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Percepção de saúde, atividade física e 

qualidade de vida de pacientes renais crônicos

 

*Profissional de Educação Física graduado pela Universidade de Cruz Alta

**Programa de Pós Graduação em

Ciências do Movimento Humano CEFID/UDESC

(Brasil)

Uiliton Baiardi Figueiró Marques*

Roges Ghidini Dias**

rghidini@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve por objetivo analisar as relações entre percepção de saúde (Saúde Geral), atividade física e qualidade de vida (QL) de pacientes renais crônicos. Utilizou-se o questionário SF-36 e o tratamento de dados foi realizado por meio de estatística descritiva (média e desvio padrão) e correlação de Spearman com nível de significância de p<0,05. Os resultados mostraram uma relação positiva e benéfica entre a percepção de saúde, atividade física, aspectos emocionais, vitalidade e saúde mental, levando a crer que os benefícios oriundos da prática de atividades físicas teve papel fundamental sobre essa percepção e consequentemente a qualidade de vida.

          Unitermos: Percepção de saúde. Atividade física. Pacientes renais crônicos.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

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Introdução

    A Insuficiência Renal Crônica (IRC) tem por principal característica uma deterioração progressiva e irreversível da função renal, trazendo como conseqüências diversas alterações tanto clinicas como laboratoriais, e com isso acaba por afetar todos os outros sistemas do organismo, que passam a funcionar de maneira irregular, como colocado por Kimachi (1981) e Riella (2003).

    Pacientes com IRC que estão em um programa de hemodiálise acabam por ter sua capacidade de executar trabalhos e fazer atividades diárias debilitadas, devido principalmente a dois fatores principais que são a anemia e a miopatia urêmica.

    Painter e Hanson (1987) citam que a capacidade física limitada dos pacientes em hemodiálise pode, também ser em decorrência de uma interação alterada nos mecanismos de transporte e de extração de oxigênio (O2), já que o transporte de O2 para o músculo em exercício é determinado pela freqüência cardíaca, volume sistólico e conteúdo arterial de oxigênio. Na IRC, o transporte de O2, poderia estar alterado por uma redução no débito cardíaco (DC), bloqueio da freqüência cardíaca máxima e conteúdo arterial de O2 diminuído, devido a anemia.

    Deve-se trabalhar a reabilitação física dos pacientes renais, buscando a melhoria de sua qualidade de vida, tentando maximizar sua independência funcional, como colocado por O’Young et al. (2000), deve-se tornar o individuo capaz de viver sem precisar de assistência dos outros.

    Resumindo, O’Young et al. (2000) salienta que para constatação de que houve melhoras na qualidade de vida dessa pessoa é preciso medir a função, bem como os efeitos da intervenção da reabilitação.

    Partindo destas premissas surge a questão norteadora do estudo, o qual baseia-se em averiguar qual a relação entre a percepção de saúde, atividade física e qualidade de vida de pacientes renais crônicos da Clinica Renal Santa Lúcia da cidade de Cruz Alta-RS.

Metodologia

    Este estudo classificou-se como uma pesquisa correlacional, pois pretende verificar a existência da correlação entre a percepção de saúde (Saúde Geral) e a qualidade de vida (QL) dos pacientes renais crônicos da Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia da cidade de Cruz Alta –RS.

    Em uma pesquisa correlacional, de acordo com Gil (2002), o pesquisador não influencia (ou tenta não influenciar) nenhuma variável, apenas as mede e procura por relações (correlações) entre elas.

    Participaram deste estudo 14 pacientes renais crônicos do sexo masculino com média de idade de 45 anos da Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia da cidade de Cruz Alta/RS, que estavam em tratamento hemodialítico e foram selecionados a partir por critério de voluntariado. Os pacientes aceitaram responder o questionário SF-36, para análise da qualidade de vida.

    Os dados foram coletados e posteriormente tratados através da estatística descritiva (média e desvio padrão), para as variáveis de qualidade de vida. Empregou-se a correlação Spearman verificar a relação entre a percepção de saúde (Saúde Geral) e qualidade de vida (QL), com o auxilio do programa estatístico SPSS. O nível de significância adotado foi de p<0,05.

Resultados e discussão

    Os dados referentes a aplicação do instrumento encontram-se descritos abaixo. A amostra foi composta por 14 sujeitos do sexo masculino com idade média de 45 anos (DP=10). Analisando-se

    Correlação de Spearman dos dados de percepção de saúde (Saúde Geral) e qualidade de vida (QL)

   

SG

Cap. Funcional

Atividade Física

Dor

VIT

AS

AE

SM

G (saúde geral )

1,00

 

 

 

 

 

 

 

Capacidade Funcional

,255

1,00

 

 

 

 

 

 

Atividade Física

,701**

,132

1,00

 

 

 

 

 

Dor

,210

,743**

,048

1,00

 

 

 

 

VIT (vitalidade)

,774**

,526

,268

,435

1,00

 

 

 

AS (aspectos sociais)

,558*

,639*

,496

,687**

,422

1,00

 

 

AE (aspectos emocionais)

,453

,303

,427

,132

,348

,314

1,00

 

SM (saude mental)

,615*

,466

,278

,240

,633*

,488

,033

1,00

** valores significativos ao nível de p<0,01

* valores significativos ao nível de p<0,05

    Na tabela, encontram-se os resultados obtidos com o cruzamento de dados do questionário SF-36 que determina os níveis de qualidade de vida (QV), com a percepção de saúde. Analisando os resultados pode-se observar relações significativas entre a percepção de saúde e os domínios atividade física (AF), vitalidade (VIT), aspectos sociais (AS) e saúde mental (SM).

