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O trabalhador social e o antagonismo dialético 

sobre docilizar ou não os corpos

The social worker and antagonism on docilizar dialectical or not the bodies

 

*Graduando em Educação Física pela UCB/RJ
Pós-graduando em elaboração e Gestão de Projetos Sócio-esportivos pela UCB/RJ
Integrante do Grupo de Cultura Corporal da UCB/RJ. Integrante do LAPEM da UCB/RJ

**Graduada em Educação Física pela UCB/RJ
Pós-graduando em elaboração e gestão de projetos Sócio-esportivos pela UCB/RJ
Integrante do LAPEM da UCB/RJ. Coordenadora de um dos núcleos do projeto Segundo Tempo

***Graduando em Educação Física pela UCB/RJ
Pós-graduando em elaboração e gestão de projetos Sócio-esportivos pela UCB/RJ. Estagiaria do projeto SESC na praia

****Graduado em Educação Física pela UCB/RJ
Pós-graduando em elaboração e gestão de projetos Sócio-esportivos pela UCB/RJ
Professor do projeto SESC na praia

*****Graduando em Educação Física pela UCB/RJ
Pós-graduando em elaboração e gestão de projetos Sócio-esportivos pela UCB/RJ
Estagiaria da Empresa Júnior de Educação Física da Universidade Castelo Branco

Mauricio Fidelis*

mauriciofidelis@hotmail.com

Aline de Oliveira**

alinejudoca@gmail.com

Fláviane Marques***

flaviane_marques@yahoo.com.br

Rafael Braga de Moraes****

rafa_oz85@hotmail.com

Débora Costa Cardoso*****

debora_thissaleia@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este artigo de revisão bibliográfica analisa as possibilidades de atuação do trabalhador social. Discutindo inicialmente o contexto sócio-econômico de surgimento do mesmo e como a Educação Física está inserida nesta realidade. Prosseguindo são considerados argumentos relativos às expectativas quanto ao papel deste profissional na sua intervenção dentro deste contexto e finalizando com uma reflexão sobre a intervenção do professor de Educação Física como trabalhador social numa perspectiva crítica sobre a sua .

          Unitermos: Trabalhador social. Educação Física. Corpo social.

 

Abstract
          This review examines the possibilities of action of social worker. Initially discussing the socio-economic context of the same appearance as the Physical Education and is embedded in this reality. Following are considered arguments relating to expectations about the role of this professional in his speech in this context and ends with a reflection on the work of the professor of physical education as a social worker in a critical perspective on its own.

          Keywords: Social worker. Fitness. Social body.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

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Introdução

    Diante do contexto sócio-econômico brasileiro atual em que é uma crescente a implantação de projetos sociais, principalmente aqueles que utilizam o esporte como ferramenta de base tendo assim grande participação do profissional de Educação Física, surge este estudo com o objetivo de analisar as possibilidades de atuação deste profissional enquanto trabalhador social no sentido de colaborar para manutenção ou modificação do modelo de sociedade vigente. Trata-se de uma pesquisa exploratória em Ciências Sociais, utilizando o método dialético no qual os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político e econômico, realizada através da técnica de levantamento bibliográfico norteada principalmente por autores como LAMAMOTO, CARVALHO (2008), MELO, DRUMMOND (2008), FREIRE (2002) e FOUCAULT (1987), mapeando assim os processos que culminaram no serviço social contemporâneo, e a real finalidade do trabalhador social que por vezes se perdem em meio aos interesses hegemônicos de uma reduzida casta de nossa sociedade.

Contexto sócio-econômico gerador do trabalhador social

    Antes de abordar o papel do trabalhador social é importante entender em que contexto nasceu este profissional e quais foram as circunstâncias que levaram o Brasil a necessitar deste tipo de profissional. É fundamental considerar como se proliferou o conceito de projeto social e como este pode ser em alguns casos ações assistencialistas e paternalistas ou se tornar uma tecnologia social que deve primar pela extinção ou ao menos pagar em parte uma dívida que a formação desta sociedade criou para com os menos favorecidos.

    O nascimento do capitalismo criou um fenômeno conhecido como industrialização que tinha como objetivo a produção e o acúmulo do capital, este fortaleceu dois grupos conhecidos como burguesia, que ascendeu de forma acelerada com a revolução industrial ocorrida em meados do XIX, e o estado, que serviu de caminho para justificar a existência e a atuação da classe burguesa dentro de um contexto social, em que a mesma fortalecia o estado, e dentro dele disseminava os seus tentáculos. Essa simbiose trouxe prosperidade para a burguesia e maiores poderes para o estado, acarretando o enfraquecimento de uma entidade que até então tinha muito poder na sociedade, a igreja católica, que começou a perder seu poder com o final do império.

