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Comparação entre o desempenho de idosos corredores

fundistas e de idosos praticantes de musculação nos 

testes de marcha estacionária e de sentar e levantar

 

GEPAFI: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos

UnB - Universidade de Brasília

(Brasil)

Cláudia Beatriz e Santos | Darlan Lopes Farias

Frederico de Santana | Juliana Costa

Márcio de Moura Pereira | Marisete Peralta Safons

claudiabsb@brturbo.com.br

 

 

 

Resumo

          Introdução: A Corrida de fundo é uma atividade física capaz de promover incrementos na capacidade funcional, saúde e integração social entre indivíduos idosos, entretanto são escassos os relatos sobre o efeito da corrida de fundo sobre o desempenho físico de idosos. Objetivo: Verificar o desempenho de idosos fundistas no teste de Marcha Estacionária (ME) e no teste de Sentar e Levantar (SL) em comparação com idosos praticantes de musculação. Metodologia: 26 indivíduos (14 homens e 12 mulheres; idade = 64,53 ± 5,76 anos; G1 = 13 corredores e G2 = 13 praticantes de musculação), foram submetidos ao teste de ME e SL, segundo o protocolo de Rikli e Jones, após um período de treinamento de 6 meses. Resultados: Verificou-se nos idosos fundistas um incremento significativo de 19,50% para SL (p=0,016) e um aumento não significativo de 11,96% para ME (p=0,13). Conclusão: Estes resultados indicam que a corrida de fundo é eficaz na melhora da força dos membros inferiores e na resistência aeróbia em idosos.

          Unitermos: Idoso. Corrida de fundo. Capacidade funcional.

 

Abstract

          Introduction: Long-distance run is an activity capable of providing improvements in the physical conditioning, health and social integration to senior individuals. Despite this, there are scarce reports about effects of long-distance run on physical performance of elderly people. Objectives: The purpose of this study was to assess the effect of long-distance run on aerobic resistance in seniors. Methodology: 26 elderly people (14 male, 12 female; age 64,53 ± 5,76 yr; G1 = 13 long-distance runners, G2 = 13 resistance training apprentices) completed this study. The following parameters were evaluated according Rikli and Jones test battery, after a period of 6 months training: Lower body strength (to sit down and to stand up test) and aerobic resistance (stationary march test). Results: long-distance group showed significant increase in to sit down and to stand up test (19,50%; p=0,016), but no significant increase (11,96%; p=0,13) in stationary march test. Conclusion: These results indicate that Long-distance run program is effective in promote Lower body strength and aerobic resistance in elderly people.

          Keywords: Elderly. Long-distance run. Functional capacity.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

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1.     Introdução

    O envelhecimento é um processo natural que pode ocorrer de maneira saudável, e com menores perdas, se algumas alterações no estilo de vida forem introduzidas. Dentre os hábitos a serem adquiridos, a participação em atividade física regular desempenha importante papel. Já está estabelecido que a maior parte dos efeitos negativos atribuídos ao envelhecimento deve-se, na verdade, ao sedentarismo, que leva ao desuso das funções fisiológicas por imobilidade e má adaptação, e não devido ao avançar dos anos, nem ao desenvolvimento das doenças crônicas prevalentes nesta população (COSTA et al., 2008).


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    No Brasil, os idosos representam 8,5% do total da população. Caso sejam mantidas as taxas atuais de crescimento, provavelmente até 2025 o país contabilize cerca de um quinto de sua população no grupo dos idosos (SAFONS e PEREIRA, 2004).

    As perdas funcionais estão relacionadas a perdas neuromotoras já bem descritas como capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do indivíduo idoso (MATSUDO, 2001).

    Os efeitos dessas perdas começam a se fazer notar a partir dos 50 anos de idade, ocorrendo a uma taxa aproximada de 1% ao ano para a maior parte das variáveis da aptidão física. Na antropometria detecta-se aumento do peso corporal, diminuição da estatura e aumento da gordura corporal, em detrimento da massa muscular e da massa óssea. O envelhecimento é também acompanhado de menor desempenho neuromotor, explicado pela diminuição no número e no tamanho das fibras musculares, levando a uma perda gradativa da força muscular (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000).

