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Menarca e sua relação com a satisfação e a percepção 

da imagem corporal de meninas dançarinas de jazz

 

*Especialista em Atividade Física Desempenho Motor e Saúde (2008)

Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), UFSM

**Professora (orientadora), Doutora do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), UFSM

***Chefe do Departamento de Estatística (DE) - Centro de Ciências Naturais e Exatas

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Adriana Cavalheiri

Maria Amélia Roth

Luis Felipe Dias Lopes

adrianacavalheiri@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar a relação da menarca com a satisfação e a percepção da imagem corporal de meninas dançarinas de Jazz. Participaram do estudo 29 meninas com idade de 13 anos, divididas em dois grupos: com menarca, (M/n=18) e sem menarca, (NM/n=11). O grau de satisfação da imagem corporal foi avaliado através do teste da Figura Humana de Stunkard e a percepção da imagem corporal, por meio do questionário “A Minha Imagem Corporal” de Rodrigues. As meninas com menarca, tiveram significativamente maior peso, estatura, cintura, quadril e índice de massa corporal. Além do mais, apresentaram ter um corpo significativamente “mais gordo”, comparado com as meninas que não tiveram menarca. Porém isto não se refletiu na percepção da imagem corporal, bem como na apreciação de certas regiões corporais e nas modificações destas regiões corporais para melhorar a aparência.

          Unitermos: Menarca. Adolescência. Imagem corporal. Dança.

 

Abstract

          The objective of this study went analyze to relationship of the menarch with the satisfaction and the perception of the girls' dancers of Jazz corporal image. They participated of the study 29 girls with 13 year-old age, divided in two groups: with menarch, (M/n=18) and without menarch, (NM/n=11). The degree of satisfaction of the corporal image was evaluated through the test of the “Figura Humana” of Stunkard and the perception of the corporal image, by means of the questionnaire “A minha Imagem Corporal” of Rodrigues. The girls with menarch, had larger weight, stature, waist, hip and index of corporal mass significantly. Besides, they presented to have a body significantly "fat", compared with the girls that didn't have menarch. Even so this was not reflected in the perception of the corporal image, as well as in the appreciation of certain corporal areas and in the modifications of these corporal areas to improve the appearance.

          Keyswords: Menarch. Adolescence. Body image. Dance.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

1 / 1

Introdução

    A fase da adolescência diz respeito ao período que a menina em crescimento passa da infância à idade adulta, iniciando com os primeiros sinais da puberdade e estendendo-se até a completa maturação sexual, crescimento físico e desenvolvimento mental1. As mudanças físicas e fisiológicas que marcam esta fase são consideradas fatores de aspecto universal2, embora, o gênero e a cultura em que vivem possam interferir na maturação sexual da adolescente1. Para a menina na adolescência ocorre a primeira menstruação, a menarca, caracterizada como um evento fisiológico marcado por múltiplas modificações corporais ao nível biológico, psicológico e social3; estes níveis de crescimento e desenvolvimento acontecem gradualmente e lentamente no corpo feminino4.

    Devido a grande secreção de estrógeno “hormônio feminino”, as adolescentes estão sujeitas a um aumento no tamanho dos seios e dos pêlos axilares não pigmentados5. Por conseguinte, há o crescimento do útero e da vagina seguido de um aumento no clitóris e nos lábios vaginais a partir daí, há a possibilidade do advento da menarca, que ocorre relativamente quase sempre depois da explosão do crescimento ter começado a desacelerar4. Durante este período, inclusive, é possível que aconteça alguns conflitos interiores que afetam a imagem do corpo2, no entanto, são considerados normais, pois esta fase é caracterizada pela adaptação da menina a um novo corpo, a uma nova maneira de pensar, de agir e de aceitar-se6.

