efdeportes.com

Efetividade da musculação e da ginástica localizada sobre 

os níveis de força nos membros inferiores de idosas

Efectividad de la musculación y de la gimnasia localizada sobre los niveles 

de fuerza en los miembros inferiores en mujeres mayores

Musculation and located gymnastics effectiveness on the strength level on elderly women’s lower limbs

 

Licenciatura Plena em Educação Física

Universidade Católica de Brasília – UCB/DF

(Brasil)

José Ricardo Alves Scandiuzzi

Thales Boaventura Rachid Nascimento

boaventura.thales@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Objetivo: verificar qual das modalidades, ginástica localizada ou musculação é mais eficaz sobre os níveis de força de mulheres idosas. Métodos: a amostra foi composta por 18 mulheres com idade entre 64 e 78 anos, fisicamente ativas há mais de 1 ano nas modalidades de musculação (n=9) ou ginástica localizada (n=9). Os níveis de força dos membros inferiores foram estimados por meio do teste de uma repetição máxima (1RM) no aparelho Leg Press horizontal articulado. Resultado: por meio do teste t de Student não-pareado (p≤0,05), somente as variáveis força absoluta e relativa diferiram significativamente entre os grupos, mostrando valores superiores para o grupo praticante de musculação. Conclusão: embora os dois grupos avaliados utilizem exercícios com sobrecarga, a musculação mostra-se como o meio mais efetivo para ganho de força nos membros inferiores de idosas.

          Unitermos: Envelhecimento. Treinamento de força. 1-RM.

 

Abstract

          Objective: to check which of the physical exercise modality, musculation or located gymnastics is more efficacious on the strength level of elderly women’s lower limbs. Methods: the sample embraced 18 women, ages 64-78 years old, exercising more than 1 year in musculation (n=9) or located gymnastics (n=9). The lower limbs strength levels were evaluated by one maximal repetition test (1RM), in the articulate horizontal Leg Press. Results: by the Student t-test unpaired (p ≤ 0,05), only the absolute and relative strength was statistically significant different between the groups, showing great values for musculation group. Conclusion: although both studied groups use overload, musculation is considered the most effective way to obtain strength on elderly women’s lower limbs.

          Keywords: Elderly. Resistance training. 1-RM.

 

Estudo realizado na Universidade Católica de Brasília – UCB/DF - Brasil

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

1 / 1

Introdução

    Com os avanços tecnológicos, muitas doenças infecciosas responsáveis pela mortalidade têm sido tratadas e/ou controladas, fazendo deste modo, com que haja um aumento da expectativa de vida e conseqüentemente da população idosa (SPIRDUSO, 2005), a qual é definida segundo o Estatuto Nacional do Idoso (2003), todos aqueles sujeitos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

    O envelhecimento é o produto da interação entre fatores genéticos, ambientais e estilo de vida, que acarreta em uma redução gradual das capacidades de adaptação e funcionalidade do sujeito (SPIRDUSO, 2005), tais como: redução da potência aeróbica (SCHILLER et al., 2001), densidade óssea (GJESDAL et al., 2008; PROCTOR et al., 2000), massa corporal magra (PROCTOR et al., 2000), níveis de força (ROGATTO e GOBBI, 2001) dentre outros.

    Os termos carga, peso, treinamento de força ou treinamento com pesos abrangem uma grande variedade de tipos de treinamento, incluindo exercícios pliométricos, corridas em aclive, pesos livres, máquinas, peso corporal, entre outros meios, caracterizando-se por um tipo de exercício que requer que os músculos se movam (ou tentem se mover) contra uma força de oposição, normalmente representada por algum tipo de equipamento (FLECK e KRAEMER, 1999).

    Na população idosa, mesmo com pequenos volumes treinamento, são obtidos aumento da força muscular, consumo máximo de oxigênio e capilarização, bem como redução da gordura percentual. Todas essas adaptações geradas pelo treinamento resistido, desempenhado 2 vezes por semana (HAGERMAN et al., 2000).

