Lecturas: Educación Física y Deportes
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Revista Digital


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O PROGRAMA DE JOGOS COOPERATIVOS
NO CEPEUSP. UMA AVALIAÇÃO
Katia M. Alves Barata - Sheila A. P. Santos Silva - Fábio Otuzi Brotto (Brasil)
sapsilva@usp.br


Resumo
Este estudo teve como objetivo avaliar, sob a perspectiva discente, o alcance dos objetivos de um programa de Educação Física que utiliza Jogos Cooperativos como estratégia para promover uma ética de cooperação entre alunos de diversos cursos de nível superior. Os objetivos foram: (a) permitir uma reflexão sobre a visão cooperativa e a visão competitiva de jogo/vida; (b) permitir uma vivência de Jogos Cooperativos como uma prática capaz de transformar nosso condicionamento competitivo em uma alternativa cooperativa; (c) potencializar habilidades humanas essenciais como: alegria, entusiasmo, bom humor; criatividade; auto-estima; confiança mútua, respeito pelas diferenças e amor. Foram analisados 30 questionários respondidos por 21 mulheres e 9 homens, com idades entre 17 e 34 anos, alunos do Programa de Jogos Cooperativos do CEPEUSP nos anos de 1994 (2o semestre) e 1995. O questionário era composto por seis questões abertas e um espaço para expressão livre. A análise das respostas foi feita de acordo com os seguintes procedimentos metodológicos: a) leitura dos questionários; b) identificação e agrupamento de unidades significativas dos discursos; c) construção de uma matriz nomotética; d) análise e interpretação dos dados.
Os resultados apontaram que, de uma forma geral, o Programa foi bem sucedido, confirmando os objetivos dos Jogos Cooperativos citados na literatura, mostrou possuir potencialidade para promover sentimentos e habilidades como auto-conhecimento e crescimento pessoal, no entanto deve sofrer revisão para que a criatividade seja uma habilidade mais desenvolvida.
Unitermos:
Educação Física. Jogos. Cooperação. Jogos Cooperativos.

THE COOPERATIVE GAMES PROGRAM IN THE CEPEUSP. ONE EVALUATION.
Abstract
The goal of this study was to evaluate a program of Physical Education, from the student's perspective. The focus was to check whether a program that uses Cooperative Games is successful as a strategy to promote cooperation ethics among undergraduate students of several courses. The program's objectives were: (a)to allow a reflective thinking on the cooperative vision and on the competitive vision of game / life; (b) to allow an experience in Cooperative Games as a practice capable to transform our competitive conditioning toward a more cooperative alternative; (c) promote essential human abilities such as:happiness; enthusiasm; good mood; creativity; self-esteem; mutual trust; respect for the differences and love. Thirty questionnaires answered by 21 women and 9 men were analyzed, who were all students enrolled in the Program of Cooperative Games of CEPEUSP in the years of 1994 (2nd semester) and 1995 and ages ranging between 17 and 34 years. The questionnaire was composed by six open questions and a space for free expression. The analysis of the answers was made in agreement with the following methodological procedures: a)reading the questionnaires; b) identifying and grouping significant units of the speeches; c) construction of a main nomothetics; d) analysis and interpretation of the data.
Overall the results pointed out that the Program was successful confirming the objectives of the Cooperative Games mentioned in the literature, it showed to possess potentiality to promote feelings and abilities as solemnity-knowledge and personal growth, however it should undergo a revision so that the creativity can be more developed.
Key words: Physical Education. Games. Cooperation. Cooperative Games


Introdução
Os Jogos Cooperativos surgiram da preocupação com a excessiva valorização que a sociedade atribui à competição. Considerada um valor natural e normal da sociedade humana, a competição se transfere para o nosso "JOGO-VIDA". Temos competido em lugares, com pessoas, em momentos que não deveríamos, como se essa fosse a única opção.

Ao contrário de ser uma característica própria, inerente ao Homem, a competição, assim como a cooperação, é um valor cultural aprendido (Orlick, 1989). No entanto, nossa sociedade e o nosso sistema educacional se baseiam e têm perpetuado somente uma ética competitiva. Segundo Orlick (op. cit., p.19),

"(...) não ensinamos nossas crianças a amarem o aprendizado; nós a ensinamos a se esforçarem para conseguirem notas altas. Não ensinamos as crianças a amarem os esportes, nós a ensinamos a vencer jogos".