    Diversas modificações podem interferir concomitantemente na imagem corporal da adolescente2. As modificações físicas – através do crescimento dos seios, pêlos pubianos e axilares e o desenvolvimento das tubas uterinas e da vagina5, 7. As modificações psicológicas - caracterizadas pela ruptura do sentimento de unidade própria, a adolescente habita um novo corpo e uma nova mente8, e a forma como é reconhecida não lhe confere mais do modo como quer ser9. E as modificações sociais - as adolescentes se preocupam consigo mesmas nas relações estabelecidas com outros adolescentes; sofrem diversas influências socioculturais ao longo da construção de sua identidade, por esse motivo, se observa uma constante insatisfação com a aparência física10, 11.

    A maneira como nosso corpo aparece para nós e a percepção que cada indivíduo tem de si através das sensações se referem à imagem corporal12. Nesse sentido, o movimento corporal através da dança passa a ser parte integrante da imagem corporal13, por meio do sentir e expressar o corpo. São os processos artísticos da dança que enfatizam o reconhecimento das sensações e dos movimentos “puros” dum indivíduo, e é através da complexidade e da profundidade destes processos que cada indivíduo busca a originalidade no interior do próprio corpo; deste modo, podem ser facilitadores do desenvolvimento da percepção da imagem corporal14.

    A dança Jazz foi e continua a ser uma expressão artística, bem como uma atividade física que proporciona ao indivíduo o desenvolvimento da coordenação motora, conhecimento do próprio corpo, do sentido rítmico, da flexibilidade e da força muscular15. É sabido que por meio da prática de atividade física o indivíduo cuida e se relaciona melhor com seu corpo e, além disso, adquire uma sensação de bem-estar16. Pois, é por motivo da insatisfação com a imagem corporal que muitas pessoas iniciam a prática duma atividade física buscando um bem estar físico e psíquico17, 18. Considerando que a dança é uma forma de atividade física, além de ser uma arte que influencia na imagem do corpo, e que permite ao indivíduo se perceber e se conhecer por meio da sensação e expressão corporal, busca-se neste estudo analisar a relação da menarca com a satisfação e a percepção da imagem corporal de meninas dançarinas de Jazz.

Metodologia

Sujeitos

    A amostra deste estudo foi composta por 29 meninas adolescentes com idade de 13 anos, divididas em dois grupos: meninas com menarca, grupo (M/n=18) e meninas sem menarca, grupo (NM/n=11). Todas oriundas das academias de dança da cidade de Santa Maria/RS. Para o cálculo da amostra foi utilizada a fórmula para População Finita, considerando um Percentual Estimado de (p=0.05) e um Erro Amostral de (e=0.05). O nível de significância µ adotado foi de 0.05. Os procedimentos para a seleção da amostra foram de acordo com os critérios de seleção, estabelecidos no estudo: serem saudáveis e estarem na faixa etária de 13 anos de idade; terem tido ou não a menarca até os 13 anos de idade; não fazerem uso de medicamentos; estarem praticando dança Jazz há pelo menos 12 meses. Os indivíduos convidados “voluntariamente” a participar do estudo, foram informados dos objetivos e os mesmos levaram consigo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para ser assinado pelos pais ou um pessoa responsável; seguindo as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos (Resolução nº196, de 10 de outubro de 1996) do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram coletados nas próprias academias, após as aulas de dança. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE – 0191.0.243.000-07 da Universidade Federal de Santa Maria – RS.

Instrumentos

  • Questionário de Dados de Identificação: composto por algumas questões: nome; idade; caso teve a menarca, há quanto tempo; se possuí ciclo menstrual regular; e outras que tinham como objetivo, identificar o sujeito.