    A manutenção da força muscular é necessária para a manutenção das capacidades funcionais (FLECK e KRAEMER, 1999). Entretanto, a capacidade para produzir força na fase concêntrica do movimento sofre um declínio com a idade, principalmente nos membros inferiores das mulheres (SPIRDUSO, 2005).

    A força muscular é específica para cada grupamento muscular, ângulo articular e velocidade de contração, podendo manifestar-se a partir de contrações musculares dinâmicas e estáticas. O teste mais comum para avaliar o desempenho concêntrico é o teste de uma repetição máxima (BROWN e WEIR, 2001).

    Diante do exposto, identificar qual modalidade de exercício físico é mais eficaz sobre os níveis de força muscular concêntrica se faz de grande relevância, para que métodos de treinamento de maior eficiência possam ser aplicados para a manutenção das capacidades funcionais dos idosos. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo verificar qual das modalidades ginástica localizada ou musculação é mais eficaz sobre os níveis de força muscular de mulheres idosas.

Materiais e métodos

    A amostra foi composta por 18 mulheres, com idades entre 64 e 78 anos, fisicamente ativas nas modalidades de musculação ou ginástica localizada. A amostra foi selecionada em projetos sociais oferecidos pela própria Universidade Católica de Brasília onde o estudo foi realizado.

    Os critérios utilizados para selecionar a amostra foram: os indivíduos deveriam apresentar idade igual ou superior a 60 anos, estar praticando musculação ou ginástica localizada a mais de 1 (um) ano e não possuírem nenhuma doença que limitasse a realização do teste de carga máxima.

    Os objetivos, procedimentos e possíveis desconfortos do teste foram informados aos participantes, sendo-lhes permitida a desistência a qualquer momento, sem qualquer tipo de penalidade.

    Para atender ao objetivo do estudo foram mensuradas as seguintes variáveis: massa corporal, estatura, índice de massa corporal, idade, força máxima dos membros inferiores e força relativa.

    Para medida da massa corporal (MC, kg) foi utilizada uma balança, com escala de variação de 0,1 kg e com capacidade para até 150 kg, em que o indivíduo avaliado permanecia em pé, com os pés afastados lateralmente, corpo ereto e com o olhar fixo à frente. Para a medida da estatura (ES, cm) foi utilizado o estadiômetro. Para tanto, o indivíduo permaneceu descalço em posição ortostática, com os pés unidos, cabeça orientada paralela ao solo e em apnéia inspiratória.

    Após terem sido coletadas as medidas citadas acima, foi calculado o índice de massa corporal (IMC) pela seguinte formula: MC (quilos) dividida pela ES (metros) ao quadrado.

    A força máxima foi estimada por meio do teste de uma repetição máxima (1RM), no aparelho Leg press horizontal articulado, conforme protocolo descrito por BROWN e WEIR, (2001).

    A força relativa (FR) foi calculada pela fórmula, FR = Carga 1RM / MC.

Análise estatística

    Para caracterização da amostra nas variáveis mensuradas foi utilizada a estatística descritiva. O teste “t” de Studen’t não-pareado foi utilizado para verificar as possíveis diferenças nos testes de 1RM entre os grupos de musculação e ginástica localizada (p ≤ 0,05).

Resultados e discussão

    Na Tabela 1 são apresentadas as características descritivas da amostra.

    Apesar da massa corporal do grupo musculação se mostrar maior em relação ao grupo ginástica localizada, esta não apresentou diferença significativa, bem como a idade, estatura e IMC.

    As variáveis relacionadas aos níveis de força, carga de 1RM e força relativa, apresentaram valores superiores para o grupo musculação, com diferença significativa.