A valorização da competição se manifesta nos jogos através da ênfase no resultado numérico e na vitória. Os jogos tornaram-se rígidos e organizados, dando a ilusão que só existe uma maneira de jogar. Como diz Kagan (1992): "As crianças não jogam jogos competitivos, elas os obedecem.". Verdadeiros campos de batalha capazes de eliminar a diversão e a pura alegria de jogar, estruturados para a eliminação de pessoas e para produzir mais perdedores do que vencedores, os jogos tornaram-se espaço para tensão, derrota, ilusão de ser melhor ou pior que alguém e para sentimentos como raiva, medo, frustração, fracasso, rejeição, e animosidade.

Se fizermos um balanço de nossas experiências de jogar, na escola ou fora dela, verificamos que pendem muito para o lado dos jogos competitivos. Nem sempre os programas de Educação Física dão ênfase a atividades que promovam interações positivas, colaborando para que a competição deixe de ser um comportamento condicionado e para que se perceba que existem outras formas mais positivas de nos relacionar com as pessoas, com a natureza, conosco, que existem outras formas prazerosas e possíveis de viver e jogar, e que podemos optar com consciência e liberdade.


Os Jogos Cooperativos, uma alternativa
Os Jogos Cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa onde os participantes jogam COM o outro, e não CONTRA o outro. Joga-se para superar desafios e não os outros; joga-se para se gostar do jogo. São jogos onde o esforço cooperativo é necessário para se atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos. No processo se aprende a considerar o outro, a ter consciência dos seus sentimentos, a operar para interesses mútuos (Orlick & Zitzelsberger, 1995).

Estes Jogos são estruturados para diminuir a pressão para competir e a necessidade de comportamentos destrutivos, promover a interação e a participação de todos, e deixar aflorar a espontaneidade e a alegria de jogar. Os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, jogos que eliminam o medo e fracasso e que reforçam a confiança em si. Todos ganham e ninguém perde (Orlick, 1978). Dessa forma os Jogos Cooperativos resultam no envolvimento total, em sentimentos de aceitação e vontade de continuar jogando. Podemos também compreender melhor os Jogos Cooperativos a partir da citação de Brotto (1995, p.39):

"Participando destes jogos tocamos uns aos outros pelo coração. Desfazemos a ilusão de sermos separados e isolados. E percebemos o quanto é bom e importante ser a gente mesmo e respeitar a singularidade do outro. Daí a principal lição - AMAR. "

Um breve histórico dos Jogos Cooperativos no CEPEUSP
Programa de Jogos Cooperativos começou a ser oferecido no Centro de Práticas Esportivas na Universidade de São Paulo (CEPEUSP) no segundo semestre de 1991, sob a responsabilidade dos professores Fábio O. Brotto e Jofre Cabral. No ano de 1992 foi oferecido apenas no primeiro semestre pelo prof. Jofre. O Programa foi retomado pelo prof. Fábio em 1994 e continua até hoje. Seus objetivos são: O Programa é semestral, com aulas de 60 minutos ministradas duas vezes por semana, tendo a duração total de 30 horas aproximadamente. Faz parte do programa de Atividade Física Orientada do CEPEUSP destinado aos alunos da Universidade que necessitam cumprir a Prática Esportiva Obrigatória (freqüência obrigatória por um semestre para os alunos dos cursos de graduação), aos alunos da Prática Esportiva Espontânea, aos alunos de pós-graduação, docentes e funcionários. Todos optam por freqüentar o Programa de Jogos Cooperativos (escolhendo dentre outras modalidades esportivas) no período de matrícula do CEPEUSP, nos meses de janeiro e julho.

O número de inscritos e o de aprovados (aqueles que obtém freqüência acima de 70%) no Programa desde 1991 podem ser verificados na tabela a seguir.

semestre-ano 2º sem-91 1º sem-92 1º sem-94 2º sem-94 1º sem-95 2º sem-95
Nº inscritos 32 30 16 26 21 29
Nº alunos aprovados 18 9 2 7 6 18


No início de cada semestre é feito um cronograma de atividades que pode, no entanto, ser modificado de acordo com as características, ritmo, contribuições do grupo. As atividades se caracterizam por: promover participação de todos igualmente; estimular a confiança e o respeito mútuo; facilitar a construção e o alcance de metas comuns; incentivar a cooperação consigo mesmo, com os outros e com a natureza; estreitar as fronteiras entre a individualidade e totalidade; e por se desenvolverem em um clima de paz, harmonia, liberdade, criatividade, e alegria.

