores de média do grupo experimental, produtividade (-18,2%), cansaço visual (28,6%), cansaço (-44,1%), dor de cabeça (- 14,3%), dor na cervical (-45%), dor lombar (- 35,7%), dor nas costas (- 40,0%), dor os braços (- 53,3%), dor nas coxas (- 42,8%), dor nas pernas (- 52,6%) e dor nos pés (- 50%) sendo a redução estatisticamente significativa nos itens: cansado, dor nas costas, dor cervical, dor nos braços, dor nas pernas. Para o item nervoso (293,3%) e concentração (10,0%), observou-se aumento, sendo estatisticamente significativo somente para o item nervoso.

Tabela 2. Resultados quantitativos comparativos (pré x pós) do grupo experimental segundo os indicadores de fadiga

Variáveis de Fadiga

Grupo Experimental

 

 

 

Pré

Pós

 

 

 

X±SD

X±SD

Wilcoxon

*p

Δ%

Produtividade

1,1±1,5

0,9±1,3

-0,881

0,378

-18,2

Cansaço Visual

1,4±1,5

1,0±1,1

-1,251

0,211

-28,6

Nervosismo

1,4±1,6

5,9±12,3

-1,528

0,127

293,3

Concentração

1,0±1,2

1,1±1,3

-0,451

0,652

10,0

Cansaço

3,4±2,1

1,9±1,5

-3,458

0,001*

-44,1

Dor na cabeça

0,7±1,3

0,6±1,7

-0,984

0,325

-14,3

Dor na cervical

2,0±1,9

1,1±1,3

-2,891

0,004*

-45,0

Dor lombar

1,4±1,6

0,9±1,1

-1,664

0,096

-35,7

Dor nas costas

2,0±1,7

1,2±1,3

-2,328

0,020*

-40,0

Dor nos braços

1,5±1,7

0,7±1,4

-2,533

0,011*

-53,3

Dor nas coxas

0,7±1,6

0,4±0,9

-0,840

0,401

-42,8

Dor nas pernas

1,9±2,2

0,9±1,5

-2,534

0,011*

-52,6

Dor nos pés

1,2±2,1

0,6±1,2

-1,747

0,081

-50,0

*valor de significância para o teste não-paramétrico de Wilcoxon

    Na Tabela 3 encontram-se descritos e comparados os valores de média e desvio padrão do teste bipolar de fadiga e indicadores (pré X pré) de indivíduos do grupo controle e experimental. Ao comparar as médias dos indicadores de fadiga entre o grupo controle e experimental, apesar de encontrarmos valores médios semelhantes, observa-se que para os itens produtividade (120%), cansaço visual (40%), nervosismo (366,7%), cansaço (36%), dor na cabeça (16,7%), dor na cervical (81,8%), dor lombar (55,6%), dor nas costas (66,7%), dor nos braços (15,4%), dor nas coxas (75%), dor nas pernas (35,7%), dor nos pés (71,4%) o grupo experimental apresentou valores maiores que o grupo controle, enquanto o item concentração (-12,3%) apresentou valor maior no grupo controle.Estas diferenças encontradas não foram estatisticamente significativas.

    Nota-se que somente para o indicador nervosismo a média do grupo experimental foi estatisticamente maior do que a média do grupo controle. Isto significa que em nossa pesquisa partimos de grupos iguais estatisticamente para a comparação posterior.

Tabela 3. Comparação dos valores médios (x) segundo os indicadores de fadiga entre o grupo controle e experimental pré –intervenção do PGL

Variáveis de Fadiga

Pré-intervenção

 

 

 

Controle

Experimental

U Mann-Whitney

 

 

