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Apontamentos iniciais sobre os tipos de movimentos

 

Mestrando do Programa de Mestrado em Ciência da Motricidade Humana

Universidade Castelo Branco – LABESPORTE

Sócio-Diretor, Coordenador Técnico e Professor da

Academia da Usina - Rio de Janeiro, RJ.

Ricardo Martins Porto Lussac

ricardolussac@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Movimento é um termo genérico que abrange indistintamente os reflexos os atos motores conscientes ou não, normais ou patológicos, significantes ou desprovidos de significado. Os movimentos corporais como gestos, podem ser definidos como um movimento determinado por uma intenção. O gesto tem finalidades conscientes ou inconscientes, chegando às vezes a ser uma redundância da comunicação. Assim como o movimento corporal pode estar diretamente ligado a comunicação em algumas situações, o deslocamento do corpo no espaço assumirá significados internos e externos, sem apoio de nenhum outro recurso que não seja o próprio corpo em estado de comunicação. Pode-se classificar os movimentos em três grandes grupos: voluntário, reflexo e automático. Os movimentos reflexos, por sua vez, podem ser subdivididos em inatos e adquiridos. Os movimentos estão sempre impregnados de um saber corporal e cultural, e são portadores de significados, portanto, devem ser entendidos como uma forma de linguagem corporal permeada de voluntariedade ou de subjetividades. Este artigo produziu alguns apontamentos inicias sobre os tipos de movimentos e sua respectiva importância para o educador e treinador.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Motricidade. Tipos de movimentos.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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    Muitas vezes na escola ou em centros esportivos obriga-se que uma criança adapte-se às exigências formais e metodológicas impostas e que tenha um controle sobre si mesma. Sabe-se que muitos comportamentos dependem da nossa vontade e outros aparecem automaticamente. Algumas funções do sistema nervoso se relacionam aos movimentos. Neste sentido, pode-se classificar os movimentos em três grandes grupos: voluntário, reflexo e automático (OLIVEIRA, 2001):

a.     Movimento voluntário

    Como já diz o próprio nome, o movimento voluntário depende de nossa vontade. Movimentos como andar em direção a um objeto (ibidem, 2001) e a ginga da capoeira, são movimentos voluntários. Neste ato supõe-se que houve uma intenção, um desejo ou uma necessidade e finalmente o desenvolvimento do movimento. No movimento voluntário, portanto, há primeiramente uma representação mental e global do movimento, uma intenção, um desejo ou uma necessidade e, por último, a execução do movimento propriamente dito. O ato voluntário é sempre aprendido e é constituído por diversas ações encadeadas.

b.     Movimento reflexo

    O movimento reflexo é independente de nossa vontade e normalmente só depois de executado é que tomamos conhecimento dele. È uma reação orgânica sucedendo-se a uma excitação sensorial. O estímulo é captado pelos receptores sensoriais do organismo e levado ao sistema nervoso. De lá provoca direta e imediatamente uma resposta motora. Pavlov (apud OLIVEIRA, 2001) dividiu os reflexos em inatos e adquiridos:

b.1.     Inatos

    São independentes da aprendizagem e são determinados pela bagagem biológica. São, portanto, hereditários, quase sempre permanentes e comuns a uma mesma espécie animal. Exemplo: uma luz forte incidindo sobre os olhos provoca uma resposta imediata de contração pupilar. Este é um movimento inato, pois não implica em aprendizagem para a sua produção. Outro exemplo: uma gota de limão na boca provoca, como resposta, a salivação, preparando o organismo para a ingestão do elemento ácido.

b.2.     Adquiridos

    São reflexos aprendidos ou condicionados. Sua ocorrência depende de uma história de associação entre estímulos inatos, que produzem resposta reflexa a outros estímulos. No segundo exemplo acima, a simples palavra ou visão do limão pode eliciar uma resposta condicionada de salivação. O reflexo adquirido é muito utilizado e desenvolvido em esportes e outras práticas corporais. Na capoeira, por exemplo, pode-se executar uma esquiva ou outro movimento baseado neste reflexo. Podemos até sugerir que os movimentos de defesa na capoeira são os mais desenvolvidos neste aspecto, devido a necessidade de auto-preservação e defesa do Ser.

c.     Movimento automático

    O movimento automático depende da aprendizagem, da história de vida e de experiências próprias de cada um. Depende, portanto, do treino, da prática e da repetição. A aquisição de automatismos é importante porque propicia formas de adaptação ao meio em que vivemos com uma economia de tempo e esforço, pois não se exige muito trabalho mental. Campos define muito bem este movimento:

    Os automatismos tanto podem ser mentais quanto motores e até sociais como, por exemplo, a cortesia, o cavalheirismo, a cooperação, etc. A observação, a retenção mnemônica, a leitura rápida, a indução etc., constituem exemplos de hábitos mentais. A eficiente realização de atividades dessa natureza depende de um bom desenvolvimento dos hábitos, das habilidades mentais e motoras; através da experiência e do treino, o homem torna-se capaz de realizar esses atos com o mínimo de rendimento, em tempo e em qualidade, sem mesmo necessitar concentrar a sua atenção para executá-los. (CAMPOS, 1973 apud OLIVEIRA, 2001, p. 25).

    Normalmente o movimento se inicia de forma voluntária e, uma vez iniciado, pode-se interrompê-lo a qualquer momento, de acordo com a vontade. Exemplo: quando se anda, não se pensa no balançar dos braços. Tem-se a intenção de andar - voluntário, mas a execução desse movimento torna-se automática. Este movimento nem sempre é iniciado pela vontade. Alguns são iniciados sem que se tenha conhecimento, como a manutenção do equilíbrio e da postura. Existem automatismos que são desenvolvidos através do processo ensino-aprendizagem, passam do plano voluntário para o plano automático (OLIVEIRA, 2001). Nos esportes em geral como na capoeira observa-se claramente isto, quando o praticante domina plenamente os movimentos, seus conceitos e fundamentos. Como o grande capoeirista Mestre Pastinha já dizia: “Se pr’a jogar você imagina ... eu jogo sem imaginar...”.

    Oliveira (2001) afirma que a vontade do educando é essencial para se educar ou reeducar, sem esta não se consegue este objetivo. O movimento “pelo movimento” não leva a nenhuma aprendizagem. É necessário e fundamental que o aluno deseje, reflita e analise seus movimentos, interiorizando-os. Só assim conseguirá atingir uma aprendizagem mais significativa de si mesmo e de suas potencialidades. Não se pode deixar de dar valor aos movimentos automáticos, que são indispensáveis para uma melhor adaptação ao meio, mas não se deve esquecer que eles tiveram sua origem na participação voluntária do sujeito.

    Nicola (2004) reproduz uma definição clássica do movimento, quando afirma que este é o deslocamento do corpo no espaço. De acordo com a autora, o movimento é um termo genérico que abrange indistintamente os reflexos os atos motores conscientes ou não, normais ou patológicos, significantes ou desprovidos de significado. Os movimentos corporais como gestos, podem ser definidos como um movimento determinado por uma intenção. O gesto tem finalidades conscientes ou inconscientes, chegando às vezes a ser uma redundância da comunicação. Para Nicola, assim como o movimento corporal pode estar diretamente ligado a comunicação em algumas situações, o deslocamento do corpo no espaço assumirá significados internos e externos, sem apoio de nenhum outro recurso que não seja o próprio corpo em estado de comunicação. Nicola coloca que os movimentos apresentam algumas características que são independentes entre si, como:

  • Movimentos reflexos: sustos.

  • Movimentos adquiridos: andar.

  • Movimentos com reações condicionadas: queimadura.

  • Gestos conscientes: redundância.

  • Atos falhos: sincinesias [grifo da autora]. (ibidem, 2004).

    Compreender as características dos movimentos e conhecer os seus respectivos tipos é fundamental para a intervenção do educador ou treinador. É crucial para elaborar um programa individualizado de treinamento e aprendizado de forma eficaz, saber que, conforme a maturidade e compreensão corporal do movimento, este pode ganhar outros status em sua reprodução. Os movimentos estão sempre impregnados de um saber corporal e cultural, e são portadores de significados, portanto, devem ser entendidos como uma forma de linguagem corporal permeada de voluntariedade ou de subjetividades.

Referências bibliográficas

  • ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003.

  • FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

  • LUSSAC, Ricardo Martins Porto ( Mestre Teco ). Desenvolvimento psicomotor fundamentado na prática da capoeira e baseado na experiência e vivência de um mestre da capoeiragem graduado em educação física. Universidade Cândido Mendes, Pós-Graduação “Lato Sensu”, Projeto A vez do Mestre. Rio de Janeiro: 2004.

  • NICOLA, Mônica. Psicomotricidade – Manual Básico. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.

  • OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num enfoque Psicopedagógico. 5ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

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revista digital · Año 13 · N° 130 | Buenos Aires, Marzo de 2009  
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