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Perfil de aptidão física relacionada 

à saúde de escolares de 6 a 11 anos

 

*Acadêmico do Curso de Educação Física da UNISINOS, RS

Pesquisador do GEMH (Grupo de Estudos do Movimento Humano).

**Doutora em Educação Física, Professora do Curso de Educação Física

Professora e Coordenadora do curso Fisioterapia da UNISINOS

Líder do GEMH.

***Graduado em Educação Física pela UNISINOS.

(Brasil)

Matias Noll*

Cláudia Tarragô Candotti**

Rudiard Voght***

Andrews Barcellos***

Adriano Scnheider***

matiasnoll@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O acompanhamento do desenvolvimento corporal dos educandos tornou-se um sensível instrumento na aferição da saúde desta população, na medida em que contribui de maneira relevante no diagnóstico de possíveis deficiências nutricionais. Os níveis de desenvolvimento de crianças e adolescentes podem ser considerados mundialmente como um dos mais importantes indicadores quanto a qualidade de vida de um pais, ou de uma determinada população. Neste sentido, este estudo objetivou descrever o perfil de aptidão física relacionada à saúde de escolares de 6 a 11 anos de ambos e comparar com tabelas normativas. Esta pesquisa constitui-se como um estudo de corte transversal, do tipo Ex Post Facto. A amostra foi composta por os 63 alunos matriculados no Ensino Fundamental em uma escola da região do Vale do Taquari - RS, sendo 35 meninos e 28 meninas. Para a mensuração do percentual de gordura dos alunos utilizou-se um adipômetro científico Cescorf, sendo que foram verificadas três vezes cada dobra cutânea e feita uma média dos valores, com um breve intervalo entre as mesmas. O procedimento foi realizado segundo Guedes, a partir das dobras tricipital e subescapular, sendo utilizadas equações de predição, específicas para crianças pré-púberes. Para a mensuração da flexibilidade utilizou-se o teste de sentar e alcançar com banco segundo a padronização do PROESP – BR. Foram realizadas três tentativas, sendo válida a maior marca alcançada. A análise dos dados foi realizada com a estatística descritiva. Os dados foram analisados com ajuda do programa estatístico SPSS versão 16.0 para Windows. Os resultados deste estudos mostram que o desenvolvimento da flexibilidade é maior nas meninas na comparação com os meninos em todas as idades. Esses achados sugerem uma maior atenção no desenvolvimento da flexibilidade durante a educação física escolar. Do mesmo modo, os valores de média do percentual de gordura quando comparados com as tabelas de referência percebe-se que os meninos, em sua grande maioria, estão com níveis de gordura acima dos aconselhados pela literatura. Já as meninas estão com níveis mais próximos aos aconselhados se comparados aos meninos. Entretanto, tal situação não deixa de ser menos preocupante. Ao analisar a totalidade dos alunos, independente do sexo e idade, percebe-se que apenas 2% da totalidade dos alunos está situado abaixo dos valores ideais. Já os alunos que estão classificados na faixa ideal caracterizam 37 % da amostra total. Entretanto, 61% da amostra total apresenta valores de percentual de gordura acima do ideal para seu sexo e idade.

          Unitermos: Aptidão física. Escolares. Saúde

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    O acompanhamento do desenvolvimento corporal dos educandos tornou-se um sensível instrumento na aferição da saúde desta população, na medida que contribui de maneira relevante no diagnóstico de possíveis deficiências nutricionais. Neste sentido, os níveis de desenvolvimento de crianças e adolescentes podem ser considerados mundialmente como um dos mais importantes indicadores quanto a qualidade de vida de um pais, ou de uma determinada população (GUEDES, 1997).

    A aptidão física relacionada à saúde compõe o percentual de gordura dos educandos, assim como a força e a resistência muscular da região lombar. A flexibilidade também foi incluída como componente da aptidão física relacionada à saúde, por acreditar-se na hipótese de que a fraqueza e a falta de flexibilidade da musculatura que envolve a coluna vertebral tenham influencia direta em dores nas costas e problemas posturais (BERGMANN, 2005).

    O termo flexibilidade, conhecido como mobilidade articular, compreende as propriedades morfofuncionais do aparato locomotor, que determinam a amplitude de distintos movimentos do educando (PLATONOV, 2003). Sua magnitude é de suma importância tanto para a promoção e manutenção da saúde (GHEDIN et. al. 2007). Por outro lado, seus níveis também influenciam o desempenho em algumas modalidades esportivas, tais como o atletismo, natação, ginástica artística, etc.

