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Efeitos do treinamento de força associado ao uso de

eletroestimulação neuromuscular em membros inferiores

 

*Programa de Pós Graduação em Fisiologia do Exercício - Prescrição do Exercício

da Universidade Gama Filho – UGF

**Professor Titular da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

da Universidade de Passo Fundo – FEFF/UPF.

(Brasil)

Rafael Tonet Silva*

rafaeltonet2007@hotmail.com

Hugo Tourinho Filho**

tourinho@upf.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo comparar os efeitos da utilização da eletroestimulação neuromuscular (EENM) associado ao treinamento de força sobre os níveis de força máxima, perimetria e espessura de dobras cutâneas de membros inferiores. Para tanto indivíduos do sexo masculino saudáveis foram divididos em dois grupos. Um grupo realizou o treinamento de força associado à EENM e o outro apenas o treinamento de força durante oito semanas. Foram utilizados dois exercícios de musculação, o Leg Press (pressão de pernas) e a Cadeira Extensora. Os indivíduos também realizaram avaliação da força máxima (1RM), perimetria e avaliação da espessura de dobras cutâneas de coxa. Os resultados foram apresentados pela média, desvio padrão e teste t de Student, adotando p<0,05.

          Por meio da análise dos dados foi possível verificar que a associação da eletroestimulação ao treinamento de força num período de oito semanas foi eficaz para o aumento nos níveis de força máxima e perimetria, além da diminuição significativa da espessura de dobra cutânea da coxa de indivíduos saudáveis, apresentando-se com uma forma interessante de otimização do treinamento da força muscular.

          Unitermos: Eletroestimulação. Força muscular. Treinamento de força.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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1.     Introdução

    O treinamento esportivo é uma atividade bastante antiga, que vem evoluindo numa progressão geométrica através dos tempos. Há milhares de anos, no Egito e na Grécia, já é possível constatar o uso de alguns princípios do treinamento para preparar atletas para os jogos e para as guerras.

    Dentre as mais variadas formas de treinamento esportivo surge a eletroestimulação neuromuscular (EENM), que desde o século XVIII vem sendo utilizada de forma terapêutica, sendo enormemente aceita e referida no âmbito da reabilitação (Decker, 1999; Laufer, 2001; Oliveira, 2001; Rossi, 2005). Recentemente tem-se sugerido que a EENM poderia ser um método de treinamento de força muscular, entretanto, ainda não está claro se por si só constitui-se um novo método de treinamento ou atua como um coadjuvante.

    Várias pesquisas vêm sendo realizadas com a eletroestimulação neuromuscular (EENM) aplicada isoladamente ou associada aos exercícios físicos no fortalecimento dos músculos esqueléticos, como um recurso coadjuvante no treinamento físico e nos tratamentos estéticos e terapêuticos, contudo, seus resultados são atualmente questionados e há ainda muita controvérsia na literatura sobre o seu papel (Low & Reed, 2001; Noronha & Camargo, 1998).

    Dessa maneira, considerando o que foi exposto o presente estudo teve como objetivos comparar os efeitos da utilização da eletroestimulação neuromuscular (corrente-russa) associado ao treinamento de força sobre os níveis de força máxima, perimetria e espessura de dobras cutâneas de membros inferiores de indivíudos saudáveis praticantes de musculação.

2.     Materiais e Métodos

2.1. Amostra

2.1.1.     Grupo que fez treinamento de força associado à eletroestimulação

    Participaram deste grupo cinco indivíduos do sexo masculino, praticantes de musculação há mais de dois anos, com idade média de 28,2 ± 8,10 anos, com peso médio de 81 ± 6,100 kg que se dispuseram como voluntários para o estudo.

2.1.2.     Grupo que fez somente treinamento de força

    Participaram deste grupo quatro indivíduos voluntários do sexo masculino, praticantes de musculação há mais de dois anos, com idade média de 23,5 ± 6,39 anos, com peso médio de 85,400 ± 12,606 kg.