    Sobre a bandeira do estado e da classe burguesa, nasce um tempo onde à tecnologia avança sobre todos os campos e o capital passa a ser o centro e o objetivo de todas as ações.

    Nesta época de transformações de grandes proporções, as cidades e o trabalho se modificaram e as culturas passaram a ser exportadas como mercadoria, dentro desta conjuntura de acontecimentos e mudanças, a exploração desumana de trabalhadores por todo o mundo resultou em várias revoluções, todas influenciadas por um ideário de sociedade criado por Karl Marx, um alemão que não acreditava na eternidade do capitalismo e que idealizou um novo modelo que deveria substituir este, quando o capitalismo se auto-destruísse. Com foco nas idéias de Marx os trabalhadores começam a discutir as suas relações de trabalho e a perceber que cada vez mais eles eram colocados em situações desumanas e se inicia um processo de reivindicações por melhores condições.

    A jornada de trabalho de 14 horas, em 1911 será em média de 11 horas e, no entanto, dependerá na maioria das vezes das necessidades das empresas. (LAMAMOTO, CARVALHO, 2008, p. 129)

    Estas condições de trabalho valiam para homens, mulheres e crianças, não importando em que condições, desde que estas suprissem a demanda do capital. Neste contexto de grandes revoltas a igreja descobriu uma forma de atuar para recuperar o seu poder, a estratégia teve início com o papa Leão XIII que escreveu a encíclica Renum Novarum que significa das coisas novas, cujo intuito foi dar voz ao proletariado, e de trazer este grupo que estava se fortalecendo para o seio da igreja, conseguindo assim o poder de ser mediador (manipular) entre esta classe que se rebelava e a classe dominante. "Diante deste contexto, é possível perceber a penetração da igreja católica no período, e a importância da encíclica Rerum Novarum" (MELO, DRUMMOND, 2008, p. 60).

    Esse processo, que durante a década de 1920 se desenvolve apenas moderadamente, se acelerará no inicio da década seguinte, com a mobilização, pela Igreja, do movimento católico leigo. Surgirá o serviço social como um departamento especializado da ação social, embasado em sua doutrina social. (LAMAMOTO, CARVALHO,2008, p. 140)

    O processo de reformulação da atividade política religiosa comandada pela hierarquia iniciá-se, cronologicamente, a partir da segunda metade da Republica velha e terá por bandeira, justamente, recuperar os privilégios e prerrogativas perdidas com o fim do império. (LAMAMOTO, CARVALHO, 2008, p. 141)

    A igreja apareceu então como grande mediadora e quem até então tinha o poder para intervir em mudanças significativas, no entanto, a Rerum Novarum não aceitava o socialismo o que fez com que muitos trabalhadores não aceitassem esta intervenção da igreja. Fica claro o lado assistencialista e controlador da igreja com esse trecho da encíclica:

    Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objeto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. (WIKIPÉDIA)

    Com isso a Igreja trouxe para o seu seio os leigos, que ficaram responsáveis por organizar todo este movimento social que ficou conhecido como doutrina social da igreja. Estas ações que visavam manter a ordem e a hegemonia de uma pequena parcela da sociedade ganharam força e geraram inúmeros movimentos dentro da igreja, posteriormente os empresários começaram a se organizar e a instrumentalizar essa tecnologia que surgia, e que apresentava tamanha força para manipular.

    Quanto ao empresariado, será importante assinalar que sua preocupação com o social, seu novo espírito social, é um fenômeno recente que aparece apenas a partir da desagregação do estado novo e término da segunda guerra mundial. Representa uma adaptação à nova fase aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura política diferenciada e sua adesão às novas formas de dominação e controle do movimento operário, cuja especificidade será dada pelo populismo e desenvolvimentismo, onde a procura do consenso se sobrepõe à simples coerção. (LAMAMOTO, CARVALHO,2008, p. 135)

    O empresariado teve que fazer algumas concessões e como a diminuição do tempo de trabalho e um pagamento "mais justo" ao trabalhador, além de outras vitórias que os trabalhadores obtiveram, muitas delas na era Vargas. Porém criou-se um problema, como administrar o tempo livre deste trabalhador e fazer com que esse direito concedido não se tornasse uma ação contrária aos interesses da classe dominante? O trabalhador era considerado parte do capital, e os patrões tinham medo que estes se dessem aos vícios que poderiam denegrir o seu capital; havia também o temor que estes com mais tempo livre pudessem de alguma forma se organizar em revoluções que insurgiam e expropriar o patrimônio.