    Os procedimentos de medida da flexibilidade podem ser classificados em métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos requerem instrumentos de medida que possam determinar a amplitude em graus, sendo que as principais dificuldades são: identificar os eixos de rotação das articulações e o exato posicionamento das hastes do aparelho ao longo do segmento durante a avaliação da flexibilidade (GUEDES, 1997).

    Os métodos indiretos envolvem medidas lineares de distância entre segmentos ou de um objeto externo. O método mais frequentemente descrito na literatura é o teste de sentar e alcançar com banco, onde o avaliado realiza uma flexão de tronco a frente, procurando alcançar com as mãos a maior distância possível, em relação a posição inicial. Este teste caracteriza-se como muito prático e de fácil execução, e é indicado para comparações intra e intersujeitos, sendo uma alternativa de grande viabilidade quando da obtenção de informações relacionadas à flexibilidade de crianças e adolescentes. No entanto, deve-se levar em consideração que um grande índice de flexibilidade na região do quadril, não reflete necessariamente um bom índice de flexibilidade em qualquer outra região do corpo humano (GUEDES, 1997).

    O estudo da composição corporal tem grande relevância, pois se obtém importantes informações quanto ao fracionamento do peso corporal em seus diferentes componentes tendo em vista a estreita relação existente entre a quantidade e a distribuição da gordura e alguns indicadores de saúde (GUEDES, 1997).

    A necessidade do diagnóstico das do perfil de aptidão física relacionada a saúde dos educandos do estado do Rio Grande do Sul (Brasil), e sua importância no planejamento da educação física escolar e no planejamento de políticas públicas, foi o principal motivo para a realização desta pesquisa.

    Neste sentido, este estudo objetivou descrever o perfil de aptidão física relacionada à saúde de escolares de 6 a 11 anos de ambos e comparar com tabelas normativas.

Metodologia

    Esta pesquisa constitui-se como um estudo de corte transversal, do tipo Ex Post Facto. A amostra foi composta por os 63 alunos matriculados no Ensino Fundamental em uma escola da rede pública de ensino da região do Vale do Taquari - RS, sendo 35 meninos e 28 meninas (Tabela 1).

    Para avaliação da massa corporal utilizou-se uma balança profissional, que fora calibrada a cada 5 avaliações. Para a medição da estatura dos estudantes utilizou-se um estadiômetro profissional devidamente instalado e calibrado.

    Para a mensuração do percentual de gordura dos alunos utilizou-se um adipômetro científico Cescorf, sendo que foram verificadas três vezes cada dobra cutânea e feita uma média dos valores, com um breve intervalo entre as mesmas. O procedimento foi realizado segundo Guedes (1997), a partir das dobras tricipital e subescapular, sendo utilizadas equações de predição, específicas para crianças pré-púberes, diferenciando sexos e somatório de dobras maior ou menor que 35mm.

    Para a mensuração da flexibilidade utilizou-se o teste de sentar e alcançar com banco segundo a padronização do PROESP – BR, com um aquecimento padrão de 10 minutos de duração (GAYA & SILVA, 2007). Foram realizadas três tentativas, sendo válida a maior marca alcançada. Segundo Guedes (1997) “na perspectiva de avaliação do desempenho motor, é bem provável que o teste de sentar-e-alcançar venho sendo o de maior aceitação na obtenção de informações com relação a capacidade de flexibilidade”. A análise dos dados foi realizada com a estatística descritiva. Os dados individuais foram comparados com tabelas normativas. Os dados foram analisados com ajuda do programa estatístico SPSS versão 16.0 para Windows.

Tabela 1. Descrição da Amostra

 

 Idade

Masculino 

Feminino

 Total

6

10

6

16

7

3

5

8

8

5

4

9

9

7

7

14

10

6

6

12

11

4

0

4

Total

35

28

63

Resultados e discussão

    Os resultados das médias da massa corporal demonstraram que ambos os gêneros apresentam valores crescentes, entretanto o sexo feminino apresenta valores crescentes a cada ano e o sexo masculino apresenta algumas oscilações, aos 7 e 10 anos. Os valores médios para cada idade e sexo, são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Medidas descritivas da massa corporal

 

  

Masculino

Feminino

Idade

Média

Média

6

27,02

25,55

7

25,07

26,58

8

29,78

36,58

9

39,84

37,14

10

36,12

37,70

11

37,35

 

    As meninas apresentam valores de média maiores nas idades de 7,8 e 10 anos. Esta comparação pode ser melhor visualizada no Gráfico 1.