2.2.     Protocolo de treinamento

    Para o presente estudo foram utilizados somente dois exercício de musculação, o Leg Press (pressão de pernas) e a Cadeira Extensora num programa de treinamento de oito semanas realizado às segundas, quartas, e sextas-feiras, a saber:

Primeira Semana

- Leg Press: 8 séries de 10 a 12 repetições, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

- Cadeira Extensora: 4 séries de 10 a 12 repetições, intervalo de descanso entre as séries de 1 minuto.

Segunda Semana

- Leg Press: 8 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

- Cadeira Extensora: 4 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

Terceira Semana

Leg Press: 10 séries de 10 a 12 repetições, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

Cadeira Extensora: 10 séries de 10 a 12 repetições, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

obs.: nesta semana o atleta fazia uma série de cadeira extensora e sem intervalo fazia na seqüência uma série de Leg Press, para então ter o descanso de 1 minuto, assim consecutivamente até completar as 10 séries.

Quarta Semana

Leg Press: 12 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

Cadeira Extensora: 12 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

obs.: nesta semana o atleta fazia uma série de cadeira extensora e sem intervalo fazia na seqüência uma série de Leg Press, para então ter o descanso de 1 minuto, assim consecutivamente até completar as 12 séries.

Quinta Semana

Leg Press: 4 séries de 10 a 12 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 2 segundos, intervalo de descanso entre séries de 40 a 50 segundos.

Cadeira Extensora: 10 séries de 10 a 12 repetições com uma contração de pico de isometria de 5 segundos, intervalo de descanso entre as séries de 1 minuto.

Sexta Semana

Leg Press: 4 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 2 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

Cadeira Extensora: 10 séries de 6 a 8 repetições com fase concêntrica de 2 segundos, uma contração de pico de isometria de 5 segundos, e fase excêntrica de 6 segundos, intervalo de descanso entre séries de 1 minuto.

Sétima Semana

Leg Press: 6 séries de 10 repetições, intervalo de descanso entre séries de 1 a 2 minutos.

Cadeira Extensora: 10 séries de 10 repetições, sendo as 5 primeiras repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos e as 5 ultimas repetições o mais rápido possível que o atleta pudesse executar; intervalo de descanso entre séries de 1 a 2 minutos.

Oitava Semana

Leg Press: 6 séries de 10 repetições, intervalo de descanso entre séries de 1 a 2 minutos.

Cadeira Extensora: 10 séries de 10 repetições, sendo as 5 primeiras repetições com fase concêntrica de 2 segundos e fase excêntrica de 6 segundos e as 5 ultimas repetições o mais rápido possível que o atleta pudesse executar; intervalo de descanso entre séries de 1 a 2 minutos.

2.3.     Avaliação da força máxima

    Para avaliação da força máxima foi utilizado o Teste de 1RM. Utilizou-se como critério para o teste de 1RM a capacidade máxima ou força máxima que um indivíduo consegue desenvolver para levantar apenas uma única vez o peso máximo (Wilmore e Costill, 2001).

2.4.     Avaliação de perimetria

    Para avaliar a perimetria dos testados foi utilizado as circunferências das coxas de cada indivíduo medidas em dois pontos, a saber: 5 cm acima da borda superior do tendão patelar (distal) e a 1 cm da prega glútea (proximal).

2.5.     Avaliação da dobra cutânea de coxa

    Avaliação da dobra cutânea de coxa foi determinada paralelamente ao eixo longitudinal da perna, sobre o músculo reto femoral a 2/3 da distância do ligamento inguinal e o bordo superior da rótula.

2.6.     Aplicação da eletroestimulação

    A EENM foi aplicada em conjunto com a contração muscular durante a execução de cada exercício, seguido sempre pelo professor que aplicou os treinos, bem como posicionou os eletrodos e acompanhou as 8 semanas de treinamento. Em cada sessão de treinamento os impulsos eram variados sempre na fase concêntrica do movimento. A freqüência modulada de trabalho foi fixada em 100Hz, e a intensidade da eletroestimulação era aumentada diariamente de acordo com a tolerância de cada indivíduo.