X±SD

X±SD

*p

Δ%

Produtividade

0,5±1,0

1,1±1,5

-0,638

0,524

120,0

Cansaço Visual

1,0±1,2

1,4±1,5

-0,980

0,327

40,0

Nervosismo

0,3±0,4

1,4±1,6

-2,053

0,040*

366,7

Concentração

1,1±1,5

1,0±1,2

-0,241

0,809

-12,3

Cansaço

2,5±1,4

3,4±2,1

-1,624

0,104

36,0

Dor na cabeça

0,6±1,6

0,7±1,3

-0,980

0,327

16,7

Dor na cervical

1,1±1,5

2,0±1,9

-1,826

0,068

81,8

Dor lombar

0,9±1,4

1,4±1,6

-1,150

0,250

55,6

Dor nas costas

1,2±1,8

2,0±1,7

-1,763

0,078

66,7

Dor nos braços

1,3±1,8

1,5±1,7

-0,588

0,554

15,4

Dor nas coxas

0,4±0,6

0,7±1,6

-0,158

0,875

75,0

Dor nas pernas

1,4±1,5

1,9±2,2

-0,253

0,800

35,7

Dor nos pés

0,7±1,1

1,2±2,1

-0,066

0,948

71,4

*valor de significância para o teste não-paramétrico de U Mann-Whitney

    Na Tabela 4 encontram-se descritos e comparados os valores de média e desvio padrão do teste bipolar de fadiga e indicadores (pós X pós) de indivíduos do grupo controle e experimental. Apesar de encontrarmos valores médios semelhantes, observa-se que para os itens cansaço visual (-37,5%), cansaço (-13,6%), dor na cervical (-42,1%), dor lombar (-43%), dor nas costas (-25%), dor nos braços (-41,6%), dor nas coxas (-55,5%), dor nas pernas (-35,7%) e dor nos pés (-50,0%) o grupo experimental apresentou valores menores que o grupo controle enquanto os itens produtividade (0%) e dor de cabeça (0%) apresentam valores próximos entre os grupos e os itens nervosismo (+ 883,3%) e concentração (+22,2%) apresentam valores maiores no grupo experimental do que no grupo controle. Estas diferenças observadas não foram estatisticamente significantes.

Tabela 4. Comparação dos valores médios (x) segundo os indicadores de fadiga entre o grupo controle e experimental pós- intervenção

Variáveis de Fadiga

Pós-intervenção

 

 

 

Controle

Experimental

 

 

 

X±SD

X±SD

U Mann-Whitney

*p

Δ%

Produtividade

0,9±0,8

0,9±1,3

-0,667

0,505

0

Cansaço Visual

1,6±1,5

1,0±1,1

-1,261

0,207

-37,5

Nervosismo

0,6±1,1

5,9±12,3

-0,448

0,654

883,3

Concentração

0,9±1,0

1,1±1,3

-0,009

0,993

22,2

Cansaço

2,2±1,6

1,9±1,5

-0,807

0,420

-13,6

Dor na cabeça

0,6±1,0

0,6±1,7

-0,807

0,420

0

Dor na cervical

1,9±1,6

1,1±1,3

-1,934

0,053

-42,1

Dor lombar

1,6±1,5

0,9±1,1

-1,517

0,129

-43,7

Dor nas costas

1,6±1,6

1,2±1,3

-0,737

0,461

-25,0

Dor nos braços

1,2±1,1

0,7±1,4

-1,934

0,053

-41,6

Dor nas coxas

0,9±1,1

0,4±0,9

-1,607

0,108

-55,5

Dor nas pernas

1,4±1,3

0,9±1,5

-1,607

0,108

-35,7

Dor nos pés

1,2±1,5

0,6±1,2

-1,746

0,081

-50,5

*valor de significância para o teste não-paramétrico de U Mann-Whitney

Discussão

    Os resultados do grupo controle podem estar influenciados pela postura adotada durante o trabalho e pelas tarefas desempenhadas pelo trabalhador de costura e arremate, pois para costurar muitas atividades manuais são executadas e estas exigem um acompanhamento visual, isso significa que o tronco e a cabeça ficam inclinados para frente (Ambriosi & Queiroz, 2004), no ato de curvar a nuca para permitir ver a agulha na máquina e a costura sendo executada, provocam no trabalhador uma série de tensionamentos em suas estruturas musculares de braços, nuca e costas (Ramos, 2002; Kaergaard et al, 2000).

    Com relação ao grupo experimental a redução da maioria dos níveis de fadiga demonstra a influência positiva do PGL e o aumento da variável nervosismo pode ser interpretado por um fato pontual e particular que aconteceu nesta empresa. No final do período da pesquisa a empresa fechou um grande contrato com uma rede de lojas brasileira e os trabalhadores no último mês foram convidados a fazer hora extra para conseguirem entregar a produção no tempo solicitado. Apesar do estímulo em relação ao valor a mais de retorno financeiro pelas horas extras e o lanche reforçado, não foram suficientes para amenizar o item nervosismo. A sobrecarga das tarefas pode ter aumentado este indicador. Segundo Natarèn & Elìo (2004) em seu estudo com 224 trabalhadores de uma empresa farmacêutica da cidade do México concluem que os processos laborais com largas jornadas, ritmos acelerados de trabalho, cotas de produção e alto controle da qualidade dos produtos, causam fadiga e transtornos musculoesqueléticos.