Gráfico 1

    Os dados das médias da medida de estatura demonstraram que os meninos apresentam valores de média superiores as meninas apenas aos 8 e 9 anos. Os valores de médias, o seu comportamento e a comparação entre os sexos pode ser melhor visualizada na Tabela 3 e no Gráfico 2.

Tabela 3. Medidas descritivas de estatura

 

  

Masculino

Feminino

Idade

Média

Média

6

123,05

123,75

7

124,83

125,20

8

135,40

134,25

9

141,50

137,19

10

139,03

144,33

11

141,25

 

 

Gráfico 2

    O desenvolvimento da flexibilidade em ambos os sexos acontece de forma similar, ou seja, aumento das médias até os 7-8 anos e depois, decrescendo de forma linear até os 11 anos. Os valores médios para cada idade e sexo estão descritos na Tabela 4.

Tabela 4. Medidas descritivas da flexibilidade

 

  

Masculino

Feminino

Idade

Média

Média

6

24,02

25,50

7

27,17

27,70

8

25,90

31,50

9

23,86

28,27

10

23,25

24,25

11

19,38

 

    Os resultados das médias demonstraram que o sexo feminino apresenta valores superiores ao sexo masculino em todas as idades (GRÁFICO 3). Estes resultados estão de acordo com os estudos Noll & Sá (2008), Guedes (1997) e Barbanti (1982).

Gráfico 3

    Os resultados aqui encontrados contrariam a tendência de aumento da flexibilidade com o aumento da idade expresso nas tabelas normativas do PROESP-BR (GAYA & SILVA, 2007). O estudo de Noll & Sá (2008), desenvolvido também no Rio Grande do Sul, demonstrou resultados parecidos, sendo que a flexibilidade nos 2 gêneros ocorre de forma semelhante em ambos os gêneros, ou seja, níveis maiores de amplitude de movimento nos 7 e 8 anos (meninos 26,3 cm, meninas 29,1 cm), e após decrescendo com pequenas oscilações, até os 15 anos de idade (meninos 20,7 cm, meninas 23,1cm).

    Os resultados deste estudo, quando comparados os valores individuais dos estudantes com as tabelas normativas do PROESP (GAYA & SILVA, 2007), percebe-se que grande parte dos meninos está situado abaixo dos níveis ideais para sua idade. Há também um alto percentual de meninos na zona muito fraco, ou seja, com risco a saúde. Já as meninas apresentam resultados melhores se comparados aos meninos, sendo que a grande maioria está situada na zona razoável, bom e muito bom, e apenas 5 estudantes no nível fraco (GRÁFICO 4). Estes achados são relevantes no planejamento do profissional de educação física e também no planejamento de políticas públicas com ênfase na qualidade de vida e melhora da aptidão física relacionada a saúde.

Gráfico 4

    A dor lombar, que aflige milhões de pessoas em todo mundo, está associada a deficiência de mobilidade e flexibilidade na região lombar e nos músculos posteriores da coxa (HEYWARD, 2004). Do mesmo modo, um nível deficiente de flexibilidade pode comprometer a assimilação de hábitos motores, e provocar problemas posturais. Essa insuficiência de mobilidade articular limita os níveis de força, velocidade e coordenação, provocando uma redução na economia e pode ser uma causa de ocorrência de lesões (PLATONOV, 2003).

    Os dados referentes ao percentual de gordura apresentam tendência a aumentarem até os 9 anos e depois decrescerem a cada ano. O sexo masculino apresenta valores de média crescente dos 6 aos 9 anos com pequenas oscilações e um decréscimo acentuado aos 10 e 11 anos. O sexo feminino apresenta valores de média superiores ao sexo feminino dos 6 aos 9 anos de idade (TABELA 5, GRÁFICO 5).