Tabela 1. Características descritivas da amostra nas variáveis estudadas

Variáveis

Ginástica Localizada (n=9)

Musculação

(n=9)

P

Idade anos

70,4 ± 3,8

71,2 ± 4,9

DNS

Massa Corporal kg

62,4 ± 8,7

69,5 ± 8,6

DNS

Estatura cm

1,54 ± 0,05

1,57 ± 0,04

DNS

IMC kg/m2

26,1 ± 3,15

28,3 ± 3,6

DNS

Carga 1RM kg

98,9 ± 36,2

184,4 ± 21,3

≤ 0,05

Força Relativa

1,57 ± 0,44

2,7± 0,45

≤ 0,05

Sendo: IMC = índice de massa corporal; DNS = diferença não significativa.

    A perda de força muscular ocasionada pela idade se da por vários motivos, dentre eles o aumento relativo das fibras de contração lenta, a morte dos neurônios motores e conseqüentemente atrofia muscular, a redução da ativação dos músculos agonistas e da sincronização dos músculos agonistas/sinergistas, o aumento da co-contração dos músculos antagonistas (BARRY e CARSON, 2004) e as alterações no sistema endócrino (FLECK e KRAEMER, 1999).

    A efetividade e os efeitos benéficos do treinamento resistido sobre a população idosa são demonstrados em vários estudos (BUZZACHERAC et al., 2008; KOSEK et al., 2006; ANDREWS et al., 2006; DE MORAIS et al., 2004; HAGERMAN et al., 2000), sendo os benefícios mais freqüentes, o aumento da força (BUZZACHERAC et al., 2008; MORAIS et al., 2004; HAGERMAN et al., 2000) e massa muscular (ANDREWS et al., 2006; KOSEK et al., 2006; KALAPOTHARAKOS et al., 2004).

    No presente estudo, os níveis de força na fase concêntrica, apresentado pelas idosas praticantes de musculação mostraram-se muito superiores em comparação aos encontrados no grupo praticante de ginástica localizada. Possivelmente, tal resultado seja em razão de uma melhor capacidade para recrutar um maior número de unidades motoras e de forma mais sincrônica nos músculos agonistas/ sinergistas, pela redução da co-contração dos músculos antagonistas e maior freqüência de ativação das unidades motoras, pela hipertrofia muscular (BARRY e CARSON, 2004) e alterações hormonais (DE OLIVEIRA et al., 2008).

    As melhores adaptações neurais apresentadas pelo grupo musculação podem ser explicadas pela especificidade do movimento, pois, certamente, o grupo musculação possuía uma vivência prévia no equipamento utilizado para avaliar os níveis de força. Além disso, o uso de máquinas propicia a utilização de maiores sobrecargas, as quais são mais eficazes sobre os ganhos de força. Como o demonstrado pelo estudo de KALAPOTHARAKOS et al (2004), em que idosos que foram submetidos ao treinamento resistido a 80% de 1RM, apresentaram maiores ganhos de força em relação aos que treinaram a 60% de 1RM.

    Vários estudos demonstram ganhos de massa muscular em idosos, com a utilização do treinamento resistido (ANDREWS et al., 2006; KOSEK et al., 2006; KALAPOTHARAKOS et al., 2004). Entretanto, por não ter sido estimada a composição corporal, não é possível afirmar que os maiores níveis de força encontrado no grupo de musculação se devam a uma maior massa corporal magra em relação ao grupo de ginástica localizada.

    Embora os resultados do presente estudo mostrem uma grande diferença significativa para os níveis de força, os resultados aqui não devem ser extrapolados a outras populações. Haja vista, que em populações mais jovens, menores são as limitações para a utilização de maiores sobrecargas em exercícios livres, o que poderia gerar maiores níveis de força nos praticantes de ginástica localizada.

    Apesar de não ter sido utilizado um grupo controle no presente estudo, é de se esperar que os praticantes de ginástica localizada apresentem maiores níveis de força em relação a seus pares sedentários, tendo em vista os resultados do estudo de BUZZACHERAC et al (2008), em que o treinamento de força foi desempenhado por meio de pesos livres, sendo encontrado aumento da força e resistência muscular, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória e força de preensão manual após 12 semanas de treinamento.

