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Prevenção de lesões e benefícios da prática de corrida

Prevención de lesiones y beneficios de la práctica de la carrera

 

*Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

**Laboratório de Esforço Físico - LAEF/UFSC

(Brasil)

Rubens José Babel Junior* **

rubao_babel@yahoo.com.br

Nelson da Silva Aguiar Junior*

nelson_aguiar_jr@hotmail.com

Gabriel Peixer da Silva*

gabrielpeixer@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O atletismo, especialmente a corrida, é um esporte muito popular na Europa e Estados Unidos tendo aumentado em uma proporção enorme. As investigações sobre lesões nos esportes, principalmente no atletismo, encontram muita dificuldade, devido a aspectos como critérios de catalogação do conceito de lesão, a descrição de sua incidência, inclusão e descrição dos agravos nos protocolos de estudo, bem como a diversidade dos grupos de desportistas em cada modalidade. Todavia, com uma prescrição correta de exercícios de corrida, ela se torna uma atividade que nos traz muitos benefícios, ao invés de malefícios. Visando isso, este presente artigo tem como objetivo fazer um referencial teórico sobre como fazer a prevenção de lesões nas práticas de corrida fazendo um paralelo com os reais benefícios da mesma em nosso organismo.

          Unitermos: Corrida. Lesões desportivas. Benefícios da corrida. Metabolismo aeróbio.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

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Introdução

    O atletismo, especialmente a corrida, é um esporte muito popular na Europa e Estados Unidos tendo aumentado em uma proporção enorme. Hoje há milhões de participantes de corrida de rua em todo o mundo. Isto pode se constatar pelo crescimento dos eventos em nosso país e na nossa cidade.1

    Correr é um ótimo esporte. Além de gostoso e do enorme bem estar que a corrida proporciona, você terá muitos benefícios cardiovasculares. Mas correr sem conhecimento e sem tomar os devidos cuidados pode trazer riscos à saúde e até lesões físicas.2

    Visando isso, este presente artigo tem como objetivo fazer um referencial teórico sobre como fazer a prevenção de lesões nas práticas de corrida fazendo um paralelo com os reais benefícios da mesma em nosso organismo.

    Com base nisso, esse artigo torna-se importante, pois uma grande demanda da população escolhe a corrida como uma atividade física regular, na preocupação com sua saúde, todavia uma prática errônea dessa modalidade pode vir a acarretar lesões.

Lesões nas provas de corrida do atletismo

    As investigações sobre lesões nos esportes, principalmente no atletismo, encontram muita dificuldade, devido a aspectos como critérios de catalogação do conceito de lesão, a descrição de sua incidência, inclusão e descrição dos agravos nos protocolos de estudo, bem como a diversidade dos grupos de desportistas em cada modalidade.11

    Apesar da formulação de inquérito e formulários, isso ainda se mostra muito restrito, pois o acesso às informações sobre os atletas e suas lesões devido a essa restrição torna difícil o trabalho de conhecimento dos tipos de lesões que acontecem, o que resulta num descontrole sobre a real situação de instalação de agravos à saúde dos envolvidos com a corrida.5

    Por ser muito praticada como atividade física regular fica muito difícil de conceituarmos o número exato de lesões que acontece na atividade de corrida, contudo como já dito, foram desenvolvidos inquéritos e formulários direcionados a modalidades desportivas, mas também se formulou inquéritos para práticas físicas diversas, para investigação da freqüência de lesões.3,4

    Visto isso, apesar de dispormos de alguns objetos de investigação, ainda é muito difícil o relato da ocorrência de lesões desportivas na corrida, pelo fato dela ser realizada por atletas amadores ou por pessoas que fazem dela uma prática de lazer.

Lesões desportivas

    Vêem-se muitas pessoas saírem praticando exercícios sem o mínimo de cuidado na realização das mesmas. Execução de forma incorreta, ignorar um aquecimento prévio e um alongamento, exagero na quantidade, falta de orientação individualizada dos profissionais e, muitas vezes, até a sua própria falta de conhecimento, são alguns dos fatores que causam tantas lesões e problemas aos praticantes.

    Falar em lesões na corrida requer uma avaliação individualizada da pessoa, em questão do piso em que se realizam as corridas, da sua freqüência, enfim, existem vários fatores que influenciam nas lesões.