  • Teste da “Figura Humana” de Stunkard19: Avalia o grau de satisfação da imagem corporal. O conjunto de figuras era mostrado aos indivíduos e realizado as seguintes perguntas: “Qual das figuras corresponde a você no presente momento?” (imagem real IR) e, “Qual das figuras você gostaria de ser no presente momento?” (imagem ideal, II). Para verificar o grau de satisfação corporal, utilizou-se a diferença entre a (IR) e (II) apontadas pelo indivíduo onde, poder-se-ia obter os seguintes resultados: 

    1. caso a diferença fosse de 1 e 2 pontos, indicaria insatisfação pequena ou normal em relação ao próprio corpo; se fosse de 3 ou 4 pontos, indicaria insatisfação mediana;

    2. se fosse de 5 ou 6 pontos, indicaria grande insatisfação; se fosse de 7 pontos ou mais, indicaria a possibilidade de possuir distorção na imagem corporal, dependendo do caso, considerado patológico. O avaliador isentou-se de opinião na escolha das figuras.

  • Questionário “A minha Imagem Corporal” de David Rodrigues citado por Lovo20: Avalia a percepção da imagem corporal e é composto por 6 questões. Onde, as 4 primeiras questões referem-se aos parâmetros da condição física, habilidade corporal, saúde e aparência, cada um destes parâmetros é composto por 4 itens (com exceção do parâmetro da saúde, composto por 8 itens) de percepção, contendo escalas partindo do fraco (0), concordo (1) e forte (2). As duas últimas questões do questionário são abertas e subjetivas, as quais buscam indicadores para analisar determinadas partes do corpo relacionadas à melhora da aparência física.

Tratamento Estatístico

    Foi utilizado o programa Statistical Analisys System (SAS) - Versão 8.02. Para a análise dos dados foi usada a estatística descritiva por grupo e Test “t” the Student para a diferença entre os grupos. Bem como, tabelas de freqüência e teste de Kruskal Wallis, para analisar o grau de satisfação e a percepção da imagem corporal. E através do teste Qui-quadrado, foi analisado a apreciação de certas regiões corporais. O nível de significância aceito foi de 5%.

Resultados

    A média e o desvio padrão das características da amostra estão descritos na tabela 1. Onde, o grupo M apresenta valores significativamente maiores de peso corporal (p=0.0001) em relação ao grupo NM, o que também ocorreu para os valores da estatura (p=0.0001), da cintura (p=0.0034), do quadril (p=0.0001) e do IMC (p=0.0254).

Tabela 1. Características da amostra estudada

variável/

idade

peso

estatura

cintura

quadril

IMC

Grupo

(anos)

(kg)

(cm)

(cm)

(cm)

(Kg/m2)

M

18

13 ± 2

51.61 ± 5.8

1.65 ± 0.06

67.6 ± 7.4

90.4 ± 5.8

18.9 ± 2.0

NM

11

13 ± 2

41.8 ± 3.6

1.56 ± 0.03

60.9 ± 3.7

73.1 ± 3.9

17.1 ± 2.1

P

---

---

< 0.0001

< 0.0001

<0.0034

< 0.0001

<0.0254

    Nos gráficos 1 e 2, são apresentados a distribuição da amostra em relação às escolhas da “IR” e da “II”. Sendo que, a maioria das adolescentes do grupo M escolheram a figura 5 (44%) como sendo a IR, e as do grupo NM a figura 3 (36%), o qual se obteve, portanto, uma diferença significativa (p=0.02) para esta variável analisada (gráfico 1). Quanto à II, não foi encontrada diferença significativa (p=0.39) entre os grupos M e NM, (gráfico 2). A seqüência de escolhas para o grupo M como II a ser atingido foi: figura 3 (44%), 4 (39%) e 5 (17%). Já no grupo NM, ocorreu um mesmo percentual de distribuição nas figuras 2, 3 e 4 (27%) respectivamente, as demais escolhas concentraram-se nas figuras 6 (10%) e 5 (9%).

Gráficos 1 e 2.  Distribuição da amostra em relação à escolha da IR e da II dos grupos M e NM.