Tabela 5. Medidas descritivas do Percentual de Gordura

 

  

Masculino

Feminino

Idade

Média

Média

6

21,92

24,27

7

21,40

25,82

8

21,98

27,60

9

29,51

30,03

10

25,25

21,78

11

20,55

 

 

Gráfico 5

    Os valores de média do percentual de gordura, quando analisados os estudantes individualmente, por idade e sexo, e comparados com uma tabela de referência (SAPATERA & PANDINI, 2005) percebe-se que os meninos, em sua grande maioria, estão com níveis de gordura acima dos aconselhados pela literatura. As meninas estão com níveis mais próximos aos aconselhados se comparados aos meninos. Entretanto, tal situação não deixa de ser menos preocupante (GRÁFICO 6). O excesso de peso e de gordura corporal representa uma ameaça a qualidade de vida dos educandos. Indivíduos obesos tem riscos maiores para hipertensão, diabete, certos tipos de câncer, hipercolesterolemia, entre outros. A obesidade também contribui para o aumento de problemas musculoesquelético, assim como a dor lombar (HEYWARD, 2004).

Gráfico 6

    Ao analisar a totalidade dos alunos, de forma que a classificação ADEQUADA do gráfico anterior corresponda a IDEAL, e as classificações EXC. BAIXA e BAIXA, como abaixo do ideal e acima do ideal (ALTA e EXC ALTA), percebe-se que apenas 2% da totalidade dos alunos está situado abaixo dos valores ideais. Já os alunos que estão classificados na faixa ideal (ADEQUADA) caracterizam 37 % da amostra total. Entretanto, o achado mais relevante, assim como preocupante, desta pesquisa, é que 61% da amostra total apresenta valores de percentual de gordura acima do ideal para seu sexo e idade (GRÁFICO 7). Neste sentido, este dado trata-se como o mais relevante do trabalho, pois aponta um dado muito preocupante nesta escola.

Gráfico 7

Conclusão

    Esses achados sugerem uma maior atenção no desenvolvimento da flexibilidade durante a educação física escolar. Pois um nível deficiente de flexibilidade pode comprometer a assimilação de hábitos motores, e provocar problemas posturais. Essa insuficiência de mobilidade articular limita os níveis de força, velocidade e coordenação, provocando uma redução na economia e pode ser uma causa de ocorrência de lesões (PLATONOV, 2003).

    Do mesmo modo, os valores de média do percentual de gordura quando comparados com as tabelas de referência percebe-se que os meninos, em sua grande maioria, estão com níveis de gordura acima dos aconselhados pela literatura. Já as meninas estão com níveis mais próximos aos aconselhados se comparados aos meninos. Entretanto, tal situação não deixa de ser menos preocupante.

    Ao analisar a totalidade dos alunos, independente do sexo e idade, percebe-se que apenas 2% da totalidade dos alunos está situado abaixo dos valores ideais. Já os alunos que estão classificados na faixa ideal (ADEQUADA) caracterizam 37 % da amostra total. Entretanto, 61% da amostra total apresenta valores de percentual de gordura acima do ideal para seu sexo e idade. Neste sentido, este dado trata-se como o mais relevante do trabalho, pois aponta um dado muito preocupante nesta escola. Com base nestes dados, de forma generalizada, sugere-se a ênfase na prática de atividade física, e reeducação alimentar, entre outros. Estes dados sinalizam também a necessidade de políticas públicas que promovam a pratica de atividade física regular e orientada.

Referências bibliográficas

  • BARBANTI, V. Comparative Study of Selected Antrophometric. Dissertation of Doctor. Iowa, University of Iowa, 1982

  • BERGMANN, G., et al. Projeto Esporte Brasil – RS. Revista Perfil. 2005.

  • GAYA, A. e SILVA, G. Projeto Esporte Brasil: manual de aplicação de medidas e testes, normas e critérios de avaliação. Porto Alegre. PROESP-BR: 2007.

  • GUEDES, DP. Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo: CLR Balieiro, 1997.

  • GUEDIN, KD. et al. Flexibilidade de adolescentes do ensino médio da cidade de Florianópolis – SC. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde v. 12, n.2, 2007.

  • NOLL, M.; SÁ, KB. Avaliação da flexibilidade em escolares do ensino fundamental da cidade de Westfália - RS. EFDeportes.com, Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008. Disponível em: http://www.efdeportes.com/. Acessado em: 01/11/08.

  • PLATONOV, VN. A preparação física. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.

  • SAPATERA, MLR.; PANDINI, EV. Obesidade na adolescência. EFDeportes.com, Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 85 – Junho de 2005. Disponível em: http://www.efdeportes.com/. Acessado em: 11/11/08.

  • HEYWARD, VH. Avaliação Física e Prescrição de exercício. Editora Artmed. Porto Alegre, 2004.

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