Inserção da Educação Física e do trabalhador social neste contexto

    Dentro desta conjuntura começaram a ocorrer articulações de segmentos da sociedade (estado, igreja, empresários), para que de alguma forma pudessem controlar o tempo livre dos trabalhadores.

    O processo de controle do tempo de não-trabalho foi garantido pela articulação entre poder judiciário, forças policiais e igreja: leis restritivas, aprovadas pelo primeiro, eram observadas por um sistema policial a serviço da "ordem" e sublimadas pela intervenção da religião, que começava a se inserir nos meios populares a título de oferecer ajuda material e espiritual à "difícil situação de pobreza" (MELO, DRUMMOND 2003, p. 8)

    Aliado a isto, era uma época em que conceitos higienistas eram muito fortes, havia uma grande preocupação com a saúde das pessoas em especifico dos operários, pois a produção não podia sofrer quedas, já que a demanda crescia junto com a cidade, então surgiram manipulações que contemplassem estes interesses. Dentro deste contexto Marinho (2005) diz:

    A Educação Física refletia, pois, o projeto burguês que se consolidou em fins do séculos XIX; sob a hegemonia dos médicos higienistas, incorporou-se às técnicas de controle social. (p. 25)

    As primeiras "praças de esporte" e "centros de recreios" surgiram na transição das décadas de 1920 e de 1930, inseridos no quadro de controle dos espaços públicos, processos em desenvolvimento desde o fim do século XIX. Naquele momento, as atividades "recreativas" eram entendidas como formas de manutenção da saúde e recuperação da força de trabalho, dimensões importantes para um país que se industrializava e sentia os impactos desse processo, principalmente na organização das cidades, que cresciam rapidamente e de forma desordenada. Não por acaso, houve uma forte ligação e um grande oferecimento de atividades físicas, consideradas as mais adequadas, tendo em vista tais intuitos. (MELO, DRUMMOND, BRÊTAS. 2008 p. 12)

    A partir destes conceitos surge o trabalhador social, que detém o conhecimento técnico para intervir de forma eficaz e eficiente dentro de um determinado contexto, com a prerrogativa de aplacar um quadro que em muitas das vezes foi gerado pela desigualdade social ou para mantê-lo.

    Sobre esse poder MELO (2008) diz:

    Não oferecer somente atividades para o simples passar do tempo, que acaba contribuindo para a alienação do individuo perante a sociedade. Trata-se, sim, de perceber que temos uma poderosa ferramenta de intervenção em busca da construção de uma ordem social, mais igualitária e mais justa.

    Esta ferramenta a qual ele se refere é o lazer, o esporte e a cultura que são praticados nas horas vagas e que em muitos casos são manipuladas pelas classes dominantes com o intuito de aprisionar a mente e docilizar os corpos dos operários em verdadeiras ações alienatórias. Esta manipulação não poderia ser feita de forma clara e nem pelos próprios interessados, então começou a se usar o trabalhador social para que este pudesse através do tempo de não trabalho agir na cabeça dos operários e mais adiante da população como um todo, como forma de manutenção da ordem vigente.

    A prática institucional do serviço social, demandada pela classe capitalista e por seus representantes no estado para intervir junto aos trabalhadores, é apreendida como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e na difusão da ideologia dominante. (LAMAMOTO, CARVALHO,2008, p. 23)

    Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da respostas às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da historia. A partir dessa compreensão é que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política, para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas não se pode excluí-las do contexto da prática profissional, visto que as classes só existem inter-relacionadas. (LAMAMOTO, CARVALHO,2008, p. 75)

    Este profissional que na maioria das vezes era da área de saúde e de entretenimento tinha o intuito de atuar de maneira formativa na cabeça das massas, deixando estes corpos dóceis para o trabalho e para o convívio social. De acordo com Foucault "A submissão dos corpos pelo controle das idéias" (1987, p.86), foi uma ferramenta muito eficiente usada pela classe dominante e que até os dias atuais é usual no que tange a formação de opinião, a vendas de produtos; cultura e etc. Atingir a eficácia almejada do corpo do trabalhador, não é um processo fácil e nem novo, porém tem que ser constante para que seja pleno.