    Quanto ao grau de satisfação da imagem corporal, medido entre a distância da imagem corporal real à ideal, as seleções do grupo M e NM concentraram-se nos graus 1 (44% - 18%) e 2 (17% - 18%) respectivamente, indicando uma “insatisfação pequena ou normal em relação ao tamanho do corpo, e 6% dos sujeitos do grupo M concentraram-se no grau 5, o qual indica “grande insatisfação”. O restante dos sujeitos tanto do grupo M (33%) como do grupo NM (64%), apresentaram estar satisfeitos com a imagem de corpo, uma vez que não apresentaram pontuações nos respectivos graus.

    Ao analisar a percepção da imagem corporal por meios dos parâmetros da condição física, habilidade corporal, saúde e aparência, (tabela 2), confirmou-se que, as meninas de ambos os grupos estudados, percebem que possuem condição física; pois, as escolhas se concentraram nos aspectos “concordo e forte” e, sobretudo no item “sinto que tenho força física”, grupo M (89%) e NM (82%).

Tabela 2. Distribuição dos valores percentuais para os parâmetros da Condição Física, Habilidade Corporal, Saúde e Aparência, entre os grupos M e NM.

 

 

Grupos

M (18)

NM (11)

Parâmetros/Itens 

Aspectos

Aspectos

Condição Física

Fraco

Concordo

Forte

Fraco

Concordo

Forte

Sinto que tenho força física

11%

56%

33%

18%

73%

9%

Sou capaz de me deslocar rapidamente

17%

33%

50%

0

36%

64%

Sou resistente à fadiga

17%

78%

5%

18%

64%

18%

O meu corpo é flexível

11%

61%

28%

27%

55%

18%

Total

10

41

21

7

25

12

Percentuais

14%

57%

29%

16%

57%

27%

Habilidade Corporal

Fraco

Concordo

Forte

Fraco

Concordo

Forte

Tenho habilidade para dançar

6%

72%

22%

18%

55%

27%

Tenho habilidade para jogos

22%

28%

50%

46%

27%

27%

Tenho habilidade manual

6%

55%

39%

0

82%

18%

Aprendo facilmente diferentes gestos

11%

39%

50%

18%

27%

55%

Total

8

35

29

9

21

14

Percentuais

11%

49%

40%

20%

48%

32%

Saúde

Fraco

Concordo

Forte

Fraco

Concordo

Forte

Sinto-me bem disposto

6%

44%

50%

0

36%

64%

Sinto-me com vigor

28%

39%

33%

9%

64%

27%

Sinto-me assustado com a pos. de adoecer

56%

22%

22%

36%

46%

18%

Sinto-me assustado com a pos. de ter uma incapacidade

34%

44%

22%

36%

55%

9%

Sou resistente à doença

11%

56%

33%

18%

46%

36%

Não me sinto assustado com a pos. de adoecer

39%

39%

22%

36%

28%

36%

Tenho boa saúde

0

39%

61%

0

45%

55%

Tenho confiança em meu corpo

17%

33%

50%

9%

27%

64%

Total

34

57

53

16

38

34

Percentuais

24%

40%

37%

18%

43%

39%

Aparência

Fraco

Concordo

Forte

Fraco

Concordo

Forte

Gosto da maneira como me visto

0

39%

61%

9%

36%

55%

Gosto da minha aparência cotidiana

0

33%

67%

0

27%

73%

Sinto-me atrativo para pessoas de outro sexo

17%

44%

39%

18%

36%

46%

Sinto-me bem no meu corpo

22%

45%

33%

18%

27%

55%

Total

7

29

36

5

14

25

Percentuais

10%

40%

50%

11%

32%

57%

Condição Física (p= 0.69); Habilidade Corporal (p=0.29); Saúde (p=0.53); Aparência (p=0.66);

    Se tratando de habilidade corporal, ambos os grupos M e NM apresentaram altos percentuais para o item “tenho habilidade manual - 94% e 100%”, respectivamente. Para o grupo M destacou-se inclusive o item “tenho habilidade para dançar - 94%”. De modo geral, para este parâmetro de percepção citado, todas as meninas do estudo apresentaram tendência para os aspectos “concordo e forte”. O mesmo ocorreu para o parâmetro da saúde, onde apresentaram sentirem-se saudáveis, obtendo percentuais elevados e idênticos no item “tenho boa saúde - 100%”. Para o grupo NM destacou-se inclusive o item “sinto-me bem disposto - 100%”. Referente à aparência, o item “gosto de minha aparência cotidiana” permaneceu idêntico para ambos os grupos M e NM - 100%, deixando evidente que todas as meninas do estudo gostam da maneira com são. As meninas do grupo M tiveram destaque inclusive, para o item “gosto da maneira como me visto - 100%”.