    A fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades da vida diária, levando o idoso à dependência. Além disso, conforme se perde força aumenta-se o risco de traumas em conseqüência das quedas. Resultados semelhantes também são observados a partir de perdas significativas na resistência aeróbia. Programas de exercício também melhoram a resistência aeróbia em pessoas idosas, ajudando a combater o declínio funcional nestes indivíduos e têm sido citados como capazes de diminuir a dor, melhorar a mobilidade e promover saúde nestes indivíduos (SAFONS, PEREIRA e RODRIGUES, 2006).

    Estudos a respeito dos efeitos do atletismo apontam esta modalidade de exercício como capaz de incrementar ganhos de condicionamento físico entre os praticantes idosos, ajudando inclusive na prevenção de quedas, melhorando a qualidade de vida e sistema imune. Dentre os benefícios psicológicos decorrentes da prática do atletismo foram relatados aumento da sensação de bem-estar, diminuição da ansiedade e socialização (ARAI, DUARTE e NATALI, 2006; WOODS et al, 2002).

    Entretanto, há carência de informações a respeito dos efeitos do atletismo sobre a capacidade funcional em idosos, tornando necessário que se desenvolvam estudos que visem esclarecer os possíveis benefícios deste exercício para esta população.

2.     Objetivo

    Verificar o desempenho de idosos fundistas no teste de Marcha Estacionária (ME) e no teste de Sentar e Levantar (SL) em comparação com idosos praticantes de musculação.

3.     Metodologia

    Este foi um estudo transversal em que idosos praticantes de atletismo (G1) e musculação (G2) e de foram submetidos ao teste de Marcha Estacionária (ME), para resistência aeróbia e ao teste de Sentar e Levantar (SL), para força de membros inferiores, de acordo com desenho experimental apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Desenho experimental do projeto 

VI

VD

VD

EXERCÍCIO

(ME)

(SL)

G1

 

 

G2

 

 

Onde: VI – variáveis independentes ; VD – variáveis dependentes

    A amostra foi composta de 26 idosos (idade = 64,53 ± 5,76 anos, 14 homens e 12 mulheres) que foram avaliados após 6 meses praticando atletismo (G1, n = 13) e musculação (G2, n = 13). A resistência aeróbia foi avaliada através do Teste de Marcha Estacionário (ME) e a força dos membros inferiores foi avaliada através do Teste de Sentar e Levantar, ambos seguindo o protocolo de Rikli e Jones (RIKLI, 2007).

    Na estatística descritiva foram utilizados a Média (M) e o Desvio Padrão (DP). O teste “t” para amostras independentes foi utilizado para comparar as médias obtidas pelos dois grupos, adotando-se o nível de significância p ≤ 0,05.

3.1.     Protocolo do teste de marcha estacionária (ME)

    A resistência aeróbia foi mensurada através do Teste de Marcha Estacionária. Cada joelho deverá ser elevado à altura média entre a patela e a crista ilíaca dos avaliados (FARINATTI, 2008).

    Ao comando o sujeito inicia o movimento de flexão do joelho com o membro inferior direito, mantendo esta marcha estacionária no maior ritmo possível em 2 minutos. A contagem é feita a cada elevação do membro direito e o escore final é o número de vezes que o joelho direito alcançou a altura mínima ao final de 2 minutos. É permitido marcar a altura com uma fita elástica entre duas hastes fixas. É permitido parar e recomeçar, dentro do tempo estipulado. Permite-se também apoiar uma das mãos em uma mesa ou cadeira para a manutenção do equilíbrio.

3.2.     Protocolo do teste de sentar e levantar (SL)

    A força dos membros inferiores foi mensurada de acordo com o protocolo de Rikli e Jones (RIKLI, 2007), registrando o número de levantamentos completos realizados em 30 segundos com os braços cruzados ao peito, em uma cadeira com 43 cm de altura

4.     Resultados

    Na análise paramétrica foi encontrada diferença significativa (Tabela 2) entre as avaliações da SL (p=0,016), mas não foi verificada significância entre as avaliações da ME (p=0,13).