    Sem dúvida alguma, é durante a prática de atividade física e esportes que ocorre a maioria das lesões musculares. Certamente esta freqüência maior decorre do uso intenso dos músculos nos limites máximos de suas capacidades fisiológicas.14

    Podem-se dividir as lesões musculares em dois grupos. As lesões traumáticas devidas a causas externas, resultando em um ferimento do tipo contusão, ou as lesões internas, nas quais o agente traumático é a própria força muscular, ocorrendo por contração exagerada ou descordenada. Estas últimas podem ser classificadas de acordo com a sua gravidade, indo desde leves distensões até os estiramentos que podem, inclusive, promover a ruptura total do músculo comprometido.14

    Somando a isso, em estudo realizado, analisou-se o mecanismo básico pelos quais o atleta pode sofrer lesão16, mecanismos esses que são mostrados abaixo (Tabela 1):

Tabela 1. Mecanismos das Lesões Desportivas

  • Contato;

  • Sobrecarga Dinâmica;

  • Excesso de uso ou sobrecarga;

  • Vulnerabilidade estrutural;

  • Falta de flexibilidade;

  • Desequilíbrio muscular;

  • Crescimento rápido.

Fonte: SAFRAN, M. R.; MCKEAG, D. B.; CAMP, S. P. Van. Manual de Medicina Esportiva. Barueri: Manole, 2002.

    A forma de como acontece as lesões através desses mecanismos15, são melhor compreendidas logo abaixo:

  • Contato: a origem deste tipo de lesão é o contato traumático. São exemplos tanto o choque de um atleta com o outro como do atleta com alguma superfície como a baliza, o solo, a tabela de basquetebol, a pilastra da rede de voleibol, etc.

  • Sobrecarga dinâmica: descreve aquela lesão resultante de uma deformação causada por tensão súbita e intolerável. A ruptura aguda de um tendão ou um estiramento muscular é freqüentemente resultado de uma sobrecarga dinâmica.

  • Excesso de uso ou sobrecarga: resultado de um somatório de tensões ou pressões repetidas e não resolvidas em determinado tecido. Freqüentemente esses mecanismos são observados no contexto da aplicação de cargas cíclicas ou do excesso de treinamento. Cerca de 30% a 50% estão ligadas ao uso excessivo.

  • Vulnerabilidade estrutural: pode contribuir para a fadiga e eventual insuficiência/falha do tecido, secundária à sobrecarga focal, tensão ou estresse excessivo. A hiperpronação do pé durante a corrida, a frouxidão patológica da sustentação de uma articulação pelos ligamentos, o alinhamento defeituoso da extremidade inferior, são exemplos de vulnerabilidade estrutural.

  • Falta de flexibilidade: pode levar a desvios no contato articular, iniciando, portanto um ciclo de degeneração articular. Um músculo encurtado, em pré-carga, fica mais vulnerável a tensão.

  • Desequilíbrio muscular: é um mecanismo inter-relacionado com o da falta de flexibilidade, e resulta principalmente de um condicionamento e utilização musculares impróprios. Padrões abusivos repetidos de excesso de uso do músculo durante uma atividade esportiva promovem desequilíbrios musculares secundários à fadiga muscular, microacelerações, formação de cicatrizes, e ma adaptação funcional. Um músculo fatigado fica mais vulnerável à tensão.

  • Crescimento rápido: é um mecanismo observado na criança ou adolescente em crescimento que pratica esportes. Enfatiza o desequilíbrio e flexibilidade muscular coincidente com as mudanças nas proporções do esqueleto durante a maturação.15

    Outros aspectos que vem ao encontro para o acontecimento de lesões, são fatores que MARTINES apud MANNRICH (2001), desenvolveu em seu estudo em que ele desenvolve uma teoria que referência um decálogo das principais causas das lesões desportivas, conforme mostra a Tabela 2.17

Tabela 2. Decálogo das causas de Lesões Desportivas

  • Inabilidade ou falta de conhecimento na execução da técnica desportiva;

  • Desigualdade física ou domínio da técnica;

  • Audácia excessiva;

  • Falta de respeito as leis do jogo;

  • Idade do jogador;

  • Alterações climáticas;

  • Improvisação;

  • Excesso de rigor na aplicação das regras;

  • Reingresso do jogador antes da recuperação total da lesão.