Tabela 3. Percentuais e valores de p, correspondente ao que mais (+) e menos (-) gosta no próprio corpo.

  Grupos

M (18)

NM (11)

p

 Variáveis

(+) positiva

(-) Negativa

(+) positiva

(-) Negativa

1 – Cabelos

81%

19%

73%

27%

0.66

2 – Olhos

94%

6%

91%

9%

1

3 – Nariz

69%

31%

33%

67%

0.11

4 – Orelhas

57%

43%

56%

44%

1

5 – Boca

100%

0%

91%

9%

0.4

6 – Lábios

93%

7%

100%

0%

1

7 – Dentes

33%

67%

36%

64%

1

8 – Rosto

85%

15%

100%

0%

0.48

9 – Braços

42%

58%

50%

50%

1

10 – Mãos

64%

36%

30%

70%

0.21

11 – Unhas

35%

65%

30%

70%

0.75

12 – Ombros

50%

50%

60%

40%

0.69

13 – Peito

75%

25%

73%

27%

1

14 – Seios

62%

38%

55%

45%

1

15 – Abdômen

18%

82%

50%

50%

0.18

16 – Nádegas

75%

25%

60%

40%

0.65

17 – Costas

75%

25%

67%

33%

1

18 – Quadril

50%

50%

67%

33%

0.66

19 – Coxas

57%

43%

91%

9%

0.09

20 – Joelhos

42%

58%

27%

73%

0.66

21 – Pernas

64%

36%

91%

9%

0.98

22 – Pés

31%

69%

36%

64%

1

23 – Altura

79%

21%

50%

50%

0.2

24 – Volume corporal

38%

62%

70%

30%

0.21

    Na tabela 3, respectivo aos valores percentuais apresentados para a apreciação de certas regiões corporais, não foi encontrada diferença significativa (p≤0.05) entre os grupos M e NM. A preferência do grupo M para as partes do corpo que mais gostam, destacou-se a boca (100%), os olhos (94%), os lábios (93%), o rosto (85%), os cabelos (81%) e a altura (79%). E para as partes que menos gostam, destacou-se o abdômen (82%), os pés (69%), os dentes (67%), as unhas (65%), o volume corporal (62%) e os braços (58%). Para o grupo NM, destacaram-se os lábios e o rosto com mesmo percentual (100%), bem como para os olhos, a boca, as coxas e as pernas (91%), respectivamente, como sendo as regiões que mais gostam. E quanto às partes que menos gostam no corpo, foi obtido (73%) para os joelhos, igual % de distribuição para as mãos e unhas (70%), para o nariz (67%) e igual % de distribuição para os dentes e os pés (64%), respectivamente.

Tabela 4. Percentuais correspondentes às três coisas que mudariam no corpo para se sentir melhor com a aparência física.

Variáveis 

Grupos

M (n=18)

%

NM (n=11)

%

Acnes

Diminuir a quantidade

6%

Diminuir a quantidade

9%

Barriga

Diminuir

33%

Diminuir

9%

Braços

Diminuir o tamanho

17%

*----------

 

Bumbum

*---------

  

Aumentar

9%

Cabelos

Modificar

17%

Modificar

27%

Cor

Morena

6%

Morena

9%

Coxas

Diminuir

22%

*----------

 

Dentes

O alinhamento

11%

O alinhamento

9%

Estatura

Aumentar

28%

Aumentar

18%

Gordura

Diminuir a gordura corporal

6%

*----------

 