Tabela 2. Testes (M±DP)

 

SL

ME

G1

22,61±3,06*

128,23±22,5

G2

18,92±4,17

114,53±22,0

*p ≤ 0,05

    Verifica-se, portanto, que a força dos músculos inferiores nos idosos fundistas é significativamente maior que a observada nos praticantes de musculação, em termos percentuais, sendo que a força neste grupo (G1) foi 19,50% maior que na do G2. Quanto à resistência aeróbia, apesar de não ter havido significância, ainda assim se observou que o G1 realizou um número de passos 11,96% maior que G2.

5.     Conclusão

    Verificou-se que a prática do atletismo é benéfica na melhora da capacidade funcional em idosos. Este estudo confirmou que a prática da corrida de fundo é eficaz no incremento de força nos membros inferiores nesta população.

    Como é consenso na literatura científica que o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, por meio de atividade física específica, é claramente um dos objetivos a serem alçados na prevenção de quedas, na melhora das atividades da vida diária e na qualidade de vida, conclui-se que o treinamento de corridas de fundo pode ser utilizado com esta finalidade, agregando as vantagens de ser de baixo custo, de fácil aplicação, de permitir o atendimento de grandes grupos e de ser de grande versatilidade quanto a local, horário e roupas para sua prática.

    Por outro lado, não foi verificada qualquer significância na melhora da resistência aeróbia dos corredores em relação aos praticantes de musculação. Este achado pode sugerir que possivelmente o teste de ME não tenha sensibilidade para o acompanhamento aeróbio do desempenho de idosos atletas.

    Estudos também devem ser conduzidos com o objetivo de explicar porque os fundistas obtiveram médias maiores que os praticantes de musculação no teste de força. Uma hipótese a ser perseguida pode ser a de que embora o teste SL seja amplamente utilizado na avaliação de força em idosos, o valor mais elevado desta medida nos praticantes de atletismo em relação aos da musculação possivelmente deva-se à especificidade do teste em avaliar mais o aspecto potência desta variável.

Bibliografia

  • ARAI, M.H.; DUARTE, A.J.S.; NATALE, V.M. The effects of long-term endurance training on the immune and endocrine systems of elderly men: the role of cytokines and anabolic hormones. Immunity & Ageing, v.3, n.9, p. 1-7, 2006.

  • COSTA, J.; DIAS, C.; GONCALVES, D. ; PEREIRA, M. M.; SAFONS, M. P.; BALDISSERA, V. Duplo produto como variável de segurança para a prática de dança de salão em idosos. Lecturas Educación Física y Deportes, Nº 120, 2008. http://www.efdeportes.com/efd120/pratica-de-danca-de-salao-em-idosos.htm

  • FARINATTI, P.T.V. Envelhecimento: promoção da saúde e exercício. São Paulo: Manole, 2008.

  • MATSUDO, S.M. Evolução da aptidão física e capacidade funcional de mulheres ativas acima de 50 anos de idade de acordo com a idade cronológica. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Escola Paulista de Medicina – Programa de Pós – Graduação em Reabilitação, 2001.

  • MATSUDO, S.M.; MATSUDO, V.K.R.; BARROS NETO, T.L. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 8, n. 4, p. 21-32, 2000.

  • RIKLI, R. E. Evaluating functional ability of older adults. In: SAFONS, M.P e PEREIRA, M.M. Educação Física para Idosos: por uma prática fundamentada. 2ª Ed. Brasília: CREF-DF, 2007.

  • SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M.; RODRIGUES, J.F.A. Efeitos do Programa Melhor Idade BrasilTelecom de condicionamento físico sobre a força dos membros inferiores de praticantes idosos. Lecturas Educación Física y Deportes, Nº 98, 2006. http://www.efdeportes.com/efd98/efeitos.htm

  • SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Circuito de treinamento físico para idosos: um relato de experiência. Lecturas Educación Física y Deportes, Nº 74, 2004. http://www.efdeportes.com/efd74/idosos.htm

  • WOODS, J.A.; LOWDER, T.W..; KEYLOCK, K.T. Can exercise training improve immune function in the aged? Ann NY Acad Sci, v. 959, p. 117-37, 2002.

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