    Estes achados vão de encontro aos encontrados por Medeiros e Meyer (2001), que observou em pacientes holandeses maiores escores nas dimensões atividade física e vitalidade.

    Nesta mesma avaliação, pode-se notar que os escores obtidos na variável capacidade funcional, e atividade física, são bem distantes, de modo que isso pode ser um indicativo que a partir do momento em que os pacientes deixam de praticar atividades físicas, sua capacidade funcional começa a decair. Moreira (1993) cita que pacientes que estão em programa de hemodiálise são menos ativos, do que a população em geral, e este funcionamento físico diminuído tem sido relacionado a baixa qualidade de vida.

    Nahas (2003) coloca que com o avançar da idade há uma diminuição dos níveis de atividade física sendo necessário uma adaptação a algum programa de atividades, sendo assim pessoas com um estilo de vida ativo, acabam por apresentar um menor risco de doenças cardiovasculares, amenizando assim alguns efeitos da inatividade em pessoas com IRC.

    Do ponto de vista dos benefícios da atividade física sobre os aspectos sociais e saúde mental, enfatiza-se que a prática de atividades físicas atua de modo significativo na percepção de saúde. Os benefícios da atividade física para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças crônicas parecem estar associados a alterações morfológicas, fisiológicas e funcionais, provenientes do estilo de vida mais ativo (LEON e NORSTROM, 1995).

    Neste contexto, a atividade física recebe grande destaque, com os estudos epidemiológicos demonstrando que a prática de atividades físicas regulares promove a redução dos fatores de riscos de várias doenças crônicas, da incidência de doenças cardiovasculares e da mortalidade por todas as causas ( BLAIR, et al, 1995; THUNE et. al, 1998; TREMBLAY, 1998).

Conclusão

    Ao analisarmos os resultados obtidos podemos concluir a contribuição da atividade física sobre a percepção de saúde. A relação dessa variável com os domínios do questionário SF-36, demonstram uma interação positiva na qualidade de vida dos sujeitos pacientes renais crônicos, principalmente quando analisamos atividade física, vitalidade, saúde mental e aspectos emocionais.

    Desse modo, sugere-se a realização de atividades físicas por pacientes renais crônicos com vistas a aumentar sua percepção de saúde e consequentemente sua qualidade de vida, porém, sem descuidar das condições de saúde desses sujeitos.

Referências

  • Blair SN, Kohl HW, Barlow CE, Paffenbarger RS, Gibbons LW, Macera C0A. Changes in physical fitness and all-cause mortality: a prospective study of health and unhealthy men. JAMA, 1995;237(14): 1093-1096.

  • GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

  • KIMACHI, T. Insuficiência Renal Crônica. In: FERRAZ, A.S.; KIMACHI, T.; MARQUES, M.M.A.; MARTINS, A.C.P. Manual de tratamento da insuficiência renal aguda e crônica terminal. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981.

  • Leon AS, Norstrom J. Evidence of the role of physical activity and cardiorespiratory fitness in the prevention of coronary heart disease. Quest 1995, 47: 311-319.

  • MEDEIROS, R.H.M.; MEYER, F. Impacto da insuficiência renal crônica no perfil físico do individuo em hemodiálise. Revista Perfil. Porto Alegre, ano 5, n.5, p. 41-48, 2001.

  • MOREIRA, P.R. Resposta cronotropica ao exercício em pacientes com insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise. Tese (Doutorado em Nefrologia) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1993.

  • NAHAS, M.V. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida. 3.ed. Londrina: Midiograf, 2003.

  • O’YOUNG, B.; STIENS, S.A.; YOUNG,M.A. Segredos em medicina física e de reabilitação. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

  • PAINTER, P.L.; HANSON, P.A. Model for clinical exercise prescription: application to hemodialysis patients. Journal of Cardiopulmonary Rehabilitation, [S.I.], n.7, p. 177-182, dez. 1987.

  • RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • Thune I, Njolstad I, Lochen M, Forde OH. Physical activity improves the metabolic risk profiles in men and women. Archives of Internal Medicine, 1998; 10(24): 633-1640.

  • Tremblay A. Physical activity and metabolic cardiovascular syndrome. British Journal of Nutrition, 1998;80: 215-216.

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