Joelhos

Sua forma

11%

Sua forma

9%

Lábios

*----------

  

A forma

9%

Mãos

Mais finas

6%

*----------

 

Nariz

O tamanho

6%

A forma

18%

Olhos

A cor (azuis)

11%

A cor

18%

Pés

Modificar a forma

22%

Modificar a forma

9%

Peso

Diminuir

17%

Aumentar

9%

Pulsos

*----------

  

Diminuir o tamanho

9%

Quadril

Aumentar

6%

*----------

 

Seios

Diminuir

22%

Aumentar

36%

Testa

*----------

  

A forma

9%

Unhas

*----------

  

A forma

18%

(--------) * Não Opinaram;

    Os dados da última questão do questionário “A minha imagem corporal” presentes na tabela 4, em termos percentuais de escolhas, informam que, de três coisas que o sujeito modificaria no corpo para se sentir melhor com a aparência, no grupo M gostariam de diminuir a barriga (33%), aumentar a estatura (28%) e 22% dos sujeitos gostariam de diminuir as coxas, modificar a forma do pé e diminuir o tamanho dos seios, sequencialmente. No grupo NM, aumentariam os seios (36%), modificariam os cabelos (27%) e 18% dos sujeitos aumentariam a estatura, modificariam a forma do nariz, a cor dos olhos e a forma da unhas, respectivamente.

Discussão

    Este estudo teve como objetivo analisar a relação da menarca com a satisfação e a percepção da imagem corporal de meninas dançarinas de Jazz. Para tanto, na seqüência do texto, buscar-se-á discutir primeiramente o quesito Imagem Real e Ideal, por conseguinte, a percepção da imagem corporal por meio dos parâmetros da condição física, habilidade corporal, saúde e aparência. E por fim, a discussão acerca da apreciação de certas regiões corporais, bem como a modificação destas regiões corporais para melhorar a aparência.

    Dados significativos que reforçam a influência da menarca foram encontrados no que se refere às variáveis do peso (p=0.0001), da estatura (p=0.0001), da cintura (0.0034) e do quadril (0.0001), entre as meninas que tiveram e não a menarca. Tal fato concorda com o estudo realizado por Matsudo et al, com dois grupos de meninas de Ilhabela de mesma idade cronológica (12 anos), um com menarca presente e outro sem ter apresentado a menarca, onde verificaram que o primeiro grupo apresentou valores significativamente maiores de peso corporal (21,3%) e estatura (5,1%)21. No presente estudo, inclusive, o índice de massa corporal foi significativamente maior para as meninas que já tiveram a menarca, embora, ambos os grupos venham a se enquadrar em um padrão saudável de índice de massa corporal22. Esta afirmação é condizente, com o estudo realizado por Vitalle et al, onde utilizaram 229 prontuários, e coletaram a idade cronológica, a idade de ocorrência da menarca, o peso corporal e a estatura (calculando-se o índice de massa corporal) de adolescentes entre 10 e 18.8 anos de idade, com e sem ocorrência da menarca, e descobriram que além da idade o índice de massa corporal foi significantemente maior nas adolescentes que já apresentaram a menarca23.

    Investigações já realizadas corroboram com as escolhas da imagem real (IR) proposta neste estudo, na qual se afirma existir uma relação entre o advento da menarca e a insatisfação com a imagem corporal2. No entanto, nota-se que há uma associação direta entre atividade física e altos níveis de satisfação corporal, e após ocorrer a menarca, as meninas ficam mais cientes de seu corpo e de si próprias, aumentando sua maturidade social, sua reputação entre os companheiros e sua auto-estima3, 13. Deste modo, a insatisfação com o próprio corpo, ou melhor, com a imagem que se tem dele, talvez seja um dos motivos principais que levem as pessoas a iniciar um programa de atividade física17, 18. Paul Schilder no seu livro "A Imagem do Corpo" deixa claro que o movimento e a dança permitem ao indivíduo exterminar ou diminuir a forma rígida do modelo postural do corpo. Em outras palavras, o movimento permite ao indivíduo alterar seu modelo postural e o fenômeno da dança permite desestruturar e alterar a imagem corporal. Assim sendo, o movimento é um método capaz de transformar a imagem corporal e diminuir a rigidez de sua forma12.