    A escala, em primeiro lugar, do controle: não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica – movimentos, gestos atitudes, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. Objeto, em seguida, do controle: não, ou não mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os sinais; única cerimônia que realmente importa é a do exercício. A modalidade enfim: implica numa coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhe impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as "disciplinas". (Foucault 1987, p. 118)

    A disciplina segundo Foucault (1987), foi uma das grandes descobertas da nossa sociedade por que através dela é possível fabricar corpos dóceis e submissos. "A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui esta mesma força (em termos políticos de obediência)" (1987, p. 119). As classes dominantes se aprimoraram para que elas pudessem exercer poder na pessoa como um todo, estudaram mecanismos que deixassem o corpo dócil aos seus anseios. Conforme Danjou apud Foucault "quando o corpo se agita, quando o espírito se aplica a um objeto determinado, as idéias importunas se afastam, a calma renasce na alma" (1987, p. 204), as camadas dominantes da nossa sociedade entenderam isso e aplicaram estes conceitos nos projetos sociais.

    Hoje existem no Brasil e no Rio de Janeiro uma série de projetos sociais que estão espalhados de acordo com as necessidades muitas vezes mais dos políticos e das empresas que visam benefícios pessoais com estes projetos que necessariamente da população.

    Um projeto comunitário caracteriza-se pela interação de interesses comuns na solução de problemas percebidos por um conjunto de pessoas, quer num espaço geográfico delimitado (área urbana, vila, rua etc), quer num espaço social formalizado (sindicato, cooperativas, clubes, associações etc). (TÉNORIO, 2003, p. 13)

    Os projetos sociais têm em seu cerne um profissional que Freire (2002) definiu como trabalhador social. Este tem o poder de intervir na realidade de um determinado grupo de forma a libertá-los das ideologias dominantes, ou de mantê-los atrelados a esta hegemonia que visa docilizar as pessoas de acordo com o seus interesses. Fonseca apud freire relata que:

    É exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com a finalidade proposta pelo homem, à qual está associada à capacidade de refletir, que o faz um ser de práxis. (2005, p. 19)

    Com base em todo esse aparato de idéias, aperfeiçoamento de técnicas, capacitação de profissionais ao longo do tempo, o lazer cerceado até certo ponto, e liberado dentro de limites, a divulgação de idéias que alienam e se tornaram senso comum, é que as manipulações são feitas.

    O esporte ganhou nos últimos tempos signos que atribuem ao mesmo um poder messiânico de tirar crianças do crime, dar saúde, de gerar ordem onde à desordem impera, dentre outros, e assim os projetos sociais dentro da área esportiva vem surgindo pelos quatro cantos e com o imperativo de grande salvador das mazelas sociais que nos aflige.

Intervenção do professor de Educação Física com trabalhador social

    O profissional de Educação Física tem recebido status de herói dentro de muitas localidades, e alguns ou talvez a maioria esteja a serviço desta minoria que controla nossa sociedade e que dela se beneficia. O próprio profissional de Educação Física talvez por ignorância ou na intenção de manter seu emprego ou status quo, não usa o poder de transformação que tem em suas mãos, e deixa que o senso comum impere dentro da cabeça das massas, sem intervir para mudança do sistema estabelecido, o que deveria ser a missão de qualquer trabalhador social.

    Este sistema influem sobre as massas populares como força política externa,como elemento de força coesiva das classes dirigentes, e, portanto, como elemento de subordinação a uma hegemonia exterior, que limita o pensamento original das massas populares de uma maneira negativa, sem influir positivamente sobre elas, como fermento vital de transformação interna do que as massas pensam, embrionária e caoticamente, sobre o mundo e sobre a vida. (GRAMSCI, 2006, p. 144)

    A utilização dos projetos sociais como instrumento de inclusão visando acabar ou ao menos reduzir a exclusão social imposta aos menos abastados de nossa sociedade, tem que ser prerrogativa do trabalhador social e em específico o profissional de Educação Física que não deve se ater ao corpo bio-anato-fisiologico, mas ao corpo social com toda a carga de signos sociais que compõe o cidadão em sua individualidade, utilizar o movimento físico como ferramenta, como caminho para libertação desta alienação que nos impõe as normas deste sistema globalizado e que gera tantas mazelas.