    Deste modo, mesmo que a ginástica localizada tenha proporcionando menores níveis de força em relação à musculação, esta deve ser empregada em populações idosas, tendo em vista os vários benefícios proporcionados por tal tipo de exercício (BUZZACHERAC et al., 2008).

    Consideradas as limitações, como a impossibilidade de não saber se os voluntários se esforçaram ao máximo durante o teste de carga máxima, a fase específica do treinamento de cada modalidade estudada, e o número reduzido da amostra, os resultados obtidos possibilitam identificar a efetividade da musculação sobre os ganhos de força na população idosa.

Conclusão

    A treinabilidade da valência física força é mantida na população idosa, tendo em vista os elevados valores obtidos no grupo praticante de musculação. E mesmo que ambas as modalidades analisadas utilizem-se de sobrecarga, a musculação mostra-se mais eficaz sobre os níveis de força dos membros inferiores de idosas, em comparação a ginástica localizada. Sugerindo, deste modo, que a musculação é uma modalidade mais eficaz para a manutenção da autonomia funcional de idosas.

Referências

  • ANDREWS, R. D.; MACLEAN, D. A.; RIECHMAN, S. E. Protein intake for skeletal muscle hypertrophy with resistance training in seniors. Int. J. Sport Nutr and Exerc Metab, v. 16, p. 362-372, 2006.

  • BARRY, B. K.; CARSON, R. G. The consequences of resistance training for movement control in older adults. Journal of Gerontology, v. 59A, n. 7, p. 730–754, 2004.

  • BRASIL. SENADO FEDERAL. Estatuto nacional do idoso. Brasília, 2003.

  • BROWN, L. E.; WEIR, J. P. Recomendação de procedimentos da ASEP I: Avaliação Precisa da Força e Potência Muscular. JEPonline, v. 4, n. 3, p. 1-21, 2001.

  • BUZZACHERAC, F. et al. Efeitos do treinamento de força com pesos livres sobre os componentes da aptidão funcional em mulheres idosas. R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 19, n. 2, p. 195-203, 2. trim. 2008.

  • DE MORAIS I. J. et al. A melhora da força muscular em idosas através de um programa de treinamento de força de intensidade progressiva. R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 15, n. 2, p. 7-15, 2. sem. 2004.

  • DE OLIVEIRA, R. J. et al. Respostas hormonais agudas a diferentes intensidades de exercícios resistidos em mulheres idosas. Rev Bras Med Esporte, v. 14, n. 4, Jul/Ago, 2008.

  • FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2. ed. Porto Alegre : Artmed, 1999.

  • HAGERMAN, F. C. et al. Effects of high-intensity resistance training on untrained older men. i. strength, cardiovascular, and metabolic responses. Journal of Gerontology, v. 55A, n. 7, p. B336–B346, 2000.

  • KALAPOTHARAKOS, V. I. et al. The effects of high-and moderate-resistance training on muscle function in the elderly. J. Aging Phys. Act, v.12, p. 131-143, 2004.

  • KOSEK, D. J. et al. Efficacy of 3 days/wk resistance training on myofiber hypertrophy and myogenic mechanisms in young vs. older adults. J Appl Physiol, v. 101, p. 531–544, 2006.

  • PROCTOR, D. N. et al. Relative influence of physical activity, muscle mass and strength on bone density. Osteoporosis International, v. 11, p. 944-952, 2000.

  • ROGATTO, G. P.; GOBBI, S. Efeitos da atividade física regular sobre parâmetros antropométricos e funcionais de mulheres jovens e idosas. Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum, v. 3, n. 1, p. 63-69, 2001.

  • SCHILLER, B. C. et al. Maximal aerobic capacity across age in healthy Hispanic and Caucasian women. J Appl Physiol, v. 91, p. 1048–1054, 2001.

  • SPIRDUSO, W. W. Dimensões físicas do envelhecimento. São Paulo: Manole, 2005.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 130 | Buenos Aires, Marzo de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados