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A EDUCAÇÃO FÍSICA NO RIO GRANDE DO SUL DURANTE A REPÚBLICA VELHA: APONTAMENTOS DO MOMENTO HISTÓRICO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Marcelo S. da Silva


Ao observarmos o contexto sócio-político-econômico do Rio Grande do Sul durante a República Velha podemos entender porque a Educação Física foi tão bem assimilada pelo discurso do poder. O Estado que buscava maneiras de se adequar à nova ordem, ao processo de industrialização, vislumbrando uma futura transformação da sociedade latifundiária-escravagista para uma sociedade capitalista, tinha que promover a modernização sem esquecer-se de tentar solucionar os problemas da classe dominante no cenário econômico do Estado; buscar amenizar os problemas causados pela urbanização desorganizada; pelo inchamento das camadas médias da sociedade e pela falta de educação e saneamento básico das classes assalariadas. Sem no entanto fortalecer demasiadamente a classe proletariada para que esta não se rebela-se contra a ordem vigente.

Para todos esses problemas uma das soluções encontrada foi a Educação Física, primeiro por essa estar extremamente ligada as idéias positivistas e também porque, segundo SOARES, a Educação Física durante o seu desenvolvimento era vista como "um meio de veicular a idéia da hierarquia, da ordem, da disciplina, da fixidez e do esforço individual" 54 , além de ser um instrumento "científico" capaz de melhorarar física, mental e moralmente os cidadãos, tornando o homem mais apto a sua função de fornecedor de força de trabalho e preparando a mulher para a maternidade, a sua nobre tarefa para com a sociedade em construção.

É claro que não foram um ou dois motivos que vieram a desenvolver a Educação Física no Rio Grande do Sul, assim como esta não era a único instrumento utilizado pelo Estado para transmitir suas idéias. Mas, com certeza a Educação Física durante a República Velha teve por trás de sua implementação não só motivos dignos e imparciais mas também interesses objetivos e subjetivos de promover a política proposta pela camada no poder. E bem ou mal este foi um dos incentivos para que a Educação Física se desenvolvesse no Rio Grande do Sul.

Em relação à formação dos professores de Educação Física no Estado, podemos concluir que a participação do professor Frederico Guilherme Gaelzer foi fundamental, como grande estudioso do assunto e como instrutor, além de organizador dos Cursos Intensivos de Educação Física para professores de 1º grau do Estado. É importante ressaltar que já no seu surgimento, no Estado, a Educação Física apresentava um caráter de generalidade, encerrando em seus saberes desde os conhecimentos anátomo-fisiológicos, questões de organização e administração e conhecimentos sobre recreação pública. O professor de Educação Física era um agente paramédico, um recreacionista, um administrador de clubes, escolas e federações, entre outras ocupações que poderia assumir. Percebe-se na formação dos professores neste período uma grande preocupação com as questões biológicas, centrando a formação em uma visão Positivista de ciência, onde o homem era compreendido principalmente em sua dimensão anátomo-fisiológica, predominando assim uma tendência higienista de Educação Física com forte caráter disciplinador.