    Se tratando de imagem ideal (II), os resultados demonstraram que independentemente da fase de desenvolvimento na qual as meninas se encontram, todas elas desejam alcançar um mesmo ideal de corpo, pois, as escolhas concentraram-se nas “figuras 2, 3 e 4”, respectivamente (gráfico 2). Estes dados encontram sustentação em outras pesquisas realizadas, onde apontam que a insatisfação com o corpo está diretamente relacionada com a exposição de “corpos bonitos” pela mídia e isto tem determinado nas últimas décadas uma “compulsão” em buscar a anatomia ideal24. Em vista disso, existe uma forte tendência cultural em considerar a “magreza” uma situação ideal de aceitação social para as mulheres11. Importante frisar inclusive, que apesar das meninas de ambos os grupos encontrarem-se em uma fase de desenvolvimento, na qual ocorrem modificações físicas, cognitivas e sociais, pode-se afirmar que este fator não interferiu no grau de satisfação. Pois, todas elas apresentaram uma “insatisfação pequena ou normal em relação ao corpo”, e apenas 6% das meninas que tiveram menarca indicaram “grande insatisfação”, entretanto, não considerado um caso patológico19.

    Estudos afirmam que a idade idônea para a mulher desenvolver a força muscular oscila entre 12 a 18 anos25. Pesquisa realizada por Matsudo et al, com meninas que já tinham apresentado menarca e meninas que não haviam apresentado-a, de mesma idade cronológica, constatou-se que o primeiro grupo, apresentou força de membros superiores e inferiores (mensurado com os testes de impulsão vertical com e sem auxílio e preensão manual) maiores do que o do segundo grupo21. Neste estudo, ambos os grupos afirmaram possuir “força física”, analisado por meio dos parâmetros de percepção da condição física. E ainda, apresentaram índices elevados para a “flexibilidade” e “agilidade”. Não há estudos afirmando que através do advento da menarca a mulher adquire maior flexibilidade. Embora comparando com o sexo masculino, é correto afirmar que, a mesma possuí maior capacidade de extensão da musculatura, dos tendões e dos ligamentos. Isto se deve à ação do hormônio sexual feminino (estrógeno), o qual desempenha importantes funções corporais, como a retenção de água no organismo, o aumento no percentual de tecido adiposo e o desenvolvimento de uma menor massa muscular25.

    O tamanho do corpo das meninas que tiveram menarca não influenciou na habilidade corporal e na saúde das mesmas. Pois, estas apresentaram altos percentuais para o item “tenho habilidade para dançar”. Enquanto que as meninas que não tiveram menarca obtiveram altos percentuais para o item “tenho habilidade manual”. No entanto, os dois grupos demonstraram sentir-se confiantes no próprio corpo, dispostas, com vigor e despreocupadas com a possibilidade de adoecer. Investigações afirmam que, praticando a dança o indivíduo desenvolve algumas qualidades físicas como o equilíbrio, a força, o ritmo, a flexibilidade, e muitas outras que vão lhe proporcionar uma melhora em sua condição física, habilidade corporal e de certa forma na sua saúde e bem estar26.

    As modificações corporais que ocorrem com o advento da menarca estão evidentes na caracterização da amostra (tabela 1), no que diz respeito aos valores do peso, da estatura, da cintura, do quadril e do índice de massa corporal. E mais, ao analisar a imagem real (IR), certifica-se que as meninas que tiveram a menarca estão significativamente mais insatisfeitas com a imagem corporal, comparado com as meninas que não tiveram menarca. Porém esta insatisfação com o corpo não refletiu na “aparência física”, pois, elas “se aceitam como são”, “gostam de sua aparência cotidiana” e “da maneira como se vestem. Acredita-se que a dança pode ser um fator que interfira nesta aceitação própria, uma vez que esta arte permite ao indivíduo expressar suas emoções e proporcionar o seu auto-conhecimento se percebendo e se conhecendo tal como ele é realmente. Nesse sentido, por meio da dança o indivíduo pode tomar consciência de si próprio, pois, quando o corpo dança, ele experimenta relações em que se realça a consciência de si mesmo e dos demais27.

    No que diz respeito à apreciação de certas regiões corporais observa-se que as meninas de ambos os grupos preferiram as partes superiores do corpo, como boca, olhos, lábios e rosto. Deixando de escolher certas regiões como joelhos, pés, dentes, nariz e unhas. Estudos de Bee esclarecem que, cada parte do corpo cresce em um ritmo diferente, e devido às mudanças internas, nos ossos, nos músculos e na gordura, o tamanho e a forma do corpo também modificam. Um exemplo são as mãos e os pés de uma criança em geral, que atingem o tamanho adulto total no início da adolescência, seguidos pelos braços e pelas pernas, sendo o tronco normalmente o último a completar o crescimento5. Durante a adolescência se observa inclusive uma largura aumentada nos ombros e nos quadris e até mesmo um alongamento e uma moldura nos braços e nas pernas28. Além de o hormônio estrógeno influenciar na flexibilidade de um indivíduo o mesmo influencia na composição corporal, aumentando ligeiramente a intensidade do metabolismo, provocando a deposição de gorduras no tecido subcutâneo em áreas características femininas como as coxas e os quadris29. Devido a estas diferenças no ritmo de crescimento em diferentes regiões do corpo, em grande parte dão conta da “falta de graça” de algumas adolescentes, especialmente aquelas que estão crescendo muito rápido, e por períodos breves podem sentir que suas mãos e seus pés estão grandes demais2.

    Estudos afirmam que a menarca ocorre relativamente quase sempre depois da explosão de crescimento ter começado a desacelerar4, 5. A pesquisa realizada por Mirotti et al, com 48 escolares de Córdoba, um ano antes e um ano após a menarca, esclarece que no primeiro caso, o crescimento foi de 7.8 cm e 12 meses após a menarca de 3.5 cm30. No presente estudo, as meninas de ambos os grupos estudados, gostariam de “aumentar a estatura 28%-18%”, para melhorar a aparência, respectivamente. Algo relevante a ressaltar é que em muitos casos as adolescentes se vêem extremamente “baixas” e insatisfeitas com a aparência, mesmo estando dentro de um padrão normal.

Conclusão

    As meninas que tiveram a menarca apresentaram valores significativamente maiores de peso, estatura, cintura, quadril e índice de massa corporal. Além do mais, apresentaram ter um corpo significativamente “mais gordo” (analisado por meio da imagem real), comparado com as meninas que não tiveram a menarca. No entanto, pode-se afirmar que ambos os grupos desejam alcançar um mesmo ideal de corpo (analisado através da imagem ideal). Apesar de existir estas diferenças significativas entre ambos os grupos, como citado anteriormente, este fator não interferiu na percepção (condição física, habilidade corporal, saúde e aparência) da imagem corporal das mesmas. Inclusive não houve interferência na apreciação de certas regiões corporais, bem como na modificação destas regiões corporais para melhorar a aparência.

    Embora não existem dados significativos comprovando a influência direta da dança Jazz no que diz respeito à percepção da imagem corporal, suponha-se que os bons resultados encontrados em ambos os grupos, nos parâmetros de percepção da condição física, habilidade corporal, saúde e aparência da imagem corporal estejam associados diretamente à prática de dança Jazz. Deste modo, trabalhos futuros poderiam analisar este caso, ou seja, verificar se realmente através da dança Jazz o indivíduo melhora sua percepção da imagem corporal através dos parâmetros citados acima.

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