Fonte: MANNRICH, G. Epidemiologia das lesões ocorridas na prática diária (jogo e treino) de uma equipe de futebol profissional no período de Janeiro a Setembro de 2001. Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do estado de Santa Catarina. Florianópolis. 2001.

    Esse mesmo autor salienta que, os maiores responsáveis pelas lesões desportivas (aproximadamente 60%) são os erros de treinamento na prática das modalidades 17, que no caso da corrida está relacionado com a falta de paciência dos próprios praticantes para a obtenção de um condicionamento físico ideal para a prática da corrida.

Prática da corrida

    Como acabamos de ver, uma prática errônea dessa atividade pode nos trazer mais danos do que benefícios. Portanto, para termos somente benefícios na prática da corrida, é de extrema importância à prevenção de lesões nessa atividade.

    A grande maioria das lesões acontece principalmente por que as pessoas, que na maioria das vezes não tem uma prática regular de atividade física, tendem a iniciar sua prática imediatamente na corrida, mas fisiologicamente nosso organismo não está preparado para começar diretamente na prática da corrida, ele necessita de toda uma fase de adaptação para que a pessoa venha a correr de uma forma contínua sem que essa prática venha a ocasionar danos à saúde.

    Para que a prática de corrida não traga malefícios a sua saúde, é necessária uma fase de adaptação, que no caso começaria com uma caminhada. Depois dessa fase, é aconselhável que ao invés de começar a correr diretamente, passe por fase de transição chamada de jogging 6 , que não é nem uma caminhada por ser um exercício que exija um pouco mais do sistema cardiorrespiratório, cardiovascular e músculo - articular, e nem uma corrida propriamente dita, por ser uma atividade mais leve que a mesma.

    A caminhada é recomendada a alguém que vem levando um estilo de vida sedentário há muito tempo. Essa recomendação é coerente, pois mesmo numa caminhada, o indivíduo já percebe benefícios para a saúde, e o que também é importante, evita riscos de lesões associadas à atividade física vigorosa.8

    O jogging é um tipo de exercício que, apesar de ser muito semelhante à corrida, possui algumas diferenças fundamentais. Destas, a mais importante é o movimento que é executado pelos membros inferiores durante a corrida. Na corrida convencional há uma elevação mais acentuada do joelho, transformando-a numa sucessão de pequenos saltos. E este é o motivo pelo quais as articulações de todo o aparelho locomotor são mais comprometidas, principalmente no que se refere às lesões. Este aspecto é especialmente importante quando os praticantes são sedentários, idosos, obesos e os destreinados em geral.7

    No jogging propriamente dito, ocorre uma menor elevação dos joelhos, o que faz com que os golpes dos pés contra o solo sejam bem menores. Neste caso, os microtraumatismos impostos às articulações e seus componentes são menos importantes, portanto, este tipo de atividade física é a mais indicada para iniciantes.6

    O importante no início do programa do jogging é realizar a transição do programa de caminhada de maneira a minimizar o desconforto associado á introdução de qualquer nova atividade. Isso é conseguido começando–se com um programa de jogging-caminhada-jogging, que facilita a adaptação da pessoa a misturar o jogging com a caminhada, que consome menos energia e provoca menos lesões.8

    As atividades feitas seguindo uma seqüência progressiva conforme o condicionamento físico de cada indivíduo tende a reduzirem os riscos de lesões, mas essa redução se deve ao fato de que o nosso organismo necessita de adaptações fisiológicas a atividade proposta. É valido lembrar que essas adaptações variam de pessoa para pessoa, pois alguns indivíduos levam mais tempo para se adaptar enquanto outros se adaptam mais rapidamente, segundo o principio da individualidade biológica.7

    Sabendo que a atividade aeróbia melhora esses aspectos fisiológicos, é certo dizer que seguindo essa seqüência progressiva de exercícios, a pessoa com certeza terá uma pratica de corrida saudável.

    Contudo, além dos cuidados que devemos ter na progressão da atividade, devemos nos preocupar não somente com a corrida em si, mas também com a fase de aquecimento (pré-exercício) e de volta–a-calma (pós–exercício), que juntamente com a prática correta da atividade são de extrema importância para a prevenção de lesões.