Referências bibliográficas


Notas

  1. PESAVENTO, Sandra Jatahy. República velha gaúcha: Estado autoritário e economia. In: DACANAL, José Hildebrando & GONZAGA, Sérgius. RS: economia e política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979. p.193.
  2. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. 7 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994. p. 63.
  3. PICCOLI, João Carlos Jaccottet. A Educação Física na escola pública do Rio Grande do Sul: Antecedentes históricos (1857 - 1984). Pelotas: Ed. Universitária / UFPel, 1994. p. 24.
  4. PICCOLI, 1994. p. 13.
  5. SOARES, Carmen Lúcia. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 1994. p 9.
  6. No decorrer do texto veremos que os termos Ginástica, Cultura Física, Adestramento Físico, entre outros poderão ser utilizados como sinônimos de Educação Física principalmente em citações de autores.
  7. SOARES, p. 12.
  8. COMTE, Auguste. Cours de Philosophie Positive: discours sur l'esprit positif. Paris: Librairie Garnier Fréres. [19-]. p. L - LI. [Tradução nossa]
  9. PARK, Robert Ezra. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. In.: VELHO, Otávio Guilherme (Org.). O fenômeno Urbano. RJ: Zahar Editores, 1979. p. 36
  10. Id., ibid. p. 36
  11. SOARES. p. 16.
  12. Id., ibid. p. 16 -17.
  13. "Ordem' e "progresso" é o binômio essencial do positivismo..." A constituição do positivismo se fundamenta nesse lema projetando todas as pesquisas e todo modo de ser na reconstrução da civilização ocidental..." Antônio Carlos BERGO, apud SOARES, p. 25.
  14. SOARES, p. 20.
  15. OTAVIO IANNI, citado por SOARES, 1994. p.89, afirma que por volta de 1850 para uma população de 5.520.000 pessoas livres, encontram-se 2.500.000 negros.
  16. Sobre la entrada de inmigrantes europeos e el crecimiento de la población libre OTAVIO IANNI afirma que:
    "En 1872 los esclavos eran 1.510.000, mientras que los libres totalizaban 8.601.255. En el año de la abolición, en 1888, la población esclava estaba cerca de 500.000, pero la población libre continua aumentando de forma acelerada debido al incremento de la migración europea en las últimas décadas del siglo XIX."
    OTAVIO IANNI, citado por SOARES, 1994. p. 89
  17. Id., ibid. p. 25.
  18. Segundo MELO durante o surgimento da Educação Física no Brasil percebe-se a influência de militares como os primeiros instrutores de aulas de educação física, e também primeiros professores de cursos de formação para Professores de Educação Física. MELO, Victor Andrade de. Relação Teoria & Prática e Formação profissional na Educação Física Brasileira: Apontamentos na história. Revista Motrivivência, Florianópolis, SC, n.º 8, Ano 7, 1995, p103 - 115
  19. Id., ibid. p. 106.
  20. Id., ibid. p. 104.
  21. PESAVENTO, 1979. p. 194.
  22. PESAVENTO, 1979. p. 194-195.
  23. Id., ibid. 1979. p. 196.
  24. Id., ibid. 1979. p. 201.
  25. PESAVENTO, 1979. p. 205.
  26. Id., ibid. 1979. p. 205.
  27. PESAVENTO, 1979. p. 208.
  28. Id., ibid. 1979. p. 221.
  29. PESAVENTO, 1979. p. 226.
  30. DILL, Aidê Campello. O Ensino no Rio Grande do Sul. In: BELLOMO, Harry Rodrigues et alii. Rio Grande do Sul: aspectos da cultura. Porto Alegre; Martins Livreiro, 1994. p. 111.
  31. Id., ibid. p. 112.
  32. RODRIGUES, Ricardo Vélez, citado por DILL, p. 113
  33. PICCOLI, p. 13.
  34. Id., ibid. p. 15.
  35. Id., ibid. p.16.
  36. DILL, 1994. p. 114
  37. PROVINCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE, 1877 a, citado em PICCOLI, P.17.
  38. PICCOLI, p. 17.
  39. PICCOLI, p. 19
  40. SILVA, apud PICCOLI, p. 20.
  41. PENNA MARINHO, apud PICCOLI, p. 21-22.
  42. Estado do Rio Grande do Sul, apud PICCOLI, p. 24.
  43. PICCOLI, p. 27.
  44. Id., ibid. p. 29.
  45. Id., ibid. p. 29.
  46. Estado do Rio Grande do Sul, apud PICCOLI, p. 29-30.
  47. Id., ibid. p. 30.
  48. PICCOLI, p. 34.
  49. Id., ibid. p. 35.
  50. PICCOLI, p. 39.
  51. PICCOLI, p. 36.
  52. Id., ibid. p. 37.
  53. Id., ibid. p. 40.
  54. SOARES, P. 20.


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Año 4. Nº 13. Buenos Aires, Marzo 1999.