    Os eletrodos foram colocados no quadríceps: 1 eletrodo na porção proximal do vasto lateral , 1 eletrodo na porção distal do vasto lateral, 1 eletrodo no reto femoral linha medial, e 1 eletrodo no vasto medial, totalizando 4 eletrodos por membro em cada sujeito.

2.6.1     Equipamentos

    Para o presente estudo foram utilizados os seguintes equipamentos:

  • Aparelho de Corrente-Russa Form Skin SF3, 2500hertz-fechado, waves (forma da onda) isomêtrica aguda faixa de 120 Hz, contrações de 9 seg./3seg. em off, intensidade da estimulação ajustada de acordo com a tolerância de cada um,  sempre progressivamente até o final de cada série;

  • Leg Press 45° convergente para anilhas, marca Pro-Phisical®;

  • Cadeira Extensora sistema BioCam, marca Pro-Phisical®, com resistência máxima de 80kg e precisão de 5 kg;

  • Adipômetro Científico, marca Sanny®, de 0 a 87 mm, com precisão de 0,01 mm;

  • Fita métrica Sanny® de 0 a 200 mm, com precisão de 0,1 mm;

  • Eletrodos de 100x50 mm, com 4 canais de intensidade máxima de 150mA, e uma precisão de 1mA;

  • Câmera digital marca Sony®, modelo CyberShot W-35.

  • Balança TechLine®, com carga de 0 a 130 kg e precisão de 0,1 kg.

2.7.     Análise Estatística

    A fim de atender aos objetivos propostos para o estudo, as informações coletadas foram tratadas estatisticamente mediante o uso do pacote computadorizado SPSS 8.0, adotando-se os seguintes procedimentos: para comparar o comportamento da força máxima, perimetria e espessura de dobras cutâneas, foi utilizado o teste “t” de Student, adotando-se p<0,05.

3.     Resultados e discussão

    Na Figura 1 encontram-se os valores referentes a força máxima, perimetria e espessura de dobras cutâneas do grupo que realizou o treinamento de força associado a EENM.

    Neste grupo foi possível verificar diferenças significativas para todas as variáveis analisadas. Os valores de teste de carga máxima tanto no leg press (pré-teste 333,0 ± 47,6kg; pós-teste 674,0 ± 26,08kg) como na cadeira extensora (pré-teste 162,0 ± 13,04; pós-teste 187 ± 6,71) apresentaram uma evolução significativa (p<0,05) da primeira para a segunda avaliação. O mesmo comportamento foi observado para os valores de perimetria de coxa nas duas posições avaliadas (distal e proximal) que tiveram também um aumento significativo (p<0,05) quando comparado a primeira avaliação e após as oito semanas de treinamento (coxa direita proximal – 59,4 ± 4,09 x 62,6 ± 4,82; coxa direita distal – 46,5 ± 4,80 x 50,8 ± 4,94; coxa esquerda próximal – 59,5 ± 3,70 x 62,9 ± 4,28; coxa esquerda distal – 46,0 ± 3,46 x 51,1 ± 4,40) .

    Com relação às medidas de espessura de dobra cutânea da coxa, o grupo que realizou o treinamento de força associado a EENM apresentou uma redução significativa (13,0 ± 2,58 x 7,3 ± 1,71; p<0,05) conforme pode ser observado na Figura 1.

Figura 1. Dados referentes aos valores de força máxima, perimetria e espessura

de dobras cutâneas do grupo que realizou treinamento de força associado à EENM

    Na Figura 2, pode ser observado os valores do grupo que realizou o treinamento de força proposto no estudo, porém sem o auxílio da EENM. Neste grupo também foi possível detectar melhora significativa, no entanto, apenas nos valores referentes à força máxima avaliado no “leg press” (285,0 ± 35,36 x 388,0 ± 27,75) e cadeira extensora (143,0 ± 12,04 x 154,8 ± 12,95), não se observando o mesmo comportamento para os valores de perimetria (coxa direita distal – 46,8 ± 1,96 x 48,1 x 2,01; coxa direita proximal – 59,9 ± 2,41 x 60,7 ± 2,28; coxa esquerda distal – 47,5 ± 1,84 x 48,9 ± 1,88; coxa esquerda proximal – 59,3 ± 2,97 x 60,2 ± 2,95) e espessura de dobras cutâneas (21,0 ± 1,87 ± 19,4 ± 1,14).