Aquecimento

    Aquecimento nada mais é, do que o conjunto de atividades de diferentes formas, que são feitas minutos antes do atleta competir, ou de uma pessoa iniciar sua atividade física cotidiana.7

    Por isso é muito importante na fase da preparação orgânica do nosso corpo, pois prepara nosso corpo para o exercício, e principalmente em exercícios que a intensidade é elevada o aquecimento é fundamental para a prevenção de lesões.

    O aquecimento tem como principal função fazer com que o nosso corpo entre em concordância, ou seja, nossos vários sistemas (Ex.: respiratório, circulatório, endócrino, entre outros) entrem em harmonia para a prática de atividade física, com isso melhorará a performance, pois quando o corpo irá fazer a atividade física um pouco mais intensa ele já estará pronto para tal atividade e não precisará passar pela fase de adaptação ao exercício.12

    Além da melhora da performance, o aquecimento destaca-se pelo fato de evitar lesões em nosso corpo, principalmente pelo fato de aquecer o músculo, evitando estiramentos, e preparar o sistema cardiorrespiratório, fazendo com que o coração bomba mais rapidamente sangue para o corpo, e os pulmões façam as trocas gasosas mais eficazes.7

    Bem como nosso corpo sofre alterações fisiológicas na atividade de corrida, na fase de aquecimento ele também se modifica no intuito de preparar o nosso organismo para atividade, pois com o aquecimento nosso corpo aumenta de temperatura e a cada grau que a nossa temperatura se eleva, nosso corpo aumenta o metabolismo em 13%.12 Além dessa, outras adaptações fisiológicas acontecem, conforme mostra a Tabela 3.

Tabela 3. Adaptações Fisiológicas no Aquecimento

  • Diminuição da viscosidade dos líquidos orgânicos;

  • Aumento da velocidade das reações bioquímicas;

  • Aumento da velocidade de transmissão das mensagens nervosas;

  • A hemoglobina e a mioglobina passam a liberar O2 mais rapidamente;

  • Diminuição da pressão sistólica após o exercício.

Fonte: WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo, Manole.1991.

    Além da preparação orgânica que o aquecimento proporciona no nosso organismo, ele também causa alterações no nosso sistema músculo-articular, conforme mostra a Tabela 4, logo abaixo.

Tabela 4. Adaptações Músculo-Articulares no aquecimento

  • Aumento do líquido sinovial nas articulações em torno de 13%, prevenindo lesões em tendões, músculos e ligamentos;

  • Aumento da velocidade de contração e relaxamento do músculo;

  • Aumento da eficiência mecânica da contração muscular devido à diminuição da viscosidade em nível celular;

  • Melhoria da eficiência da função neuro-muscular pelo aumento da temperatura local;

  • Facilitação do recrutamento das unidades motoras que serão necessárias posteriormente;

  • Aumento do fluxo sangüíneo através dos tecidos ativos pela vasodilatação local, acompanhada da vasocontrição nos músculos inativos.

Fonte: WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo, Manole.1991.

    Essas adaptações que nosso organismo faz são geralmente para quando as atividades serão de média a alta intensidade, pois dependendo de qual atividade a pessoa irá praticar ela não precisará de um aquecimento tão específico, o tempo de aquecimento é muito variável, dependendo do tipo de modalidade esportiva que se irá executar ou da atividade física de lazer, pois um esporte de longa duração (Ex.:maratona) terá um aquecimento diferente de um esporte de desempenho rápido(Ex.:100 metros rasos), ou até de um esporte que tenha baixa atividade física (Ex.: Xadrez). Mas a média de tempo para um bom aquecimento, fica entre 15 e 25 minutos de aquecimento7, como a corrida é caracterizada como uma atividade de média a alta intensidade, um bom aquecimento seria de, no mínimo, 15 minutos.

    Sabendo dos diversos benefícios do aquecimento, fica claro o quão importante ele se torna na profilaxia de lesões. Mas não é somente a fase de aquecimento que é importante em uma pessoa que deseja ter uma prática de atividade física regular, a atividade de volta-a-calma (pós-exercício), também é muito importante, para se ter uma prática de corrida regular e sem maiores conseqüências ao nosso corpo.