    O primeiro estudo a realizar uma investigação dos efeitos da GL sobre a fadiga dos trabalhadores foi do autor Kolling (1982). Neste estudo foi realizada uma pesquisa experimental que consistiu em determinar se a prática da GLC (Ginástica Laboral Compensatória) influenciava nos índices da fadiga central e periférica, entre outros objetivos. A verificação da fadiga central (sistema nervoso) foi realizada através de exames laboratoriais da creatinúria, do ácido vanilmandélico e das catecolaminas. A fadiga periférica foi medida pelos exames de sódio, potássio, uréia e ph urinários. A GLC foi planejada e conduzida por meio de exercícios físicos conforme a função desempenhada pelos trabalhadores durante 6 semanas, todos os dias , por 10 minutos durante 30 dias úteis. A amostra foi dividida em 2 grupos, um experimental e um controle, em indústrias distintas. Os principais resultados mostraram que a GLC diminui o índice de fadiga periférica, sendo que não houve diferença significativa no índice de fadiga central, entre trabalhadores dos dois grupos.

    Um estudo importante que utilizou o mesmo instrumento desta pesquisa foi realizado por Barreto (2000). Este estudo apontou nos resultados que quanto ao nível de estresse e de fadiga no trabalho, nos trabalhadores participantes do programa, houve uma eliminação do estresse e da fadiga intensa e um aumento em 21,0% dos trabalhadores sem estresse e em 81,1% com fadiga leve. Este estudo sinalizou positivamente para a utilização de programas de atividade física sistematizada no local de trabalho como instrumento de promoção de saúde dos trabalhadores e prevenção de quadros patológicos como o estresse, a fadiga.

    O estudo de Militão (2001) que analisou os efeitos da intervenção da GL apresenta como os maiores benefícios á saúde a diminuição da fadiga muscular entre outros benefícios.

    No estudo de Carvalho et al (2005) após a intervenção de um programa de exercícios no local de trabalho além do número de regiões corporais acometidos por dor terem apresentado redução significativa, a variável fadiga sofreu redução nos níveis da mesma quando avaliados pelo Questionário de Fadiga de Chalder.

    Simões & Baruffi (2002) avaliaram os benefícios alcançados com a implantação de programas de GL em empresa metal-mecânica. Após 6 meses, um dos benefícios observados foi a redução em 60% da procura ambulatorial, relacionada às dores musculares. Observou-se ainda uma melhora do bem-estar geral do trabalhador em 100% e conseqüentemente melhora da fadiga geral.

    Para Proper et al (2003) ao analisar criticamente a literatura no que diz respeito ao a eficácia dos programas de atividade física no local de trabalho, aptidão física e saúde conclui que há fortes indícios de um efeito positivo de um programa de atividade física sobre os distúrbios músculo-esqueléticos e fadiga, mas poucas provas de um efeito positivo foram encontradas em seu estudo.

    Esta pesquisa não tem como propósito esgotar as possibilidades de investigação referentes à influência da ginástica laboral sobre as sintomatologias dos DORTs e sim servir como suprimento para futuros estudos dessa área. Este estudo aplica-se aos interessados em discutir para quais objetivos a ferramenta dos PGL podem realmente ser utilizados.

Conclusão

    O grupo controle não apresentou redução significativa de nenhum item de fadiga e sim um aumento estatisticamente significativo no item dor cervical e o grupo experimental demonstrou redução na maioria dos itens de fadiga sendo estatisticamente significativa para os itens: cansado, dor na cervical, dor nas costas, dor nos braços e dor na perna e um aumento estatisticamente significativo no item nervoso.

    Apesar dos achados positivos do nosso estudo, sugerimos estudos longitudinais com amostras de vários ramos de atuação profissional para que se possa comparar e confirmar os dados aqui apresentados bem como relatar um estudo conclusivo sobre a influência da GL sobre uma das principais sintomatologias dos DORT, a fadiga.

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