O conjunto de atividades que formam o Programa inclui brincadeiras, jogos, novos esportes, danças, dinâmicas de grupo, atividades de integração com a natureza e outras. É importante apontar que, em vários momentos, os alunos dão sugestões, participam da mudança de regras e da transformação dos jogos, visando melhorar a participação, aumentar o grau de satisfação em jogar e aumentar o desafio.

Cada aula consiste numa atividade inicial de aquecimento, um ou mais jogos/atividades principais, e de uma atividade final de relaxamento/volta à calma. Ao final de cada aula há sempre um momento para se compartilhar sensações, percepções, opiniões, do que foi vivenciado.


Objetivo
Este estudo procura avaliar o Programa de Jogos Cooperativos do CEPEUSP. O propósito é verificar, a partir da perspectiva discente, se o Programa atinge os seus objetivos como também os objetivos dos Jogos Cooperativos descritos na literatura.


Metodologia da pesquisa
A partir do segundo semestre de 1994 foram entregues questionários (chamados pelo professor de "lovebacks" e elaborados por ele) aos alunos, nos dois últimos dias de aula para que avaliassem o Programa.

O questionário era composto por 6 questões abertas e um espaço para livre expressão. As questões eram:

  1. Quais os jogos/atividades que você mais gostou? Por quê?;
  2. Quais os jogos/atividades que você menos gostou? Por quê?;
  3. O que você mudaria no programa?;
  4. Quais os principais "insights" que você compartilhou?;
  5. Como os valores dos Jogos Cooperativos podem ser integrados a sua vida diária? Quais os primeiros passos?;
  6. Qual o slogan que poderia sintetizar sua experiência com os Jogos Cooperativos?
Os questionários foram respondidos por 30 pessoas no total (21 mulheres e 9 homens), com idade entre 17 e 34 anos, sendo 7 do segundo semestre de 1994 (6 mulheres e 1 homem), 4 do primeiro semestre de 1995 (2 mulheres e 2 homens) e 19 do segundo semestre de 1995 (13 mulheres e 6 homens). Esses questionários foram analisados seguindo uma orientação fenomenológica (Martins & Bicudo, 1989) com os seguintes procedimentos metodológicos: leitura dos "lovebacks"; levantamento de unidades significativas nos discursos; elaboração de agrupamentos das unidades e construção de uma matriz nomotética (vide quadros); análise nomotética e interpretação sob o ponto de vista da avaliação do Programa, comparando os resultados com os objetivos estabelecidos pelo professor e contemplados pela literatura.

Não se pretende neste estudo fazer uma generalização para todos os programas de Educação Física com enfoque nos Jogos Cooperativos, mas sim uma generalização naturalística, ou seja, a compreensão só se aplica para este fenômeno situado, ou então para fenômenos que ocorram em contextos semelhantes.


Apresentação e discussão dos resultados
As informações coletadas, por sua similaridade, foram organizadas em cinco agrupamentos:

  1. Caráter dos Jogos Cooperativos;
  2. Sentimentos vivenciados nos Jogos e no Programa;
  3. Habilidades desenvolvidas a partir dos Jogos Cooperativos,
  4. Conclusões dos participantes e
  5. Sugestões para o Programa.
As subdivisões de cada agrupamento e as suas distribuições nos discursos podem ser observadas na matriz nomotética a seguir. Os discursos de número 1 a 7 são de alunos que freqüentaram o segundo semestre de 1994, os de número 7 a 11 são de alunos do primeiro semestre de 1995, e os de números 12 a 30 são de alunos do segundo semestre de 1995. Os discursos 3 e 15 são de uma mesma aluna que freqüentou o Programa nos dois semestres.

[As matrizes nomotéticas (quadros demonstrativos das respostas tabuladas) podem ser fornecidas contactando os autores.]

Embora a caracterização dos Jogos Cooperativos por parte dos alunos não tenha sido um objetivo preestabelecido, julgou-se interessante verificar quais aspectos, a partir da vivência dos mesmos, tornaram-se evidentes aos participantes e que apresentamos a seguir:


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Año 4. Nº 13. Buenos Aires, Marzo 1999.