Figura 2. Valores referentes à força máxima, perimetria e espessura de dobras

cutâneas do grupo que realizou o treinamento de força sem o auxílio da EENM

    De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que o treinamento de força associado à eletroestimulação neuromuscular foi capaz de provocar melhoras significativas nos níveis de força máxima, além de possibilitar um aumento também significativo para os valores de perimetria dos membros inferiores e redução na espessura de dobra cutânea da coxa.

    Segundo Kots (1971) os significativos ganhos de força observados na associação da EENM ao treinamento de força pode ser, em parte, explicado, pela maior capacidade de recrutamento de unidades motoras quando se combina o treinamento de força com a EENM durante a contração muscular.

    Entretanto, Guirro e Guirro (2004) chamam a atenção para o fato de que os dados encontrados na literatura podem apresentar certa divergência entre vários autores, em função dos protocolos utilizados nos programas de aplicação da eletroestimulação neuromuscular. Ainda de acordo com os autores, podem influenciar nos resultados, entre outros fatores, a freqüência, a intensidade e a relação entre o tempo de contração e repouso.

    Corroborando com o presente estudo, Porcari e colaboradores (2005) relataram que em experimentos relacionados à aplicação da EENM em membros inferiores, foi possível identificar um aumento da força muscular, bem como um aumento na circunferência da coxa dos indivíduos avaliados.

4.     Conclusão

    Após a análise estatística dos resultados obtidos verificou-se que o treinamento de força associado à EENM foi eficaz para provocar melhoras significativas na força máxima de membros inferiores, além do aumento na perimetria e redução significativa na espessura de dobra cutânea da coxa de indivíduos saudáveis praticantes de musculação. Nesse sentido, foi possível observar que a aplicação da EENM demonstra ser um método coadjuvante eficiente no auxílio ao fortalecimento muscular.

    Este estudo proporcionou a busca de uma nova proposta para se otimizar o ganho de força muscular, entretanto mais estudos são necessários para que se consiga avançar na compreensão da influência da EENM sobre a força muscular, não só no âmbito da reabilitação e estética, mais também do rendimento esportivo.

Bibliografia

  • DECKER, M. J. Serratus anterior muscle activity during selected rehabilitation exercises. Am J Sports Méd 1999; 27 (6): 784-791

  • GUIRRO, Elaine; GUIRRO, Rinaldo. Fisioterapia Dermato-Funcional. 3 ed. Editora Manole. São Paulo – SP, 2004.

  • KOTZ, Y.M. Entrainement de la force musculaire par la méthode d’ electrostimulation. Teorika i practica fisiceskoi kul’turu (tradução do russo) 1971; 4: 66-73

  • LAUFER, Y. The effect of treadmill training on the ambulation of stroke survivors in the early stages of rehabilitation: a ramdomized study. J Rehabil Res Dev 2001. 38 (1): 69-78.

  • LOW J, REED A. Eletroterapia explicada - princípios e prática. São Paulo: Manole. 2001. pág. 389-409.

  • NORONHA, M. A ; CAMARGO, L.C; MINAMOTO, V.B; CASTRO, C.E.S. O efeito da estimulação elétrica neuromuscular (NMES) no músculo tibial anterior do rato. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, SP, v. 2, n. 2, p. 71-76, 1998.

  • OLIVEIRA, A. S; RODRIGUES D. Atividade eletromiografica das porções anterior, média e posterior do músculo deltóide na abdução do braço. Rev. Bras. Fisioterapia 2001; 5(1): 17-24.

  • PORCARI, John P; FRANKLIN, Barry A; VERRILL. David E.  Técnicas de Treinamento em Reabilitação Cardíaca. Editora Manole. São Paulo – SP, 2005.

  • WILMORE, J.H; COSTILL, D.L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2 ed. São Paulo: Manole, 2001.

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