Volta-a-calma

    As atividades realizadas após, o exercício são muito importantes também, visto que quando acabamos uma atividade o nosso metabolismo está elevado, comparado com o repouso. Da mesma forma que o nosso corpo precisa de um aquecimento que vai preparando nosso organismo de forma gradual para a atividade, ele também precisa fazer o processo inverso para retornar ao repouso, devido a estresse que o exercício causa ao nosso organismo.8

    A principal forma de fazer que o nosso corpo volte ao estado de repouso é fazendo movimentos leves, no caso da corrida, após correr, ao invés de parar com a atividade totalmente, o ideal é fazer uma caminhada leve.

    Essa caminhada, que é chamada comumente de volta-a-calma ou também de atividade de resfriamento8, é importante, visto que após o término da atividade nosso metabolismo continua alto, pelo motivo de que o nosso corpo necessita repor os estoques de oxigênio que foram consumidos no início do exercício, e também eliminar os detritos metabólicos provenientes da atividade muscular, esse excesso de oxigênio que é consumido após a atividade física para fazer a manutenção do organismo é chamado de EPOC (excesso de consumo de oxigênio pós-exercício).8

    Além desses fatores, a volta-a-calma é essencial, principalmente no caso da corrida, pois ao parar muito rápido a corrida, e não fazer uma caminhada de leve, a pessoa pode ter tontura e náuseas, logos após o término do exercício.

    Isso se deve ao fato de que o coração, após o término da atividade, continua bombeando bastante sangue para o corpo, através da estimulação do Sistema Nervoso Simpático, mas esse retorno já não é mais tão eficiente, pois a bomba muscular (mecanismo de retorno venoso) não está mais sendo tão estimulada como antes, no período do exercício, então, nesse meio tempo, o coração continuará bombeando normalmente, só que não chegará muito sangue, o que fará com que haja uma queda na Pressão Arterial e um acúmulo de sangue na parte inferior do corpo, fazendo com que vá menos sangue (consequentemente oxigênio), para o Sistema Nervoso Central e cérebro, o que causará tontura e/ou náuseas.8,10

    Baseando-se nisso, a volta-a-calma é muito importante após a corrida, mas além dela ainda existe outra ferramenta que auxilia muito na prevenção de lesões, que é o alongamento, que tanto pode ser feito antes do exercício como depois dele.

Alongamento

    O alongamento, como já dito, pode ser feito antes da atividade como uma forma de aquecimento ou também mesclar exercícios de aquecimento com alongamento, pois ele também prepara o corpo para a atividade, bem como pode ser feito após o exercício juntamente com a volta-a-calma, como forma de relaxamento muscular.

    O alongamento, no caso da corrida, é essencial para evitar lesões. Pois a partir do alongamento, pode-se trabalhar a flexibilidade (grau de amplitude de movimentos das diversas partes corporais. Depende da elasticidade de músculos e tendões e da estrutura das articulações).9

    A Flexibilidade é um elemento da aptidão física muito importante para a prática da corrida, pois com uma boa flexibilidade você diminui o risco de lesões, aumenta o controle sobre o próprio corpo, e aumenta o desempenho na sua atividade física em decorrência da maior mobilidade e coordenação que ela propicia.8,13 Um dos fatores do aumento da mobilidade está no fato de aumentar o número de ligações de actina e miosina (proteínas contrácteis) comparado com o músculo sem alongamento, com uma maior área de contato entre essas proteínas num exercício que necessite de força muscular (Ex.: Uma arrancada rápida na corrida), o alongamento auxiliaria no desempenho.8

    Com a prática da corrida tomando os devidos cuidados, citados acima, pode-se além de evitar lesões, aproveitar muito mais os benefícios que a corrida nos proporciona.

Benefícios da corrida

    Classificada como uma atividade aeróbia (pois se utiliza o sistema aeróbio de produção de energia), a corrida pode trazer vários benefícios a nossa saúde.