    As lacunas deixadas pela falta de reformas agrária, tributária e social tornaram o capitalismo brasileiro uma máquina de produção de desigualdades. (POCHMANN e AMORIN, 2004, p. 21)

    Não há dúvida de que a face do país pode ser outra, em que o plano geográfico seja capaz de apontar para a existência de uma sociedade menos desigual, ainda que plural, diversa e democrática. Entretanto, para que essa nova face seja possível, o efetivo combate à exclusão social, em toda a sua extensão e complexidade, é absolutamente imprescindível. (POCHMANN e AMORIN, 2004, p. 26)

    Como optar por libertar o corpo dócil, como fazer com que uma classe alienada de pessoas compreenda em que sociedade estão inseridas e que seus direitos básicos garantidos pela constituição não são ao menos considerados, como através das nossas práticas profissionais poderemos propiciar atividades que de fatos os levem a criticar as ações praticadas pela classe dominante ou que os políticos tomam se na grande maioria das vezes o financiamento destes projetos são oriundos dos pertencentes a esta classe minoritária que detém a grande parcela do capital? Como propor uma metodologia de trabalho que vise atender ao público sem que esta ação seja cerceada pelos investidores destes projetos?.

    Talvez o que falte ao trabalhador social ao professor de educação Física enquanto interventor numa determinada realidade é o que descreve Carvalho apud Barbosa.

    A falta de consciência crítica, impede o conjunto quase total, do professorado de Educação Física, de compreender as "insanidades pseudofilosóficas" da intelectualidade, que enevoam e impossibilitam uma certa intimidade com os "saberes" próprios às mais diversas áreas do conhecimento humano, e que, certamente, o conduziria ao compromisso político com outro modelo de sociedade. (2001, p. 27)

    Reformulações nas leis, nas instituições superiores e em normas que regulamentam a intervenção dos investidores em projetos sociais, entre outras medidas, ainda devem ser discutidas e implementadas para que as ações sociais cumpram de fato o papel que lhe cabe, de reduzir as desigualdades através de ações planejadas de acordo com as necessidades do local de atuação, bem como no intuito de libertar o trabalhador social do aprisionamento ao qual ele muitas vezes fica exposto, sendo apenas um mero domesticador de pessoas.

Conclusão

    Baseado nesta pesquisa constatamos que o trabalhador social surge em conseqüência a uma série de modificações sócio-econômicas que culminaram no abismo de desigualdade entre classes que vivemos na atualidade, em que uma pequena parte detém o poder e usa de diversos artifícios para dominar e alienar cada vez mais a massa, gerando exclusão e outras mazelas. A função deste profissional é intervir neste contexto visando uma estrutura social mais equilibrada. No entanto, este papel vem sendo manipulado por interesses da classe dominante para manter a ordem social vigente, utilizando estratégias tais como as atividades de esporte e lazer para passar o tempo das pessoas e produzir corpos dóceis e submissos, muitas vezes por meio de projetos sociais.

    Concluímos que o professor de Educação Física atuando nesta realidade enquanto trabalhador social deve estar consciente quanto a sua forma de intervenção, se através da sua prática profissional contribui para manutenção do status quo ou busca desenvolver uma consciência crítica, conduzindo os alunos a compreensão de seus direitos e deveres, influenciando para uma transformação do sistema estabelecido.

Referências bibliográficas

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  • FOUCAULT, M. de. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987.

  • FREIRE, P. de. Educação e mudança. 26º ed.; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

  • GRAMSCI, A. de. Caderno do cárcere. Volume 1. 4º ed.; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006).

  • IAMAMOTO, M; CARVALHO, R, DE.. Relações sociais e serviço social no Brasil. 23 Ed. SP. Cortez, 2008.

  • MARINHO, V. de. Consenso e conflito: Educação Física Brasileira. 2º ed. Rio de Janeiro: Shape 2005.

  • MELO, A. V.; JUNIOR, A. D. E; BRÊTAS, A. Lazer e cidade: reflexões sobre o Rio de Janeiro. – RJ; Shape/ FAPERJ, 2008.

  • MELO, A. V.; JUNIOR, A. D. E. Introdução ao lazer. São Paulo: Manole, 2003.

  • POCHMANN, M.; AMORIM R. de. Atlas da exclusão social no Brasil. 3º ed. – São Paulo: Cortez, 2004.

  • TENÓRIO, G. F. de. Avaliação de projetos comunitários: abordagem pratica. São Paulo: Loyola, 2003).

  • WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Rerum Novarum.

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