    Sistema aeróbio: O sistema aeróbio significa com oxigênio. Se uma determinada atividade física não é muito intensa, o sistema cardiovascular é capaz de fornecer oxigênio suficiente para produzir a energia necessária para este trabalho muscular. Durante atividades físicas onde predomina o metabolismo aeróbio (atividade aeróbia), pode-se conversar sem maiores dificuldades e a freqüência cardíaca não se eleva demasiadamente, não ultrapassando cerca de 85% do máximo individual.9

    Uma melhoria nessa capacidade de transporte de oxigênio é uma conseqüência da atividade aeróbia. Com o oxigênio sendo mais bem transportado, o coração diminuirá sua freqüência cardíaca no repouso, pois não precisará fazer tanto esforço para bombear o sangue que tem como um dos objetivos o transporte de oxigênio para as células.

    Visto isso, ocorrerá uma melhoria no sistema cardiorrespiratório e cardiovascular, e fará com que a pessoa tenha uma melhor aptidão física, e que progrida da caminhada para a corrida.

    Todavia, além de uma adaptação do sistema cardiorrespiratório e cardiovascular, acontecem outras adaptações no nosso organismo, como no sistema músculo - articular, conforme mostra a Tabela 5.

Tabela 5. Adaptações fisiológicas do sistema músculo - articular em atividades aeróbias

  • Aumento do número de Fibras do tipo II (vermelha);

  • Aumento do número de mitocôndrias;

  • Aumento do número de mioglobina;

  • Aumento do estoque de Glicogênio;

  • Aumento de gotas lipídicas;

  • Aumento do número de enzimas da Beta Oxidação;

  • Aumento do numero de enzimas glicolíticas no Ciclo de Krebs e Cadeia Respiratória.

Fonte:POWERS, S.K.; HOWLEY,E.T. (2006). Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho.

    Além da melhora da aptidão física, a atividade aeróbia, principalmente as atividades de baixa a moderada intensidade, reduzem os risco de doenças coronárias e as taxas de LDL - lipoproteína de baixa intensidade responsável pelo transporte de colesterol plasmático - níveis elevados são indicadores de um alto risco de coronariopatia, principalmente em pessoas fumantes, hipertensas e sedentárias.6,8

Considerações finais

    A partir da revisão de literatura proposta por esse artigo, percebe-se que o corpo humano necessita de uma fase de adaptação para qualquer atividade que a pessoa deseja fazer, e nos mostra também que é preciso cuidados e prevenções para que essa atividade não venha nos causar malefícios, ao invés de benefícios.

    Muitas das lesões provocadas pela prática da corrida acontecem pelo fato de que a pessoa que a pratica não conhece os reais cuidados que ela precisa, porém fica claro que com um programa que siga uma seqüência progressiva de exercício, como caminhada, jogging e corrida, mostram-se essencial na prevenção de lesões, principalmente em pessoas que não tem essa pratica como hábito.

    Mas juntamente com uma pratica correta dessa atividade, existem outros fatores que previnem o acontecimento de lesões, que no caso são as atividades de aquecimento, alongamento e atividades de volta-a-calma e relaxamento, bem como a utilização de calçados adequados.

    Essas atividades são muito importantes, pois tem o papel de preparar o corpo para sair do estado de repouso, que é o caso do aquecimento, e claro fazer com que o corpo faça o processo contrário, ou seja, sair do estado de estresse ocasionado pelo exercício físico, e voltar ao repouso, que são características das atividades de volta-a-calma.

    Para que a prática da corrida torne-se um bem para a saúde e não um mal, é necessário que se respeite algumas exigências que o nosso corpo necessita, mas também existe precauções que são necessárias para que, além de evitar lesões, a corrida nos traga benefícios, pois o principal objetivo da prática de atividade física, tanto da corrida como outras, é usufruir seus benefícios.

Referências bibliográficas

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  11. PASTRE, C. M. et al. Sports injuries in Brazilian elite of the athletics: study based on referred morbidity. Rev Bras Med Esporte.,  Niterói,  v. 11,  n. 1,  2005. 

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  16. SAFRAN, M. R.; MCKEAG, D. B.; CAMP, S. P. Van. Manual de Medicina Esportiva. Barueri: Manole, 2002.

  17. MANNRICH, G. Epidemiologia das lesões ocorridas na prática diária (jogo e treino) de uma equipe de futebol profissional no período de Janeiro a Setembro de 2001. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Fisioterapia) Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do estado de Santa Catarina. Florianópolis. 2001.

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